As formas clássicas parecem eternas. A pirâmide, elemento primordial da Arquitetura que atravessa a História impávida e incólume, nos ensina e instiga a observações mais apuradas acerca da sua origem, essência e significados. É uma forma simples, pura, de geometria sólida, que transmite às nossas emoções estéticas a magia da leveza e do mistério.
Pirâmides de Gizé, Egito
A característica formal da pirâmide clássica, elegantemente perfeita e concisa, não foi criada apenas com intuitos estéticos. Os grandes planos que nascem de um quadrado e se erguem inclinados até se transformar num só ponto culminante foram concebidos para simbolizar a convergência da força e da fé humanas em direção ao deus egípcio “Rá”, simbolizado pelo Sol do meio dia, para onde aponta o ápice de seu molde, abrigando em seu interior os sarcófagos em que jaziam os corpos dos grandes reis e faraós, devidamente mumificados e paramentados.
Detalhe da câmara funerária de Nefertari, esposa de Ramsés II: o deus Rá e Amentit, a deusa do Oeste (c.1298-1235 a.C.). ▪ Origem: Luxor, Egito /// Fonte: Wikimedia.
Pirâmide de Quéops: a Grande Pirâmide de Gisé, Egito.
Até hoje a forma piramidal inspira a Arquitetura, em interiores e exteriores, como aconteceu no polêmico projeto que repaginou o pátio do Louvre assinado pelo chinês-americano Ieoh Ming Pei. Embora concebida em materiais contemporâneos como aço e vidro, sua forma imprime uma relação histórico-erudita com o icônico e mais visitado museu do mundo.
De fato alguns elementos arquitetônicos como o arco, a coluna, a cornija, o frontão, foram criados com o condão de serem eternizados. Por isto frequentemente continuam a ser merecidamente usados em construções atuais.
Museu do Louvre, Paris.
Centro Heydar Aliyev ▪ Baku, Azerbaijão
Entendendo a Arquitetura como uma realização lúdica, a intenção de que o resultado agrade e proporcione prazer sempre deverá estar preservada. Consequentemente ela será um registro sólido e fiel da época de um povo e de seus anseios. Se nestes anseios há certas preferências estéticas, como, por exemplo, de resgatar estilos antigos, clássicos, neoclássicos, que assim sejam moldados.
Os projetos dos condomínios residenciais “Saint Michel Boulevard” (construtora Conserpa-Enger) e “Palazzo de Toscana” (construtora Massai), de nossa autoria, que foram edificados no Altiplano do Cabo Branco, na capital paraibana, guardam esta “intenção” ao refletir os sonhos dos envolvidos, desde os construtores patrocinadores, os arquitetos, futuros moradores e – por que não? – da cidade que passou a ter uma obra que resgata traços de um período em que a Arquitetura trouxe à tona uma nova abordagem do tão apreciado classicismo formal.
Considerando-se que projetos com contornos e fachadas neoclássicos, há muito elaborados por empreendedores e arquitetos no sul e sudeste do país, haverem sido analisados por alguns críticos de arte como uma “anomalia” formal e ilegítima, resta-nos a indagação acerca do que é legítimo na feição urbanística?: O regozijo da maioria, sejam produtores, consumidores ou apreciadores, ou a opinião conceituosa de quem avalia a intervenção no cenário urbano, sem ouvir a sociedade que nele caminha?...
Partindo dessa abordagem feita conjuntamente com os patrocinadores destes projetos, com os colegas da Construção Civil, do mercado imobiliário e, principalmente, auscultando o desejo dos futuros moradores, o “Saint Michel Boulevard” e o Palazzo di Toscana foram criados para serem formalmente pioneiros na Paraíba, cujo êxito verificou-se desde o lançamento de seus primeiros esboços e que, sem dúvida alguma, constituíram-se nos primeiros neoclássicos, um marco indiscutível na arquitetura paraibana, que ainda hoje surpreendem e agradam os olhares sensíveis ao que é eterno e atemporal.
Como a diversidade humana também se faz presente nos gostos e preferências, sempre haverá quem aprecie ou se incomode com a ousada pirâmide do Louvre ou com os arcos e cornijas dos neoclássicos do Altiplano. Mas nunca se deve esquecer que a Arte e a Arquitetura são reflexos dos sonhos de quem as usufrui livremente, sem conceitos nem preconceitos, desde que agradem pelo cumprimento de suas funções, das quais a beleza e a harmonia fazem parte.