Pelé morreu. Dá para acreditar? Parece que não, mas é o jeito. Afinal, tratava-se de uma morte anunciada. Ele já estava condenado, recebendo apenas os cuidados paliativos: o corpo ferido irremediavelmente não mais respondia a quaisquer tratamentos. Fez-se o possível. Mas há, sabemos, um limite para tudo. Os seres e as coisas têm fim. Entretanto, repito: dá para acreditar?
Ídolos populares da altitude de Pelé parecem eternos. A gente se acostuma tanto com eles, com a presença cotidiana deles na nossa vida, através da televisão, dos jornais e demais meios de comunicação social, que nem sequer admitimos a hipótese de não tê-los mais.
“Quando eu não mais existir. Quando tudo o que fui tiver se convertido em pó, tu, minha única amiga, que eu amei tão ternamente e tão profundamente, tu, que sobreviverás a mim, não visites meu túmulo. Ali, nada haverá para fazeres. Não me esqueças, mas não me tragas à tua mente em meio aos teus afazeres, alegrias e necessidades. Não quero perturbar o curso da tua quieta vida. Mas, nas horas de solidão, quando aquela tímida tristeza te visitar, pega um dos nossos livros favoritos e procura neles as páginas, as linhas e as palavras que costumavam – lembras? – trazer doces e silenciosas lágrimas aos olhos de nós dois, simultaneamente. Lê, fecha teus olhos e estende tuas mãos ao teu ausente amigo. É um conforto para mim, agora, pensar que um leve toque então alcançará as tuas mãos. Tu, a quem eu amei tão ternamente, tão profundamente”.
Como é que não contemporâneos resolviam o problema do consumo de água potável, e do uso doméstico em geral, no porvir de nossas cidades coloniais e até mesmo em tempos republicanos não tão distantes, pois água encanada e esgoto são serviços essenciais que as governanças públicas envolvidas têm retardado, em demasia, a oferecer com suficiência e qualidade, às populações aglomeradas de todas as classes sociais e cidades do país? Pela magnitude do problema, meu questionamento poderia ser absurdo, mas não é.
A velhice até que é boa
também tem a sua graça
livra de muita trapaça
exageros e engodo.
As vezes ficamos gordos
em área inconveniente
quem nunca teve cintura
até fica mais contente
eis que culpa a velhice
e vamos seguindo em frente.
Outra coisa que gostei
foi de acordar mais cedo
antes dormia um bocado
disso não faço segredo
dormia mais que S. João
segundo meus companheiros
Agora acordo cedinho
imitando outros bichos
aproveito mais o dia
parece até que espicho
mexendo nos cacarecos
costurando outros vestidos
com o resto de meus sonhos
que estavam adormecidos
Estou gostando da amiga
ela me trouxe mais calma
mais alegria na alma
antes eu tinha no corpo
agora sou menos escopo
tenho sido mais centrada
outra coisa que gostei
foi ver meus netos nascendo
agora é que entendo
quando minha mãe falava:
"filha, a nossa alma
fica mais rica com os netos".
Eles são do meu afeto
coroas no meu reinado!
Amigo agora eu te digo
só não gosto dos achaques
dói a perna, dói o braço
as pernas ficam mais finas
essa é a triste sina
dos velhos, mulher ou macho.
Mas temos muita vantagem
somos bem mais resolvidos
olhamos menos pro umbigo
vemos por todos os lados
enxergamos o escondido
escutamos o calado.
Coisa boa na velhice:
a contagem regressiva
agora levamos a vida
antes, ela nos levava
levamos menos porrada
e damos mais gargalhadas.
Apaixonei-me por Klima
quem sabe alguém me anima
a entender a ironia…
Não gosto de ambiguidade
de mentiras ou engodo
prefiro o todo errado
meio torto, atrapalhado
ao santinho do pau oco
Mas vejam que absurdo
minha Valsa dos Adeuses
percebi que o percevejo
sempre esteve na garganta
com seu odor que espanta
até quem não se asseia
Oh meu Deus! Eu quero ajuda
para sair da armadilha
da cobra que se enrodilha
agora em meu pescoço
em minha mente em alvoroço
qual biruta sem controle
meu avião fez um pouso
aterrissou apressado
sem rumo desengonçado
se transformando em destroço
Oh Jesus! Eu quero tanto
que me ajudes neste conto
ou romance do Kundera
Meu Senhor, ai quem me dera
jamais ter sido o algoz
quando em verdade, era a vítima
de um script encenado
num carnaval com um reinado
comandado por um momo
quase nu, sem adereço
apenas a fantasia
em seu mundinho pelo avesso
menor que casca de noz!
Imaginava eu que herdaria os negócios da família
foram quatro gerações
viajei ao exterior
fui à meca daquele ofício…
Ao retornar
queria aprender com outros mestres
conviver e me aperfeiçoar sob o comando de pessoas mais exigentes
Os empregados de meu pai poderiam ser complacentes comigo
eu precisava de excelência e para obter excelência se faz necessário rigor.
E assim fui me aperfeiçoando
preparando-me para aprender com meu pai
alguns segredos daquele ofício,
estavam guardados com ele
toda a simplicidade e beleza
das coisas singelas
todo o requinte
que só encontramos na natureza
da vida, das coisas, das pessoas…
Um dia recebi uma ligação
meu pai se fora ainda jovem
em nossa cultura 55 anos se é jovem em seu ofício
voltei para assumir e continuar com os negócios da família
mas sem o meu pai para me indicar os caminhos...
Procurei os meus próprios caminhos
nas memórias da infância
na riqueza dos rios,
da floresta e das montanhas.
