Mostrando postagens com marcador Francisco Gil Messias. Mostrar todas as postagens

O leitor sabe, tem livros mais difíceis de ler que outros. Exemplos: Ulisses , de James Joyce, e Grande Sertão: Veredas , de Guimarãe...

marcel proust recherche
O leitor sabe, tem livros mais difíceis de ler que outros. Exemplos: Ulisses, de James Joyce, e Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa. Há mais, claro, mas estes dois são reconhecidos desafios, face as especificidades formais, sem falar na extensão da obra, por si só capaz de desanimar muita gente. A montanha mágica, de Thomas Mann, menos pela complexidade da linguagem e mais pelas centenas de páginas, também costuma espantar leitores.

Político gosta de sorrir. Pelo menos, publicamente. Gosta de parecer simpático. Acredita que isso lhe rende votos. O eleitor, pensa el...

jose americo almeida
Político gosta de sorrir. Pelo menos, publicamente. Gosta de parecer simpático. Acredita que isso lhe rende votos. O eleitor, pensa ele ou ela, não gosta de cara feia, ou seja, séria. O eleitor gosta de ser enganado, em outras palavras. Por sorrisos falsos e, pior ainda, por falsas palavras. Assim tem sido no Brasil e no mundo, principalmente a partir da segunda metade do século passado, após o advento da televisão e dos marqueteiros profissionais.

1994. Lembro-me bem. Inflação nas alturas, dissolvendo os salários e o dinheirinho daqueles que não podiam ou não sabiam aplicar no “...

plano real itamar franco fhc
1994. Lembro-me bem. Inflação nas alturas, dissolvendo os salários e o dinheirinho daqueles que não podiam ou não sabiam aplicar no “overnight”. A população refém da insegurança e da angústia decorrentes da incerteza sobre o dia seguinte. Medo de consumir, medo de poupar, medo de investir. Ainda na mente – e nos corações – das pessoas o aloprado confisco de Fernando Collor. Dias sombrios. Futuro nebuloso. Lembro-me bem. E quantos mais ainda o fazem?

Vê-se que o nosso Machado de Assis teve melhor sorte do que Greta Garbo. A célebre atriz sueca, como se sabe, acabou no Irajá, ba...

machado assis bras cubas traducao flora thomson
Vê-se que o nosso Machado de Assis teve melhor sorte do que Greta Garbo. A célebre atriz sueca, como se sabe, acabou no Irajá, bairro da Zona Norte do Rio de Janeiro, segundo o criativo título da exitosa peça teatral de Fernando Mello, dos anos 1970. Acabar no Irajá realmente não é um fim glorioso para ninguém que tenha sido um dia contemplado pelo sucesso e pela fama, desculpem-me os moradores do referido bairro, que, aliás, não conheço. Vai ver, com certeza tudo não passa de preconceito dos “inocentes do Leblon”, uma gente (não todos, claro) para quem o umbigo do mundo civilizado e glamoroso se situa na Zona Sul carioca. Não duvido que o Irajá possa ser um lugar tranquilo e agradável, longe do “barulho do mundo”, bom para se encerrar a vida e/ou a carreira.

Era para ter vindo antes, mas antes tarde do que nunca. Finalmente, a Academia Brasileira de Letras abriu seus sonolentos olhos para en...

adelia prado
Era para ter vindo antes, mas antes tarde do que nunca. Finalmente, a Academia Brasileira de Letras abriu seus sonolentos olhos para enxergar a obra da mineira Adélia Prado, para muitos a maior poeta viva do Brasil. Ela não é nenhuma estreante e já tem em torno de vinte livros publicados, todos bem acolhidos pela crítica e pelo público. Já era, portanto, para a ABL ter lhe premiado antes, muito antes. Mas essas coisas da vida literária são assim mesmo, sabemos. Há muitas interferências extraliterárias nas decisões das instituições culturais e é por isso que um Jorge Luís Borges e um Philip Roth, por exemplo, morreram sem ganhar o Nobel, enquanto outros, menores, embolsaram o grande prêmio. Que fazer?

