As formas clássicas parecem eternas. A pirâmide, elemento primordial da Arquitetura que atravessa a História impávida e incólume, nos...

Estilos que não morrem

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As formas clássicas parecem eternas. A pirâmide, elemento primordial da Arquitetura que atravessa a História impávida e incólume, nos ensina e instiga a observações mais apuradas acerca da sua origem, essência e significados. É uma forma simples, pura, de geometria sólida, que transmite às nossas emoções estéticas a magia da leveza e do mistério.

Pirâmides de Gizé, Egito
Foram basicamente três os povos que a exploraram com mais propriedade: Astecas, Maias e Egípcios, estes últimos, de forma mais eloquente, souberam como nenhum outro estabelecer um dos mais antigos conceitos de design clássico: um monumento maciço com base quadrada de onde nascem quatro lados triangulares para convergir em um só ponto.

A característica formal da pirâmide clássica, elegantemente perfeita e concisa, não foi criada apenas com intuitos estéticos. Os grandes planos que nascem de um quadrado e se erguem inclinados até se transformar num só ponto culminante foram concebidos para simbolizar a convergência da força e da fé humanas em direção ao deus egípcio “Rá”, simbolizado pelo Sol do meio dia, para onde aponta o ápice de seu molde, abrigando em seu interior os sarcófagos em que jaziam os corpos dos grandes reis e faraós, devidamente mumificados e paramentados.

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Detalhe da câmara funerária de Nefertari, esposa de Ramsés II: o deus Rá e Amentit, a deusa do Oeste (c.1298-1235 a.C.). ▪ Origem: Luxor, Egito /// Fonte: Wikimedia.
A sua estrutura autoportante, que percorreu vários milênios, causa espanto até hoje, com alguns pesquisadores ainda acreditando que sua concepção teve influência de extraterrestres, ou que se fundamentou em tecnologia cujos registros foram perdidos ao longo dos tempos. A monumentalidade leva a crer que teriam sido necessários mais de 20 mil trabalhadores para se erguer a Grande Pirâmide de Gizé, por exemplo, cuja construção levou em torno de 23 anos.

Pirâmide de Quéops: a Grande Pirâmide de Gisé, Egito.
E elas ainda podem ser vistas em centenas espalhadas pelo mundo, de vários estilos, na Europa, África, Oriente Médio, além da Ásia Setentrional, Pacífico Sul, assim como nas Américas. Não há como descrever o que se sente diante das três pirâmides de Gizé, cidade vizinha ao Cairo, que, ao lado da Grande Esfinge, o mais famoso complexo de estruturas sagradas e fú nebres da história da humanidade.


Até hoje a forma piramidal inspira a Arquitetura, em interiores e exteriores, como aconteceu no polêmico projeto que repaginou o pátio do Louvre assinado pelo chinês-americano Ieoh Ming Pei. Embora concebida em materiais contemporâneos como aço e vidro, sua forma imprime uma relação histórico-erudita com o icônico e mais visitado museu do mundo.

De fato alguns elementos arquitetônicos como o arco, a coluna, a cornija, o frontão, foram criados com o condão de serem eternizados. Por isto frequentemente continuam a ser merecidamente usados em construções atuais.

Museu do Louvre, Paris.
Entretanto, os arquitetos são conscientes de que para abordar a concepção de qualquer projeto de edificação é preciso considerar as condições dos tempos atuais, sobretudo sendo um serviço profissional que abrange uma realização complexa e conjunta na criação de um empreendimento. É um trabalho que deve interagir simultânea e cuidadosamente, desde suas primeiras idéias, com a cadeia que o envolve: o patrocinador, os futuros e legítimos usuários, os demais autores e responsáveis pelos projetos complementares, instalações prediais, os agentes imobiliários, o contexto urbano e o meio ambiente em que se inserirá.

Centro Heydar Aliyev ▪ Baku, Azerbaijão
É óbvio que a meta principal para o sucesso de qualquer produção arquitetônica é a satisfação concomitante de quem a contratou, de quem a executará e, principalmente, daqueles que a usufruirão. E aí não podemos esquecer de que, sendo um elemento que permeará e interferirá definitivamente no meio urbanístico público, a Arquitetura também tem compromisso com a beleza e a satisfação visual daqueles que serão obrigados a vê-la cotidianamente.

Entendendo a Arquitetura como uma realização lúdica, a intenção de que o resultado agrade e proporcione prazer sempre deverá estar preservada. Consequentemente ela será um registro sólido e fiel da época de um povo e de seus anseios. Se nestes anseios há certas preferências estéticas, como, por exemplo, de resgatar estilos antigos, clássicos, neoclássicos, que assim sejam moldados.

Os projetos dos condomínios residenciais “Saint Michel Boulevard” (construtora Conserpa-Enger) e “Palazzo de Toscana” (construtora Massai), de nossa autoria, que foram edificados no Altiplano do Cabo Branco, na capital paraibana, guardam esta “intenção” ao refletir os sonhos dos envolvidos, desde os construtores patrocinadores, os arquitetos, futuros moradores e – por que não? – da cidade que passou a ter uma obra que resgata traços de um período em que a Arquitetura trouxe à tona uma nova abordagem do tão apreciado classicismo formal.

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Boulevard Saint-Michel
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Palazzo di Toscana

Considerando-se que projetos com contornos e fachadas neoclássicos, há muito elaborados por empreendedores e arquitetos no sul e sudeste do país, haverem sido analisados por alguns críticos de arte como uma “anomalia” formal e ilegítima, resta-nos a indagação acerca do que é legítimo na feição urbanística?: O regozijo da maioria, sejam produtores, consumidores ou apreciadores, ou a opinião conceituosa de quem avalia a intervenção no cenário urbano, sem ouvir a sociedade que nele caminha?...

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Boulevard Saint-Michel, bairro Altiplano, João Pessoa, Paraíba.

Partindo dessa abordagem feita conjuntamente com os patrocinadores destes projetos, com os colegas da Construção Civil, do mercado imobiliário e, principalmente, auscultando o desejo dos futuros moradores, o “Saint Michel Boulevard” e o Palazzo di Toscana foram criados para serem formalmente pioneiros na Paraíba, cujo êxito verificou-se desde o lançamento de seus primeiros esboços e que, sem dúvida alguma, constituíram-se nos primeiros neoclássicos, um marco indiscutível na arquitetura paraibana, que ainda hoje surpreendem e agradam os olhares sensíveis ao que é eterno e atemporal.

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Palazzo di Toscana, bairro Altiplano, João Pessoa, Paraíba.

Como a diversidade humana também se faz presente nos gostos e preferências, sempre haverá quem aprecie ou se incomode com a ousada pirâmide do Louvre ou com os arcos e cornijas dos neoclássicos do Altiplano. Mas nunca se deve esquecer que a Arte e a Arquitetura são reflexos dos sonhos de quem as usufrui livremente, sem conceitos nem preconceitos, desde que agradem pelo cumprimento de suas funções, das quais a beleza e a harmonia fazem parte.

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  1. Uma aula de arquitetura e sensibilidade. Parabéns, Germano. Francisco Gil Messias.

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  2. Milton Marques Júnior10/8/25 09:35

    Além da aula sobre os estilos arquitetônicos, desde os antigos egípcios, a beleza da realização das novas formas, apresentadas pelos seus magníficos projetos. Uma maravilha, Germano!

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  3. Que aula magnifíca, Germano. A arte da arquitetura é extraordinária, sai do desenho e dos cáculos matemáticos e se torna longeva. Parabéns, Lúcia Maia

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