Mostrando postagens com marcador Jorge Elias Neto. Mostrar todas as postagens

DESPEDIDA É na transição que me despeço pois outro em torno passa a ter sentido Não que seja felicidade a sucessão de p...

jorge elias neto poesia capixaba
DESPEDIDA
É na transição que me despeço pois outro em torno passa a ter sentido Não que seja felicidade a sucessão de portas, imagens, e a nova transparência do Mundo Não saber o nome que se diz quando se está surpreso passa a ser a vida (o recorte de cada adeus é essa bruma triste afastada dos olhos)

A quanto dista o zelo do cientista do abuso apaixonado do poeta com a palavra? Na véspera do lançamento dos meus livros “Manual para es...

poesia capixaba luar classificacao jorge elias neto
A quanto dista o zelo do cientista do abuso apaixonado do poeta com a palavra?

Na véspera do lançamento dos meus livros “Manual para estilhaçar vidraças” e “A arte do zero”, um paciente, sabendo do evento, me indagou, assim, de supetão:

— Dr, que tipo de poeta você é?

      Só sei que vou te amar I À quantas anda a secura de tua boca? Fulgura ainda em teus lábios a liga do beijo? Entendas que...

jorge elias poesia capixaba amor cumplicidade seducao
 
 
 
Só sei que vou te amar
I À quantas anda a secura de tua boca? Fulgura ainda em teus lábios a liga do beijo? Entendas que é breve o que se diz eterno. E que a intenção revela-se no mesmo segundo que a mão esbofeteia.

      É necessário buscar espaço para o silêncio — ocupar-se dele. Até que nada mais sobre solucionável pela palavra. Existe u...

 
 
 
É necessário buscar espaço para o silêncio — ocupar-se dele. Até que nada mais sobre solucionável pela palavra. Existe uma sonoridade distante no silêncio. As palavras estão sempre com seus olhos atentos a me observar do silêncio.

Nota Carlos Nejar (Porto Alegre, 1939), é poeta, ficcionista, tradutor, crítico literário brasileiro, membro da Academia Brasileira de...

carlos nejar jorge elias neto poesia capixaba livro glacial
Nota
Carlos Nejar (Porto Alegre, 1939), é poeta, ficcionista, tradutor, crítico literário brasileiro, membro da Academia Brasileira de Letras e da Academia Brasileira de Filosofia.
Acerca do livro "Glacial", do poeta capixaba Jorge Elias Neto, ele escreve o seguinte:

A glacialidade no fogo
Carlos Nejar

Jorge Elias trabalha o silêncio, seja neve, seja gelo, seja razão exposta, ou delicadeza de sentir. Sua poesia é feita de centelhas que ignoram a cronologia da dor.

Certas coisas “calam” a alma, e uma desesperança preenche, subitamente, o espaço que recriamos, dia -a -dia, para existir. Após assistir ...

Certas coisas “calam” a alma, e uma desesperança preenche, subitamente, o espaço que recriamos, dia -a -dia, para existir. Após assistir a um vídeo que me foi encaminhado pela professora e ambientalista Renata Bonfim, já fiquei assustado. Aquilo que eu remoía, previa, sentia, se configurou verdade. O abismo humano, aquele que antecede a erosão objetiva da terra devastada, se estendeu pelas encostas de Domingos Martins. Hoje passei pelo local do registro das primeiras imagens do desmatamento. É muito maior do que as imagens mostram, e olha que as fotos e o vídeo retratam, de forma clara e objetiva, a tragédia ecológica. Mas as imagens não foram capazes de traçar os limites precisos da desolação que me atingiu. Pois não tem limite o homem com sua vulgaridade e torpeza. Derruba-se aqui, ali, e seu entorno. E o limite é a morte. A busca da felicidade, do paraíso terrestre, da fuga da Covid nos grandes centros… A falta de incentivo para a preservação, o parcelamento dos terrenos familiares e necessidade de capitalização… Eis alguns dos argumentos. E o meio ambiente? A flora, a fauna, a água, o clima…. E a certeza de que haverá vida e a beleza será preservada apesar de nós? O que somos? Assistimos e comentamos? O que fazemos? Passamos no Mundo. Mas o que deixamos? Sejamos responsáveis e nos unamos para impedir, protestar e combater o que está ocorrendo no município de Domingos Martins e demais municípios da serra do Espirito Santo ... do Brasil, pois a Mata Atlântica é frágil e depende de todos nós.


