E o inverno chegou. Confesso que sou homem do calor, embora goste de um friozinho ameno e da chuva que inspirou Chopin a compor o “Prelúdio da gota d'água”. Chuva com um friozinho nos leva às reflexões. O calor tem isso de negativo: estimula a poluição sonora.
Mas, não gosto de lugares muito frios, gelados, onde as pessoas parecem fantasmas, com seus agasalhos, mostrando apenas o rosto.. E pensar que eu já fui bater em Moscou, São Peterburgo, Bariloche, Chamonix, Quebec, Estocolmo… Mas, fazer o quê? O turismo em família tem que ser democrático.
Que me desculpe a minha terra friorenta, onde eu abri os olhos para o mundo, numa época em que não tinha a cachaça como referência turística, mas apenas a doce e inofensiva rapadura.
Daqui donde estou, vejo o sol iluminando a paisagem e o vento varrendo as nuvens. E viva a luz. E viva o sorriso do Sol. O sorriso é luz no rosto. Rosto sem sorriso dá pena. O inverno é necessário, mas eu sou mais do verão.
Agora me veio à imaginação minha querida Paris na primavera com suas flores. Paris no inverno é triste. Foi como a conheci, na minha primeira viagem à Europa, em pleno inverno. Não, não quero mais ver a Cidade Luz no inverno. Quero-a com os pássaros cantando, os plátanos cobertos de folhas e um sol ameno enxugando a tristeza que o inverno deixou.
Londres no inverno é de uma frieza que dói, com a sua roda-gigante sem ninguém e o Tamisa virando gelo. Londres no inverno é fantasmagórica, infunde até medo.
Dizem que o inferno é lugar de muito calor. E como inverno rima com inferno, eu acho que ao invés de brasa o que existe lá é muito gelo.
Vou terminando a crônica com o sol sorrindo para mim, ali pela fresta da janela. Sol rindo. Que beleza! E a minha Alagoa Nova, que abriu meus olhos para o mundo, agora é símbolo de aguardente. Não, não a quero esquentando seu frio com cachaça. Que pena!...
abril 15, 2018
abril 09, 2018
C ompreender! Eis uma das coisas mais belas e também das mais difíceis da vida. Onde houver compreensão, haverá paz, concórdia, entendimento...
Compreender! Eis uma das coisas mais belas e também das mais difíceis da vida. Onde houver compreensão, haverá paz, concórdia, entendimento, felicidade. Mas, a compreensão exige maturidade, experiência, sabedoria, conhecimento das causas, só isto. Quando você conhece as causas, entende as situações, sua atitude é outra.
Ninguém compreendeu mais do que Jesus, que mesmo na cruz, cravejado nos pés e na cabeça, o suor e o sangue correndo juntos, a coroa de espinho ensanguentando o seu rosto, assim mesmo perdoou, dizendo: “Pai, perdoa-os porque eles não sabem o que fazem”. É que o povo nem sempre sabe o que faz. Nem mesmo as ditas maiorias...
Muita desgraça acontece neste mundo redondo devido à incompreensão. Incompreensão na família, na rua, na escola, no trabalho, na religião. Não esqueçamos que cada um tem a sua singularidade, a sua maneira de ser e de agir. E a vida é interessante devido às diferenças. Não queiramos que o outro seja como nós. A beleza está nos contrastes. Fora disso, tudo cai na monotonia. É pela compreensão que aceitamos as diversidades. Amar é compreender e aceitar e respeitar todas as diversidades.
O velho sábio e inesquecível Sócrates casou-se com uma mulher ignorante, muito aquém de sua elevada filosofia, mas que cozinhava a sua comida, varria a casa, ia ao mercado, embora não conhecesse patavina do que o marido pregava na praça pública. Xantipa, a mulher, não compreendeu Sócrates, mas este a compreendeu, graças à sua cultura, à sua sabedoria.
E a compreensão também é um exercício de altruísmo. O egoísmo é a maior causa das desafinações existenciais. É um câncer comendo as células, destruindo a vida.
Viva a compreensão, o amor, a compaixão. Lembrando de que sabedoria gera compreensão, compreensão gera humor, e o humor é combustível para a paz.
abril 09, 2018
abril 09, 2018
E stava eu numa livraria, quando a moça entrou, por sinal elegantíssima e muito bonita de rosto. Não vinha acompanhada. Chegou só, sentada n...
Estava eu numa livraria, quando a moça entrou, por sinal elegantíssima e muito bonita de rosto. Não vinha acompanhada. Chegou só, sentada na sua cadeira de rodas, que ela ia movendo com as mãos, numa tranquilidade que me emocionou. Muito bem vestida, parecia que tinha vindo de uma festa. Seria paralítica? Estaria utilizando aquele transporte apenas por algum tempo?
Só depois percebi que a moça tinha as pernas atrofiadas. Não estava naquele transporte por algum tempo, mas por toda a sua vida.
O que mais me impressionou era a sua serenidade, os olhos fixos nos livros e uma contagiante paz no rosto. Mostrava-se interessada por tudo. Percebi que ela se sentia feliz, esquecida da cadeira de rodas, esquecida das pernas, que não a moviam mais. Ora, ora, mas o importante é que ela estava viva e tinha olhos para ler. E não haverá melhor companhia do que a dos livros...
