O precursor da carta dos direitos humanos foi o Cilindro de Ciro, uma peça rara cunhada em forma de barril e argila cozida, descoberta ...
Viver com medo é ser escravo
Quando jovens estudantes da escola de cinema questionaram o falecido ator Alan Rickman a respeito de qual a melhor receita para se ...
À margem da escolha
É bem verdade que necessitamos de um desprendimento razoável para interpretarmos diversos papéis em nosso cotidiano. A vida nos cobra atuações com textura e sabores variados.
A atenção dispensada nos momentos passados quase despercebidos formará nossa personalidade e o nosso conjunto de virtudes, à espreita da próxima oportunidade para se apresentar da melhor forma.
Do contrário a esse rumo, um confortável gesto dos indivíduos menos virtuosos, ou dos que preferem encurtar o tempo, seria utilizar o anel de Giges, para lhes proporcionar a invisibilidade enquanto o mantiverem no dedo, girando-o para um determinado lado, e assim sumir do mapa até girar o anel para o outro lado.
Esse foi um artefato mítico mencionado por Platão como metáfora para demonstrar a justiça do inteligente, em contrapartida ao injusto, corrompido pelo poder. Giges foi um pastor que, chegando ao palácio com o anel, seduziu a rainha, conspirou com ela a morte do rei, matou-o e obteve o poder à base de sua pretensa coragem em forma de um acessório mágico.
As virtudes se apresentam em meio ao preparo do indivíduo, construídas no tempo de um esforço concentrado, mesmo que numa atividade nada complexa, como aconteceu com a faxineira da mansão da família de Josef Stalin, a única que teve a coragem e o desprendimento de mexer no corpo morto do patrão 24 horas após sua morte, ocorrida no escritório fechado. Nenhum de seus imediatos tomou iniciativa de tocar naquele Stalin desfalecido, com medo de uma represália.
O olhar experiente e o desapego de uma pessoa simplicidade real demonstram sua clareza nas coisas mundanas por meio do seu comportamento diante do inusitado.
Me parece que o salvo-conduto é privilégio de quem o deseja mais perto de sua escolha, ao contrário de quem o planeja para ser exposto em determinado instante.
Ou você se apressa em decidir a melhor saída, ou fica à margem da escolha do outro.
Possuo muitas bibliotecas perdidas em sonhos, que descrevem experiências que vivi. Não lembro de alguns detalhes saborosos de minha inf...
Tempo da mudança de atitude
O poder político mantém certas ideias para gerir uma nação e desenha caminhos fartos de opções no cotidiano do povo, à espera de sua co...
Trama subjetiva nas mentes
O poder da biologia carrega em suas raízes a capacidade de escrever a data de seu velório. Já o poder espiritual sustenta a igreja com determinadas regras e posturas limitadas pela fé. Substancialmente diferenciado, com espírito e alma aos pés de sua prole,
Vivi minha primeira vez em muitas descobertas, durante essa existência por vezes cansada de novas buscas. A primeira viagem, a visita a...
Comer, morar e sobreviver
Porém, muitos rostos que talvez tenham cruzado em nossa calçada nem sequer sabem o que tudo isso significa, ou como poderia ser realizado, porque
Quando ocorreu o aumento do consumo de ovos nos Estados Unidos surgiu o acolhimento inesperado e volumoso de pintinhos nas residências ...
Volta ao campo sem sair de casa
Você consegue imaginar o momento em que nossa raça planetária estará a minutos do apocalipse? Consegue imaginar um relógio marcando ess...
Deuses, sábios e poetas
Pois esse cuco marcador de nossos últimos dias existe. Chama-se Relógio do Juízo Final, ou Relógio do Apocalipse (em inglês: Doomsday Clock), que nada mais é do que um marcador simbólico, mantido desde 1947 pela organização Boletim dos Cientistas Atômicos, da Universidade de Chicago.
No teatro Pantomima presenciamos uma apresentação na qual metade do sentido da obra surge através dos gestos dos atores. A outra meta...
Ao final de tanto!
Em sua mente, pode aparecer uma cena de horror quando seus dias estão carregados, ou uma paisagem deslumbrante, sinônimo de como você está de bem com a vida. A metade imaginada ao vivo tem o mesmo gosto do prazer exclusivo de nossa escolha, porque somos egoístas no quesito felicidade empacotada nas mãos, à disposição de um instante para se expor ou para enxugar os olhos marejados.
Ficamos mais próximos de nós mesmos nesses últimos anos. O isolamento e o descuido em relação aos outros foram inevitáveis. Porém, c...
Bilhete premiado
Mantenho minhas armas em punho, durante o dia que corre mais que o vento, não desmanchei minhas trincheiras expostas na sala de estar ...
Pérolas Clássicas
Bem verdade, há muitos anos me preparo para atacar quando necessário, e me defender quando balas de mau-humor e desinformação cruzam meus ouvidos atentos.
Vez por outra meus olhos enxergam o mau se apoderando de um local público, ou testemunho um evento radical voltado ao populismo desmedido.
