O nome que me resta não cabe em meu corpo ouvidos poucos se prestam a escutar a minha urgência troco a minha fome pelo espasmo de minha carne pouca e esse desapego deixou de ser escolha, é o meu rastro pelas calçadas onde escrevo meu nome de hoje
NOME O nome que me resta não cabe em meu corpo ouvidos poucos se prestam a escutar a minha urgência troco a minha fom...
Meu rastro pelas calçadas
O nome que me resta não cabe em meu corpo ouvidos poucos se prestam a escutar a minha urgência troco a minha fome pelo espasmo de minha carne pouca e esse desapego deixou de ser escolha, é o meu rastro pelas calçadas onde escrevo meu nome de hoje
Decreto (para ser lido tomando-se água de coco à beira mar) Atenção! Está suspensa a transitoriedade das insignifi...
No falso silêncio da crisálida
(para ser lido tomando-se água de coco à beira mar) Atenção! Está suspensa a transitoriedade das insignificâncias. Não é permitida a inspirabilidade do óbvio. É mandatório o afogamento das circunstâncias. O status quo deverá ser limpo com papel higiênico. Será suprimido do vocabulário o beijo sem língua. No cardápio das quartas-feiras o prato principal será o ócio. Que se nomeiem os filhos conforme o cricrilar dos grilos. Cada bocejo deverá ser celebrado como profecia.
Gira flor retorna ao berço das imagens, Mundo em moldura de sonhos nascido no infinito dos olhos a cada nascente e p...
Gira flor
MONÓLOGO A DOIS Falo a história dos dias, assim, despercebido, entoando versos que não ecoam mais o assombro da belez...
Vi essa praia crescer, derramar-se sobre o mar
Falo a história dos dias, assim, despercebido, entoando versos que não ecoam mais o assombro da beleza Perto de mim há um anjo que me entende, e chutamos pedras As luzes polvilham a cegueira, e eles já não veem o bordado das asas, as tranças do anjo, a textura desalinhada de seus passos e me condenam a loucura (A praticancia desassistida de sonhos é o testemunho da morte que abomino)
CAÍRAM AS FOLHAS Caíram as folhas que vi nascer quando parti Não fui testemunha das aguadas e da prenhez da terra que...
Caíram as folhas
Caíram as folhas que vi nascer quando parti Não fui testemunha das aguadas e da prenhez da terra que alimentaram Apenas a meia-volta da memória se despede, vez ou outra E sigo na constância, e os dias, sim, brotam
Varal Roupa lavada desconhece a história. Dela tiraram as palavras, os odores, tiraram o enigma das cores. Já neste var...
Penduro cheiros neste varal
Roupa lavada desconhece a história. Dela tiraram as palavras, os odores, tiraram o enigma das cores. Já neste varal mágico, o que se vestiu, o que existiu, o que é e não simplesmente foi, o que está exposto é a materialização de minhas vivências. Penduro cheiros neste varal: O cheiro de talco de minha avó; Meu pai-cheiro. Nele estão também os cabelos longos de meu irmão Que verteram poesia e sofrimento. (Quem sabe também o seu último olhar para a morte?)
A ESCRITA É UMA LIGA DE SANIDADE Muitos diriam para não fazer esses malabarismos de letras sem sentido Diriam que a set...
Ser o vento desperdiçando a força nas folhas mortas
Muitos diriam para não fazer esses malabarismos de letras sem sentido Diriam que a seta é a cura para a obtusa tortuosidade do nômade Mas buscar o visgo na ressurreição diária faz lampejar os olhos O Eu triturado renasce, não sóbrio, pois a vida não permite
Vejo nos dias atuais uma tendência à falta de proveito de um dos sentidos da poesia. Não creio que se tenha um caminho único a ser t...
Pela poesia, simplesmente
Não creio que se tenha um caminho único a ser trilhado – pelo contrário – mas tenho observado um favorecimento da busca pura e simples da abstração, do uso “despretensioso” das palavras; como se o poeta se sujeitasse aos novos paradigmas impostos pela atual visão caleidoscópica da arte; pela trilha atribulada e veloz da globalização.