A jovem paralítica talvez se sentisse mais feliz do que muitas pessoas de pernas sadias, que, certamente, não sabem ou não gostam de ler. Nem de ler, nem de ouvir boa música.
Vi-a quando saiu da livraria, na sua serenidade e na sua elegância, sublinhada de notória dignidade. Que lição ela dava, naquele momento, às pessoas. A lição de saber transcender as limitações, de superar o sofrimento, de vencer os obstáculos da existência, com muita fé na vida.
Agora é acrescentar mais uma bem-aventurança ao Sermão da Montanha: bem-aventurados os fortes, os que não desanimam diante dos obstáculos, das vicissitudes, e que nunca perdem a fé na vida.
A moça estava sozinha, ninguém a acompanhava. ia dirigindo a sua cadeira de rodas, com a nobreza de quem não se deixa abater pelos revezes da existência. Vai ver que até teria vindo dirigindo o seu próprio carro que a aguardava no estacionamento. Minha conclusão de tudo o que vi é que precisamos superar nossas deficiências e limitações.
abril 09, 2018
abril 02, 2018
E m uma das belas narrativas do Evangelho, uma mulher, tida como pecadora, achou de entrar na casa de um fariseu importante, onde Jesus se e...
Em uma das belas narrativas do Evangelho, uma mulher, tida como pecadora, achou de entrar na casa de um fariseu importante, onde Jesus se encontrava. Ao ver o mestre, não se conteve: correu até ele e derramou na Sua cabeça um vaso cheio de perfume caríssimo. Em seguida – aí é que está a poesia daquele gesto de ternura feminina – a mulher enxugou os pés de Jesus com os seus longos cabelos.
Que escândalo! Que atrevimento! Que falta de respeito! Assim pensaram muitos. E depois o perfume era de alto preço. Como foi que essa mulher, que não era rica, conseguiu tão rara essência? O fato chocou muita gente a começar pelo próprio dono da casa, o fariseu Simão. E qual foi a reação do Mestre? Será que ele não repeliu tamanha insolência? E logo ela, que era uma mulher pecadora... Quase todos os convivas estavam indignados com aquela intrusa.
O perfume, porém, se irradiou por toda a casa. E quem resiste a um bom perfume? Como se sabe, o perfume vem das flores, e é atraído por ele que as borboletas, os beija-flores e os besouros transitam pelos jardins. O perfume é uma linguagem. Mais do que uma linguagem. É uma mensagem. Deus perfumou os frutos, as flores, as árvores para embelezar a vida. O perfume identifica as pessoas.
Jesus comoveu-se diante daquele gesto de amor. E esse gesto se tornou ainda mais sublime porque veio de uma mulher rejeitada, discriminada e humilhada. Ela não era rica, não pertencia à elite. Mas o seu coração, assim como o vaso de alabastro, continha um perfume bastante raro: o perfume do amor. O amor, como o perfume, não se vê. O amor se sente. E Jesus, que tudo ouvia em silêncio, argumentou: "Por que molestai esta mulher? Ela apenas praticou uma boa ação".
Mas, os egoístas, os maliciosos, os invejosos não compreendem certos gestos de amor. São incapazes de sentir o perfume do amor.
abril 02, 2018
abril 02, 2018
O que seria do lazer dos que estão em cima, sem o trabalho dos que estão em baixo? Eis aí uma grande verdade. Daí dizer o grande Einstein q...
Oque seria do lazer dos que estão em cima, sem o trabalho dos que estão em baixo? Eis aí uma grande verdade. Daí dizer o grande Einstein que a pessoa mais importante de sua vida era a cozinheira. Acrescentava ele: é graças a ela que me chega o alimento que me sustenta. Eis aí um exemplo de humildade, que é talvez a virtude mais difícil de se exercer.
Já muito antes, Sócrates, o maior sábio de todos os tempos, dizia o que “o que sei é de que nada sei". Nada, portanto, de empáfia, de orgulho, de achar que sabe tudo, que é maior e melhor do que os outros.
O “sermão da montanha”, o primeiro proferido por Jesus, dedica uma de suas bem-aventuranças aos "pobres de espírito", que significa humildes. Espírito aí tem uma conotação de orgulho. E qual o prêmio prometido aos humildes? O reino dos céus. Haverá prêmio maior?
Ainda a propósito de Jesus, certa vez, ele caminhava com os apóstolos quando, em dado momento, viu e ouviu dois deles em acesa discussão. O fato intrigou o Mestre que mais adiante indagou do motivo daquela discussão. Envergonhados eles disseram que ambos queriam saber quem seria o maior no Reino dos Céus. Foi então quando Jesus deu a grande lição de que no paraíso o menor é o maior.
Os orgulhosos são ridículos. Orgulham-se de coisas que passam, de coisas transitórias. Daí advertir a sabedoria do Eclesiastes: “vaidade das vaidades, tudo é vaidade".
A gente se orgulha de muita coisa. Do conhecimento que tem, do dinheiro que ganhou, dos bens que adquiriu, do poder que detém, dos títulos que possui e esquece que saímos do mundo do mesmo modo como chegamos: sem nada...
