“Como um dragão encheste a terra de veneno. Como trovão, quando ruges sobre o mundo árvores e plantas caem diante de ti. Tu és a ench...

As primeiras cidades sumérias: Eridu, Ur e Uruk

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“Como um dragão encheste a terra de veneno. Como trovão, quando ruges sobre o mundo árvores e plantas caem diante de ti. Tu és a enchente descendo a montanha, ó primeva, deusa da lua, Inanna, do céu e da terra. Teu fogo explode ao redor e cai sobre a nossa nação. Senhora montada sobre uma fera, An dá-te os dons, ordens sagradas, e tu decides. Tu estás em todos os nossos grandes ritos (...)”
Enheduana, poeta e filósofa suméria, filha do rei Sargão da Acádia, eleita alta sacerdotisa do deus lunar Nanna na cidade suméria de Ur. O seu nome é composto pelas palavras “en”, que significa “alta sacerdotisa” e a palavra “heduana”, epíteto poético para “lua”, mas que poderá também referir-se ao deus Anu ou à deusa Inanna.

A Suméria, berço da civilização mais antiga conhecida, localizada na parte sul da antiga Mesopotâmia — atual região sul do Iraque —, entre os rios Tigre (Dijlah) e Eufrates (Al-Furat), foi o berço das primeiras cidades conhecidas da Humanidade. Entre essas cidades, destacaram-se por sua antiguidade e importância histórica, Eridu, Ur e Uruk.

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Localização dos principais centros urbanos sumérios no sul do atual Iraque, em mapa que destaca Eridu, Ur, Uruk e outras cidades da antiga Mesopotâmia. ▪ Fonte: Wikimedia (adapt.)
Eridu, localizada a sul de Tall al-Muqayyar (antiga Ur), é frequentemente considerada a mais antiga de todas. Segundo registos arqueológicos, esse assentamento já estaria ocupado por volta de 5400 a.C., e muitos estudiosos reconhecem-na como a primeira cidade verdadeira do mundo, associada à fundação da civilização pelos próprios sumérios.
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Zigurate de Eridu: vestígios da antiga cidade mesopotâmica que nasceu às margens do Eufrates e guarda os primeiros capítulos da vida urbana. ▪ Fotos: D. Stanley
Era dedicada ao deus Enki, “senhor das águas doces que fluem sob a terra”, e foi considerada sagrada ao longo de milénios. O sítio arqueológico da cidade, localizado num monte rodeado de dunas de areia, chamado de Abu Shahrayn, foi escavado principalmente entre 1946 e 1949 pelo Departamento de Antiguidades do Iraque, provando ser um dos mais importantes centros urbanos pré-históricos do sul da Babilónia.

Ur, situada a cerca de 225 km a sudeste do sítio arqueológico da Babilónia e a cerca de 16 km a oeste do leito atual do rio Eufrates, também remonta a um período muito antigo, sendo habitada desde o sexto milênio a.C. e que tornar-se-ia numa proeminente cidade no terceiro milênio a.C., especialmente durante a Terceira Dinastia de Ur, quando floresceu como centro administrativo e religioso. O último rei a construir em Ur foi o conquistador Aqueménida (Hakhamanish), Ciro II, o Grande. Crê-se ter sido nessa época que o rio Eufrates mudou o seu curso, e com o colapso de todo o sistema de irrigação, Ur, com os seus campos reduzidos a deserto, seria finalmente abandonada.

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Zigurate de Ur: sítio arqueológico da Mesopotâmia, a poucos quilômetros do rio Eufrates, onde se preservam vestígios de templos, palácios e muralhas que marcaram a história da civilização. ▪ Imagens: US Army + Kaufing
No entanto, foi Uruk, ou Erech, que realmente consolidou os elementos que definem uma cidade no sentido moderno. Por volta do ano 4.000 a.C., Uruk tinha-se transformado num dos mais avançados centros urbanos da antiguidade, com uma população estimada entre 40.000 e 50.000 habitantes, um número extraordinário para a época. Uruk apresentava traços típicos de urbanização, com muralhas monumentais de tijolos com cerca de 10 km de circunferência (que, segundo a lenda, terão sido construídas pelo rei e herói mítico Gilgamesh, “o velho que rejuvenesce”), zonas dedicadas ao culto religioso (como o templo de Inanna), bairros especializados em ofícios, com sistema de irrigação, escrita cuneiforme e administração centralizada.

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Uruk: Templo de Charyos, estrutura associada a cultos da Mesopotâmia tardia, conhecido por seus vestígios de pilares e relevos que evocam rituais dedicados a divindades regionais. ▪ Imagens: Tobytravels
As duas principais divindades sumérias cultuadas na antiga Erech parecem ter sido Anu (An), um deus do céu, e a deusa Inanna (“Rainha do Céu”). Um dos principais marcos da cidade é o zigurate de Anu, coroado pelo “Templo Branco” do período Jamdat Nasr, época de grande prosperidade, quando o ouro, a prata, o cobre, selos, amuletos e artesanato eram habilmente trabalhados.

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Zigurate de Anu, em vista fotográfica e em reconstrução digital concebida pelo Instituto Arqueológico da Alemanha, mostrando a imponência da principal plataforma sagrada de Uruk, dedicada ao deus do firmamento e marco da arquitetura religiosa suméria.
O temenos (recinto sagrado) de Eanna, outro zigurate, testemunhou a atenção de muitos reis poderosos, incluindo Ur-Nammu (cujo reinado foi de 2112 a 2095 a.C.), primeiro rei da 3ª dinastia de Ur, que também muito terá contribuído para o desenvolvimento da cidade.

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Relíquias de Uruk (atual Warka, Iraque) no Museu Pérgamo, em Berlim: estátuas sumérias e detalhes das colunas revestidas com a técnica de mosaico de cones de argila. ▪ Fonte: Wikimedia
A influência de Uruk foi tão significativa que os arqueólogos batizaram um período inteiro com o seu nome: o Período de Uruk (c. 4000-3100 a.C.). Nesse tempo, houve grandes inovações tecnológicas e sociais: o surgimento da escrita, a consolidação de formas estatais e o crescimento de uma cultura urbana que se espalharia por outras regiões da Mesopotâmia e mais além.

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Embora Eridu e Ur sejam candidatas legítimas ao título de cidades mais antigas, foi Uruk que, de facto, estabeleceu as bases estruturais, administrativas e simbólicas do que hoje chamamos de “cidade”. A sua influência ultrapassou os seus sólidos muros, moldando o desenvolvimento urbano de toda a Mesopotâmia.

Aliás, uma investigação mais recente, a quase 500 km de distância de Uruk, no Vale Bazyan, na Cordilheira do Zagros (Província de Sulaymaniyah, região do Curdistão iraquiano), realizada por uma equipa internacional com participação portuguesa, descobriu um edifício com 5.000 anos, construído com características idênticas às de Uruk: paredes reforçadas, decoração típica com “wall cones” (mosaicos de cones de argila cozida ou pedra pressionados contra o gesso húmido nas fachadas dos edifícios para criar padrões geométricos), selos cilíndricos usados para administração e até um fragmento de pendente em ouro associado a objetos de elite.

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Trabalhos de escavação no sítio arqueológico de Girsu (Tello, Iraque), onde templos, pontes e palácios sumérios estão sendo recuperados por uma equipa internacional de pesquisadores e arqueólogos. ▪ Foto: B. Allardice"
A descoberta sugere que as tradições arquitetónicas, rituais e políticas de Uruk alcançaram muito além da esfera urbana local e das planícies férteis da Mesopotâmia, chegando até regiões montanhosas consideradas periféricas.
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