O ÚLTIMO (Por que o último, se existe o contínuo da expectativa?) Os riscos ocupavam todas as paredes do cômodo ...
A sombra tomba sobre a terra ao sentir o fascínio do sol
(Por que o último, se existe o contínuo da expectativa?) Os riscos ocupavam todas as paredes do cômodo Custava revirar os olhos e contá-los (na verdade era impossível) Havia espelhos dependurados, nenhum espaço para incluir um sonho e uma possibilidade de saber do infinito E naquele em torno, que incluía a eternidade, se despejava o desejo humano
MONÓLOGO Pode ser meia a dor que te consome? Viver, apreender palavras, guardá-las no silêncio. O mormaço já est...
As mãos postas
A vogal é par, a consoante é impar – azulejos – na casamata do poema.
Canto primeiro Habita em mim um sem número de desterrados, meus pares eternos, raízes que me circundam. Resmas e re...
Cantos para meus filhos
Habita em mim um sem número de desterrados, meus pares eternos, raízes que me circundam. Resmas e resmas de histórias perdidas, descartadas, um cotidiano de ossos e aboios de heróis impuros. Um ser andor e barro, caligrafia, relicário das almas. Meu duplo é o ontem, a miragem sertaneja, o cedro-do-Líbano, a travessia dos Oceanos e das caatingas.
Coisas excepcionais aconteceram sob os olhos cansados de um relógio do tempo que não pediu para existir. Mãos o criaram ̶ eu sei. É que o Sol insistia em rodar, rodar e rodar... Era um deus. Sagacidade de uma prosopopeia.
Letra miúda, essa, do tempo, caber o risco do vento o uivo, o eco, toda delicadeza dos voos dispersos e restar espaço para tantos sonhos na inocência de uma infância.
O cerol do tempo lembrando que a morte é a única panaceia.
Surgem homens, incansavelmente, e a discórdia começa com as iniciais dos nomes.
Os homens se perderam, eu me perdi, sou um deus da guerra Milano, sou um deus plácido e sua faca o corte e a ferrugem dos séculos.
Sabe, pai, é triste não saber definir a noite.
A palavra malefício poderia ser desdobrada em oficio de ser mal ou um mal ofício, uma execução imperfeita, um ato humano. Intencionalmente estaria aí a dualidade, o espaço da religião.
O amuleto, um algo que já tentei ver através de um radioscópio, e que só mostrou minha mão que segurava uma ilusão envolta em séculos de tecidos negros que guardavam uma farpa da Santa Cruz.
Existiu um rosário de contas azuis e brancas, e uma pena do pavão de padre Cícero, e Santa Marta, ou uma outra Santa de vestes de freira, e um oratório azul como um túmulo de um ser puro nascido no Seridó, e um menino vivo a confrontar o espelho, essa imagem maldita que pensa saber todas as respostas.
Existe uma hierarquia para as perdas. A minha primeira foi a mãe do Bambi. E minha mãe nem sabia que eu já sabia da morte quando segurei suas pernas na janela do nono andar.
Guardei meus pés e minhas pausas.
Esse olhar de ódio é um teatro do absurdo de um homem além do discurso de querer-se sóbrio diante do naufrágio.
Nascemos e partimos para o esquecimento.
A espiral dos cromossomos se quebra. É o pó das urnas mortuárias e a carga nos ombros dos filhos.
A colcha de retalhos é o nosso destino, memórias, augúrios e peripécias. Isso é a vida. E a responsabilidade dando sentido ao ser torto no redemoinho.
Estenda sobre seu caminho de passos suas descobertas, e parte levando o que seja, leva ao menos um desejo de tarde e o sentimento tátil da bruma ao te despertar de um sonho.
Por vezes o pouco contato, o distanciamento, a ausência do olhar, do tato, nos desperta a falsa impressão de que aquela pessoa não exer...
O que guardei de meu pai
A quanto dista o zelo do cientista ao abuso apaixonado do poeta com a palavra? Aprendi assim, colhendo poesia no coração lúdico das p...