Na antiga Grécia, houve um filósofo muito humilde, que morava num tonel. Andava, ao meio dia em ponto, sob um sol de rachar, à procura de um homem honesto. Apesar de ser um homem humilde, Diógenes era muito admirado pelo todo poderoso e orgulhoso Alexandre. Pois bem, certa vez, depois de chegar de uma vitoriosa batalha, o guerreiro achou de visitar Diógenes em seu tonel. Ao chegar, encontrou o filósofo em profunda meditação à porta da humilde “casa”. Conversa vai, conversa vem, o guerreiro perguntou ao amigo o que é que ele queria, pois estava pronto para ajudá-lo. Sorrindo, o filósofo apenas pediu ao imperador que saísse da porta, pois seu corpanzil estava lhe tirando aquilo que ele não podia dar: o sol.
Muita gente confunde humildade com subserviência, com fraqueza. Engana-se. Fortes são os humildes. Vejam a árvore. Quem a sustenta? As flores, os frutos, as folhas? Não. Quem as sustentam são as raízes, que não aparecem, que estão escondidas... Daí eu dizer: que seria dos de cima se não fossem os de baixo?
Quando a gente viaja por este mundo afora é que vê como precisa dos humildes, desde a faxineira dos aeroportos à camareira dos hotéis, do motorista de táxi aos garçons, dos tripulantes da aeronave aos guardas de trânsito. Lembrar que, quando morremos, nossos esqueletos são iguais. Todas “sorrindo”, pois nunca vi uma caveira carrancuda.
E para terminar, vejamos esta magnífica definição do sábio Emmanuel, guia do humilde Chico Xavier: “Humildade é o reconhecimento de nossa pequenez diante do Universo".
abril 02, 2018
março 18, 2018
N ão sei porque andei me lembrando do livreiro Bartolomeu e de sua livraria… A memória tem dessas coisas. Às vezes, de repente, ou através d...
Não sei porque andei me lembrando do livreiro Bartolomeu e de sua livraria… A memória tem dessas coisas. Às vezes, de repente, ou através do sonho, chegam-nos as lembranças. Boas ou más. Fiquemos com as boas.
Bartolomeu ficou um tempo doente, em sua casa na Avenida Tabajaras. E eu nunca me perdoei por não ter ido fazer uma visita ao gordo, que levou a vida vendendo livros e fazendo amigos. O tempo foi passando, e não fiz a visita desejada. Logo depois, me chegou a notícia de que ele saíra deste mundo, o que me sensibilizou bastante. Senti o gosto amargo de uma saudade misturada ao remorso de não ter ido vê-lo.
Bartolomeu foi um grande amigo, aqui neste mundo. Um homem simples, humilde, que, apesar de não ser culto, sabia cultuar a literatura. Sua livraria, a princípio, situada na rua Duque de Caxias, terminou desaguando na avenida Tabajaras. Fui várias vezes visitá-lo. Sozinho, uma ilha de bondade cercada de livros por todos os lados. E como sabia do meu gosto literário! Pena que não quisesse vender o livro que me interessava. “Leve este, é um presente!"... Sempre com um sorriso nos lábios. Sempre de bom humor. Sempre feliz na sua vida modesta de vendedor de livros, que nunca pensou em se aposentar. Que nunca se acostumou com a inatividade.
Bartolomeu de Oliveira. Este o seu nome de registro. Mas, para mim ele era “Bartola”. Um amigo de verdade, que nunca soube guardar ressentimentos, nem ódio, nem vaidade.
Fecho os olhos e parece que estou vendo nosso “Bartola” na livraria, vez por outra, com o espanador na mão, tirando a poeira dos livros. E quando eu chegava na sua oficina de trabalho, lá vinha ele com uma novidade. Sabia do meu gosto literário. Lia minhas crônicas. Estava sempre em dia com os acontecimentos. Fazia sua crítica com muito bom humor.
E fico pensando: será que o meu querido Bartolomeu deixou inimigos? Evidente que não. Impossível não gostar dele. E para os muitos amigos que, decerto, deixou, deve ser uma boa lembrança, como a que tenho dele.
Agora vai esta confissão: o nosso livreiro deu muitos livros aos alunos que não podiam comprá-los. E teve um casamento feliz com Carmelita, que muito o incentivou na vida.
Fui à Igreja do Carmo, onde se realizava a missa em louvor de sua alma, que, e saí de lá certo de que ele estaria num excelente lugar e com a consciência em paz.
Agora, abram o Evangelho e leiam o Sermão da Montanha, onde se diz: “bem-aventurados os humildes por que deles é o Reino dos Céus”, o reino da paz interior.
Pois é, andei desejando que a partida de meu amigo Bartolomeu não passasse de um sonho, de um pesadelo e ir à sua livraria, lá na Avenida Tabajaras, encontrá-lo sorrindo e me dizendo: “que fim você levou, rapaz? Já estava com saudades...”
Não, meu querido Bartola, quem está com muita saudade de você, agora, sou eu. Uma saudade de doer.
março 18, 2018
março 18, 2018
P or conta da importância do precioso elemento - a água – que é o assunto de um importante Fórum Mundial iniciado ontem, na capital do país,...