Na sexta-feira (23) nossa conversa foi sobre discos. Vou tomar como referência a indústria fonográfica de meados da década de 1970. Pode ser uns anos antes. Pode ser uns anos depois. Era o tempo dos discos de vinil. Era por meio deles que consumíamos música. Eram eles que, no caso dos colecionadores, formavam nossos preciosos acervos domésticos. No Brasil, os discos rodavam em 33rpm. 45rpm, só nos singles importados vindos quase sempre dos Estados Unidos ou da Europa.
Ano velho passando, ano novo chegando, será que o mundo melhorou? Claro, pois na vida não existe marcha à ré. Tudo evolui. Esta minha reflexão adveio de um desejo enorme de olhar para trás…
E tudo começou com aquele homem magro, quase nu, todo ensanguentado, pregado numa cruz, entre dois malfeitores. Um homem cujo crime foi amar a todos sem distinção. Pediu água e lhe deram vinagre. Pediu amor e lhe deram ódio, diante de uma multidão enlouquecida pelo fanatismo religioso, provou que nem sempre a voz do povo é a voz de Deus.
Aos que me leem, minhas desculpas. Duplas desculpas. Em primeiro lugar, por repetir o tema, voltando ao grande escritor Victor Hugo. Em segundo lugar, por este texto não ser uma página crítica ou analítica, apenas uma tradução operacional de um trecho de um capítulo de Os trabalhadores do mar, em que, aos meus olhos de leitor, reside um dos melhores perfis psicológicos do hipócrita e uma das melhores conceituações de hipocrisia. Victor Hugo, mestre incomparável, ao mergulhar no íntimo do ser humano, desvela ambos diante de nossos olhos.
Il faut être toujours ivre, tout est là; c'est l'unique question. Pour ne pas sentir l'horrible fardeau du temps qui brise vos épaules et vous penche vers la terre.
(Charles Baudelaire- Les petits poèmes en prose)
Merisi nunca teve um rosto fácil. Quando se olhava no espelho. Quando tinha coragem. Outros o espiavam de lá. Para além das marcas da bem-vinda boemia, dos fins das noites fauves, das madrugadas de ninguém é de ninguém, encontrava sempre outras caras. Estranhas olheiras fundas. Rugas insuspeitadas. Rictos que se reaprenderam risos.
Ser jovem enquanto velha, velha enquanto jovem. (A Ciranda das Mulheres sábias — de Clarissa Pinkola Estés)
Foi um ano difícil. E por entre o assunto da política, da eleição de Lula – o grande presente e Vivas!, e o momento de transição e da constatação do desmonte do país, tive também outros assuntos pertinentes a pensar. A velhice das mulheres. O corpo da mulher idosa, para os que não gostam da palavra velha, as suas dores e a solidão e invisibilidade dessa mulher, já há tanto falado, Desde Simone de Beauvoir à Miriam Goldenberg e a sua Bela Velhice.
As viradas dos anos trazem-me sempre à memória aquelas antigas figuras do velhinho e do menino, o primeiro a se despedir do tempo e o segundo a nele ingressar. Mas não são quadros difusos o que me vem à lembrança nessas ocasiões. É, ao invés disso, uma gravura específica que suponho ter visto, pela primeira vez, na Farmácia que Seu Israel instalou na cidadezinha de onde quase vim ao mundo. Quase, porquanto ali chegado aos seis meses de vida.
Menos importa se quem criou essa frase genial foi Pedro Malan, Gustavo Loyola ou a mãe de Pantanha. Nada mais verdadeiro do que as incertezas que fizeram do Brasil um país onde até o Judiciário periodicamente revira e modifica o que ele mesmo decidiu.
Um exemplo simples vem do Supremo Tribunal Federal que avançou (?) admitindo a relativização da coisa julgada. Antigamente, quando havia o trânsito em julgado de uma decisão, a ideia era a de que aquilo se tornasse imutável para todo o sempre. Parece até que com o aumento do trânsito atropelou-se o julgado. Não creio estar errado em relembrar que o mesmo STF decidiu em um passado não muito distante que aposentados passariam a descontar de seus magros caraminguás um percentual para a previdência social.
SILÊNCIO, POR FAVOR
A beleza,
essa panaceia para o desatino,
deixa de lado os seus afazeres árduos
de ser exceção dentre a vulgaridade dos dias
e se curva
diante do Rei do Futebol.
CASA DO MEU NOME
Era longe de um recanto a outro,
(custavam anos e atropelos)
construí-los, encontrá-los,
destituí-los do poder sobre nossa vida
A facilidade de idealizar, corromper
a decência da crítica, evitar
o torpor da certeza das paredes
E lá se vai 2022... Inexoravelmente, segue a regra finita da passagem do marco de tempo. Leva muitas levezas, outras tristezas, ondas do mar, vozes de além-mar, olhos alegres e outros tristonhos. Fecha-se o ciclo e abre-se outro no giro datado para ocorrer de há muito. A vida avança entre tantos giros de relógios físicos e mentais.
Os homens ficam perplexos como o mundo é incontrolável. Até imaginam-se em segurança, no controle da maquinaria que faz rodopiar o conceito de temporalidade. Pobres tolos, pois o comando não lhes pertence. Na verdade, eles são passageiros sem direito a serem guias, apenas aquelas ilusórias.
É incrível como somos tão facilmente influenciáveis. Seja pela moda, pelos costumes, ideologia, política, religião. Daí o perigo do fanatismo, pois muitas loucuras já foram cometidas sob ondas de delírio coletivo. O plebiscito em que o indulto da Páscoa foi dado ao assaltante Barrabás, em detrimento da liberdade de Jesus, é um dos mais notórios exemplos. O holocausto, as guerras religiosas chamadas de “santas”, o extremismo dos fundamentalistas islâmicos, são outras lamentáveis consequências do fanatismo.