A poesia do coração
Aprendi assim, colhendo poesia no coração lúdico das pessoas; era um tempo em que desconhecia o bombear cardíaco, apesar de sentir aquela aceleração gostosa no peito - condição comum para os apaixonados platônicos de todos os tempos.
Alguma coisa acontece no meu portão Nascido de um sonho Eu mordiscava os mundos a medida que percebia algo de doce...
Despedidas
Nascido de um sonho Eu mordiscava os mundos a medida que percebia algo de doce (a presença) Espiava futuras andanças, tecia despedidas para a imagem muda do pai (Era a menina que partia pela fresta amarela) Chuva, testemunha de minhas urgências, este consolo no sem sentido. (pai, você já pensou em pegar o sol e jogar lá longe?) Alguma coisa acontece no meu portão (Pai, meus olhos estão encharcados de sono) Ficou a casa, entrecortada de silêncios (E se lançarmos o silêncio para longe,
Enterrou seu filho, sua mãe e seu marido, entrou em casa e trancou a vida do lado de fora. Colocou o insulfilm mais escuro do mercado ...
Árvore genealógica
PERTENCIMENTO Eu, que atentei contra as lendas, devo participar calado da ceia dos ausentes. (O brilho do dia nad...
Sombra e brisa
Eu, que atentei contra as lendas, devo participar calado da ceia dos ausentes. (O brilho do dia nada sabe sobre o vazio que se desprende nas asas sem destino, dos trocadilhos dos fartos, da soberba que ofusca no horizonte o templo dos desesperados, do pânico dos ascensoristas buscando um andar que caiba o homem)
Para que compartilhar a loucura? Tem-se que guardar em segredo a penúria dos instintos que nos avassalam a alma. A loucura transborda, ...
O intruso
Diriam que ela é suportável nas crianças e em alguns endemoniados perdidos nos acostamentos das autoestradas – sempre carregando nas costas suas sacolas cheias de coisas-nenhumas. Elas não aprenderam ainda a ser gente;
A cidade cresce, se descaracteriza, fica cinza. Os faróis dos carros só são belos nas fotos noturnas com longa exposição do diafragma ...
O vai-e-vem da esperança
LIVRO NEGRO (Do canto obscuro a beira do mito, percorre-se o possível.) Medusa, Sangre minha língua, Recubra de vida ...
Planície
(Do canto obscuro a beira do mito, percorre-se o possível.) Medusa, Sangre minha língua, Recubra de vida a hóstia - alento do passado. Musa, surpreenda o que no sossego dos dias tingidos, simplesmente - ignora.
Em qual categoria de poeta eu me insiro ? Sou um pintor de luas tortas. Tombadas sobre a terra frágil. Ou seja, trato da poesia fra...
Minha última pele
Sou um pintor de luas tortas. Tombadas sobre a terra frágil.
Ou seja, trato da poesia fragmentada de nosso tempo, dos seus andrajos sustentando uma terra inóspita para a beleza.
Meu poema não é passivo, não enleva a alma ao paraíso, ele lambuza o leitor com a realidade, com a angústia do ser consciente.
O pasto é para todos, por isto cuido do arado, planto, colho, engulo, mas, ao acaso, rumino versos que são a minha fome perseguida.
Aquela palavra-frase que me ignora as súplicas e me arrebata ao seu bel prazer.
Chamo de estalo da palavra este açoite aguardado da musa. Mas luas tortas carecem de aplicabilidade.
Daí ser ignorado tal arquiteto e seu anacronismo.
A lua suspensa e seu telescópio já não dizem nada.
Os irmãos Lumiére não se reinvetam na poesia.
O espaço-tempo não tem fragrância, ele é um galope doido de imagens e informações.
Sei que o poeta não é um ser prático, mas é rico em praticâncias e desassossego.
E assim acordei sendo. Esta é minha última pele. Visto o que sobra das luas que picoto e remendo em minha vida.
Quem sabe aprenda a amanhecer em algum olhar. O que me diz leitor?