Confesso que não tenho muito apego à leitura de livros que não sejam impressos em papel, porque gosto de manusear e alisar as folhas com...
Marília Arnaud escreve com charme
Se alguém morre, para as crianças dizemos que a pessoa virou estrela. Talvez a forma mais simples de explicar para elas essa passagem à vi...
Martinho, sem adeus
Meu bisavô, coronel João Mendes, costumava dizer que o espelho mostra o caráter das pessoas. Vendo fotos antigas é possível reconstruir o ...
O espelho e a fotografia
Na abrangência do vento que rodopia o Sertão da Serra do Teixeira , na Paraíba, em debanda do Pajeú, em Pernambuco, desde o linear do sécu...
Poetas das caatingas e dos canaviais
Tenho uma amiga que adora fotografar a natureza. Adora a natureza porque a natureza está no sangue e na alma dela. Também estudou as esta...
Fotografia que é um poema
Para celebrar os meus 65 anos de idade, escrevi um livro composto de pequenas narrativas que traçam aspectos de paisagens humanas e da traj...
Viagem pela paisagem iluminada
Sempre trabalhei na Imprensa, mesmo que no decorrer de cinco décadas tenha exercido outras atividades, não menos importantes, que agora acho desnecessário mencionar porque foram tantas. Durante esse tempo publiquei livro de poesia e crônicas de amenidades abordando o cotidiano. Achando pouco, enveredei pela pesquisa sobre a história da cidade onde nasci na tentativa de encontrar minhas raízes familiares, e depois, para ocupar o tempo ocioso, preparei trabalhos literários abordando a vida de certas pessoas que considerei importantes.
Essas minúcias literárias abriram para mim as portas Instituto Histórico e Geográfico Paraibano, onde cheguei devagar, sem atropelar ninguém, talvez mais pela benevolência de amigos pelos quais tenho admiração e respeito. Estimulado por forças vindas do Alto, com as quais sempre tentei me identificar, depois de uma temporada de preparação, fizeram-me diácono na Arquidiocese da Paraíba.
O livro “Tapuio – do nascer ao entardecer” é composto de pequenas narrativas que traçam a trajetória de personagens que ajudaram a construir o edifício de minha vida, começando na comunidade Tapuio, que foi marcada pela transformação econômica no meio rural ao final da década de 1960. Lembro minha passagem por Arara, onde finquei a forquilha de minha sustentação espiritual depois que deixei o sítio, até chegar a João Pessoa, onde resido desde os 16 anos de idade, a fim de trabalhar e estudar. Mais trabalhar do que estudar.
Completando 65 anos, surgiu a ideia de escrever sobre lembranças que, suponho, possam agradar a algum leitor. Publicado, basta uma pessoa que se disponha a fazer sua leitura, estou satisfeito. Esta foi uma das lições aprendidas de Ariano Suassuna, para quem um leitor apenas justificaria a obra literária.
Escrevi as narrativas para nunca me afastar do sítio em que há décadas, distante, continuo no menino que descalço e com camisa aberta ao peito, passeava sem pressa por veredas e córregos, armado de baladeira e bornal de pano grosso com balas feitas de barro vermelho dentro.
Quero partilhar essa história construída com fé e perseverança, que começou bem antes do meu nascimento no ano de 1954, numa pequena casa localizada nas proximidades de Serraria, lugar de onde observamos um vasto mundo em seu redor, contemplando o nascer do dia e o entardecer, sempre com elegantes paisagens.
Para Aristóteles, o poeta tem algo de divino. Este ponto de vista é compartilhado por muitos de seus seguidores numa lista acrescida a cad...
A divindade dos poetas
Em tempo de pandemia parece que até a natureza sente sua ação devastadora, pois a devastação é perceptível. Basta olhar as praças e os arr...
As acácias e os ipês
Percorridos os caminhos de “Grande Sertão: Veredas”, de Guimarães Rosa, por mais de uma vez em trinta anos, livro revelador da alma human...
