Ninguém vê mais terra, chão, verde, ambiente natural nas cidades de hoje. Os parques são uma espécie de "reserva" na paisagem, ainda assim transformados em “parquinhos” modernosos, como fizeram com a Lagoa e a Bica, aqui em João Pessoa.
Nonato Guedes é um jornalista completo. Ele não treme diante do papel em branco. Tem um texto primoroso e escreve como quem toma água, sem precisar reler para fazer correção. Falando, é um rio descendo a cachoeira: fluência sem arrodeios.
Às vésperas das eleições gerais mais importantes das últimas décadas, relembro momentos em que atuamos juntos, em clima de alta pressão.
Vinte e quatro de abril de 1984, votação da PEC 05/83, a conhecida Emenda Dante de Oliveira, que decidiria sobre o restabelecimento das eleições diretas para presidente da República.
Tenho um diário. São minhas “anotações existenciais”. Volta e meia, ele me “surpreende” com histórias que mexem com a minha emoção. Vejam o que escrevi no dia 16 de maio do ano 2000:
A velha Gameleira do Róger, que ficava na confluência das avenidas Juiz Gama e Melo e Dom Vital, tombou ontem, numa tarde chuvosa de maio. Numa última gentileza com os vizinhos, tombou para o vazio, para o eixo da Rua D. Vital, não causando dano a nenhuma residência.
Durante os mais de 20 anos que morei com minha família no bairro, a gameleira foi a minha segunda casa. No seu imenso tronco, que dava bons assentos, e na sua copa, vivi belos momentos de minha existência.
Na gameleira fiz poemas, leituras e amizades. Ela foi testemunha de alguns dos meus amores secretos. Do alto da árvore, escondido de tudo e de todos, usando mímica, “namorava” com uma garota das imediações, meu primeiro amor.
Roberto Coutinho, um dos frequentadores assíduos da gameleira, me deu a notícia aos prantos.
Na foto, feita em 1997, três anos antes da gameleira desabar, estamos eu, o saudoso Mário Teixeira (já meio adoentado, de cabeça baixa, com um pequeno cipó e boné na mão) e o amigo Roberto Coutinho (à direita), ambos já falecidos. O primeiro à esquerda, nas minhas costas, é um morador mais recente do bairro, cujo nome, infelizmente, não me recordo.
Na adolescência, ainda morando no bairro do Róger, troquei cartas em inglês com uma garota polonesa. Consegui seu endereço numa seção especializada de uma revista de fotonovelas que encontrei numa pilha de revistas velhas de uma de minhas irmãs. Para exercitar o inglês, os garotos do meu tempo procuravam nas revistas nome e endereço de estrangeiros interessados em se corresponder com brasileiros.
Para Sérgio de Castro Pinto e Neroaldo Pontes, embaixadores do Correio das Artes em São Paulo
Não foi fácil minha passagem n'A União. Eu era um rapaz de 32 anos, encarando situações de muita responsabilidade: suceder Nathanael Alves, um homem íntegro, um exemplo de profissional; honrar a confiança do secretário Gonzaga Rodrigues; dirigir um dos mais antigos jornais do país, com dois encartes diários de serviço público – os Diários Oficial e da Justiça, e finalmente administrar uma indústria gráfica, talvez a maior do estado, naquela época. Tudo isso ainda sob o efeito da chamada crise do petróleo, em um ambiente inflacionário tão tumultuado que simplesmente não se podia determinar o preço de qualquer coisa, pelo prazo de 24 horas.
TRÊS COISAS
Quem estas três coisas tenha
não resta dúvida que vence:
trabalho que recompense,
que a si e aos seus sustenha;
que sua vida contenha
um amor que entusiasme;
um lar que acolha bem.
E por mais que isto pasme,
repito: se entusiasme
quem estas três coisas tem.
Nasci em 1949, ano em que os comunistas venciam a guerra civil na China e soviéticos e americanos intensificavam a disputa pela hegemonia mundial. Portanto, vim ao mundo ainda nos primórdios da Guerra Fria. Em certa medida, sem exagero, depois de tudo que presenciei na História, durante todos esses anos, posso me imaginar um sobrevivente.
Não tem erro: sopé da Ladeira São Francisco, à direita: Rua Augusto Simões (antigo Beco dos Milagres), nº 59. No muro da casa está incrustada uma relíquia da cidade: A Fonte dos Milagres. Talvez os atuais moradores da residência nem saibam o que têm nas mãos.
