Jean de Léry , religioso calvinista que passou um tempo entre os Tamoios e no Forte Coligny, no período da França Antártica, descreve ...

Jean de Léry: A grande ostra

historia rio janeiro tamoios jean lery
Jean de Léry, religioso calvinista que passou um tempo entre os Tamoios e no Forte Coligny, no período da França Antártica, descreve com riqueza de detalhes, na obra Viagem à Terra do Brasil, a fauna da Baía de Guanabara. “Léryy-Assú” significa “grande ostra”, nome recebido carinhosamente na aldeia tamoia de Jaburací.

Sobre a Baía de Guanabara, ele também a chamou de “rio” e “braço de mar”, e afirma que o acidente geográfico já era conhecido como “de Janeiro”. Na verdade, segundo Monsenhor Pizarro, Martim Afonso de Sousa, quando desembarcou
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@riodeliteraturas
no Rio em 1531 e lá permaneceu por alguns meses, teria sido o responsável por nomear definitivamente o lugar como “Rio de Janeiro”, denominação que mais tarde se tornaria o nome da cidade.

Mas, diferente de Martim Afonso de Sousa, que teria achado assustadores os penhascos, Léry demonstrou outra reação e os comparou à cidade de Genebra. Ele descreve a região que abrange o atual bairro da Urca e seus morros, numa época em que a área ainda não era aterrada, obviamente, e o mar avançava facilmente nas regiões onde hoje se encontra a praia de Botafogo. Isso identifico a partir de leituras que fiz anteriormente sobre o assunto e também da descrição de algumas ilhas e morros feita por Léry.

Jean de Léry teve contato, de acordo com Elisete Pietroluongo, com as 19 aldeias tamoias, que se estendiam do Flamengo até a tapera de Inhaúma. Inclusive, recolheu músicas dos Tamoios, como Canide Ioune, no ano de 1557. Interessante notar que ele informa que a
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CC0
“Ilha Grande” — que, pelo que pude identificar, corresponde à Ilha do Governador — já era habitada pelos Tamoios. Isso significa que realmente corresponde ao período da expulsão dos Temiminós (Maracajás), anterior à aliança destes com os portugueses.

A água do Forte Coligny (Ilha de Villegagnon) era recolhida em cisternas e de péssima qualidade. Segundo ele, o acesso à água do Rio Carioca, controlada pelos Tamoios, era dificultado até mesmo para os franceses.

Mas o que surpreendeu na leitura foi a descrição da fauna. É incrível imaginar a Baía de Guanabara povoada por tubarões e repleta de enormes ostras, que, segundo Léry, os Tamoios mergulhavam com grande satisfação para buscar, enquanto os franceses se admiravam com a enorme quantidade de pérolas. Também uma imensa quantidade de baleias era avistada, o que causava preocupação.

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Biblioteca Nacional da França
Essa informação é interessante porque a Ponta da Armação, em Niterói, na Baía de Guanabara, recebeu esse nome justamente por ali serem tratadas as baleias pescadas — sendo “armação” o local de beneficiamento de cetáceos.

O que mais me impressionou foi a referência à existência de tubarões e pérolas em abundância sob as marolas escuras.

A obra de Léry foi publicada duas décadas após sua passagem pelo Rio de Janeiro, em resposta à obra Cosmografia, do católico André Thevet.

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Botafogo (RJ) Johan Moritz Rugendas

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