Mostrando postagens com marcador Francisco Gil Messias. Mostrar todas as postagens

Dia desses, estava em uma das empresas de velório da cidade cumprindo o doloroso dever de solidariedade para com um amigo que perdera ...

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Dia desses, estava em uma das empresas de velório da cidade cumprindo o doloroso dever de solidariedade para com um amigo que perdera um filho. Ambiente triste, como seria de esperar, onde, pela conversa eventual e discreta com um e com outro, procura-se aliviar a tensão inerente ao momento. O leitor sabe como é. Ali naquele espaço e naquelas circunstâncias travava-se – e trava-se repetidamente — o eterno combate entre Eros e Tânatos, já explicado por Freud, as duas pulsões (de vida e de morte) que marcam permanentemente a existência dos humanos e de todos os seres vivos, resultado da finitude que a todos condena à efemeridade. Daí as conversas e eventualmente até mesmo inoportunas

Certamente por excesso de recato, os olhos no chão parecem ter sido uma constante na vida de Gonzaga Rodrigues desde que ele aporto...

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Certamente por excesso de recato, os olhos no chão parecem ter sido uma constante na vida de Gonzaga Rodrigues desde que ele aportou, rapazinho, por estas plagas citadinas, ali na Praça Pedro Américo, onde paravam os ônibus vindos do interior. Mas melhor assim, penso eu, pois mais vale a timidez de olhos baixos que a arrogância de narizes empinados. José Américo era o governador e ele vinha de Alagoa Nova acompanhando um amigo conterrâneo, sobrinho de José Leal, secretário de jornal da capital e nome já ilustre no jornalismo da província. Esse amigo tinha a promessa de um emprego, logo confirmada pelo tio bem colocado, mas Gonzaga nem isso: trazia só sua parca

Era o ano de 1977. Nelson Rodrigues aos sessenta e cinco anos, cansado, com a saúde debilitada e sem gostar de viajar, decide, surpr...

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Era o ano de 1977. Nelson Rodrigues aos sessenta e cinco anos, cansado, com a saúde debilitada e sem gostar de viajar, decide, surpreendentemente, aceitar um convite para uma noite de autógrafos de seu livro O reacionário, recentemente publicado, a realizar-se em Florianópolis. Nelson, que notoriamente cultivava idiossincrasias, recusava-se a viajar de avião e dizia que “quando passava do Maracanã já começava a sentir saudade do Brasil”. Mas mesmo assim viajou. No seu carro, um imenso Opala, dirigido por um motorista, e acompanhado por uma irmã. Do Rio a Floripa, direto, são dezessete horas de estrada. Não é mole. Imagine para um homem que à época, de tão frágil, parecia um ancião, cheio de mazelas, e que morreria três anos depois. Pois ele foi, ninguém sabe porquê.

10 de junho de 1923. Em Alagoa Nova, brejo paraibano, nascia nesta data Carlos Augusto Romero, o cronista, o magistrado, o prof...

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10 de junho de 1923. Em Alagoa Nova, brejo paraibano, nascia nesta data Carlos Augusto Romero, o cronista, o magistrado, o professor, o viajante, o seguidor da doutrina espírita, o cultor da música erudita e o humanista que tanto marcou a Paraíba e o seu tempo pelo valor intelectual, pela mansidão e pela decência, qualidades reconhecidas à unanimidade por todos que o conheceram de perto ou de longe. Uma data, portanto, para ser efusivamente comemorada por instituições públicas e privadas de nosso Estado, cuja maior riqueza parece ser justamente seus valores humanos.

Simpatizo com ela faz tempo. Quando a conheci, foi do ponto de vista do direito que primeiro a analisei, mesmo que superficialmente. A...

