Tiranet: a incubadora de fascistas

O recrudescimento da extrema-direita em todo o mundo conta com dois aliados infalíveis: a frustração e as redes sociais.

A irracionalidade de todos aqueles que se sentem subestimados e injustiçados com suas circunstâncias vitais é a matéria-prima da demagogia política. O impulso natural da pessoa ignorante é culpar o outro, sem conseguir identificar as verdadeiras causas dos seus problemas, que estão nele mesmo ou em condições sociais estruturais que poderiam ser modificadas com consciência de classe e organização.

Para Nietzsche, o ressentido representa um fenômeno moral e psicológico que desempenha um papel significativo na história das ideias e na formação das sociedades. Este personagem, muito comum, inveja aqueles que interpreta como superiores, numa antipatia que emerge da sensação de impotência diante da aparente superioridade dos outros.

O ressentido se vitimiza, alijando-se da responsabilidade por suas dificuldades e insatisfações. Se o banqueiro e o latifundiário dizem que a “elite” são os professores, os funcionários públicos e os profissionais liberais, o frustrado acredita, e passa a alimentar um desejo de vingança contra aqueles que ele acha que são os seus verdadeiros inimigos e opressores.

É preciso não ter nenhum escrúpulo para se aproveitar de sentimentos corrosivos e da negatividade e amargura em relação à vida e aos outros. Só que o fascismo, além de não ter escrúpulos, tem as redes digitais.

Joseph Goebbels Alfred Eisenstaedt

Durante a ascensão nazista, a máquina de propaganda de Joseph Goebbels conseguiu retratar o inominável como um líder carismático e solução para todos os problemas enfrentados pela Alemanha. Hoje, com Steve Bannon desempenhando o mesmo papel de Goebbels, através do uso da internet para a disseminação deliberada de informações falsas ou distorcidas para influenciar a percepção pública, o neofascismo digital provoca emoções intensas, polariza opiniões e mina a confiança nas fontes de informação tradicionais.

Ataques coordenados são realizados ininterruptamente, visando desacreditar a política, as instituições e a democracia por meio de memes, de áudios e vídeos manipulados e outras formas de conteúdo viral. São as deepfakes, que retratam figuras públicas em situações comprometedoras ou vexatórias fictícias.

O uso dos algoritmos das redes sociais amplifica a eficácia dos conteúdos veiculados e propagados massivamente através de bots, o que cria a impressão de apoio generalizado ao discurso da extrema-direita. A triagem de dados pessoais segmenta a audiência de maneira precisa, através do direcionamento de mensagens específicas para determinados grupos demográficos e sociais, com mensagens adaptadas para maximizar seu impacto. Desse modo, comentários, curtidas e compartilhamentos automáticos criam uma falsa sensação de popularidade e consenso em torno do ódio, do preconceito e da violência.

Pete Linforth

Isolados em bolhas, os usuários das redes são expostos a informações que manipulam as suas crenças, criando assim uma realidade paralela que limita a diversidade de perspectivas.

Não é difícil gerar respostas intensas num ressentido. Basta estimular a sua raiva e medo para influenciar a sua percepção e comportamento.

A nova vice-presidente argentina, Victoria Villarruel, disse que seu país só sairá da crise com uma tirania. Ela e seu cabeça de chapa falaram para o público certo e venceram. Agora a tirania está sendo providenciada.

Javier Millei e Victoria Villarruel, presidente e vice-presidente eleitos na Argentina @perfil.com

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