Minha avó Joana Batista ensinou-me algo mágico; gostar de ler. Tão importante (ou até mais, no dizer de Ziraldo) quanto aprender a ler, gostar de ler definiu minha vida. Criança ainda, era a avó que me contava histórias fantásticas. Eu pedia a ela que repetisse as mesmas histórias várias vezes seguidas, “até cansar a boca”.
Resumidamente Justiniano não pediu a salvação e quando morreu foi parar no inferno, mas jogou baralho com o diabo e ganhou todas as almas penadas, conseguindo depois não só entrar no céu como levar consigo as almas que ganhara no jogo. Tinha muito mais. Não vou cansar vocês, porém não posso deixar de referir a história da mulher teimosa que acompanhou o marido numa viagem e insistiu em levar a porta da casa. Tanto encheu o saco que o marido concordou e finalmente a porta salvou a vida de ambos. Essa eram as histórias que eu ouvia.
Leio, leio muito, leio em todos os lugares. E gosto de ler dois ou três livros ao memo tempo. Gosto tanto que quando viajo levo muitos livros comigo. Eu os escolho com o mesmo interesse com o qual mãe Leca escolhe as roupas para pôr em sua mala. Uma das maiores decepções que tive foi quando descobri que nos Shoppings de Miami não havia uma livraria sequer. Jamais voltei lá. Quando chego em outro país procuro comprar livros que já tenha lido em português para treinar o idioma local.
É muito triste constatar que a maioria dos mais novos não gosta de ler. Temo pelo futuro de uma geração que não tem esse saudável vício da leitura.