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Simpatizo com ela faz tempo. Quando a conheci, foi do ponto de vista do direito que primeiro a analisei, mesmo que superficialmente. Agradou-me sua postura contestadora frente ao poder e à lei, em nome de princípios superiores, pelo menos para ela. Admirei sua coragem de assumir risco de morte, quando poderia ter se acovardado para seguir sua vida, como fazem tantos, como fazemos nós, pobres mortais pouco heroicos. Com o tempo, fui depois vendo-a com outros olhos, a partir de leituras outras, sempre de forma autodidata, sem método nem orientação, como tem sido, o mais das vezes, minha trajetória de simples leitor. E continuei a gostar dessa moça, ao ponto de considerá-la hoje uma de minhas personagens preferidas da tragédia grega, o que explica este sumário texto com ares apologéticos.

Em 1975, o ex-presidente Juscelino Kubitschek, então cassado e perseguido pelos militares de 1964, botou na cabeça de se candidatar a...

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Em 1975, o ex-presidente Juscelino Kubitschek, então cassado e perseguido pelos militares de 1964, botou na cabeça de se candidatar a uma cadeira da Academia Brasileira de Letras, na vaga do escritor Ivan Lins. Anunciou sua intenção a Josué Montello na manhã do dia 17 de junho daquele ano e assim justificou a inesperada decisão: “… Estou morrendo de tédio, sem saber o que fazer de mim. Não sou banqueiro, e dirijo um banco. Não sou comerciante, e tenho de comprar e vender. Sou político, e a política me mandou embora. A eleição que está no meu caminho, agora, é a da Academia”. Vejam só. Depois foi esclarecido que Jorge Amado, ao vê-lo empossado na Academia Mineira de Letras, foi quem semeou a ideia da ABL no coração de JK.

Escrever que ela marcou minha geração é uma obviedade dispensável. Porque ela fez mais que isso, pois não apenas marcou, mas moldo...

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Escrever que ela marcou minha geração é uma obviedade dispensável. Porque ela fez mais que isso, pois não apenas marcou, mas moldou minha geração, fazendo-nos ser aquilo que nos tornamos, ou seja, menos caretas, mais livres e – por que não? - mais felizes. Conduzindo-nos ao mundo novo, a partir dos anos 1950, tivemos Elvis, os Beatles, a Jovem Guarda e Os Mutantes. E, com estes, tivemos a ruiva e irreverente Rita Lee, diferente de tudo que então havia na MPB e na própria cultura brasileira. Quem não se surpreendeu – ou se espantou – com aquela garota sapeca provocando-nos com seu jeito, suas palavras e sua música com ares vanguardistas?

Acaba de chegar às livrarias o livro póstumo do psicanalista e escritor italiano/brasileiro Contardo Calligaris, falecido em 30 de m...

Acaba de chegar às livrarias o livro póstumo do psicanalista e escritor italiano/brasileiro Contardo Calligaris, falecido em 30 de março de 2021. O título pode parecer à primeira vista um pouco (ou muito) ambicioso: O sentido da vida (Editora Paidós, São Paulo, 2023), mas logo o leitor perceberá que não se trata de pretensão nem de vaidade tola de autor metido a dono da verdade. É exatamente o contrário.

O leitor provavelmente não conhece a palavra. Ela foi, parece-me, criada pela escritora espanhola Nika Vásquez Seguí e dá título ao se...

O leitor provavelmente não conhece a palavra. Ela foi, parece-me, criada pela escritora espanhola Nika Vásquez Seguí e dá título ao seu livro agora publicado no Brasil pela Editora BestSeller, com tradução de Luís Carlos Cabral. Em linhas gerais, a palavra designa aquele (e aquela) que cultiva a solidão sem se sentir solitário. Cultiva ficar sozinho, não o tempo todo, claro, mas sempre que necessário, como forma de manter a sanidade ou simplesmente se dedicar a afazeres cujo compartilhamento não é útil nem desejável.

Capiberibe - Capibaribe Lá longe o sertãozinho de Caxangá Banheiros de palha Um dia eu vi uma moça nuinha no banho Fiquei parado o...

