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Para Luísa Hoje eu quero paz de criança dormindo E abandono de flores se abrindo (Dolores Duran) Final de ano, fico triste com as r...

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Para Luísa

Hoje eu quero paz de criança dormindo
E abandono de flores se abrindo
(Dolores Duran)

Final de ano, fico triste com as retrospectivas, principalmente com a lista enorrrrrme dos mortos – anônimos e famosos. Passa a vida na cabeça, os dias, e o tempo que resta. Sim, estou na fase das jabuticabas de que falou Rubem Alves, a conta é decrescente. Mas não penso nisso. A vida é hoje, mas a tristeza é real. Ainda mais que fico sabendo da morte do amigo de infância, Alexandre Carneiro, meu par nas quadrilhas juninas do final dos anos 60, e depois amigo das noitadas e turma de que já falei aqui semana passada. Tudo urgente.

No final da década de 70, entrando pelos 80´s atravessei dificuldades na vida que mudava e mudava, ao som das músicas Esotérico de...

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No final da década de 70, entrando pelos 80´s atravessei dificuldades na vida que mudava e mudava, ao som das músicas Esotérico de Gil e Caetano e Travessia de Milton e Começar de Novo de Ivan Lins. Tornei-me uma mulher desquitada, na época era assim que chamava, e fui viver uma adolescência tardia aos 25 anos. E claro que, ao som do Taracon também, e noites na boemia, reencontrei amigos de infância e outros nem tão de infância assim. Uma turma de amigos que, curtiam encontros nas sextas à noite, sábados no bar de Lindenberg (Boibumbar) no Bessa, ou no Motocar, Ponta Cabo Branco.

E sobrevivemos ao Natal! Com os babilaques de sempre – comprei uma árvore minúscula e cafona, para brindar a minha neta, Luísa, que des...

E sobrevivemos ao Natal! Com os babilaques de sempre – comprei uma árvore minúscula e cafona, para brindar a minha neta, Luísa, que descobriu antes do tempo e quis ver. Lá se foi a surpresa.

Para Lara Nunca fui chegada a exercícios físicos. E sou feita de material genético diferente, pois nunca senti a adrenalina no após e...

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Para Lara

Nunca fui chegada a exercícios físicos. E sou feita de material genético diferente, pois nunca senti a adrenalina no após exercício, aquela energia que dizem todos sentir. Quando me exercito, fico exausta e querendo dormir. Mas gosto muito de caminhar, mesmo com alguns impedimentos; dançar – que amo; e de me alongar. Repuxar o esqueleto. Há alguns anos cuido disso, de forma não sistemática, mas sempre em busca do alcançar longe. E aí serve para tudo. E no mais, a coisa mais preciosa na velhice é a cabeça e a mobilidade. Ser autônoma é tudo que mais quero na minha vida solitária. E temos que correr atrás dos longos anos de sedentarismo da juventude.

O Tema da redação do Enem 2023- 'Desafios para o enfrentamento da invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher no Br...

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O Tema da redação do Enem 2023- 'Desafios para o enfrentamento da invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher no Brasil'- me deu uma esperança de que existe luz no fim do túnel. Digo, para a vida das mulheres. Ou pelo menos, me deu alegria de ver os jovens de todos os gêneros, classes e credos a pensar e escrever sobre o assunto. E senti o impacto ao meu redor, quando vi pais discutindo o tema com os filhos.

Sou fã da escritora, atriz, roteirista, Fernanda Torres, embora não tenha lido o seu romance de estreia, Fim. Acho-a uma atriz de pes...

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Sou fã da escritora, atriz, roteirista, Fernanda Torres, embora não tenha lido o seu romance de estreia, Fim. Acho-a uma atriz de peso e engraçada. “Tapas e Beijos" me fazia rir muito. E os filmes Os Normais, O que é isso, Companheiro?, Terra Estrangeira, Eu sei que vou te amar, Casa de Areia, dentre tantos.

O filme Memórias de Paris (de Alice Winocour, 2022), no Festival de Cinema Varilux, tem como enredo os ataques terroristas em Paris ...

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O filme Memórias de Paris (de Alice Winocour, 2022), no Festival de Cinema Varilux, tem como enredo os ataques terroristas em Paris com foco num dos cafés atingidos.

A personagem principal, Mia (Virginie Efira), sai de um encontro com o marido depois de uma desculpa conveniente para ir a um encontro amoroso, e ela, por conta da chuva torrencial, resolve parar num Café. Fica a observar detalhes nos clientes. Duas moças que tiram selfie, um pescoço com um colar, uma outra que se dirige ao banheiro, um aniversário celebrado na mesa vizinha, um olhar sedutor do aniversariante, quando, de repente, uma explosão.

