No final da década de 70, entrando pelos 80´s atravessei dificuldades na vida que mudava e mudava, ao som das músicas Esotérico de...

E eles se vão...

amizade rock in rio nostalgia perdas
No final da década de 70, entrando pelos 80´s atravessei dificuldades na vida que mudava e mudava, ao som das músicas Esotérico de Gil e Caetano e Travessia de Milton e Começar de Novo de Ivan Lins. Tornei-me uma mulher desquitada, na época era assim que chamava, e fui viver uma adolescência tardia aos 25 anos. E claro que, ao som do Taracon também, e noites na boemia, reencontrei amigos de infância e outros nem tão de infância assim. Uma turma de amigos que, curtiam encontros nas sextas à noite, sábados no bar de Lindenberg (Boibumbar) no Bessa, ou no Motocar, Ponta Cabo Branco.

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Ana Adelaide e Guilherme Faulhaber Acervo da autora
As casas de alguns eram o point: a de Guilherme Faulhaber, a de Arnaldo Vasconcelos, a de Fred Pitanga ou a de Zé Palhano, a gente curtia som; George Benson (Mascarede), Pink Floyd (Wish you were here) e/ou Luís Melodia (Magrelinha). Sim, andávamos de bicicleta por essa cidade e fazíamos tours noturnos, coisas de uma cidade pacata e segura.

Excessos? Muitos. Vivíamos o Pós anos 60 e a liberdade sexual, e nessa vida de vivências tantas, demos muitas vezes com os burros n´água, ultrapassamos limites caros de mágoas, sofrimentos, desrespeitos, falhas graves, outras nem tanto, culpas e traições. Mas também de voos livres e arrebatadores. Eram tempos de O seu amor, ame-o ou deixe-o, livre para amar.

Todas as vezes que olho em retrospectiva para esses anos nem tão dourados assim, – 1978 a 1986, sinto alegrias, gasturas, arrependimentos, vergonha minhas e alheias, tristezas, e também grito Vivas! por tantas danças, momentos lúdicos, Baía Formosa, Pipa, Rock in Rio 1985, festas improvisadas, algumas experiências psicodélicas, e uns mergulhos na sexualidade que, por conta de ter me casado muito jovem, talvez ainda não tivesse vivido. Uma camaradagem com uma turma que, era sim, chegada aos excessos. E, esses mesmos excessos podem ter tido consequências danosas e irreversíveis na vida de tantos, inclusive na minha que, arrebatada pelo aqui e agora, ultrapassei meus limites todos.

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Baía Formosa (RN) Gui Faulhaber
O primeiro Rock in Rio, 1985 foi uma dessas viagens. Fomos de carro, eu, Fred Pitanga, Nequinho (Alexandre Belo) e Patrícia Mariz, sua namorada na época. Ficamos na Tijuca no apto de José Palhano e Juca (meu companheiro depois de algum tempo), foi de São Paulo se juntar a nós. E durante aqueles dias de chuva e lama, enlouquecemos com Nina Hagen, Yes, Queen, B-52, Rod Stewart, James Taylor, Rita Lee, Al Jarreau, Paralamas e tantos outros.

Fomos e voltamos num Opala de Nequinho e numa das sopas no Restaurante Lamas, de madrugada, dei de cara com Eric Rosas (in memoriam), amigo de Praia Formosa e do Lyceu. Dos movimentos estudantis, e da casa de Flávio Tavares.

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Alexandre Belo Acervo pessoal
Tudo isso me passa na cabeça quando soube da partida do amigo desses tempos, o professor Alexandre Belo, ou simplesmente, Nequinho. Conheci Nequinho nessa época, recém-chegado de Florianópolis, onde tinha feito o seu Mestrado e a quem fui apresentada pelos amigos comuns. Ele morava no Cabo Branco, na esquina do ed. Gravatá, onde morei por 10 longos anos, e logo me convidou para uma viagem a Recife com outros amigos. E, durante um tempo, trocamos muitas conversas nas noites da semana e nos encontrávamos com a turma toda para festas e farras. Mas era na calada da noite que botávamos nosso papo em dia e ouvíamos Nina Simone, a música I put a spell on you, e a noite era uma criança para tantos assuntos e uns tantos beijos também.

Depois, ele iria para a França fazer o seu Doutorado e qual foi a minha surpresa, me convidou para ir junto. Fiquei atônita com o convite. Coisa de filme, e coisa para uma mulher mais livre do que eu supunha ser. Não tive dúvidas e disse não. Mas, durante a sua experiência francesa, sempre compartilhava comigo fotos, postais, poemas. E sou grata pelo carinho e confiança. Voltou e foi brilhante na sua carreira acadêmica.

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Alexandre Belo (Paris) Acervo pessoal
Corta, a vida passa. Quando voltou me visitou em casa, eu com Lucas bebê nos braços. E depois de anos, sempre nos encontrávamos no Shopping Manaíra e por vezes, sentávamos nos cafés para falar da vida, dos filhos (por quem tinha grande amor), e criticava meus cabelos vermelhos de henna e mais recentemente os brancos. Dava aquela gargalhada debochada e irreverente, nos abraçávamos e cada um ia para o seu lado.

Nos últimos anos nos afastamos por questões políticas, mas, mesmo assim, o abraço ainda era de estima em nome dos velhos tempos. Conheci suas mulheres, mães dos seus filhos, a quem abraço junto aos rapazes, nesse momento de perda e tristeza.

Depois de ter muito me emocionado com a série Fim – Globoplay, assuntos de um dos últimos textos, a partida de Nequinho me levou para esse tempo da minha geração e, assim como na Série, para a partida de quase todos dessa turma, que um dia foi meu oásis de buscas, e com quem troquei alegrias, dramas, perdas e danos.


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  1. Eita anos 80 e UFPB, uma junção explosiva! Saudades muitas... Belo texto!

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  2. Viajei no tempo, entre Recife, Olinda e Salvador. Curti tudo isso, só que em outras metropolis.
    Músicas, cinemas, campings em Gaibu, Calhetas... Segunda vez morar em Salvador, já casado com 2 filhos, curtindo outra face da Bahia.

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