Os Sertões e suas veredas
A primeira leitura foi estimulada por Nathanael Alves, com a recomendação de não se aperrear se largasse a obra antes do final. Assim ocorrendo, era um bom início. Haveria de retomar tempo depois, mais de uma vez durante trinta anos, contudo abandonado pela metade.
Quando escutei a conferência da professora Ângela Bezerra de Castro sobre a personagem Diadorim, tentado, inevitavelmente retornei a obra de Guimarães Rosa, com premeditara Nathan. Foi uma leitura lenta, rabiscando os contornos do livro, sublinhando palavras para mais tarde iluminar nossos reencontros.
Encontrei o professor Milton Marques Junior numa livraria comprando “Grande Sertão: Veredas” porque a antiga edição estava bastante riscada, para recompor sua biblioteca composta de obras de incontestável valor, com anotações para estudos. Ele motivou meu retorno a esse romance que há décadas me inquieta.
Em casa, naquela mesma noite, reiniciei a leitura deste livro com igual ansiedade de quando o peguei pela primeira vez, afinal continuo o leitor em busca da compreensão de sua leitura. Nathanael, Ãngela e Milton, de modo particular, e outros críticos literários, têm dados pistas para a com preensão desta obra-prima que a literatura brasileira produziu.
Agora, tanto tempo decorrido do primeiro encontro com o livro, que muito amedrontou, ainda passeio por suas páginas tentando desvendar as veredas, situações e entender os viveres que são tão grandes quanto os sertões. O Sertão de Rosas, menos rústico e sem as feridas que esfarelam nosso viver em todo verão entrante, é maior do que imaginamos e quem penetrar nele, sai diferente.
Lemos o livro como refrescando a memória, que se alarga a cada passagem narrada, como um riachinho onde usufruímos da sua água refrescante. A primeira leitura durou o tempo de o milharal crescer, do açude ganhar água, do sol secar a babugem. No decorrer dessa viagem até ouvir a estimulante aula da professora Ângela, outros passeios ocorreram por suas páginas até chegar ao recomendado pelo professor Milton, de que, no caso dessa obra, é pegar sem interrupção da leitura. Seguindo os conselhos dos dois mestres, mais uma vez fui agarrado pela leitura, como se fosse a primeira vez.
Há uma paisagem nos grotões de Serraria que guardei na memória, cujas lembranças não se apagaram, seis décadas depo...
Um engenho anda comigo
Quando entregamos os livros para crianças daquela comunidade rural e vendo a menina sentada à mesa, folheando a obra de Monteiro Lobato, d...
A menina dos livros
Quando passávamos pelas várzeas do Rio Paraíba e chegávamos à região do Brejo, num olhar às enseadas ou chãs onde existem plantações de cana...
As capelas dos engenhos
As capelas estão presentes nas construções de muitas cidades, desde os mais remotos tempos. Foi uma pequena capela de taipa erguida nas imediações do Rio Sanhauá que marcou a pacificação entre portugueses e índios, e o início da construção de nossa capital.
Na nascente civilização brasileira, em alguns Estados do Nordeste, cinco séculos atrás, pelas mãos de jesuítas e franciscanos, em povoações e pequenas aglomerações rurais que se formavam em torno dos engenhos, surgiam capelas como relevante símbolo do Cristianismo e da fé na adolescente cultura religiosa no novo Continente, que hoje, em certos lugares, ainda estão presentes no que restou destas edificações que foram surgindo no decorrer dos tempos.
As imagens do Engenho Pau d’Arco ganharam vida nas páginas do “EU” pela criatividade poética de Augusto dos Anjos, mesmo recordadas com nostalgia. Outras são encontradas nos romances telúricos de José Lins do Rego, com páginas de relevante valor estético de nossa literatura que falam desses ambientes das casas-grandes e das capelas dos engenhos. Lugares, onde existe uma força mítica misturada ao sabor da garapa de cana e do cheiro das frutas tropicais, perpetuados na palavra escrita, mesmo que o desleixo de alguns proprietários contribuiu na destruição de muitas delas.