Há muitos anos que me incomoda a relação de nós mulheres com o nosso corpo. A pressão da sociedade por corpos irrealizáveis. Sempre fu...

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Há muitos anos que me incomoda a relação de nós mulheres com o nosso corpo. A pressão da sociedade por corpos irrealizáveis. Sempre fui magrela, e naqueles tempos, sofria por não ter peito grande. As minhas amigas todas tinham. E logo eu que adorava decotes ousados, transparências e biquinis minúsculos. Mas fui em frente até o namorado elogiar os meus pequenos. Precisei do olhar masculino para levantar a visão que tinha do meu corpo magro.

Sempre me dei bem com ela, pois descobri que nunca havia sentido esse estado, aquele mais sombrio; talvez conheci aquela solidão mais ...

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Sempre me dei bem com ela, pois descobri que nunca havia sentido esse estado, aquele mais sombrio; talvez conheci aquela solidão mais pontual e por ocasião de alguma viagem solitária, ou um momento específico da vida. E claro, aquela pior, que é a solidão acompanhada. Quem nunca?

“ Olhar o mundo geometricamente é mais simples ” (Raul Córdula) Fui na exposição do artista plástico Raul Córdula (pintor, artista gr...

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Olhar o mundo geometricamente é mais simples
(Raul Córdula)

Fui na exposição do artista plástico Raul Córdula (pintor, artista gráfico e crítico de arte), Energisa, 19 de outubro-18 novembro 2023. 80 anos de idade; 20 anos da Usina Energisa; 20 anos da sua mostra “antologia – 1963-2003”, a primeira de um artista paraibano na Usina.

“As coisas que contribuem para a longevidade saudável são as mesmas que fazem a vida valer à pena.” Fala do filme ... E " Os Seg...

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“As coisas que contribuem para a longevidade saudável são as mesmas que fazem a vida valer à pena.”
Fala do filme

... E "Os Segredos das zonas azuis”. Esse é o título de um delicioso documentário, viajando pelo mundo com o escritor Dan Buettner e descobrindo cinco comunidades únicas, onde as pessoas têm vidas muito longas e felizes e tem saúde até o fim da vida. Nada de novo no front! Ou do que já sabemos. Mas, outra coisa é ver tudo registrado. Entrevistas; lugares lindos e as suas longevas pessoas.

Okinaya, no Japão; Sardenha, na Itália; Ikaria, na Grécia; Nicoya na Cosa Rica; e Loma Linda, na California-EUA, foram os lugares escolhidos, ou melhor observados que tinham algo em comum, para que se vivesse tanto e com tanta qualidade de vida. De quebra ainda teve matéria em Singapura e numa pesquisa aplicada especial na pequena comunidade de Albert Lea, nos EUA, e o resultado em um ano foi o aumento da expectativa de vida de seus habitantes, o que pode indicar que seus resultados puderam, de algum modo, ser comprovados.

Claro que a comida (vegetais, raízes, mel ao invés do açúcar), outros ingredientes são vitais. As pessoas trabalham muito e por menos tempo, para que sobre tempo para o lazer. Andam muito. Fazem coisas com as mãos, como jardinagem. Tem um plano de vida, um propósito que os alimentam ao acordar. Rituais sagrados diários para aliviar o stress, as inflamações, e evitar a diabetes e o câncer. Pensar em deixar algo para a posteridade, conversar com amigos, a religiosidade, a fé. Tudo no pacote. Bebem, mas fazem o seu próprio vinho. Em Costa Rica colhem o seu feijão, o milho e o jerimum. Em Loma Linda, tem muito voluntariado. Estar em paz, cochilar, preocupação de pertencimento à uma comunidade de fé; fazer happy hours. Tem até um vocabulário específico para denominar a razão que os fazem levantar pela manhã. Seus gostos não funcionam todos os dias. Alimentos integrais e naturais. E os carboidratos, contém substancias outras, e se juntam ao milho, batata doce, verdes, castanhas, chás. E comem pouco, até 80% da saciedade.

Atitude, outra coisa importante. Comer com a família, cuidar dos idosos, comem devagar, e comida plantada por eles; e com moderação, conversam. Como se conectar? Priorizam a família. Parceria, amor, cuidar e amar. Círculo de amigos – investem a vida toda. Ter os amigos certos! Para fazer as coisas certas!