E eis que de repente, sem ele notar e ninguém ao seu redor, o geógrafo e professor Modesto Siebra Coelho chega aos oitenta anos, es...

modesto siebra coelho
E eis que de repente, sem ele notar e ninguém ao seu redor, o geógrafo e professor Modesto Siebra Coelho chega aos oitenta anos, essa marca cronológica invejável, sinônimo de plenitude existencial. Não há, realmente, quem dê ao nosso geógrafo e gestor essas oito décadas bem vividas e aproveitadas: nem ao corpo esbelto nem ao espírito ágil, as duas metades identificadoras de seu ser personalíssimo.

Em 1988, o aiatolá Khomeini, então todo-poderoso líder religioso e político do Irã, decretou uma fatwa contra o escritor anglo-indiano...

salman rushdie livro faca
Em 1988, o aiatolá Khomeini, então todo-poderoso líder religioso e político do Irã, decretou uma fatwa contra o escritor anglo-indiano naturalizado norte-americano Salman Rushdie. A fatwa é um decreto oficial de condenação à morte e possui uma característica especial que aumenta consideravelmente sua letalidade, pois autoriza qualquer muçulmano, em qualquer lugar do mundo e em qualquer tempo, a cumpri-lo, ou seja, a matar aquele ou aquela objeto da sentença. No caso do referido escritor, a condenação deveu-se ao seu livro Os Versos Satânicos, que, segundo o aiatolá, teria ofendido a fé islâmica e seus seguidores.

É um luxo. E sempre foi. Principalmente agora, nestes nossos tempos despudorados. Para alguns, tão importante e necessário quanto o si...

vida moderna privacidade
É um luxo. E sempre foi. Principalmente agora, nestes nossos tempos despudorados. Para alguns, tão importante e necessário quanto o silêncio, outro requinte civilizacional. Mas só para alguns, parece. A maioria, o rebanho, prefere a exposição e persegue a exposição, a “mostração”, como diria minha sábia avó, referindo-se aos “mostrados” de seu tempo, ou seja, aqueles e aquelas que gostavam de se “mostrar”, de aparecer, de se exibir, como se sua inerente mediocridade não combinasse (e até exigisse) com o mais absoluto anonimato.

Rua Lopes Chaves, 546, Barra Funda, São Paulo – SP. No mundo das letras, este endereço é famoso, faz parte de nossa história literá...

mario oswald andrade
Rua Lopes Chaves, 546, Barra Funda, São Paulo – SP. No mundo das letras, este endereço é famoso, faz parte de nossa história literária. Aí morou, quase a vida inteira e até a morte, Mário de Andrade, o mestre do modernismo brasileiro, o guru de tantos dos nossos maiores escritores surgidos na primeira metade do século XX e talvez o maior dos nossos epistológrafos, o homem que mais escreveu cartas entre nós, cartas que, para muitos, eram também lições sobre o “como escrever” no espírito da modernidade que veio na esteira da famosa Semana de 1922.

Jacques Lacan, o célebre psicanalista francês, não foi um bom pai, no sentido convencional da expressão. Essa a conclusão a que che...

sibylle jacques lacan um pai
Jacques Lacan, o célebre psicanalista francês, não foi um bom pai, no sentido convencional da expressão. Essa a conclusão a que cheguei após a leitura do livro Um pai: puzzle (Aller Editora, São Paulo, 2023), de autoria de Sibylle Lacan, filha do dito cujo. Vou além: se aplicarmos os critérios brasileiros de avaliação, creio que até podemos afirmar que ele foi um péssimo pai. Vejam só, quem diria.

Não, a intenção não é falar sobre a até agora hipotética extinção dessa categoria tão importante, necessária e querida, a dos livrei...

livraria livreiro pedro herz
Não, a intenção não é falar sobre a até agora hipotética extinção dessa categoria tão importante, necessária e querida, a dos livreiros, hoje tão ameaçada, por várias razões. O objetivo é tratar da morte concreta e irrecorrível de um livreiro especial: Pedro Herz, dono da icônica Livraria Cultura, que tanto serviu aos brasileiros nas últimas décadas. Entretanto, creio que os dois temas estão de alguma forma relacionados, de modo que abordarei ambos, sucintamente, como convém à crônica.

