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Mesmo em criança, sempre tive um pé atrás em relação às canções de ninar e às cantigas de roda. Não que eu não gostasse delas, mas é q...

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Mesmo em criança, sempre tive um pé atrás em relação às canções de ninar e às cantigas de roda. Não que eu não gostasse delas, mas é que eu prestava muita atenção nos textos e no que poderiam significar, principalmente nas entrelinhas e nos silenciamentos. Também não quero aqui desmerecer, depreciar algo que está no imaginário de todos e que nos remota a lugares especiais e de nossos melhores afetos. Quero, apenas, refletir sobre esses discursos, que foram sendo cristalizados, ao longo do tempo, e dos quais lembramos sempre.

Falo aqui baseando-me apenas em senso comum. Não sou especialista no assunto e pouca leitura tenho sobre isso. Minhas considerações são mais impressões emocionais de quando, na infância, essa musicalidade chegava até mim.

Acabei de escutar uma mensagem que provocou em mim certo estranhamento, vinda do alto, numa voz padronizada e insistente, dizendo mais...

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Acabei de escutar uma mensagem que provocou em mim certo estranhamento, vinda do alto, numa voz padronizada e insistente, dizendo mais ou menos assim: “Ei, aqui em cima!”

Tempos novos esses em que vem de avião o anúncio publicitário informando que o circo chegou…

Dia desses, li um texto maravilhoso, riquíssimo em detalhes e emoções, em que a autora falava sobre uma xícara de estimação que perten...

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Dia desses, li um texto maravilhoso, riquíssimo em detalhes e emoções, em que a autora falava sobre uma xícara de estimação que pertenceu a sua mãe. Essa história me tocou e, nostálgica e tristemente, fiquei pensando num tesouro, uma relíquia, que tínhamos em nossa casa.

Em meio a tantas dificuldades para minha família se alimentar, além de vestir e manter sete filhos pequenos, causava-me estranheza a existência daquela louça branca de porcelana, delicada e fina, guardada a sete chaves, num velho móvel tipo Luiz XV.

      VARREDURA Hora de limpar gavetas entulhadas, descartar remédios vencidos, separar os vestidos que não cabem mais no cor...

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VARREDURA
Hora de limpar gavetas entulhadas, descartar remédios vencidos, separar os vestidos que não cabem mais no corpo crescido. Hora de refazer os planos, entregar os pontos do que não foi resolvido.

DO NATAL O sorriso no rosto, a roupa nova no corpo. O peito inquieto, o olho na porta. A comida farta, a mesa pronta. ...

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DO NATAL
O sorriso no rosto, a roupa nova no corpo. O peito inquieto, o olho na porta. A comida farta, a mesa pronta. As mãos postas, a prece insólita.

Gosto muito do mês de dezembro. Mesmo sendo o último do ano, para mim funciona como se fosse o primeiro. É nesse mês que eu me sinto...

Gosto muito do mês de dezembro. Mesmo sendo o último do ano, para mim funciona como se fosse o primeiro. É nesse mês que eu me sinto mais feliz, com a perspectiva de que alguma coisa possa mudar, nos dias que seguem.

É nessa época que costumo fazer uma retrospectiva de minha vida, avaliando o que deu certo, o que deu errado, o que falei, quando devia ter me calado, o que calei, quando precisava mesmo era ter falado.

      FESTA DA PADROEIRA O pavilhão armado, todo enfeitado com bandeirinhas de papel de seda, azuis e vermelhas. A procissã...

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FESTA DA PADROEIRA
O pavilhão armado, todo enfeitado com bandeirinhas de papel de seda, azuis e vermelhas. A procissão de nossa Senhora da Conceição, se arrastando, sem pressa, pelas ruas da cidade. O som do sino da igreja matriz e a cadência das matracas, marcando os passos dos contritos fiéis.

Nunca gostei de levantar bandeiras nem de participar de levantes panfletários. A vida toda me entendi como pessoa e isso sempre me b...

Nunca gostei de levantar bandeiras nem de participar de levantes panfletários. A vida toda me entendi como pessoa e isso sempre me bastou (até aqui, pelo menos). Não que eu não tivesse motivos para questionar minha condição de vida e meu lugar no mundo.

Menina pobre do interior da Paraíba, que começou a estudar aos sete anos, numa escola pública, e que nunca pôde comprar um livro sequer, até entrar na universidade e arrumar o primeiro contrato de trabalho (auxiliar de ensino), fui levando minha existência com muitas dificuldades e falta de tudo um muito.

A difusora A Voz de Pocinhos, idealizada por meu pai, Hermes de Oliveira, foi ao ar pela primeira vez em 10 de outubro de 1951, execut...

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A difusora A Voz de Pocinhos, idealizada por meu pai, Hermes de Oliveira, foi ao ar pela primeira vez em 10 de outubro de 1951, executando a música Moreninha, moreninha, de Luiz Gonzaga. Sua criação se deveu, principalmente, ao programa A Voz de Campina Grande, apresentado em uma rádio da vizinha cidade, à qual, inclusive, Pocinhos pertencia, política e administrativamente, nessa época.