Por conta da importância do precioso elemento - a água – que é o assunto de um importante Fórum Mundial iniciado ontem, na capital do país, vamos falar sobre esse essencial ingrediente, indispensável à nossa vida e saúde.
Os antigos exaltavam quatro coisas: terra, ar, fogo e água. Todos importantes e imprescindíveis em nossa vida. Mas, de logo, informo que, dos quatro, o que mais nos ensina é a água. E como eu gosto dela! Isto sem nenhum menosprezo aos outros.
A terra é o nosso grande manancial. Eu diria que a terra simboliza a mulher, que recebe a semente do homem e em troca dá a vida. A semente sem a terra é morta. Graças à terra é que chega à nossa boca o alimento nosso de cada dia.
E o ar, que, agitado, produz o vento? O vento que ajuda na germinação das plantas, que alegra a paisagem, que limpa e renova o ar, que faz as árvores dançarem, que semeia o pólen, e, quando revoltado, se transforma num furacão?
Chegou a vez de falar do fogo. Quanta violência! Pois, não fosse ele, que seriam das fogueiras armadas pela Inquisição, na Idade Média, quando muitos "hereges", inclusive a hoje santa Joana D'Arc, foram queimados em praça pública? O fogo também pode simbolizar paixão, assim como o ódio. Mas, na luta contra o fogo, a água sai ganhando, pois, entre o ódio e o amor, quem sempre termina vencendo é o amor.
Portanto, viva a água, que forma mares, chuva, rios e lagos, e, não demora muito, vira vapor. Do ventre das nuvens, ela desce até nós em forma de chuva para ajudar a terra a produzir e trazer à nossa mesa o pão nosso de cada dia.
Os antigos tinham razão. Esses quatro elementos são verdadeiros símbolos. Todos necessários à vida. Mas, de todos, repito, o que mais me ensina é água, pela sua inconstância, pela sua constante transformação, enaltecida por Heráclito, quando disse: "Não se toma banho duas vezes no mesmo rio"...
março 18, 2018
março 12, 2018
O castigo de quem não ama, ou nunca amou, é a solidão. Os que amam estão sempre acompanhados de amigos. Por conseguinte, cumprem o mandamen...
O castigo de quem não ama, ou nunca amou, é a solidão. Os que amam estão sempre acompanhados de amigos. Por conseguinte, cumprem o mandamento do “amai-vos uns aos outros. ”Difícil, não? Dificílimo. E Jesus disse que se identificariam os seus discípulos por muito se amarem. Esta a grande carteira de identidade do verdadeiro cristão.
Mas, desde quando o homem ama o seu irmão? Não, pelo amor de Deus, não olhe a nossa história, que provou que “o homem é o lobo do homem”, como disse Hobbes, um grande pensador. Já Sartre afirmava que “os outros são o inferno”. E o torturado Augusto dos Anjos afirmava que “o homem que vive entre feras, sente necessidade de ser fera”.
Mas, muita gente poderá monologar: como é possível amar ao próximo como a si mesmo? Para cumprir tão dificílima lição é preciso, antes de amar, compreender. O próximo é um enigma. É preciso decifrá-lo.
O escritor católico Gustavo Corção escreveu um belo livro intitulado “A descoberta do outro”. Muita gente ainda não descobriu o outro, esquecido de que ele é a nossa ponte para Deus. E qual foi a grande recomendação de Jesus? “Reconcilia-te com o teu adversário enquanto estás a caminho com ele”. Bote isso na cabeça se queres ser um verdadeiro cristão. Nada de vingança, de ressentimento, nem de indiferença diante do semelhante.
O importante mesmo é compreender o outro. Da compreensão surge a compaixão, que nada mais é do que se colocar no lugar do próximo, sem jamais julgá-lo. Dirá você: é tão difícil isso, senão impossível... Concordo. Mas, não se esqueça que para Jesus só seremos seus discípulos se amarmos uns aos outros. E lembrar que há muitos que conseguiram aprender essa difícil lição...
A lição é difícil, mas, lembremos, enfatizando o que dissemos acima, que são muitos os que já conseguiram aprendê-lo e praticá-lo, não esquecendo que o castigo do egoísta é a solidão.
março 12, 2018
março 12, 2018
S im, cada vez melhor, mais bonita, mais bem diagramada está a nossa A União, um dos patrimônios mais significativos da Paraíba. E o tradici...
Sim, cada vez melhor, mais bonita, mais bem diagramada está a nossa A União, um dos patrimônios mais significativos da Paraíba. E o tradicional matutino já está aí com seus 125 anos de vida a serviço da cultura da Paraíba, sendo um dos jornais mais antigos do nosso país!
A União está tão dentro da Paraíba e de sua gente, que ninguém conseguiu ainda extingui-la. Entra governo, sai governo e ela se mantém cada vez mais viva, sempre acompanhando o progresso, gritando através de seus editoriais temas cada vez mais atuais. E foi no governo de Ricardo Coutinho que ela teve menos cara de governo. Aliás, o nosso jovem gestor nunca gostou de colocar seu nome nas obras do Estado. Prefere usar o slogan “Mais uma obra do Governo da Paraíba”, seguido do lema “Viva o trabalho”.
