Escrever que ela marcou minha geração é uma obviedade dispensável. Porque ela fez mais que isso, pois não apenas marcou, mas moldou minha geração, fazendo-nos ser aquilo que nos tornamos, ou seja, menos caretas, mais livres e – por que não? - mais felizes. Conduzindo-nos ao mundo novo, a partir dos anos 1950, tivemos Elvis, os Beatles, a Jovem Guarda e Os Mutantes. E, com estes, tivemos a ruiva e irreverente Rita Lee, diferente de tudo que então havia na MPB e na própria cultura brasileira. Quem não se surpreendeu – ou se espantou – com aquela garota sapeca provocando-nos com seu jeito, suas palavras e sua música com ares vanguardistas?
Frames JL
Contestadora? Claro que sim. Transgressora? Óbvio. E podia ser diferente? Claro que não. Não tivesse assumido deliberadamente a ovelha negra, teria sido apenas mais uma no rebanho, como tantas já merecidamente esquecidas. Prafrentex? Sem dúvida. Mas sem querer desencaminhar ninguém. Apenas alargando e iluminando caminhos, abrindo trilhas na densa floresta da mesmice, em direção ao novo, que, como cantou Belchior, “sempre vem”, a despeito de todas as resistências.
@Marcia.Knupp
Irresistível Rita Lee. Com ela, como não se levantar para dançar, mesmo os tímidos? Como não cantar com ela, mesmo os desafinados? Ela cantava “Baila comigo” e nós a seguíamos desinibidos no baile que desejávamos sem fim. Nem que fosse em pensamento, como no meu caso, ovelha acanhada, incapaz de extravasamentos.
Tiro o chapéu e faço justiça a Roberto de Carvalho, seu marido desde 1996. Companheiro de vida, de arte e de banda, esteve fielmente ao seu lado na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, nas paradas de sucesso e fora delas. Segurou a barra e não deixou a peteca cair, para usar dois clichês muito adequados para o caso, mesmo quando a travessia do deserto foi mais árdua. Força. Caráter. Lealdade. Admirável Roberto.
Os fãs deram-lhe o título de “rainha do rock”. Mas será que reinou apenas sobre o rock? A mim parece que reinou sobre a música brasileira como um todo, independentemente do gênero. Sem falar que reinou no espaço mais amplo da cultura nacional,
Mariana Moreira
Recebi (recebemos) com tristeza a notícia de sua partida. Sentirei (sentiremos) falta de seu talento, de sua inteligência e de seu humor. Sem ela, mesmo aposentada, o Brasil torna-se mais sombrio e menos alegre. A mediocridade reina. A recente partida de Juca Chaves deixou-nos na mesma desolação. E o pior é não vermos substitutos à altura desses eleitos que partem. Onde outra Bibi, outro Erasmo, outra Gal?
Bem humorada e espirituosa até o fim, soube que batizou de “Jair” seu tumor mortal. Com muito orgulho e no melhor sentido, foi sempre uma assumida ovelha diferenciada que valia por um rebanho inteiro de iguais. Que seja recebida no paraíso com muita lança-perfume e nenhum auê.
E, sim, mesmo ausente, Rita, continuaremos com mania de você.