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Como suportar quase tudo?

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O ex-arcebispo da Paraíba, Dom José Maria Pires, o querido “Dom Pelé”, contou, numa homilia, que, certa vez, uma menina foi vista carregando nos braços seu irmãozinho, cujo pé estava machucado.

Cansada, suada e sob o sol inclemente, ela o segurava firme, sem reclamar. Alguém, com pena, perguntou:

— Esse garoto não é pesado demais para você?

Ela sorriu e respondeu com simplicidade desarmante:

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— Não. Ele é meu irmão!

Nietzsche escreveu que “quem tem um porquê suporta quase qualquer como”. Quando o amor nos dá um motivo, o peso vira cuidado, o esforço se transforma em sentido, e aquilo que parece intolerável se torna suportável.

Em muitas passagens da vida, o sofrimento se apresenta como um fardo pesado demais para nossos ombros. Entretanto, o peso da responsabilidade muda com o toque do coração.

A menina que carregava o irmão ferido não levava apenas um corpo pequeno nos braços; conduzia, acima de tudo, a presença do seu afeto por ele. O amor transforma sacrifício em utilidade, e dificuldade em prazer de servir.

Carregamos desafios e provas que parecem maiores do que a nossa força. E, em muitos momentos, perguntamos se somos mesmo capazes de seguir adiante. Somente quando a luta tem propósito a dor pode se converter em combustível.

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Não é a carga em si que fatiga o caminhante, mas a ausência de sentido. A vida se torna insuportável quando nos afastamos daquilo que dá ritmo aos nossos passos. Um coração que ama transforma a dor em tarefa, a missão em dever, a obrigação em dignidade e o propósito em paz.

Há lutas que se impõem: doenças, perdas, injustiças, noites que parecem não terminar. E, ainda assim, o que determina a nossa disposição não é o peso desses desafios, e sim o vínculo que nos liga a algo maior que nós mesmos. O amor — seja por uma pessoa, por um ideal, por Deus ou pelo bem — confere aos mesmos acontecimentos um outro brilho. Ele não evita a dor, mas lhe dá uma direção; não elimina o esforço, mas o faz fecundo.

A coragem de prosseguir nasce quando percebemos que não estamos vivendo apenas para nós. Quem se sabe responsável pelo outro encontra reservas de vigor que nunca suspeitou possuir.

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Cena de O caminho das nuvens
Imdb
Não há quem passe pela vida sem sentir o peso das próprias provações. Todos nós caminhamos por estradas longas, carregando pesos, ladeados por sombras e esperanças. Só é possível seguir se houver um “porquê”. Só quando o amor se torna companhia, a estrada muda de natureza: deixa de ser apenas caminho e se transforma em destino.

Nietzsche estava certo: quando há um porquê, uma razão, quase toda dificuldade é suportável. O “porquê” dá sentido ao “como”, e é isso que nos sustenta nas horas duras e nos trechos mais difíceis do trajeto.

O filme O Caminho das Nuvens foi inspirado numa história real: Romão e sua família partem em uma jornada exaustiva pelo país em busca de trabalho e dignidade.

Cláudia Abreu, que viveu a esposa do protagonista, contou numa entrevista que procurou Rose, a mulher de Romão, para compreender sua motivação. Perguntou-lhe como conseguiu atravessar o Brasil com as crianças, enfrentando fome, medo e estradas intermináveis.

A resposta, dita de maneira pura e desarmada, emocionou a atriz:

— Porque eu gosto demais dele.

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