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Capiberibe - Capibaribe Lá longe o sertãozinho de Caxangá Banheiros de palha Um dia eu vi uma moça nuinha no banho Fiquei parado o coração batendo Ela se riu Foi o meu primeiro alumbramento

Estes versos, como se sabe, são de Manuel Bandeira, no famoso poema “Evocação do Recife”, constante de seu livro Libertinagem, de 1930. O poema foi escrito a pedido de Gilberto Freyre, para as comemorações do centenário do jornal Diário de Pernambuco, se não me engano, e nele Bandeira rememora e ressuscita o Recife de sua infância, um Recife que, infelizmente, já àquela época achava-se em franco processo de desfiguração urbana. Ó Brasil!

Falar em delicadezas da professora Neide Medeiros é até uma redundância. Ela própria é uma delicadeza. O físico frágil, a voz baixa e...

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Falar em delicadezas da professora Neide Medeiros é até uma redundância. Ela própria é uma delicadeza. O físico frágil, a voz baixa e os modos suaves, tudo nela é delicado, sem falar na simplicidade e na fidalguia que lhe são naturais. É uma “lady” – e das inglesas puro sangue, para não restar nenhuma dúvida. Como ela, tenho conhecido pouquíssimas, devo confessar. Citarei apenas quatro exemplos de damas finíssimas que já nos deixaram, desculpando-me logo pelas não lembradas: Jandyra Gomes, Vilma Bezerril, Carmem Izabel Carlos Silva e Cila Souto. Outras existem e existiram, claro, mas, como disse, raríssimas. Seria ótimo se existissem mais: o mundo seria melhor.n

Os intelectuais normalmente não andam junto de Deus. Compreende-se. É a força da razão, da racionalidade, do ver-para-crer. É como se...

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Os intelectuais normalmente não andam junto de Deus. Compreende-se. É a força da razão, da racionalidade, do ver-para-crer. É como se a inteligência fosse incompatível com a fé, com a crença no sobrenatural, na divindade. É a força da matéria sobre o espírito, da física sobre a metafísica, da imanência sobre a transcendência, do objetivo sobre o subjetivo, do substantivo sobre o adjetivo. Dá para se ver, só por estas poucas linhas, como a questão é ampla e complexa. E o homem vai, ao longo da história, caminhando entre essas antíteses, uns mais seguros, outros, não.

Casamento equivocado é o que não falta no mundo. Ampliando o arco, podemos afirmar que equívoco é o que não falta no mundo. Não só nos ...

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Casamento equivocado é o que não falta no mundo. Ampliando o arco, podemos afirmar que equívoco é o que não falta no mundo. Não só nos casamentos, mas em tudo, tudo mesmo. O homem é um ser que se equivoca ou um ser-para-o-equívoco, poderia escrever um filósofo alemão. Equivocamo-nos desde que acordamos, ao escolher a roupa que vestiremos, por exemplo, até quando nos recolhemos para dormir. É um fato.

O leitor lembra da imponente águia no topo da cúpula do antigo prédio do jornal A União, na Praça João Pessoa? Os mais jovens provavel...

jornal a uniao aguia patrimonio publico
O leitor lembra da imponente águia no topo da cúpula do antigo prédio do jornal A União, na Praça João Pessoa? Os mais jovens provavelmente nada sabem a respeito. Mas eu e meus contemporâneos nos lembramos. Era bela e imensa, provavelmente de bronze, de asas abertas, reinando, de sua altura, sobre toda aquela área, na esquina da praça com a rua Duque de Caxias, harmonicamente dialogando com os demais prédios históricos do entorno. Era para ser eterna, como se eternizam, no mundo civilizado, monumentos semelhantes. O prédio do jornal também era para se eternizar, junto com o Palácio da Redenção, o Palácio da Justiça e a antiga Faculdade de Direito, todos compondo, ao redor
jornal a uniao aguia patrimonio publico
Cúpula da fachada de A União
ALPB
da praça, um conjunto arquitetônico único em nossa urbe de mais de quatro séculos. Era – mas não foram. Assim como também não foi a belíssima igreja que existia colada ao Palácio da Redenção, derrubada, sem maior razão, no final dos anos 1920, deixando no lugar apenas um vazio denunciador do desapreço dos governantes pelo patrimônio cultural.

