O que passa e o que permanece?

Para não ser morto, Galileu Galilei teve de renegar a sua teoria heliocentrista, sendo constrangido a "concordar" com a então "doutrina astronômica" da Igreja medieval, segundo a qual a Terra seria o Centro do Universo.

"Eppur si muove", ou, em português, "E, no entanto, ela se move", é a frase atribuída ao famoso cientista italiano. Segundo a tradição, ele teria murmurado essa expressão latina no ano de 1633, logo na saída de seu julgamento, após ter sido forçado a renegar publicamente as suas ideias.

Galileu perante o inquisidor romano (1857) Cristiano Banti (1824–1904)

Galileu simplesmente evidenciou uma verdade que todo bêbado sempre soube: a Terra se move.

Tudo está sempre em movimento, numa verdade antecipada por Heráclito de Éfeso. Para o filósofo pré-socrático, nada é permanente, exceto a mudança. Segundo ele, ninguém se banha duas vezes no mesmo rio.

A realidade não é estática, longe disso: ela pulsa, gira, vibra, flui. Desde os átomos até as galáxias mais distantes, tudo dança numa frenética coreografia cósmica. A aparente imobilidade dos objetos é, na verdade, um estado provisório, uma pausa breve no fluxo incessante do universo. Nada permanece imóvel.

Galileu Galilei @sapo.pt

Constante Só Deus, que Deseja que avancemos sempre em direção ao melhor de nós mesmos, ao bem e à luz. O Universo é movimento, até mesmo naquilo que julgamos fixo. No entanto, o amor, a fé e a generosidade são valores que permanecem, porque estão enraizados na essência divina.

As dificuldades passam, o aprendizado fica. Constância não é resistir à mudança, mas ser fiel ao bem mesmo em meio às transformações. É manter viva a chama do amor, da esperança e do serviço, apesar das perdas, da transitoriedade da vida e dos desafios cotidianos.

A volta do filho pródigo Rembrandt

O que vem de Deus permanece em nós para sempre: o bem que fazemos, o perdão que oferecemos, o amor que semeamos. Todo resto passa…

Tudo o que é material é transitório, enquanto o que é espiritual, virtuoso e vinculado ao amor, permanece.

A dor física e os sofrimentos terrenos passam; a riqueza, o poder e os títulos sociais mudam de mãos; as provas e tribulações da vida são superadas; os bens materiais e as ilusões do mundo se esvaem.

O que permanece é Deus; o amor que ofertamos; a bondade praticada, mesmo em silêncio; o aprendizado moral e espiritual; a consciência tranquila pelo bem realizado.

Nenhuma condição moral negativa é uma condenação. É possível mudar, se arrepender, se corrigir, alterar o rumo, modificar a conduta. Uma falha, um erro, uma sombra na alma, nada disso é uma sentença permanente. Pelo contrário, cada tropeço é um convite à renovação.

O arrependimento de São Pedro Jusepe de Ribera (1638)

O arrependimento sincero, seguido do esforço real, nos liberta dos erros. Ninguém está condenado. Há sempre a chance do recomeço.

Se tudo passa, que passemos fazendo o bem, relevando, perdoando, sendo instrumentos da paz, cultivando a humildade e a fraternidade.

A Terra gira, os dias se sucedem, os corpos envelhecem, mas nada se perde no esforço sincero. O Bem é o que verdadeiramente permanece, pois é gravado na alma, transcende a morte e constrói o destino; porque tudo o mais passa, menos o Amor, pois ele nunca morre, como nos disse Paulo em 1. Coríntios 13:8.

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