Pais e mães que procuram meu curso para seus filhos costumam fazer a ressalva: “Queremos um curso de redação, não de gramática.” Geralmente acrescentam a essas palavras a informação de que os filhos não leem, ou leem pouco, por isso têm dificuldade de escrever. O acréscimo é pertinente, demonstra bom senso. Quem não lê não escreve. O que não se entende é a restrição à abordagem gramatical. Como se fosse possível produzir satisfatoriamente um texto sem o conhecimento das normas que disciplinam o uso da língua.
Por que essa rejeição, se grande parte dos problemas com que nos deparamos nas redações é de natureza gramatical? O que os pais na verdade contestam
A verdade é que há dois tipos de abordagem gramatical. O primeiro usa a língua como um meio para ilustrar a norma. É um modelo canhestro e parasitário, que tende a converter o aluno em mero recitador das regras. Um modelo que tende a imobilizar o pensamento e inibir a capacidade de produção textual. Ninguém se torna redator simplesmente por saber conjugar verbos ou distinguir os termos da oração.
O segundo tipo inverte o foco. Reconhece que a gramática é meio, e não fim. Em vez de privilegiar as regras, e procurar ilustrá-las em frases descontextualizadas, desperta a percepção delas no uso do idioma. É uma gramática para o texto, que integra outros domínios além do normativo. Entre eles o semântico e o estrutural, pois não há boa redação sem um vocabulário adequado e uma progressão articulada das ideias. Tampouco se escreve bem sem um repertório de informações que permita construir argumentos sólidos. Esses últimos requisitos estão além do âmbito gramatical, é certo, mas não o dispensam.
Desconhecer a gramática é como pretender que um corpo se mantenha de pé sem a espinha dorsal. Limitar-se a ela, contudo, é preservar-lhe apenas o esqueleto. O texto, como todo organismo, necessita de ossos e também de músculos, pele, nervos, tendões. É da articulação desses elementos que ele obtém a eficiência e a sedução com que envolve o leitor.