É na transição que me despeço pois outro em torno passa a ter sentido Não que seja felicidade a sucessão de portas, imagens, e a nova transparência do Mundo Não saber o nome que se diz quando se está surpreso passa a ser a vida (o recorte de cada adeus é essa bruma triste afastada dos olhos)
DESPEDIDA É na transição que me despeço pois outro em torno passa a ter sentido Não que seja felicidade a sucessão de p...
Despedidas
É na transição que me despeço pois outro em torno passa a ter sentido Não que seja felicidade a sucessão de portas, imagens, e a nova transparência do Mundo Não saber o nome que se diz quando se está surpreso passa a ser a vida (o recorte de cada adeus é essa bruma triste afastada dos olhos)
A quanto dista o zelo do cientista do abuso apaixonado do poeta com a palavra? Na véspera do lançamento dos meus livros “Manual para es...
Doutor, que tipo de poeta você é?
— Dr, que tipo de poeta você é?
Só sei que vou te amar I À quantas anda a secura de tua boca? Fulgura ainda em teus lábios a liga do beijo? Entendas que...
Só sei que vou te amar
I À quantas anda a secura de tua boca? Fulgura ainda em teus lábios a liga do beijo? Entendas que é breve o que se diz eterno. E que a intenção revela-se no mesmo segundo que a mão esbofeteia.
É necessário buscar espaço para o silêncio — ocupar-se dele. Até que nada mais sobre solucionável pela palavra. Existe u...
Bestando a apreciar bromélias
Nota Carlos Nejar (Porto Alegre, 1939), é poeta, ficcionista, tradutor, crítico literário brasileiro, membro da Academia Brasileira de...
A glacialidade no fogo
Carlos Nejar (Porto Alegre, 1939), é poeta, ficcionista, tradutor, crítico literário brasileiro, membro da Academia Brasileira de Letras e da Academia Brasileira de Filosofia.
Acerca do livro "Glacial", do poeta capixaba Jorge Elias Neto, ele escreve o seguinte:
A glacialidade no fogo
Certas coisas “calam” a alma, e uma desesperança preenche, subitamente, o espaço que recriamos, dia -a -dia, para existir. Após assistir ...
Um pedido de socorro pela Mata Atlântica
O escrito, o exposto, essas meias verdes verdades, já não se escondem atrás de máscara.
A redoma estilhaçada faz frágil o ser antropocêntrico. A névoa, agora, é cinza de morte. A hora se apresenta túrgida de desassossego. O suor que nasce e evapora do febril pensante é quente, como no Holocausto de ontem. A vidraça, o vapor, a névoa, sobretudo o calor, fundem o metal encantado de Wall Street, em pleno Sol de meio-dia. É o céu um espelho partido, forjado por todos os alquimistas que acenderam o fogo da ambição. O girassol torporoso, refugia-se entre as pétalas que não tombaram ao orvalho ácido do alvorecer. Ele é incapaz de encarar a verdade deste Sol. O que dizer dos seres ignotos que se admiram nos espelhos das nuvens... Onde está a cuspideira, para que eu possa comemorar a soberba humana? Homem, mosaico de fluidos, senhor dos pensamentos dúbios e incoerentes, não tardes esperando que tua racionalidade te dê o norte. Ouve os ociosos que, perdidos entre estrelas, anteveem o simples fim. A rosa oriental que nasceu aos pés do cogumelo de poeira, já era rubra, ao brotar. Hoje, ganhou um toque tropical, está mais encarnada, herança diária dos inocentes exangues, que teimam em nascer, à margem do mundo globalizado. Os seres débeis já se esvaem na fumaça que escreve números em todo o céu. E o principal protagonista não lê os escritos das ondas, que, insistentes, desistiram de lavar as areias e passaram a deixar os seus escritos, nas memórias de uma geração.
Nada menos humano, menos carnal que o verde. Pútrida carne verde dos abandonados em valas. O que é verde o corpo despreza. Catarro, pus, vômica sinônimos de morte. A pele que ainda respira quando verde agoniza. De verde apenas os seres de nosso pobre imaginário. Nada mais vida, mais sentimento que o verde.
Gostaria de que o final do ciclo dos sóis visíveis me encontrasse bestando a apreciar bromélias.
A transparência dos fatos macula-se com a palavra. Como se a busca pelo caos fosse brindada com louvor e êxtase.
Em algum momento, antes do fim absoluto, o homem enfim olhará suas mãos sujas com a poeira do caos.
“O esquecimento jamais devolve seus reféns” Fabrício Carpinejar Somos formigas demais para o verde que resta. A escada de Tistu já não existe mais, perdeu-se no fogo verde. Ele, felizmente, está salvo, é um anjo... Legou-nos a metáfora de seu toque, mas nessa fila de ir e vir só a pele interpreta e julga o que o olhar não entende. Somos deuses demais para o verde que resta. Pode chorar ingazeira, pois não se volta do esquecimento. O tropel segue polvilhando cinzas sobre o cobre do entardecer, e a consciência não segue os passos de seus atos. Afinal, criamos Deus à nossa imagem, temos a chave da vida. Somos dementes demais para o verde que resta.
O mar afoga as colinas onde até anteontem os passos deixavam [ marcas de certezas. Os três ou quatro versos que eu deixei voltaram ao sal. Já não restam vogais, somente rastros na rocha dos tempos. Rezar não adianta; na cruz – poleiro dos derradeiros papagaios –, os musgos viçosos sobrevivem. O VERBO partiu e levou consigo o pecado. O mundo suspira aliviado o retorno à solidão.