Singapura é um país inteiro de longevidade saudável. Expectativa de vida mais alta do mundo. E até outro dia era uma Vila de pescadores. Trabalhar duro, ser honesto, ser humilde. Quem joga tênis, vive mais (viu Teca e Anthony?). Políticas públicas que melhora a vida das pessoas. Interações ocasionais com porteiros e pessoais em geral. Proporcionam pequenos povoados artificiais para idosos. Com centro médico, praça de alimentação, e promovem encontros. A solidão existe como função do nosso ambiente. Sair para interagir com pessoas , um remédio que se opõe ao sentar e assistir TV. Não se consegue viver sozinho. Criar moradias de proximidade, pais e filhos, o que se opõe veementemente às Casas de Repousos, impessoais e tristes. O investimento econômico de adesão gera mais saúde e se constitui num benefício humano.

Setembro foi o mês Amarelo/Saúde Mental, e vejo ao meu redor muita gente com depressão, ansiedade, e outras doenças da alma. Nesse filme, e a vida nesses lugares, todos os espaços do corpo e do espírito são preenchidos com sabedoria. Comida, descanso, pausa, tempo, diversão, comunhão, compartilhamento, olhar ao outro, sono, trabalho, propósito, destino, ritmo lento, e amor.

Eu que já estou quase dobrando outro cabo da esperança, vivo a pensar na vida. Nas realizações, nas faltas, nas conquistas, no tempo do dia, nos prazeres, nos amigos, no social que falta, no que sobra, nas recusas, nos filhos, e no bem estar deles, nas minhas responsabilidades, ou nas ausências, mas principalmente no amor, aquilo que nos define aqui e lá. Jovem ou velho. Nesta ou em qualquer outra vida.

O filme é fantástico. Conhecer esses mundos, esses povos e as suas vidas, nos mostra o que temos ou deixamos de ter. Sem reclamar, sem ser rabugento, sem amarguras, azedumes, mágoas ou recalques. Isso sim, nos faz adoecer e viver pouco e ruim. Viva as zonas azuis!

Sempre me intrigou a violência masculina. Sou mãe de dois homens e, desde cedo, quando ia buscá-los na escola observava essa energia da...

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Sempre me intrigou a violência masculina. Sou mãe de dois homens e, desde cedo, quando ia buscá-los na escola observava essa energia da força, nem sempre bem direcionada e que, muitas vezes, gerava briga, murros, tapas, chutes, e numa idade pré-adolescente isso brotava assustadoramente.

Domenico Di Masi se despediu da vida na semana passada. O sociólogo italiano que se tornou famoso também pelo conceito de "ócio c...

Domenico Di Masi se despediu da vida na semana passada. O sociólogo italiano que se tornou famoso também pelo conceito de "ócio criativo", segundo o qual o ócio, longe de ser negativo, é um fator que estimula a criatividade pessoal. Conceito esse que foi contra tudo o que aprendemos desde a sociedade vitoriana com o seu senso de dever, ao capitalismo selvagem, em que tempo é dinheiro e você vale pelo que produz. O irônico é que, em mais de 40 obras, Di Mais escreveu sobre o trabalho. A atividade intelectual sempre foi renegada a um lugar às margens, como também a atividade artística. A de professora igualmente, pois pensa-se que o conhecimento cai feito um facho de luz nas nossas cabeças. E que os livros são objetos diletantes. Também.

Antes da pandemia, assisti ao espetáculo Violetas; “fruto da pesquisa “Memória da Voz”, realizada pela atriz Mayra Montenegro, com dire...

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Antes da pandemia, assisti ao espetáculo Violetas; “fruto da pesquisa “Memória da Voz”, realizada pela atriz Mayra Montenegro, com direção de Raquel Scotti Hirson (LUME Teatro) e assistência de direção de Eleonora Montenegro. O espetáculo trata do silenciamento de mulheres, guerreiras anônimas, sonhadoras solitárias, que dedicaram suas vidas aos filhos e maridos e não puderam realizar sonhos outros. O fio condutor é a história da avó de Mayra, dona Wilma, que com o seu exemplo de vida e amorosidade, inspira toda a pesquisa.”

Quando eu era adolescente eu era muito magra, pouco peito e a minha mãe, desavisada, dizia que a minha bunda era grande. Imagina! apena...

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Quando eu era adolescente eu era muito magra, pouco peito e a minha mãe, desavisada, dizia que a minha bunda era grande. Imagina! apenas tomava corpo de mulher. E eu, pré-adolescente, me olhava no espelho e me sentia deslocada. Como a maioria das meninas dessa idade. Para ficar sem forma, eu usava cinta, hã?. Depois, sob o olhar do namorado, que dizia estar tudo lindo, fui me apoderando do meu corpo – aquele que eu tinha, e me achando melhor. Ou seja, precisei do olhar do outro, de um homem, para referendar a minha fina estampa.