Lembrar que houve um dia em que A União foi obrigada a se transformar num prosaico boletim de informações, chamado Diário Oficial. Foi justamente na ditadura, que o respeitável matutino teve de calar a boca, e quem governava o nosso estado era o respeitável e íntegro desembargador Severino Montenegro.
Extinta a Ditadura, A União, como um sol raiando depois de um longo inverno, voltou a exercer o seu verdadeiro papel de universidade de nossas letras, ensinando jornalismo às novas gerações, e cuja palavra tinha sabor de sentença, a exemplo do velho Times de Londres: “A União disse, acabou-se!”.
E lá se vão 125 anos de vida. Que respeito ela impunha, e ainda impõe. Quando um governador era eleito, a primeira indagação era: “quem será o seu diretor?” E de Carlos D. Fernandes até hoje o diretor do jornal é uma excelência muito respeitada. E para confirmar a excelência do trabalho e competência da mulher, eis que o centenário jornal termina sendo dirigido, e muito bem dirigido, por uma mulher, a aguerrida jornalista Albiege Fernandes, que teve a iniciativa de digitalizar todo o seu arquivo histórico, hoje inteiramente disponível na Internet para o mundo inteiro ver.
Lembro muito de sua sede histórica, lá na praça João Pessoa, altas horas da noite, o prédio todo aceso, que mais lembrava lembrava um navio. E tudo no silêncio em que as linotipos iam costurando a matéria para seus inúmeros leitores. Revisores, tradutores de telegramas, redatores, repórteres dentro da grande sala, que lembrava uma oficina. E o diretor, no seu gabinete, ocupado na redação do editorial, peça importante, que trazia o pensamento do jornal.
Entrei nela como se entrasse numa universidade. E comecei a trabalhar na cozinha, isto é, na sala de revisores, trabalho que ia madrugada afora, e, à meia noite, vinha aquele café gostoso, aquele pão com manteiga, que beleza!
Que este matutino continue na sua missão. Que nenhum governador se meta a extingui-lo. Que sempre se homenageiem os grandes personagens que transitaram pelos caminhos do jornal, a começar pelo seu grande diretor, o culto Carlos D. Fernandes, grande estimulador das novas gerações, inclusive o poeta Eudes Barros... E Antônio Menino, o chefe de portaria, grande figura humana e possuidor de profundo sentimento de responsabilidade? E o inesquecível cronista e teatrólogo Silvino Lopes? E João Lélis, na direção do jornal, escrevendo belos editoriais... E que dizer da cronista Germana Vidal, com suas crônicas cheias de humor e sabedoria?… Ah, quanta coisa para dizer desta A União...
março 12, 2018
fevereiro 26, 2018
S empre defendi a liberdade, a democracia. Abaixo as ditaduras, sejam da direita, sejam da esquerda e viva o oxigênio da liberdade. Como gos...
Sempre defendi a liberdade, a democracia. Abaixo as ditaduras, sejam da direita, sejam da esquerda e viva o oxigênio da liberdade. Como gostava de ver o jovem Barack Obama acenando, com o seu sorriso, para o mundo, como a dizer: viva a democracia, que com todos os seus erros, ainda é o regime que dignifica o homem. E está aí o muro de Berlim demolido, está aí a Cortina de Ferro destruída. Mil vezes o rosto alegre de Obama do que a carranca de um Stalin, de um Hitler ou a barba de um Fidel.
Liberdade embora tardia, como estava escrito na bandeira da Inconfidência Mineira! A verdade é que todo processo evolutivo da Humanidade é no sentido vertical. Está aí a própria Natureza nos ensinando que não é para baixo que caminha a vida, e sim para cima. As plantas crescem em busca do sol, isto é, da luz, que é símbolo de liberdade.
Acontece que, por uma questão se sintonia, há os que se sentem bem na escuridão. Vejam o exemplo dos morcegos. Há muitos animais que se afinam com a lama, como é o caso dos porcos. Alguns pássaros beijam as flores, já os urubus adoram a carniça. É a dialética da vida. Tudo é uma questão de afinidades.
Lamentável é aquele que despreza a liberdade. E eu fico me lembrando do grande Montaigne, cujo sentimento de liberdade lhe era tão arraigado a ponto de escrever: “Sou tão aferrado à liberdade que se me proibisse acesso a qualquer recanto das Índias já isso bastaria para que vivesse até certo ponto descontente”.
Já o irônico Voltaire disse, numa discussão, que, embora discordando de seu adversário, defenderia até a morte o direito dele de expor o seu ponto de vista.
Ah, liberdade!... Quanto me alegrou a fisionomia risonha das pessoas em Moscou e em Leningrado, quando lá estive, logo depois que seu povo recuperou a liberdade. Todo mundo alegre, livre da Cortina de Ferro, livre da ditadura...
fevereiro 26, 2018
fevereiro 26, 2018
J á vi muitos maestros famosos regendo sinfonias e concertos. Seja ao vivo ou no vídeo, aqui ou no exterior. Lembro-me agora de uma gravação...