Com o passar do tempo construímos nossos lares e relações humanas, temperando com expressões populares baseadas em acontecimentos curio...
Nau dos Quintos
Em visita à antiga capital mineira, Vila Rica, descobri que a história conta suas verdades com sangue e dor, mesmo que o fruto tenha s...
Sempre é tempo de refletir
Quando ouvimos falar sobre a morte, nossos olhos eventualmente ficam pasmos ou marejados. Porém quando são mortas 52 milhões de aves de...
Um breve estímulo
Sozinhos ou em boa companhia, envelhecemos de qualquer forma. Mas, por vezes, nossas almas clamam tanto, que necessitamos sufocar esse ...
Manter viva nossa espécie
Nas línguas derivadas do Latim a palavra compaixão significa que não se pode olhar o sofrimento do próximo com o coração frio; em outras palavras: sente-se simpatia por quem sofre, que poderia ser por nós mesmos.
O que não pode ser visto não incomoda. Essa máxima nos protege dos males da natureza humana, que insistem surgir durante décadas e afet...
Maldades obscenas
Mesmo no início do século XX, os doentes mentais crônicos eram vistos como "degenerados" e "escória", o equivalente a criminosos e escroques, por isso a ideia de escondê-los em manicômios foi a saída na época, como tentativa de resolver as questões ainda desconhecidas de nossa alma.
Um homem rico chamado Calvicius Sabinus tinha uma memória minúscula, que o deixava com saia justa em diversas ocasiões. Resolveu, então...
Tentar construir uma verdade
Suas vagas lembranças eram tão ruins que, em alguns momentos, os nomes de seus amigos, Ulisses, Aquiles e Príamo, sumiam rapidamente sem deixar vestígios. Os escravos seriam sua memória para cada
Movimentos sociais levam décadas para implantar suas regras e conceitos prodigiosos, que por vezes chegam às raias do lamentável. As...
Confundir e preencher os olhos
As atividades culturais se diferem no tempo durante seu processo de maturação, tornando-se belos quadros sociais para serem apreciados. Na política, levam anos para estabelecer uma nova ideia, convencer o indíviduo que será a melhor opção de bem-estar,
Nosso mundo altivo, com defeitos e qualidades, ainda é o único lugar que possuímos para ficar e respirar normalmente. Por isso, não é ...
A maldição suspensa sobre a história
Uma obra de arte, mesmo que composta por resina de poliéster e aço inoxidável, pode inspirar este escritor a sentir o silêncio da fal...
Perca-se!
Histórias e piadas contadas por nossa família e amigos, invariavelmente, nos fazem rir... mas se forem das boas. Observando no detalhe,...
Nossa frágil condição humana
O filósofo francês Henri Bergson disse que o cômico exigia algo como uma momentânea anestesia do coração. "O riso não tem maior inimigo que o coração", por isso rimos do mal para que ele não nos atinja.
Uma das piadas que os judeus contavam na Alemanha nazista era sobre o que um comandante da Gestapo dizia a um judeu: "Vou te dar uma oportunidade de viver, se adivinhar qual dos meus olhos é de vidro". O Judeu responde de imediato: "É o esquerdo". O oficial, admirado, pergunta: "Como é que descobriste?" E o Judeu responde: "É o que parece menos humano".
Pode parecer surreal. No entanto, é uma manifestação bastante profunda nas mãos de todos que se confrontaram com o mau absoluto, que o fizeram mais por necessidade do que provocação.
Na União Soviética, a piada frequentemente contada era a seguinte:
"Ivan, isso é pouquíssimo ".
"Eu sei, mas é um trabalho para a vida toda".
Eles riem do mal, do bem, ninguém ri, para quê?
Mesmo histórias curiosas que resultam num final trágico, por consequências em suas entrelinhas, parecem uma ironia do destino. Como ocorreu com o ditador, ex-Presidente de Portugal, Antonio de Oliveira Salazar, apegado ao poder, habituado a dar ordens dramáticas e doloridas àquele povo sofrido. Ele acabou por encontrar um final mortal inesperado em sua trajetória humana. Uma história com ares de ópera-bufa, se imaginarmos que o ditador foi derrotado por uma queda ao chão.
Em 1968, Salazar gozava férias em Santo António do Estoril. Sentado em uma cadeira que não se sabe se em falso ou quebrada, ou estrategicamente fora do lugar, o tirano foi ao chão e bateu a cabeça com violência no piso de pedra. Teve um hematoma cerebral e não se recuperou do trauma. Morreu dois anos depois. Conta-se que ele jamais soube que não era mais o presidente do Conselho de Ministros e que a equipe de governo se reunia em sua presença para encenar reuniões e decisões.
Nossa frágil condição humana limita uma rota a todos, muito similar à fraqueza de seus pares. A finitude nos acompanha.
O dolorido é quando os meses e anos escorrem pelos dedos, e, chegando à velhice, percebe-se que não saiu do lugar.