João Cabral de Melo Neto, em Morte e Vida Severina, escreve, através do personagem Severino Retirante, um dos trechos mais dramáticos d...

Que diferença faz?

João Cabral de Melo Neto, em Morte e Vida Severina, escreve, através do personagem Severino Retirante, um dos trechos mais dramáticos da literatura de língua portuguesa:

— Seu José, mestre carpina, que diferença faria se em vez de continuar tomasse a melhor saída: a de saltar, numa noite, fora da ponte e da vida? (...)
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— Severino, retirante, deixe agora que lhe diga: eu não sei bem a resposta da pergunta que fazia, se não vale mais saltar fora da ponte e da vida; nem conheço essa resposta, se quer mesmo que lhe diga, é difícil defender, só com palavras, a vida, ainda mais quando ela é esta que vê, Severina; mas se responder não pude à pergunta que fazia, ela, a vida, a respondeu com sua presença viva. E não há melhor resposta que o espetáculo da vida: vê-la desfiar seu fio, que também se chama vida, ver a fábrica que ela mesma, teimosamente, se fabrica, vê-la brotar como há pouco em nova vida explodida; mesmo quando é assim pequena a explosão, como a ocorrida; como a de há pouco, franzina; mesmo quando é a explosão de uma vida severina.

A pergunta de Severino expressa, de forma crua, a desesperança e o peso de uma vida marcada pela miséria e pelas dificuldades, questionando Seu José, mestre carpina, sobre a validade da existência diante do sofrimento extremo, oriundo da opressão cotidiana e da falta de perspectivas.

Esse momento da obra é emblemático porque, embora revele o desespero, também leva a refletir sobre a resiliência e a necessidade de solidariedade. Nele, o poeta não romantiza a morte, mas a apresenta no contexto do sofrimento humano levado ao extremo.

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O trecho deve ser lido como um chamado à compaixão, pois, na resposta à questão levantada por Severino, a vida é apresentada como sempre valiosa, mesmo quando a dor parece insuportável.

O auxílio, a escuta e o apoio de Seu José, mestre carpina, transformaram o desespero de Severino em esperança, fazendo toda a diferença entre continuar ou desistir.

Seu José convidou Severino a valorizar cada instante e a entender que a vida, por mais sofrida que seja, é um tesouro de aprendizado e transformação, e que em cada dificuldade existe a possibilidade de crescimento e de resgate da esperança.

A presença atenta e amorosa de alguém que ouve e acolhe pode ser a luz que impede o desespero de se tornar definitivo.

Na China, um homem chamado Chen Si, também conhecido como o “Anjo de Nanjing”, vigia a ponte sobre o Rio Yangtze,
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patrulhando-a há 22 anos para prevenir suicídios. Nesse período, ele já salvou cerca de 450 pessoas, intervindo tanto com conversas quanto mergulhando para resgatar pessoas que se jogaram na água.

Em sua missão voluntária, ele veste um uniforme vermelho com inscrições como “valorize a vida todos os dias” e utiliza sua percepção da linguagem corporal para identificar sinais de desespero.

Além de impedir suicídios, Chen oferece ajuda prática, como pagar hospedagem, alimentação e até educação para as pessoas que resgata.

Sua história inspiradora foi registrada no documentário Angel of Nanjing e é uma expressão concreta do amor ao próximo e da prática do bem sem esperar retorno algum.

A vida, por mais difícil que seja ou pareça, é sempre uma oportunidade de aprender, servir e amar. Estamos aqui para ajudar, para fazer todo o bem que pudermos, o máximo de tempo que conseguirmos, da melhor forma que der, pois cada gesto de bondade é um rasgo de luz que vence a escuridão.

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O sentido maior da existência se revela quando entendemos que somos instrumentos nas mãos de Deus. Quando realmente percebemos isso, a vida deixa de ser apenas sobrevivência ou busca de satisfação pessoal e passa a ser missão.

Palavras de consolo e atitudes que preservam o próximo são um modo de agradecer pela dádiva da vida.

Aguentar firme e abençoar os outros é a coragem silenciosa de quem atravessa as dificuldades sem desistir ou se entregar ao desespero, e ainda encontra forças para irradiar paz e esperança, ao transformar a própria vida em dádiva, mesmo quando o coração sofre e parece não haver solução.

Nas grandes dores da vida, o melhor é mesmo seguir em frente, resistir sem reclamar, semear bondade em silêncio e compreender que servir e amar é sempre o melhor caminho.

Por si só, e sem a necessidade de qualquer discurso, o gesto concreto de Chen Si é um sinal de esperança e de fé, a demonstrar que permanecer neste mundo para auxiliar, fazer o bem e salvar faz, sim, toda a diferença.

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