A sombra do zero O que contorna o início o preenche? E se o vazio diz seu nome, ele resvala ou já é abismo? A luz o desfolha...

A sombra do zero

A sombra do zero
O que contorna o início o preenche? E se o vazio diz seu nome, ele resvala ou já é abismo? A luz o desfolha ou não existe um porquê que deslize? Pode haver morno na essência do nada? O dentro e o fora cabem ou se perdem na desesperança? Oh lucidez estúpida, de mãos vazias sobre as têmporas, diz sobre a sombra do zero, imprime alguma palavra que cubra a morte da beleza dos jovens e aqueça os corpos erguidos aos pés de seu túmulo. (poema inédito)
A prazo
Levem-me as horas Para os caprichos mundanos! Já destaquei a etiqueta. Tomei posse do individuo. Será que não vêem No meu antebraço O carimbo de pago
Borgiana I
Atiro os cacos do espelho partido. Busco-os no chão, onde as imagens se dispersaram. Com o que resta na moldura, brinco de cortar os dedos encaixando respostas no rosto trincado. E, se, no entanto, a figura se assemelha ao medo, remisturo todo o ser desfigurado. Pois a faina louca de remexer segredos fez-me encontrar as sombras dos dias passados.
Borgiana II
Repousa o veludo da pele, tigre selvagem, nessa distante gleba à qual chegaste por caminhos incertos. Lembranças grisalhas, velho tigre... Compartilho teus dentes nada castos... Restou-nos o passado... E suas páginas de bordas marcadas. Sempre reviradas, velho tigre, para não esquecer os outros dias. (O que nos resta quando o orvalho se perde no esquecimento?) Nas catedrais, teu ouro roubado. Depois raspado dos pilares para cobrir os dentes. Como se sorrir dourado os fizesse arremedo de gente... (Quanto de tua mordedura permeia nossos sonhos?) Não se traduz o mistério de tuas escápulas, nem a névoa em teus olhos... Quem sabe a milonga nos taquarais ou tuas listras obliquas resistam ao imprevisível fim. Tardam as horas... Cada expectativa tem teu cheiro e se esforça para caber no poema.

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