Certa vez, psicografei um beija-flor morto na morna manhã da sensatez. Ele me confirmou que a turba renovará o erro de sempre. – O desespero do luar está em teus olhos, disse-me ele. Diz-me, rapaz, és capaz de ver quantas perspectivas na falsa inércia de um tronco?... Acreditas mesmo que um coração pode ser o centro do Universo?...
Morre de pé o verde, até que a inexorável gravidade trace seu rumo definitivo: partir para o esquecimento.
Vó Bela! O homem é assim: cultiva a ausência do verde, e, quando este finalmente falta, vende o que resta aos idólatras. Benditos os iconoclastas derrubadores do ídolo verde! Vó Bela! Será que chegará o dia em que tomaremos em nossas bocas uma folha verde como hóstia?
Certas bocas não vestem bem as palavras.
Íntimo Ondas guardadas, não devolvem o gosto de sal aos lábios despidos de lembranças. Deixados sós, o...
Esse crepúsculo atravessado na garganta
Ondas guardadas, não devolvem o gosto de sal aos lábios despidos de lembranças. Deixados sós, os lábios, não se desviam do destino. Mas o súbito tranco da cancela dos dentes intimida o deslizar da língua.
Abençoados os que se aconchegam no desencanto (a relva sob a bruma é mais úmida) Abençoados os de paixão ardente (o labirinto ...
Salmo de fim de ano
I Minha terra é uma ilusão da linguagem. Tenho de meu esse rastilho de palavras que pressinto atadas aos calcanhares. Se o...
A loucura atordoa
Minha terra é uma ilusão da linguagem. Tenho de meu esse rastilho de palavras que pressinto atadas aos calcanhares. Se o desfaço, perde-se o encantamento das vivências cerzidas. Sei que as mãos ensaiam obscenidades entre dois espelhos. Quero mesmo criar algumas reentrâncias na estrutura dos olhares. Mas olhos extraviados não ardem
Saudade, esse poro transpirando para dentro da memória um infinito perdido que simplesmente fica naquele lugar que pinica...
Saudade
esse poro transpirando para dentro da memória um infinito perdido que simplesmente fica naquele lugar que pinica e diz do cheiro dos que me amaram antes que eu pudesse perceber que existe a ausência
Eu criaria um Céu se nele coubessem as minhas asas, Mas os sonhos dos homens que recolho, que abraço, precisam de um mundo que se ...
Anjo tombado
O punhal tem duas faces: a que brota e a que geme. Eis a porção do falso que constitui a verdade... Se disser tudo, rest...
Os dias são mais irônicos que as palavras
Vida e morte são o continuar dos passos o ir e vir para não se sabe onde. A única diferença é que, no fim, não se poderá mais...
O ir e vir para não se sabe onde
I Minha terra é uma ilusão da linguagem. Tenho de meu esse rastilho de palavras que pressinto atadas aos calcanhares. Se o d...
Balada dos ossos
Minha terra é uma ilusão da linguagem. Tenho de meu esse rastilho de palavras que pressinto atadas aos calcanhares. Se o desfaço, perde-se o encantamento das vivências cerzidas. Sei que as mãos ensaiam obscenidades entre dois espelhos. Quero mesmo criar algumas reentrâncias na estrutura dos olhares. Mas olhos extraviados não ardem no lugar comum em que me perco...
Quo Vadis Sou um devoto de pernas tortas, um desequilíbrio me preenche, uma crença na embriaguez (Um tom de cor que não percebem...
Um certo mormaço
Sou um devoto de pernas tortas, um desequilíbrio me preenche, uma crença na embriaguez (Um tom de cor que não percebem os olhos claustrofóbicos) Conforme os cartazes, não existo, uma impossibilidade me percorre como um sangue incolor
Pompei Revisito o silêncio das trevas. Sonhos adormecidos, desfeitos por gestos que precedem a consciência. Sigo nos séculos,...
O silêncio das trevas
Revisito o silêncio das trevas. Sonhos adormecidos, desfeitos por gestos que precedem a consciência. Sigo nos séculos, interrompido no ventre da mãe. Restos calcinados, dispersos, estremados, entrecortados pelo espanto. O céu sabe das cinzas. Sempre soube... E aproveitou-se da inocência dos que não me conheceram para dizer que me negaram a existência
MANUAL COM QUESTÕES PARA UM AUTORRETRATO Por que vc tentou se suicidar? Sou artista, trabalho com fragmentos. Por qu...
Questões para um autorretrato
MANUAL DE QUESTÕES ELEMENTARES SOBRE ENGENHARIA DOMÉSTICA O que de perene resta da rupestre arte de equivocar-se? Seria f...
Luz apagada
Alguma coisa chamada cor Quem cismou de pintar de rosa as nuvens pôr de sol do outono? E ver o azul se disfarçando em cinz...
As cores amanhecerão diferentes
A parte metade A parte metade, de todo inteira, (esse canto chão de meu ócio) é a música que visto, meu quarto ...
Noturno
A parte metade, de todo inteira, (esse canto chão de meu ócio) é a música que visto, meu quarto de despir mentiras. Parte partida, fosca pela sujeira do repisar o pó; fosso cavado para assentar a paz. (metade é medida sem desespero, recanto de passagem, cobertor dos atropelos.)