GRITOS PELO VERDE

Não interrompa o cotidiano das serpentes, elas não buscam nos homens o seu veneno.


 
 

 
Verdes Versos I
O escrito, o exposto, essas meias verdes verdades, já não se escondem atrás de máscara.
Kioto
A redoma estilhaçada faz frágil o ser antropocêntrico. A névoa, agora, é cinza de morte. A hora se apresenta túrgida de desassossego. O suor que nasce e evapora do febril pensante é quente, como no Holocausto de ontem. A vidraça, o vapor, a névoa, sobretudo o calor, fundem o metal encantado de Wall Street, em pleno Sol de meio-dia. É o céu um espelho partido, forjado por todos os alquimistas que acenderam o fogo da ambição. O girassol torporoso, refugia-se entre as pétalas que não tombaram ao orvalho ácido do alvorecer. Ele é incapaz de encarar a verdade deste Sol. O que dizer dos seres ignotos que se admiram nos espelhos das nuvens... Onde está a cuspideira, para que eu possa comemorar a soberba humana? Homem, mosaico de fluidos, senhor dos pensamentos dúbios e incoerentes, não tardes esperando que tua racionalidade te dê o norte. Ouve os ociosos que, perdidos entre estrelas, anteveem o simples fim. A rosa oriental que nasceu aos pés do cogumelo de poeira, já era rubra, ao brotar. Hoje, ganhou um toque tropical, está mais encarnada, herança diária dos inocentes exangues, que teimam em nascer, à margem do mundo globalizado. Os seres débeis já se esvaem na fumaça que escreve números em todo o céu. E o principal protagonista não lê os escritos das ondas, que, insistentes, desistiram de lavar as areias e passaram a deixar os seus escritos, nas memórias de uma geração.
Verdes Versos II
Nada menos humano, menos carnal que o verde. Pútrida carne verde dos abandonados em valas. O que é verde o corpo despreza. Catarro, pus, vômica sinônimos de morte. A pele que ainda respira quando verde agoniza. De verde apenas os seres de nosso pobre imaginário. Nada mais vida, mais sentimento que o verde.
Morte verde
Gostaria de que o final do ciclo dos sóis visíveis me encontrasse bestando a apreciar bromélias.
Pensamento
A transparência dos fatos macula-se com a palavra. Como se a busca pelo caos fosse brindada com louvor e êxtase.
Entropia
Em algum momento, antes do fim absoluto, o homem enfim olhará suas mãos sujas com a poeira do caos.
Vegetariano
“O esquecimento jamais devolve seus reféns” Fabrício Carpinejar Somos formigas demais para o verde que resta. A escada de Tistu já não existe mais, perdeu-se no fogo verde. Ele, felizmente, está salvo, é um anjo... Legou-nos a metáfora de seu toque, mas nessa fila de ir e vir só a pele interpreta e julga o que o olhar não entende. Somos deuses demais para o verde que resta. Pode chorar ingazeira, pois não se volta do esquecimento. O tropel segue polvilhando cinzas sobre o cobre do entardecer, e a consciência não segue os passos de seus atos. Afinal, criamos Deus à nossa imagem, temos a chave da vida. Somos dementes demais para o verde que resta.
Apocalipse verde
O mar afoga as colinas onde até anteontem os passos deixavam [ marcas de certezas. Os três ou quatro versos que eu deixei voltaram ao sal. Já não restam vogais, somente rastros na rocha dos tempos. Rezar não adianta; na cruz – poleiro dos derradeiros papagaios –, os musgos viçosos sobrevivem. O VERBO partiu e levou consigo o pecado. O mundo suspira aliviado o retorno à solidão.
O verde psicografado
Certa vez, psicografei um beija-flor morto na morna manhã da sensatez. Ele me confirmou que a turba renovará o erro de sempre. – O desespero do luar está em teus olhos, disse-me ele. Diz-me, rapaz, és capaz de ver quantas perspectivas na falsa inércia de um tronco?... Acreditas mesmo que um coração pode ser o centro do Universo?...
Poema à morte da ingazeira
Morre de pé o verde, até que a inexorável gravidade trace seu rumo definitivo: partir para o esquecimento.
Hóstia verde
Vó Bela! O homem é assim: cultiva a ausência do verde, e, quando este finalmente falta, vende o que resta aos idólatras. Benditos os iconoclastas derrubadores do ídolo verde! Vó Bela! Será que chegará o dia em que tomaremos em nossas bocas uma folha verde como hóstia?
Ofertório
Certas bocas não vestem bem as palavras.

