Nunca gostei de levantar bandeiras nem de participar de levantes panfletários. A vida toda me entendi como pessoa e isso sempre me bastou (até aqui, pelo menos). Não que eu não tivesse motivos para questionar minha condição de vida e meu lugar no mundo.
Menina pobre do interior da Paraíba, que começou a estudar aos sete anos, numa escola pública, e que nunca pôde comprar um livro sequer, até entrar na universidade e arrumar o primeiro contrato de trabalho (auxiliar de ensino), fui levando minha existência com muitas dificuldades e falta de tudo um muito.
Menina pobre do interior da Paraíba, que começou a estudar aos sete anos, numa escola pública, e que nunca pôde comprar um livro sequer, até entrar na universidade e arrumar o primeiro contrato de trabalho (auxiliar de ensino), fui levando minha existência com muitas dificuldades e falta de tudo um muito.
Anthony Tran
Por anos, eu me perguntei, em meio a tanta carência, numa família de sete filhos para se dar de comer, de vestir e de estudar, por que eu gostava tanto de ler.
Só mais tarde descobri que minhas primeiras experiências de leitura foram, na verdade, as de escuta ativa: ouvir minha mãe ler, em voz alta, bulas de remédio, provérbios das folhinhas da Editora Vozes, pequenos folhetos que descreviam as missas, o livrinho de cânticos da igreja e, principalmente, as legendas dos filmes que ela lia para pai, que não via direito as letrinhas miúdas na tela.
Essas lembranças me vêm agora, ao término do V Encontro Nacional do Mulherio das Letras, ocorrido em João Pessoa, na Usina Cultural Energisa, de 25 a 27 de novembro, de cuja organização eu fiz parte.
Comissão organizadora do Mulherio das Letras 2022 - Usina Cultural Energisa - João Pessoa, PB @mulheriodasletras
Aprendi tanto! Ver ali, a olho nu, as demandas das mulheres pretas, indígenas, feministas, entre tantas outras, fez com que eu olhasse para dentro de mim mesma e procurasse descobrir em qual lugar minhas convicções, ou falta delas, poderiam ter algum eco na mulher que sou ou que penso ser.
Marineuma de Oliveira, Mulherio das Letras 2022 Exposição Fotográfica: Cara de Feminista
do @projeto.lis, coordenado por @marina.blankvs
Porém, uma coisa é certa: não é fácil ser mulher e muito menos estar entre tantas delas, sem se perder e sem saber como se encontrar.