O rapaz estava morando sozinho na Capital, fazendo o curso de Medicina, e o tio-avô o convidava vez em quando para comer no casarão ...

jose americo fcja
O rapaz estava morando sozinho na Capital, fazendo o curso de Medicina, e o tio-avô o convidava vez em quando para comer no casarão do Cabo Branco. Bom negócio para os dois: para o rapaz que se alimentaria melhor sem gastar nada e para o tio que teria companhia em sua célebre solidão. De certa forma, um encontro. Um encontro familiar e de gerações, no qual ambos os protagonistas teriam o que trocar – e ganhar. O tempo iria mostrar – e mostrou.

Foi o próprio João Batista que falou: “Diz-se que poesia não se traduz. Mas se tenta.” É verdade. Pois se há realmente algo difícil de...

poesia paraibana traducao joao batista brito
Foi o próprio João Batista que falou: “Diz-se que poesia não se traduz. Mas se tenta.” É verdade. Pois se há realmente algo difícil de traduzir para outro idioma é poesia. Não raro custa interpretá-la até na mesma língua, como sabemos. Além do exímio domínio das línguas envolvidas, requer-se do tradutor muita sensibilidade poética, sem falar na capacidade criativa, requisito essencial do ofício. Claro que a prosa também exige muito, mas é evidente que a poesia é bastante mais complexa. O trabalho vai além da simples versão das palavras e frases, pois há que se alçar voo até as alturas da arte poética, na qual significantes e significados nem sempre – ou quase nunca – coincidem com o previsto nos dicionários. E nem sempre dispõe o exegeta de asas grandes e fortes o suficiente para o arriscado desafio.

Clichês à parte, passei batido e dou a mão à palmatória: não lembrei que no último 5 de dezembro de 2023 fez dez anos da súbita e pre...

reitoria ufpb jader nunes
Clichês à parte, passei batido e dou a mão à palmatória: não lembrei que no último 5 de dezembro de 2023 fez dez anos da súbita e precoce partida do professor Jader Nunes de Oliveira, ex-reitor da UFPB, meu amigo pessoal e com quem trabalhei de perto em seu reitorado de dois mandados consecutivos (oito anos). Naquele 6 de dezembro de 2013, ainda abalado, fiz a seguinte anotação em minha caderneta de registros mais relevantes: “05/12/2013: falecimento de Jader, de repente. Grande emoção. Publiquei artigo sobre ele no dia 06/12/2013, no Correio da Paraíba.”.

De tudo faz-se a crônica, já dizia Drummond. E é verdade. E a beleza da crônica está nisso também. Nesse saudável descomprom...

nevita franca gil messias encontro sao paulo
De tudo faz-se a crônica, já dizia Drummond. E é verdade. E a beleza da crônica está nisso também. Nesse saudável descompromisso com planos, projetos e estratégias de todos os tipos. A crônica normalmente é espontânea. Ela surge na cabeça do cronista de repente, por uma razão qualquer, um acontecimento, uma leitura, uma experiência, alguma coisa que ele entenda valer a pena registrar, dividindo dadivosamente com o leitor aquilo que presenciou, viveu e sentiu. A crônica, como a literatura e a arte em geral, é sempre dadivosa. E catártica. Não pode deixar de ser assim, se se pretende autêntica e verdadeira. Daí seu encanto, seu sutil e não raro precário encanto, aquele encanto de tudo que é precário – como a vida mesma, que pode acabar num instante imprevisto.