Já vi muitos maestros famosos regendo sinfonias e concertos. Seja ao vivo ou no vídeo, aqui ou no exterior. Lembro-me agora de uma gravação de Bruno Walter conduzindo uma Sinfônica, na 5ª Sinfonia de Beethoven e não me esqueço daquele rosto severo e sereno, sobretudo no adágio daquela peça. Outro que me fascina, não obstante a severidade de seu semblante nazista, é o alemão Herbert Von Karajan. Uma fisionomia compenetrada, mas, sem um sorriso, com cara de quem está com raiva do mundo.
E que dizer do simpático e envolvente Leonard Bernstein? Ah, como eu gosto dele! O homem, não satisfeito com as mãos, termina batendo no tablado com os pés. Chega a dançar em trechos mais ritmados e alegres. Eis aí uma regência que muito me comove. Estou, agora, através da imaginação saudosa, me lembrando do grande Eleazar de Carvalho, que regeu a Nona Sinfonia de Beethoven com a nossa orquestra sinfônica. Austero sem ser severo. O grande maestro refletia no rosto toda a beleza da genial sinfonia.
Maestros! E as maestrinas? Impossível não lembrar de Elena Herrera, uma cubana de alto astral que também regeu a nossa Sinfônica, deixando-nos uma boa impressão. Atualmente, ela era regente titular da Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional, em Brasília, mas, há poucos dias, desencarnou, vítima de câncer. Eu gostava muito de sua maneira de reger, como que querendo voar, sair do tablado em busca de outros caminhos. E ela se comunicava bem com o público, não só com as suas excelentes interpretações, mas também através dos gestos. Tão diferente do Karajan...
Outro com quem muito me entusiasmei, também maestro de nossa Sinfônica, foi o jovem Marcos Arakaki, não só pelo dedicado trabalho de ensaio, nos bastidores, mas pela maneira eloquente na condução da belíssima e inesquecível "Sinfonia Novo Mundo", de Dvorak. Com que empolgação ele regeu a famosa peça do compositor tcheco. Havia momentos em que tive a impressão de que ele voasse, ou melhor, que levitasse no palco do Teatro Banguê, cuja assistência o aplaudia freneticamente. Arakaki não só regia como explicava, didaticamente, todas as peças do programa. Transformava, por um momento, o auditório em sala de aula – e isto é que é importante. A assistência, em silêncio, ouvia atenta as suas oportunas explicações. É assim que se vai educando o povo para a música erudita. E havia momentos em que se empolgava tanto com a obra, que a gente tinha a impressão de que ele era a própria música. E isto me fez lembrar Paulo de Tarso, que depois que descobriu Jesus, dizia que “já não era ele que vivia, e sim o Cristo que vivia nele”. A música tem esse poder. O poder que nos faz transcender em direção a Deus.
fevereiro 26, 2018
dezembro 11, 2017
U m dia desses, fui visitar a Livraria do Luiz, hoje ampliada e com cara de primeiro mundo, e passei pelo nosso tradicional Ponto de Cem Réi...
Um dia desses, fui visitar a Livraria do Luiz, hoje ampliada e com cara de primeiro mundo, e passei pelo nosso tradicional Ponto de Cem Réis, que valorizou-se muito com a reforma que o nosso governador de ouro, Ricardo Coutinho, fez naquele recanto que é o coração da cidade. Mas, o tempo e a falta de cuidado já estão deteriorando-o novamente.
O Ponto de Cem Réis tem que voltar a ser nossa sala de visitas. Uma praça para o povo conversar e descansar. Já deixou de ser parada de bonde, praça de automóveis de aluguel, local de encontro de amigos e gente da alta sociedade.
Sim, por falar nisso, cadê o advogado Mario Gama, vestido de linho branco e que dava expediente, ali, como advogado e vereador? Cadê aquele príncipe da cortesia, advogado Severino Ayres, rodeado de amigos, na esquina do prédio Guilherme da Silveira. Cadê o advogado Renato Bastos, cadê?... Ah, como o nosso antigo Ponto de Cem Réis reunia gente ilustre: advogados, juízes, desembargadores, jornalistas, escritores, homens de negócios.
Aquele logradouro era, como já disse, a nossa sala de visitas. Dali chegavam grandes notícias e grandes boatos. E eu estou me lembrando, agora, da Livraria Acadêmica, do advogado Geraldo Freire, ponto de encontro de estudantes e professores de Direito.
A verdade é que a cidade esteve muito contente com a restauração do seu Ponto de Cem Réis. Mas, agora é hora de tratar de recuperá-lo mais uma vez e de mandar pintar os prédios ao seu redor, a exemplo do prédio da antiga "Nações Unidas", do Paraíba Palace, e o que fica defronte dele, não é, meu amigo Petrônio Souto?…
Veio agora à memória uma frase de Ascendino Leite no livro em que ele estreou na literatura - “Minha Cidade”: “O Ponto de Cem Réis é o espelho da vida da cidade”. Será que o prefeito Luciano Cartaxo, que vem fazendo um belo trabalho na Av. Beira-Rio, tem andado por nossa sala de visitas?...
Ah, essa última viagem para a Islândia!... Foi uma viagem terapêutica, pois só em contemplar a paisagem, o campo, as ovelhas pastando, a gente sentia uma profunda paz interior. E sabe quem era o motorista que estava me levando para conhecer essas paisagens? Meu filho Germano. Ainda bem que lá a mão é pela direita, pois lembro que ri muito ao vê-lo dirigindo o veículo pela “contra-mão” na Austrália, Inglaterra, Escócia, Nova Zelândia, ah galego danado.