O poeta Sérgio de Castro Pinto está de livro novo. É mais um que vem se juntar à sua já vasta obra literária, na qual, claro, ponti...

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O poeta Sérgio de Castro Pinto está de livro novo. É mais um que vem se juntar à sua já vasta obra literária, na qual, claro, pontifica a poesia, mas sem prejuízo para a produção em prosa, de qualidade inegável. E é exatamente neste segundo segmento que se enquadra O Leitor de Si Mesmo, Arribaçã Editora, Cajazeiras, 2022, coletânea de textos publicados originalmente no jornal A União.

Li na coluna de Elio Gaspari, em O Globo, que o ex-presidente norte-americano Jimmy Carter, aos 98 anos, recolheu-se ao rancho da fa...

democracia jimmy carter ernesto geisel
Li na coluna de Elio Gaspari, em O Globo, que o ex-presidente norte-americano Jimmy Carter, aos 98 anos, recolheu-se ao rancho da família para aguardar a morte. Está recebendo os chamados cuidados paliativos para enfrentar o fim com dignidade e um mínimo de conforto. É um nome importante na história mundial do século XX e também um nome a ser lembrado em nossa história nacional.

Foi uma longa caminhada: de Jaguaribe a Coimbra. E consumiu várias décadas de luta, perseverança e dedicação. Não foi fácil, mas fo...

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Foi uma longa caminhada: de Jaguaribe a Coimbra. E consumiu várias décadas de luta, perseverança e dedicação. Não foi fácil, mas foi bonita essa trajetória que diz praticamente tudo sobre a vida vitoriosa do paraibano Genival Veloso de França, autoridade reconhecida nacional e internacionalmente na área da Medicina Legal. Um nome de primeira grandeza no mundo acadêmico, referência incontornável nos assuntos de sua especialidade.

Descansou finalmente o pensador. O escritor. O acadêmico. O gestor público. Descansou, como se costuma dizer aqui no Nordeste, após lon...

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Descansou finalmente o pensador. O escritor. O acadêmico. O gestor público. Descansou, como se costuma dizer aqui no Nordeste, após longa enfermidade, o professor José Jackson Carneiro de Carvalho, ex-reitor da Universidade Federal das Paraíba, ex-secretário de Estado da Educação e ex muitas outras coisas relevantes na cena paraibana. Sua partida, aos 82 anos, se não foi surpresa, dado o seu delicado estado de saúde, causou comoção entre os familiares e amigos, face a imensa lacuna que ele deixa entre os que o conheceram e admiraram.

O escritor Clemente Rosas entregou recentemente ao público seu mais recente livro, belamente intitulado de Sonata de Outono , Editora ...

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O escritor Clemente Rosas entregou recentemente ao público seu mais recente livro, belamente intitulado de Sonata de Outono, Editora Sal da Terra, João Pessoa, 2022, com capa igualmente bela de Raul Córdula. Um volume bom de se ver e mais ainda de se ler, pois nele estão reunidos saborosos perfis, “causos”, memórias, crônicas, artigos e ensaios, tudo lastreado pela longa experiência existencial do autor e por uma escrita à altura do homem de letras que ele sempre foi.

13 de fevereiro de 1923. Há cem anos nascia Joacil de Brito Pereira. Quem diria. O tempo passou ligeiro. Até há pouco, pode-se dizer...

centennario joacil brito pereira politica literatura paraiba
13 de fevereiro de 1923. Há cem anos nascia Joacil de Brito Pereira. Quem diria. O tempo passou ligeiro. Até há pouco, pode-se dizer, a presença dele era certa em todo acontecimento relevante de nossa vida política e cultural. Mesmo nos anos outonais, quando a idade já lhe começava a pesar, enquanto lhe foi possível, nunca deixou de comparecer a nada que julgasse merecer apoio e prestígio. E o prestígio era sempre conferido por ele ao evento, fosse qual fosse, e não o contrário.