ATENÇÃO
VAMOS COMBATER O DESASTRE AMBIENTAL!
(clique aqui para assinar)

      Íntimo Ondas guardadas, não devolvem o gosto de sal aos lábios despidos de lembranças. Deixados sós, o...

poesia espiritossantense jorge elias crepusculo
 
 
 
Íntimo
Ondas guardadas, não devolvem o gosto de sal aos lábios despidos de lembranças. Deixados sós, os lábios, não se desviam do destino. Mas o súbito tranco da cancela dos dentes intimida o deslizar da língua.

Abençoados os que se aconchegam no desencanto (a relva sob a bruma é mais úmida) Abençoados os de paixão ardente (o labirinto ...

ano novo salmo poesia espiritossantense final ano
Abençoados os que se aconchegam no desencanto (a relva sob a bruma é mais úmida) Abençoados os de paixão ardente (o labirinto é a única certeza de um abrigo) Abençoados os que relembram e sorriem (a possibilidade de atalhos é um fluir da memória) Abençoados os ausentes (a distância é um consentimento à perfeição) Abençoados os que se perdem no desmedido (o que cabe não transborda) Abençoados os que carecem das unhas (o arrepio é uma dádiva no desespero)

I Minha terra é uma ilusão da linguagem. Tenho de meu esse rastilho de palavras que pressinto atadas aos calcanhares. Se o...

melancolia culpa sonho realidade poesia espiritossantense
I
Minha terra é uma ilusão da linguagem. Tenho de meu esse rastilho de palavras que pressinto atadas aos calcanhares. Se o desfaço, perde-se o encantamento das vivências cerzidas. Sei que as mãos ensaiam obscenidades entre dois espelhos. Quero mesmo criar algumas reentrâncias na estrutura dos olhares. Mas olhos extraviados não ardem

    Saudade, esse poro transpirando para dentro da memória um infinito perdido que simplesmente fica naquele lugar que pinica...

 
 
Saudade,
esse poro transpirando para dentro da memória um infinito perdido que simplesmente fica naquele lugar que pinica e diz do cheiro dos que me amaram antes que eu pudesse perceber que existe a ausência

Eu criaria um Céu se nele coubessem as minhas asas, Mas os sonhos dos homens que recolho, que abraço, precisam de um mundo que se ...

poesia capixaba jorge elias aforismas haikai

Eu criaria um Céu se nele coubessem as minhas asas, Mas os sonhos dos homens que recolho, que abraço, precisam de um mundo que se expande aos limites do descabido Por isso a queda no inominável da ausência, a frustração de me vender ao vento, de tombar perante o branco da página, do não escrito,

O punhal tem duas faces: a que brota e a que geme. Eis a porção do falso que constitui a verdade... Se disser tudo, rest...


O punhal tem duas faces: a que brota e a que geme.
Eis a porção do falso que constitui a verdade...
Se disser tudo, restará apenas a última mentira.
Rente ao chão, toda mentira resvala na inutilidade.
A verdade é incomunicável e não se fixada em palavras.
Entendo a sujeira como um vício da realidade.
Por mais que insista, os dias são mais irônicos que as palavras.

Vida e morte são o continuar dos passos o ir e vir para não se sabe onde. A única diferença é que, no fim, não se poderá mais...

poesia espiritossantense jorge elias morte ironia existir

Vida e morte são o continuar dos passos o ir e vir para não se sabe onde. A única diferença é que, no fim, não se poderá mais contar os passos.... A vida é mais irônica que as palavras. Mais do que a vida a certeza e inumeráveis escombros.

