O filme O Filho (2022, Florian Zeller) nos parte o coração. Ainda mais num domingo, enclausurada de São João, onde todos estavam dançando forró nas festas do interior. Ou pelo menos deveria ser assim. O enredo: um casal separado, um filho, um adolescente sem lugar, Nicholas (Zen McGrath), já que o pai Peter (Hugh Jackman) casou de novo com uma mulher mais jovem, Beth (Vanessa Kirby), e acabou de ter um bebê. A sua ex-mulher, Kate (Laura Dern), aparece sem avisar para pedir ajuda ao filho ausente da escola e com sinais de depressão. A partir daí, a gente assiste a uma solidão a cada dia mais profunda desse filho, a sua tristeza inviolável, ao mesmo tempo, ao seu esforço para se adaptar a viver novos dias junto ao pai, a madrasta e ao irmãozinho. O colorido da vida não lhe chega, mas as sombras aterrorizadoras de um não lugar de afeto.
Anthony Hopkins @Metropolis
Quando chegou São Pedro, ao invés da procissão ao mar, me encontro com outro livro há tempos esquecido nas estantes e lembrado por uma amiga leitora, O Ar que me falta – história de uma curta infância e de uma longa depressão (Companhia das Letras, 2021), do também escritor, editor e fundador da Companhia das Letras, Luiz Schwarcz (marido e amor da historiadora e também escritora, Lilian Schwarcz, que sigo nas redes, e que me deu aulas de história, política e cidadania, no Instagram durante toda a pandemia), em que ele conta a história de uma família que abandonou tudo para fugir do terror nazista.
Por motivos diferentes me peguei a pensar na existência de cada um de nós. O que nos leva ao buraco existencial, às doenças, hoje às doenças autoimunes, às margens intransponíveis, seja por uma grande guerra ou por algo tão íntimo e perto, mas igualmente trágico que é a separação dos pais para um filho, por mais amistoso que tudo possa parecer. Os caminhos da tristeza e introspecção, e impotência não nos são revelados até o corpo já dar sinais de um pedido de socorro, já nas últimas, e como é difícil percebê-los! Como é difícil acolher. Como é difícil tratar.
Os assuntos da alma. Sempre me interessaram. E como mexem com as minhas interrogações.