Muitos adjetivos se lhe aplicam. Mas elegante é o primeiro que me vem à mente. Quem o conheceu, sabe. Agora mesmo, enquanto escrevo, ...

joao mauricio lima neves
Muitos adjetivos se lhe aplicam. Mas elegante é o primeiro que me vem à mente. Quem o conheceu, sabe. Agora mesmo, enquanto escrevo, estou a vê-lo com os olhos adolescentes do ginasiano do Colégio Estadual do Roger de fins dos anos 1960. Na antiga construção que antes abrigara o Seminário Arquidiocesano, destacava-se a sua figura calma, de voz baixa e impecavelmente vestida. Nele, via-se claramente o esmero pessoal, sem que significasse dandismo ou fútil vaidade; era apenas o seu jeito de ser e de estar no mundo, personalíssimo.

Que não se pense jamais que estou a querer fazer cortesia com o chapéu alheio. Jamais. O que pretendo é tão somente apresentar uma ...

residencia odilon coutinho joao pessoa
Que não se pense jamais que estou a querer fazer cortesia com o chapéu alheio. Jamais. O que pretendo é tão somente apresentar uma modesta sugestão de melhor aproveitamento do belo e decrépito casarão que pertenceu ao doutor Odilon Ribeiro, na avenida João Machado. Um imóvel de considerável valor arquitetônico e histórico, símbolo de uma época de nossa cidade, de uma sociedade e de conjunturas econômico-sociais desaparecidas, mas que resistem, como testemunho a ser devidamente preservado, na pedra e no cal da casa desabitada há tempos, mesmo que não de todo abandonada, eis que ainda guarda livros e algum mobiliário do culto proprietário falecido, conforme mostrou recentemente o atento jornalista Kubitscheck Pinheiro nas redes sociais.

Assim escreveu Brás Cubas, personagem de Machado de Assis, em suas célebres memórias póstumas, sobre uma de suas amantes: “Marcela am...

machado assis bras cubas paixao amor
Assim escreveu Brás Cubas, personagem de Machado de Assis, em suas célebres memórias póstumas, sobre uma de suas amantes: “Marcela amou-me por quinze meses e onze contos de réis”. Pode haver frase mais atual? E é nessa atualidade que reside o gênio machadiano tornado clássico das letras brasileiras e universais, pois clássico é exatamente o livro que se mantém atual através do tempo. Quinze meses e onze contos de réis. O tempo e o preço de um amor fugaz, desde o início condenado à efemeridade e ao vultoso custo financeiro, como costuma acontecer, desde que o mundo é mundo, com relações desse tipo. Os amantes, no fundo, sabem que será assim, pois não se trata de amor verdadeiro e incondicional, e no entanto a ele se entregam com o ímpeto dos apaixonados e o desespero dos suicidas. Tudo para acabar na quarta-feira, como diz a canção, mas que seja eterno enquanto dure, como diz o poeta. Pois só dessa maneira terá valido cada minuto e cada tostão.

Por coincidência ou por artes do destino, ele nasceu exatamente no dia primeiro de maio, dia dos trabalhadores. E foi o primeiro ...

martinho leal campos comunismo ditadura militar 64
Por coincidência ou por artes do destino, ele nasceu exatamente no dia primeiro de maio, dia dos trabalhadores. E foi o primeiro menino a nascer na antiga Maternidade Frei Martinho, em Jaguaribe, daí seu nome, cujo diminutivo combina tanto com suas naturais doçura e cordialidade, sem prejuízo da coragem e do brio nos momentos necessários. Pois é um bravo, como bem sabem os que o conhecem mais de perto.

Pagu é o apelido mais conhecido de Patrícia Galvão, a célebre escritora e agitadora cultural paulista. Este apelido foi criado pelo ...

pagu maria valeira rezende patricia galvao
Pagu é o apelido mais conhecido de Patrícia Galvão, a célebre escritora e agitadora cultural paulista. Este apelido foi criado pelo poeta Raul Bopp, que pensava que o nome dela era Patrícia Goulart, daí Pagu. Mas ela foi mulher de muitos nomes e pseudônimos, como Zazá (apelido de família), Pat, Patsy, Mara Lobo (nome adotado pelo Partido Comunista, ao qual ela era filiada),