Mas vale a pena ficar vendo os campos correndo para trás. Vale a pena olhar as ovelhas sempre de cabeça baixa, comendo o seu capim, numa tranquilidade que pede um concerto de Mozart ou um adágio de Bruckner.
E por falar em música, não é que o rádio do carro estava transmitindo um concerto de Rachmaninoff? Como o europeu valoriza a chamada música clássica! Tudo questão de educação. É preciso, desde menino, ir-se acostumando com as grandes partituras. O meu outro filho, Carlos, há muito tempo que vem estimulando os filhos para os concertos e sinfonias. O neto primogênito, desde garotinho, já sabia distinguir o estilo mozartiano do barroco. Que beleza!
Contemplando as ovelhas branquinhas, lá longe à beira-mar, pois na Islândia há praias e mais praias cheias de ovelhas pastando, vem-me esta indagação: por que elas nunca erguem a cabeça? Passam o tempo todo com o rosto no chão, indiferentes à paisagem ao derredor, alheias à beleza do céu azul, preocupadas e ocupadas apenas em comer? E isto me lembra certas pessoas que passam a vida toda sem olhar para as belezas da vida. Não sabem contemplar os lírios do campo, um jardim, um pôr de sol, um mar, um vôo de pássaros. Passam a vida mergulhadas num prosaísmo de dar pena.
Deixemos, porém, as ovelhas, que nos alimentam de leite e queijo, e continuemos a crônica. A verdade é que o homem precisa, vez por outra, transcender. Não apenas olhar para baixo ou para trás. Há necessidade de olhar de lado ou para cima.
Voltemos àquela deliciosa viagem. A temperatura estava amena, a estrada é um prato, o trânsito flui sereno e silencioso, com muito poucos carros, Afinal, esse país só tem 300 mil habitantes, imagine só...
Cada vez mais estou convencido que precisamos da Natureza em nossa vida. Precisamos de mares limpos, de avenidas arborizadas, de canteiros e jardins, inclusive os botânicos, de praças floridas, de parques, de florestas, onde possamos esquecer o prosaísmo do cotidiano.
E eis que a próxima cidadezinha islamdesa já está dando sinal de sua presença e esqueçamos as ovelhas. Confesso que eu gostaria que esta viagem se prolongasse. Nada como uma boa estrada para a gente esquecer o tempo e sonhar. Aliás, o sono é uma excelente viagem que fazemos todos os dias, desde que não haja pesadelo.
Nossos companheiros de viagem, a Alaurinda e Davi, já sabem tudo sobre a Islândia com sua bucólica arquitetura, seus campos de musgos, suas cachoeiras, não esquecendo o frio, que agora aumentou. E viva a vida! Viva a Islândia e suas ovelhas, que só olham pra baixo, feito muita gente...
dezembro 11, 2017
dezembro 03, 2017
N inguém amou mais esta nossa capital, a antiga Felipéia, também chamada Frederika, do que o escritor e poeta Ascendino Leite, que chegou a ...
Ninguém amou mais esta nossa capital, a antiga Felipéia, também chamada Frederika, do que o escritor e poeta Ascendino Leite, que chegou a escrever um belo e livro intitulado “Minha Cidade”, uma espécie de declaração de amor à terra que nasceu à beira de um rio e foi parar no mar de Tambaú, onde ainda se vê o belo e imponente Cabo Branco, que, como se informou, está sendo corroído pela erosão.
Outro grande apaixonado por João Pessoa foi o genial lírico, poeta Perillo D´Oliveira, autor de “Caminhos Cheios de Sol”. Perillo amava tanto esta nossa capital que chegou a compor uma oração, que começa assim: ”Ave Cidade, cheia de graça! O meu espírito é contigo”.
Merecem ser citados também o nosso Petrônio Souto que, segundo me contam, está enchendo a Internet com lindas fotos da cidade antiga, contagiando todos com o saudosismo fotográfico. Sem esquecer o poeta José Nunes, colunista deste jornal, que, há poucos dias presenteou os leitores com suas reflexões acerca de uma pau d'arco de seus caminhos.
Eu nasci em Alagoa Nova, um verdadeiro sítio de mangueiras, segundo o poeta e historiador Eudes Barros. Mas dela saí com a idade de quatro anos. Deixei a mãe-terra orando para mim.
Mas nossa capital das acácias cresceu, sofisticou-se. Aí apareceram os grandes edifícios, sedentos de espaço e altura, e com nomes estrangeiros. Ora vejam estas denominações: “Maison de France”, “Mediterranée”, “Palazzo Milleluci”, “Milanesi”.
E não houve antes uma lei limitando a expansão e o adensamento dos espigões, a exemplo da lei que limitou a altura dos edifícios à beira-mar, através da brilhante iniciativa do governador João Agripino. Em Tambaú e Manaíra, parece que todos aqueles prédios caíram de paraquedas, aos montes, matando as árvores, sufocando o ar, impedindo o vento...