“A gente que é mulher vive um terror cotidiano. Mudamos muitas coisas na estrutura social. Séculos de lutas, queima de tudo, de corpos ...

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“A gente que é mulher vive um terror cotidiano. Mudamos muitas coisas na estrutura social. Séculos de lutas, queima de tudo, de corpos na Inquisição, enfrentamento às guerras, lutas nas fábricas, no campesinato. As conquistas do presente tiveram um alto preço pago pelas mulheres na História."
(Sandra Raquew, em “Viva nos queremos”, jornal A União, 4 de agosto 2023)

Recentemente, o STF derrubou o uso da tese de legítima defesa da honra para crimes de feminicídio. Uma conquista mais que atrasada para um crime hediondo que tomou visibilidade depois do assassinato de Ângela Diniz, por Doca Street, quando as mulheres foram às ruas gritar – “Quem ama não mata”.

Travessia: aquele constante entrelugar. O mantra. Entre uma ponta e outra da vida, mas não somente. Entre mundos, entre vidas, entre in...

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Travessia: aquele constante entrelugar. O mantra. Entre uma ponta e outra da vida, mas não somente. Entre mundos, entre vidas, entre instantes, entre dias, entre noites. Deixar, ficar, voltar, permanecer.
Tudo travessia.

(De "Todo o tempo que existe")

No seu livro Todo o tempo que existe, Adriana Lisboa, Belo Horizonte: Relicário, 2022, ensaio de caráter autobiográfico, fala da sua experiência de luto quando da perda dos pais, em curto intervalo de tempo. Entre uma perda e outra, longos passeios pelo Jardim Botânico e devaneios sobre a existência.

No segundo domingo do mês agosto celebramos o Dia dos Pais. Fiz muitos almoços para o meu querido pai, e para os pais dos meus dois fi...

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No segundo domingo do mês agosto celebramos o Dia dos Pais. Fiz muitos almoços para o meu querido pai, e para os pais dos meus dois filhos. Eram momentos de compartilhar alegrias do domingo com a família. Mas também sempre tive um olho bem aberto para pensar sobre a paternidade e os pais ao meu redor. Não gostava muito do que via. Sempre me inquietei com a exaustão e sobrecarga da minha mãe. Amava/amo meu pai, mas estava sempre atenta às minhas questões sobre a sua ausência, o seu silêncio, e o seu lugar de liberdade e distância do dia a dia de uma casa com quatro filhas. Era assim em todas as famílias.

Há algum tempo que as esquinas das praias (talvez da cidade toda) foi tomada por pedintes; venezuelanos, paraibanos, adultos e crian...

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Há algum tempo que as esquinas das praias (talvez da cidade toda) foi tomada por pedintes; venezuelanos, paraibanos, adultos e crianças. Por aqui em Manaíra/Bessa, sempre via uma turma de crianças meninas, a fazer malabares em um sinal de trânsito específico. Meninas crianças, com shortinhos e top (a triste sexualização na infância), rasgados é verdade, e com duas, três laranjas, a tentar fazer algumas peripécias na esquina, subir uma na outra e derrubar essas laranjas na primeira jogada, para ganhar alguns trocados. Eu sempre ficava a olhar aquela cena num misto de dó e raiva. Raiva de ver as nossas meninas em situação de tanta vulnerabilidade. Dó de ver aquela meninice desperdiçada com laranjas desobedientes.

O filme O Filho (2022, Florian Zeller) nos parte o coração. Ainda mais num domingo, enclausurada de São João, onde todos estavam dan...

cimema literatura resenha critica
O filme O Filho (2022, Florian Zeller) nos parte o coração. Ainda mais num domingo, enclausurada de São João, onde todos estavam dançando forró nas festas do interior. Ou pelo menos deveria ser assim. O enredo: um casal separado, um filho, um adolescente sem lugar, Nicholas (Zen McGrath), já que o pai Peter (Hugh Jackman) casou de novo com uma mulher mais jovem, Beth (Vanessa Kirby), e acabou de ter um bebê. A sua ex-mulher, Kate (Laura Dern), aparece sem avisar para pedir ajuda ao filho ausente da escola e com sinais de depressão. A partir daí, a gente assiste a uma solidão a cada dia mais profunda desse filho, a sua tristeza inviolável, ao mesmo tempo, ao seu esforço para se adaptar a viver novos dias junto ao pai, a madrasta e ao irmãozinho. O colorido da vida não lhe chega, mas as sombras aterrorizadoras de um não lugar de afeto.