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Prosaísmo no campo

Ah, essa última viagem para a Islândia!... Foi uma viagem terapêutica, pois só em contemplar a paisagem, o campo, as ovelhas pastando, a gente sentia uma profunda paz interior. E sabe quem era o motorista que estava me levando para conhecer essas paisagens? Meu filho Germano. Ainda bem que lá a mão é pela direita, pois lembro que ri muito ao vê-lo dirigindo o veículo pela “contra-mão” na Austrália, Inglaterra, Escócia, Nova Zelândia, ah galego danado.

Mas vale a pena ficar vendo os campos correndo para trás. Vale a pena olhar as ovelhas sempre de cabeça baixa, comendo o seu capim, numa tranquilidade que pede um concerto de Mozart ou um adágio de Bruckner.

E por falar em música, não é que o rádio do carro estava transmitindo um concerto de Rachmaninoff? Como o europeu valoriza a chamada música clássica! Tudo questão de educação. É preciso, desde menino, ir-se acostumando com as grandes partituras. O meu outro filho, Carlos, há muito tempo que vem estimulando os filhos para os concertos e sinfonias. O neto primogênito, desde garotinho, já sabia distinguir o estilo mozartiano do barroco. Que beleza!

Contemplando as ovelhas branquinhas, lá longe à beira-mar, pois na Islândia há praias e mais praias cheias de ovelhas pastando, vem-me esta indagação: por que elas nunca erguem a cabeça? Passam o tempo todo com o rosto no chão, indiferentes à paisagem ao derredor, alheias à beleza do céu azul, preocupadas e ocupadas apenas em comer? E isto me lembra certas pessoas que passam a vida toda sem olhar para as belezas da vida. Não sabem contemplar os lírios do campo, um jardim, um pôr de sol, um mar, um vôo de pássaros. Passam a vida mergulhadas num prosaísmo de dar pena.

Deixemos, porém, as ovelhas, que nos alimentam de leite e queijo, e continuemos a crônica. A verdade é que o homem precisa, vez por outra, transcender. Não apenas olhar para baixo ou para trás. Há necessidade de olhar de lado ou para cima.

Voltemos àquela deliciosa viagem. A temperatura estava amena, a estrada é um prato, o trânsito flui sereno e silencioso, com muito poucos carros, Afinal, esse país só tem 300 mil habitantes, imagine só...

Cada vez mais estou convencido que precisamos da Natureza em nossa vida. Precisamos de mares limpos, de avenidas arborizadas, de canteiros e jardins, inclusive os botânicos, de praças floridas, de parques, de florestas, onde possamos esquecer o prosaísmo do cotidiano.

E eis que a próxima cidadezinha islamdesa já está dando sinal de sua presença e esqueçamos as ovelhas. Confesso que eu gostaria que esta viagem se prolongasse. Nada como uma boa estrada para a gente esquecer o tempo e sonhar. Aliás, o sono é uma excelente viagem que fazemos todos os dias, desde que não haja pesadelo.

Nossos companheiros de viagem, a Alaurinda e Davi, já sabem tudo sobre a Islândia com sua bucólica arquitetura, seus campos de musgos, suas cachoeiras, não esquecendo o frio, que agora aumentou. E viva a vida! Viva a Islândia e suas ovelhas, que só olham pra baixo, feito muita gente...

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