Volta e meia me pedem para falar sobre a campanha de 1986, aquela em que Burity deu um banho de votos em Marcondes Gadelha na disputa pelo governo do Estado. Na época, aqui na Capital, só existiam três emissoras de ondas médias (as rádios Tabajara, Arapuan e Correio) e duas de freqüência modulada (Arapuan e Correio). As FMs adotavam a linha "vitrolão": somente música e notícias curtas, quase telegráficas. O quente ainda eram as AMs. Segundo avaliações trimestrais do Ibope,
Quem conhece bem João Pessoa sabe da história que vou contar. É a história do “frade sem cabeça” que aparecia, altas horas da noite, saindo clandestinamente do Convento dos Franciscanos e indo para a “Fonte dos Milagres” (hoje completamente destruída), no sopé da ladeira de São Francisco.
O ano de 1968 começa com o fim do programa "Jovem Guarda" (17 de janeiro) e termina com o AI-5 (13 de dezembro). De quebra, houve o famoso Maio de Paris, a Passeata dos Cem Mil, o fim da Primavera de Praga, as mortes de Gagarin e Chatô - e os assassinatos de Edson Luís, Martin Luther King e Bob Kennedy. Para fechar o firo, Paulo VI acha de condenar o uso de anticoncepcionais, publicando a encíclica "Humanae vitae" (Da vida humana).
As coisas estão muito desequilibradas. As ideias, digamos, progressistas ocuparam todos os espaços com a velocidade da luz. Na verdade conquistaram a hegemonia. A mídia é o dínamo do rolo compressor, até porque a turma da vanguarda é bastante influente nos meios de comunicação.
Pertinho do carnaval, eles saíam às ruas em comissão pedindo dinheiro aos moradores. Eram pessoas conhecidas, pobres, honestas e muito queridas no Roggers, bairro que mudou de nome porque o dono da única linha de ônibus não sabia escrever “nome de gringo”. Sempre às manhãs de domingo, lá iam eles: Luís Monteiro, Agostinho Tomáz, Henrique Nascimento, Mário Teixeira, Eulálio Martins, Severino Lima, Edilson Paiva, Severino Almeida, Pedro Coutinho (pai do desembargador Júlio Aurélio), entre outros cidadãos comuns, recolhendo contribuições para o carnaval. Recebidos com satisfação aonde chegavam, os organizadores do carnaval do Roggers formavam
Salvo engano, a Parábola do Filho Pródigo está no Evangelho de Lucas. Se não me falha a memória, é o capítulo 15, versículos 11 e seguintes. Embora sem ser religioso de carteirinha, meu pai sempre destacava essa passagem bíblica.
O sujeito que teve a infeliz ideia de botar aqueles quiosques nas praias de Tambaú e Cabo Branco detesta o mar. Veja: com o estacionamento de veículos do lado da calçadinha (apesar da ciclovia) e o paredão formado pelas “ilhas” de quiosques, quem passa de automóvel ou de ônibus, ou mesmo quem caminha na calçada, não consegue enxergar direito a grande estrela do local - o mar.
Por conta da briga EUA e URSS pela hegemonia no planeta, muita gente "dançou", em todas as latitudes e longitudes. A guerra deles botou (e ainda bota) a humanidade literalmente numa fria, perturbando pessoas simples e anônimas, nos lugares mais remotos do mundo.
Perto de completar 73 anos, experimento brusca mudança na vida. Passei a encarar o mundo de forma bem diferente. Tornei-me uma pessoa exageradamente cética, um tanto quanto passiva - mas, em compensação, bem mais sossegada, tranquila, na verdade aliviada, depois de mais de 50 anos de trabalho duro.
O consumismo desenfreado, estimulado pela mídia, cria expectativas inalcançáveis nas pessoas — e quase sempre provoca frustração, que por sua vez alimenta a violência. Logo, um ambiente de justiça e paz só será possível se formos capazes de mudar nossos padrões de consumo e os próprios valores da sociedade contemporânea, tarefa que pode vir a ser o 13º trabalho de Hércules, já que, pelo rolar da carruagem, nenhuma força humana tem se mostrado capaz de operar mudanças.
O estuário dos rios Sanhauá e Paraíba está morrendo! No feriado do carnaval de 2001, naveguei a região que compreende áreas dos municípios de João Pessoa, Bayeux, Santa Rita, Lucena e Cabedelo. E voltei revoltado. O que, afinal, andam ou andaram fazendo os governadores e prefeitos dessas cidades? Sem qualquer preocupação com a ecologia, não é exagero dizer que, ao longo do tempo, eles vêm perpetrando o que se poderia chamar de crime de lesa-humanidade!