A nuvem sai do vermelho abrasivo e paira no ar a partir da madeira negra transformada pelo fogo. Pequenas labaredas que ameaçam explodir a qualquer momento estrelam ferozmente. O som assemelha-se ao do partir de um graveto, mas é a força do calor violento do carvão. O pedaço de madeira transformado em combustível canta para o preparo do alimento.
Outra chama se apresenta no horizonte durante os meses de verão. Uma fogueira queima nítida na linha divisória do avanço do sol sobre as terras e as águas. Nos tempos invernais, é uma mecha de amarelo laranja que surge supostamente domada. É o embrasamento do dia, o embaçamento das coisas, o ardor da vida... a sequência contínua.
David Mullins
Em junho, a chama consome a pilha de pedaços de madeira. O amontoado incandescente é símbolo de festejos, sinônimo cultural de uma gente. E ela também surge em fogos artificiais, em artifícios das pessoas para construir referências e sinônimos. E segue a estrada de terra batida rumo a um ponto de destino, um abrigo, um pé de mato, uma alegria.
Aldo Prakash
Muda a chama, o fogo. O embrasamento do coração faz arder corpo e mente. Queima mais ainda durante as noites, amansa nos dias, mas continua a pequena labareda, fogo baixo até avolumar-se noturnamente, feito bicho à espreita do momento de fraqueza da presa. É incêndio líquido em formato de suor, dos olhos que se fecham em delírios. Fogueira que tira o ser dos trilhos, balança estruturas, sacoleja até o intocável com suas incompreensões.
O fogo... Elemento que está no nascimento e na morte. A chama acessa, o fogaréu que clareia o breu das noites mais tempestuosas, que ao apagar-se acende um vácuo. É esperança e luto. É fogo que vela o caminhar e o sono de uma última viagem.