Sim, foi realmente, na plena expressão da palavra, uma presença. Alguém que, por sua intensa atuação na vida pública paraibana, fazia-se notar, não passava nunca em branco, despercebido, mesmo quando permanecia
Joacil de Brito Pereira Câmara Federal
A vida pública, no alto sentido que tinha até meados do século passado, foi sua genuína vocação. A vida a serviço do interesse e do bem públicos, da coletividade, da pólis. Não a vida voltada exclusivamente para as finalidades privadas, pessoais e familiares, desvinculada das questões maiores da cidade e da pátria. Daí seu gosto pela política e pelas funções institucionais, mais do que pelo escritório de advocacia, onde adquiriu merecido renome desde cedo.
Ao seu tempo, a vida pública estava indissociavelmente ligada à oratória. De maneira geral, os homens públicos eram quase todos oradores, praticantes da palavra falada com eloquência, fosse em palanques, em auditórios, nas praças e em qualquer lugar onde houvesse audiência, até nos cemitérios, se houvesse conveniência ou necessidade. E ele foi, sem nenhuma dúvida, um dos nossos maiores. Fez da tribuna sua aliada e sua trincheira, e nela granjeou respeito e admiração. Contemporâneo de José Américo, de Alcides Carneiro, de Ernani Sátiro, de Vital do Rego, de Raimundo Asfora e de tantos outros paraibanos que se notabilizaram como oradores de escol, não lhes ficou atrás em talento e brilhantismo.
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Homem de temperamento forte, mas não sempre, pois tinha seus momentos de doçura. Guerreiro e apaziguador, a depender das circunstâncias. Nunca morno, nunca mais ou menos, nunca omisso. Tomava partido e assumia as consequências. Sabia enfrentar e sabia atrair. Marcou, com ênfase, sua passagem pela vida e pelo mundo. Deixou um nome. Deixou uma obra. Uma biografia, enfim, à espera de um biógrafo, que bem poderá ser seu filho Eitel, herdeiro de seus dons e seguidor de seus passos.
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Nessa seara, seus interesses foram muitos e sua bibliografia é vasta. Mas duas figuras exponenciais atraíram de modo especial sua atenção de estudioso e de escritor: José Américo de Almeida e Ascendino Leite. Estes dois gigantes paraibanos e brasileiros foram duas admirações suas, aos quais dedicou alentados ensaios biográficos que logo se constituíram em referência sobre ambos.
Já em seu outono, a despeito da diferença de idade, tive a oportunidade de conhecê-lo mais de perto, sem nunca transpor os umbrais de sua intimidade. É que ambos pertencemos, como membros, ao Instituto de Estudos Kelsenianos, entidade informal criada pelo juiz federal João Bosco Medeiros, que regularmente se reunia para conversar sobre o mestre da Teoria Pura do Direito. Nesses encontros, doutor Joacil sempre tinha com que encantar os confrades, principalmente quando deixava Kelsen de lado e se punha a falar gostosamente sobre personagens e fatos da história recente da Paraíba. Eu, relativamente moço ainda, ouvia-o com a reverência e a delícia com que os que não viveram nada – ou pouco - escutam os que viveram tudo.
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