Para Lara Nunca fui chegada a exercícios físicos. E sou feita de material genético diferente, pois nunca senti a adrenalina no após e...

Alongando com as palavras

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Para Lara

Nunca fui chegada a exercícios físicos. E sou feita de material genético diferente, pois nunca senti a adrenalina no após exercício, aquela energia que dizem todos sentir. Quando me exercito, fico exausta e querendo dormir. Mas gosto muito de caminhar, mesmo com alguns impedimentos; dançar – que amo; e de me alongar. Repuxar o esqueleto. Há alguns anos cuido disso, de forma não sistemática, mas sempre em busca do alcançar longe. E aí serve para tudo. E no mais, a coisa mais preciosa na velhice é a cabeça e a mobilidade. Ser autônoma é tudo que mais quero na minha vida solitária. E temos que correr atrás dos longos anos de sedentarismo da juventude.

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Celyn Kang
Faço Pilates há alguns anos, interrompendo aqui e ali: doutorado, mudanças na vida, pandemia, cirurgias, viagens, mas sempre voltando. Professoras queridas: Marluce Maia, Juliana, Rossana, Angélica, Isabelli, Melke e hoje Lara. Confesso que vou às aulas saltitante. O que mais gosto é a atmosfera do espaço. Não tem o frisson de academia, os corpos exuberantes nos espelhos, a exaustão do Spinning, nem os desfiles desses mesmos corpos, mas tem gente como a gente: pessoas que têm algum limite; corpos mais vividos; honestidade quanto ao próprio corpo; vaidades mais extenuadas, e alegrias nas pequenas conquistas. Tudo pequeno. A passos curtos. E constantes.

Impressionante que, quando faltamos às aulas por algum motivo, na volta, os ossos trincam, os músculos caem em sono profundo, e os encurtamentos estão mais curtos. Assim mesmo, tudo redundante.

Como se não bastasse os alongamentos, exercícios de força e tonicidade dos músculos, o Pilates também é um momento de aprender novas expressões que me divirto ao ouvi-las da professora, e também de apreciar a nossa língua rica e metafórica.

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Alongatto
No meio da aula ouço um: “Amaciar o peito”! Como fazer isso? Parece chá de curandeira. Respira e amacia o peito! E “derrete a coluna”! hã? Precisa ter muita consciência corporal e senso linguístico para derretermos a coluna! E “Crescer a coluna”, imaginar a coluna encostando no teto. “Guardar as costelas”, não é para colocá-las numa gaveta, mas para recolhê-las respirando. “Guardar os quadris” também vai nessa direção, nada de deslocá-las para algum lugar alhures. Simplesmente contrair os glúteos e todos os “quartos” de que falavam as nossas avós. Mas, “crescer os braços”, e “crescer as pernas” Querer voar, alcançar o infinito. No caso das pernas, se imaginar uma gazela, calcando os mundos. E tudo isso a gente imagina, se conscientiza, tenta e toma uma intimidade com o próprio corpo, que nos dá saúde, elasticidade e mobilização.

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Emily Sea
Seguindo a aula de vocabulário linguístico aplicado, temos também o “enraizar os pés no chão, imaginar uma linha puxando o topo da cabeça para cima. Uma bailarina de circo, contorcionista, me imagino com uma trança gigante e lá do picadeiro me arrebatam. E aí, derreto a coluna e amacio o peito.

E se a gente quer trazer todo esse apanhado de palavras para casa e para a vida, também tem a sua serventia. Por vezes, como desejo crescer os braços para abraçar a minha neta, ou crescer as pernas para viajar o tanto que ainda quero nessa vida. Quando temos algum problema de ansiedade e/ou depressão, enraizar os pés firmes no chão é um bom conselho. No meu caso, eu sempre rodeava o quarteirão lá da Rua Oceano Pacífico. Rua pequena, mas que me deu uma imensidão de vida do tamanho dessas águas maiores. Quando fazemos sexo, soltamos as amarras, e os quadris, mas para isso, é preciso saber guardá-los antes de qualquer entrega. Tudo no compasso. No ritmo. Pilates para um sexo melhor! Quem não quer? E quando nos apaixonamos, nos derretemos por inteiro. Mas derreter a coluna primeiro, é preciso.

E nesses tempos de dezembro que já se anunciou, e com a chegada do Natal e do final do ano, seria bom que amaciássemos o nosso peito. Para confraternizar e celebrar o ano que se encerra e os novos tempos que hão de vir.

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