E o paraibanismo, o amor à terra, foi desaparecendo. Cadê denominação como edifício Manaíra, Sanhauá, Acácia, Ipês, Flamboaiã, Tambaú?... Só quem está dando uma lição de paraibanismo, que merece palmas de todos nós, são as nossas emissoras de TV. Incrível como isso aconteceu. Ei-las: TV Cabo Branco, TV Sanhauá, TV Tambaú, TV Correio da Paraíba, TV Miramar, TV Manaíra.
A verdade é que João Pessoa depois que nasceu, lá na cidade baixa, não satisfeita com a chegada na praia de Tambaú, onde há o mar e a praia mais bonitos do mundo, achou de subir o Planalto do Cabo Branco, onde a cultura está encontrando espaço, com a Estação Ciência, Estação das Artes. E as festas de Natal e Ano Novo acendem, cada vez mais, a curiosidade dos turistas. Ainda bem que o final da nossa mais bonita avenida, a Epitácio Pessoa, deixou de ser estacionamento de carro e barracas para comilança e bebedeira...
dezembro 03, 2017
dezembro 03, 2017
Vou passeando de carro pela praia e, olhando o mar, me lembro que o Dia de Iemanjá é nesta terça-feira. O mar me lembra a santa dos umbandi...
Vou passeando de carro pela praia e, olhando o mar, me lembro que o Dia de Iemanjá é nesta terça-feira. O mar me lembra a santa dos umbandistas, pois é nele que são jogadas flores e outras oferendas simbólicas. Eis aí um poético e religioso espetáculo, quando o mar se transforma num imenso e perfumado jardim aquático. Esta noite, logo mais, virão de vários lugares ônibus cheios de umbandistas para o Culto, na praia de Tambaú. Em sua maioria, mulheres vestidas de branco, conduzindo nas mãos buquês de flores.
Flores, flores, flores, e jamais bombas que destroem e matam. Gostaria que o presidente Trump viesse aqui e visse homens e mulheres cantando e jogando flores nas águas do mar. Os umbandistas apenas cantam. Nada de sermões, nada de discursos, nada de ataques a outras religiões, nada de ameaças de um inferno eterno. Nada de castigos, nada de satanás na boca. Os umbandistas apenas dançam e cantam. Transformam a praia num imenso templo, cuja abóbada é um manto salpicado de estrelas silenciosas.
Culto à Iemanjá! Gosto desse nome. Nome indígena. Ainda não vi uma avenida com tal denominação. Mas, bem que merecia.
Continuo meu passeio com os olhos se alimentando de paisagens e o coração cheio de muito amor e boas reflexões: Bem-aventurada a religião que pacifica em vez de agredir, que soma em vez de dividir, que compreende em vez de condenar, que não mata os que discordam dela, que prega o amor e não o ódio. Disse Jesus uma frase que deveria estar pregada em todos os templos cristãos. "Os meus discípulos se conhecerão por muito se amarem".
Ouçamos o canto daquelas mulheres vestidas de branco, dançando e recebendo espíritos sob um céu cheio de estrelas. Respeitemos o culto dos nossos irmãos umbandistas. Que eles cantem, dancem, elevem os braços para o céu, que as estrelas, lá no alto, estarão sorrindo para eles o seu sorriso de luz!
Domingo último foi a vez de minha neta, Raíssa, fazer vestibular, que agora chamam de Enem. E você, Raíssa, já vai completar 18 anos de caminhada existencial. Dezoito anos que saiu do ventre materno, um tiquinho de gente que, com o tempo, foi crescendo ao lado de seu irmão Tuquinha, três anos mais velho do que você. E hoje é com quem você brinca, viaja, passeia e se diverte...
Com apenas 18 anos, dir-se-ia que você está ainda ao pé da montanha. Esta montanha que simboliza a vida, enquanto eu desfruto o clima lá do alto. E você talvez nem chegue lá. Ah, Raíssa, como é bom estar aqui no alto, olhando, com pena, os que ainda estão caminhando para cima. Vale a pena viver, minha querida. Vale a pena acumular experiências. As experiências que nos dão sabedoria. A sabedoria que nos enriquece de paz. Não tenho inveja de você, minha querida neta. Se me dissessem que eu iria voltar à sua idade, confesso que não queria. Não invejo os que ainda estão subindo a montanha da vida. O que devo e posso fazer é ajudá-los a subir com a escada da minha experiência.
Você está fazendo o vestibular, embora ainda não escolheu exatamente a profissão. Mas tenho certeza de que saberá escolher. Você adora ler, escrever, poetizar. Mais ainda: passa horas e horas no computador, viajando pela Internet, e é com muito apetite que vai para a escola. Aprender é com você. Daí as boas notas que sempre tirou.
Não nego a curiosidade. Afinal, qual a carreira que você vai escolher? Está aí uma coisa que eu gostaria de saber. Médica, engenheira, bacharela em Direito, arquiteta, enfermeira, odontóloga, antropóloga, professora? São tantas as interrogações que me chegam à imaginação...
Mas, tenha certeza de que é bom viver muito, minha neta. É bom envelhecer com sabedoria. Termino desejando-lhe muita paz, saúde e sabedoria. Esta, a maior riqueza da vida.