Meu pai era, por assim dizer, um multimídia: músico, alfaiate, eletricista, ativista cultural, locutor, animador de festas, chamador de bingos e leiloeiro de galinhas nas festas da padroeira da cidade, entre outras coisas.

FLOR DO OLHAR Meu olhar para as flores é o de quem, extasiada, deseja que o mundo resolva parar e nada mais saia do lu...

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FLOR DO OLHAR
Meu olhar para as flores é o de quem, extasiada, deseja que o mundo resolva parar e nada mais saia do lugar, até que a primavera possa, de fato, em minha vida se espalhar.

      NOV(IDADE) A gente nasce, cresce, se reproduz, envelhece e, depois, quer fazer tudo de novo, como se isso houvesse...

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NOV(IDADE)
A gente nasce, cresce, se reproduz, envelhece e, depois, quer fazer tudo de novo, como se isso houvesse...

NOVO EXÍLIO terra palmeira sabiá vazio aqui ou lá espaço tempo lugar

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NOVO EXÍLIO
terra palmeira sabiá vazio aqui ou lá espaço tempo lugar

DE OUTRA SOLITUDE A lua vaga. Um cão ladra. Meu sono tarda. DE OUTRAS LIBERDADES Alguém abandonou um papagaio q...

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DE OUTRA SOLITUDE
A lua vaga. Um cão ladra. Meu sono tarda.
DE OUTRAS LIBERDADES
Alguém abandonou um papagaio que vivia, há anos, aprisionado. Liberto, leve e solto, ele pôs-se a gritar o nome do dono, no telhado do vizinho.

PONTEIO O que faço com as vírgulas, que me sobram e emperram minha escrita? Por que insisto nas reticências, que dei...

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PONTEIO
O que faço com as vírgulas, que me sobram e emperram minha escrita? Por que insisto nas reticências, que deixam em aberto mesquinhas suposições? Onde coloco os dois pontos cruciais, que me obrigam a dar inúteis explicações?

    POEMINHA AMOROSO Procurar dentro do fogo que é teu olhar. Desejar envolver, abraçar. Tocar a pele, o corpo, o coração.

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POEMINHA AMOROSO
Procurar dentro do fogo que é teu olhar. Desejar envolver, abraçar. Tocar a pele, o corpo, o coração.

A meu pai, que se foi cedo demais VIDA-RODA Vida, vida, vida-roda, que rola, enrosca e sufoca as vontades que a ge...

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A meu pai, que se foi cedo demais

VIDA-RODA
Vida, vida, vida-roda, que rola, enrosca e sufoca as vontades que a gente tem. Roda, roda, roda-vida, que se abre como ferida e rasga

DAS INÚTEIS REFLEXÕES O que pensa um gato, quando dormita em sua casinha de plástico? O que ouve um gato se, com voz d...

DAS INÚTEIS REFLEXÕES
O que pensa um gato, quando dormita em sua casinha de plástico? O que ouve um gato se, com voz de afeto e agrado, falo fininho, em falsete apaixonado? O que espera um gato, dia após dia, entre cochilos e sobressaltos? Sem respostas, prossigo e desisto de dar sentido ao que em mistérios já nasceu envolvido.
DE OUTRAS LIBERDADES
Alguém abandonou um papagaio que vivia, há anos, aprisionado. Liberto, leve e solto, ele pôs-se a gritar o nome do dono, no telhado do vizinho. De tanto estar preso, não sabe ser livre e quer voltar para quem o largou sozinho.

Uma homenagem a Anayde Beiriz, pelo que foi e pelo que ainda é       PELO SIM, PELO NÃO Não, não quero amargar sentimentos...

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Uma homenagem a Anayde Beiriz,
pelo que foi e pelo que ainda é

 
 
 
PELO SIM, PELO NÃO
Não, não quero amargar sentimentos de perdas por não ter feito o que quis. Prefiro correr o risco e encarar o perigo de ter minha vontade como força motriz.

      RETROSPECTIVA Ando vasculhando meu passado remoto. Às vezes, me reencontro; em outras, me desconheço. Onde foi que eu ...

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RETROSPECTIVA
Ando vasculhando meu passado remoto. Às vezes, me reencontro; em outras, me desconheço. Onde foi que eu errei? Em qual esquina me perdi? No que fui certeira e não me confundi? De tudo, carrego dúvidas e a sensação de que os erros não me resumem. De nada, entretanto, adianta eu me culpar, já que, se eu pudesse reviver, no presente, minhas lutas, tropeços, conquistas e breves alegrias, seria igual tudo o que eu faria.

    NAVALHA O fio da navalha corta o cio. Fios de ouro nos dentes dos ricos. Fios de cobre das ruas sumidos. Fios de água q...

 
 
NAVALHA
O fio da navalha corta o cio.
Fios de ouro nos dentes dos ricos. Fios de cobre das ruas sumidos. Fios de água que correm no rio. Fio da navalha que corta o cio. Fio de cabelo que delata o crime.