O ludismo exerce um importante papel no exercício da expressão verbal, desde o instante em que se faz a manipulação livre dos fonemas...

Os recursos de linguagem na construção do lúdico

linguagem educacao ludico
O ludismo exerce um importante papel no exercício da expressão verbal, desde o instante em que se faz a manipulação livre dos fonemas, até quando é considerado o efeito da polissemia das palavras, colaborando para ambiguidade como instrumento dessa investigação linguística que a criança necessita como forma de explorar também o mundo. Ela altera partes das palavras para experimentar, utiliza-se de abstrações à procura do concreto. Joga com as palavras, transformando-as para conhecer o quanto de força argumentativa/retórica elas possuem.

linguagem educacao ludico
Sebastian Pandelache
Ainda, conforme Huizinga, nota-se que um dos aspectos mais importantes do jogo verbal é o seu deslocamento do mundo poético em relação ao cotidiano. O material, ainda que reservado ideologicamente da vida cotidiana, mantém validade com as regras do jogo. Não se trata de uma imposição. O homem escolhe voluntariamente jogar, ainda que saiba que estará restrito a normas, causando-lhe tensão e alívio.

linguagem educacao ludico
Kelly Sikkema
E por que será que as crianças se submetem ao jogo de palavras? Responder que é por causa da beleza das palavras, ou do sentimento que lhes causam, tende-se a cair no subjetivismo. Porém, se é aferido que é uma necessidade social, afinal ninguém produz o jogo para um nada, provavelmente encontra-se uma justificativa plausível. Prova disto é que a poesia, os trava-línguas, as adivinhas e as cirandas só fazem sentido se forem compartilhados, na medida em que são exercidos em rituais e em caráter festivo, como afirma o autor de Homo Ludens, daí então atuarão como divertimento, persuasão e competição.

Entretanto, em se tratando de conteúdo do texto poético, um dos primeiros aspectos a ser observados pela criança certamente será se contém aspectos moralizantes. Ninguém gosta de ser repreendido. Além disso, não cabe à criança uma imposição para que ela se configure uma patriota. Assume-se, então, que não deve ser a poesia infantil um espaço para didatismos, porque provavelmente o leitor não se identificará.


O que faz a criança bem recepcionar o texto será o lúdico porque é por meio deste que o leitor atuará para construção de signos. O ludismo visa isto: significados. Não é possível dissociar o imaginário, particularmente, durante a tenra infância. É nessa fase da vida que necessitamos antecipar os poucos, mas diversos conhecimentos para investigarmos a realidade que nos circunda.

linguagem educacao ludico
Michał Bożek
O contato com a poesia é importante para que a criança transcenda suas próprias construções de mundo para o aperfeiçoamento de suas percepções. Por meio dos jogos de linguagem conscientiza-se de que a língua é rica, cheia de possibilidades comunicativas e que podemos brincar com sua construção sintática, semântica e fonêmica.

linguagem educacao ludico
Catherine Hammond
A prosa é um texto mais fechado para a criança. A poesia, pelo contrário, mesmo com suas abstrações, está em contato mais direto porque envolve mais constantemente o acesso ao imaginário.

linguagem educacao ludico
Rendy Novantino
Como os poemas geralmente são bastante musicais, a consciência dessa musicalidade se evidencia mais quando pronunciamos em voz alta os fonemas. Quanto à temática, qualquer assunto pode ser desenvolvido, no tocante ao interesse do leitor, a depender, evidentemente, de como é abordado o assunto. Cabe ao escritor e ao mediador do texto apresentá-lo com clareza e respeitar o processo de desenvolvimento emocional e intelectual daquele que lê.


A experiência com a função poética da linguagem inicia-se desde cedo com as cantigas de ninar, cantigas de roda, as parlendas e os trava-línguas (jogos verbais que desafiam a pronunciar palavras difíceis o mais rápido possível, de maneira sequenciada).
linguagem educacao ludico
CDC
A motivação lúdica com a língua é significativa porque é constituinte da educação da sensibilidade verbal, por isso que se insiste com o gênero poesia que é o tipo de texto mais rico para promover a educação verbal, e por isso mesmo o mais delicado de se trabalhar, pois segundo Paes (1996), a tendência da poesia é atrair a atenção da criança de forma a surpreendê-la diante da linguagem usual, aquela pela qual a criança se expressa diariamente, o tempo todo. O leitor, quando se depara com uma rima, é obrigado a voltar atrás, o que não costuma ocorrer na prosa. É preciso que ele retome o verso para conferir o que ficou para trás. Dessa forma, a leitura é desautomatizada, e a atenção da leitura se centrará no conjunto de significados presentes no texto.

linguagem educacao ludico
H. Yannis
A aproximação estreita entre poesia e jogo é outro aspecto fundamental do gênero. Essa ligação, observada por Huizinga (2001), desde os primórdios tem como nascedouro da atividade poética o jogo sagrado, sempre marcada pela alegria e pela diversão. Depois, a poesia expande-se aos jogos do relacionamento amoroso, na competição, na profecia, até se destacar em todos os âmbitos.

Então é possível afirmar que a poesia está presente em tudo a partir do momento em que a abstração se interpõe – do sagrado ao profano; do erudito ao popular. Eis que a metáfora é fundamental para traduzir por meio da linguagem poética o que a linguagem objetiva, contraditoriamente, não consegue exprimir. É por isso que a metáfora é tão assídua na comunicação da criança. Ela a utiliza para materializar na língua o que ela não consegue apreender, denotativamente, do mundo. Se há metáfora, há jogo, porque é a tentativa de manter a cooperação com o mundo; se há jogo, o lúdico está presente.

Referências COSEM, Michel (Org.). O poder da poesia. Trad. De Maria Helena Arianto. Coimbra: Almedina, 1980.
COSTA, Marta Morais da. Literatura, Leitura e Aprendizagem. 2ed. Curitiba: IESDE, 2009.
ELIAS, José. A poesia pede passagem: um guia para levar poesia às escolas. São Paulo, Paulus, 2003.
ELIOT, T.S. De poesia e de poetas. Trad e prólogo Ivan Junqueira. São Paulo: Brasiliense, 1991.
GEBARA, Ana Elvira Luciano. A poesia na Escola: leitura e análise de poesia para crianças. São Paulo: Cortez, 2002.
HUIZINGA, J. Homo Ludens. 5ed. São Paulo: Perspectiva, 2001.
PAES, José Paulo. Quem, eu? Um poeta como outro qualquer. São Paulo. Atual, 1996

COMENTE, VIA FACEBOOK
COMENTE, VIA GOOGLE

leia também