      I Minha terra é uma ilusão da linguagem. Tenho de meu esse rastilho de palavras que pressinto atadas aos calcanhares. Se o d...

ilusao linguagem poesia jorge elias neto tedio loucura
 
 
 
I
Minha terra é uma ilusão da linguagem. Tenho de meu esse rastilho de palavras que pressinto atadas aos calcanhares. Se o desfaço, perde-se o encantamento das vivências cerzidas. Sei que as mãos ensaiam obscenidades entre dois espelhos. Quero mesmo criar algumas reentrâncias na estrutura dos olhares. Mas olhos extraviados não ardem no lugar comum em que me perco...

Quo Vadis Sou um devoto de pernas tortas, um desequilíbrio me preenche, uma crença na embriaguez (Um tom de cor que não percebem...

poesia capixaba desilusao crise existencial indiferenca

Quo Vadis
Sou um devoto de pernas tortas, um desequilíbrio me preenche, uma crença na embriaguez (Um tom de cor que não percebem os olhos claustrofóbicos) Conforme os cartazes, não existo, uma impossibilidade me percorre como um sangue incolor

Pompei Revisito o silêncio das trevas. Sonhos adormecidos, desfeitos por gestos que precedem a consciência. Sigo nos séculos,...

Pompei
Revisito o silêncio das trevas. Sonhos adormecidos, desfeitos por gestos que precedem a consciência. Sigo nos séculos, interrompido no ventre da mãe. Restos calcinados, dispersos, estremados, entrecortados pelo espanto. O céu sabe das cinzas. Sempre soube... E aproveitou-se da inocência dos que não me conheceram para dizer que me negaram a existência

MANUAL COM QUESTÕES PARA UM AUTORRETRATO Por que vc tentou se suicidar? Sou artista, trabalho com fragmentos.   Por qu...

literatura capixaba poesia contemporanea

MANUAL COM QUESTÕES PARA UM AUTORRETRATO

Por que vc tentou se suicidar? Sou artista, trabalho com fragmentos.
 
Por que vc se desculpa? Pelo vício de armar arapuca.   Por que vc exagera tanto? Não quero morrer com quebranto.   Por que vc chega tão cedo? Para ter um pouco de sossego.   Por que vc gosta de álcool? Pela chatice de ser sensato.   Por que vc recorre a Deus? Não se admire do que faz um ateu.

MANUAL DE QUESTÕES ELEMENTARES SOBRE ENGENHARIA DOMÉSTICA   O que de perene resta da rupestre arte de equivocar-se? Seria f...

literatura capixaba poemas jorge elias livro manual estilhacar vidaracas
MANUAL DE QUESTÕES ELEMENTARES SOBRE ENGENHARIA DOMÉSTICA
 
O que de perene resta da rupestre arte de equivocar-se?
Seria flagelo o silêncio  ou equívoco de enganar-se? Morre-se por tentar ou ignora-se para salvar? Pode ser a morada mórbida  como um claustro? Abrir a porta — metáfora  ou ato de desespero? Seria a paixão fonte de saudade e motivo de erro? O mínimo é indispensável ou vale mais o exagero?  O que se atira para fora  é sobra ou esperança? Na sanha dos corpos escreve-se uma aliança?

Alguma coisa chamada cor Quem cismou de pintar de rosa as nuvens pôr de sol do outono? E ver o azul se disfarçando em cinz...

literatura espirito poesia capixaba santo jorge elias

Alguma coisa chamada cor
Quem cismou de pintar de rosa as nuvens pôr de sol do outono?
E ver o azul se disfarçando em cinzas na crepuscular despedida do que já foi manhã.

A parte metade A parte metade, de todo inteira, (esse canto chão de meu ócio) é a música que visto, meu quarto ...

literatura capixaba poema noite escuridao jorge elias
A parte metade
A parte metade, de todo inteira, (esse canto chão de meu ócio) é a música que visto, meu quarto de despir mentiras. Parte partida, fosca pela sujeira do repisar o pó; fosso cavado para assentar a paz. (metade é medida sem desespero, recanto de passagem, cobertor dos atropelos.)