Ainda existem resquícios de antigos engenhos ou fazendas de café no Brejo, com grossas paredes que sustentam no alto uma cruz, símbolo milenar da fé cristã, mesmo cobertas pelo melão-de-são-caetano. Muitas paisagens dos livros de José Lins ganham vida nas mentes e trazem emoção aos corações de visitantes ao contemplar esses ambientes centenários, em alguns casos, guardando suas antigas características.
Por volta de 1850, junto do primeiro engenho de Serraria, foi construída no sopé da elevação uma pequena capela dedicada a Nossa Senhora da Boa Morte, originando-se, então, a cidade que se estendeu pelo cocuruto da serra, onde cinquenta anos depois iniciaram a construção do imponente monumento sede da Igreja do Sagrado Coração de Jesus.
Quando perambulando pelos canaviais de Serraria, contemplo a paisagem dos morros pouco além de nossas cabeças, parecendo estar junto das nuvens, e vendo os velhos engenhos de fogo apagado, lembro-me da importância dos pequenos monumentos religiosos erguidos como proposta de símbolo da solidariedade e da confiança no transcendental. Cada capela com sua simplicidade arquitetônica guarda o registro daqueles que ajudaram na construção da civilização do açúcar e do café, em cujo ambiente circundam esplendor invisível.
Nas regiões do Vale do Rio Paraíba e no Brejo, com o tempo, muitos engenhos e fazendas, lugares onde também se cultivava algodão e criava-se gado, desapareceram, levando de reboque as capelas. Seus novos donos, na maioria, não se deram conta da importância dos monumentos que marcam a riqueza histórica da região e o passado das famílias.
Nem todos se dão conta de que a arte é o meio mais cauteloso para fugirmos do mundo opressor e por meio dela nos vincularmos à vida. Semeia um gozo de liberdade quando estabelecemos uma relação genuína com esses antigos ambientes, e também com a natureza que os rodeia.
As capelas não são apenas adornos ao ambiente em redor das casas-grandes e dos engenhos, mas surgiram como sinais das visões místicas dos antepassados, e deixam os lugares mais belos.
A fotografia de José Américo de Almeida sentado na cadeira de balanço no terraço de sua casa na Praia do Cabo Branco, com a mão no queixo c...
A aragem de descanso
Quando celebramos os noventa anos de nascimento do poeta Ferreira Gullar, prefiro falar dele como estudio...
Gullar e Augusto
Ao entardecer do dia 19 de novembro de 1937 na cidade de Salvador (BA), o vermelho do pôr do sol foi infestado pela fumaça encarnada da q...
Fogueira de livros
Ao entardecer do dia 19 de novembro de 1937 na cidade de Salvador (BA), o vermelho do pôr do sol foi infestado pela fumaça encarnada da queima de livros, deixando boquiabertos transeuntes que não entendiam o corre-corre que estava acontecendo na cidade.
Quando nestes meses a paisagem no nosso redor está destroçada, a nossa esperança brota na meditação sobre a mensagem cristã, “a poesia e a...
A arte riscada
Quando nestes meses a paisagem no nosso redor está destroçada, a nossa esperança brota na meditação sobre a mensagem cristã, “a poesia e a arte para acalmar a dor e a ansiedade”.
Quando à porta da Academia Paraibana de Letras eu me despedia da professora Ângela Bezerra de Castro , depois da sua aula-conferência tendo...
A travessia de Diadorim
Quando à porta da Academia Paraibana de Letras eu me despedia da professora Ângela Bezerra de Castro, depois da sua aula-conferência tendo como tema central a personagem Diadorim de “Grande Sertão: Veredas”, de Guimarães Rosa, respondendo a uma indagação dela de que muitos começam e nunca terminam a leitura deste livro emblemático, penitenciei-me. Disse-lhe que em três ocasiões coloquei de lado o monumental romance, um dos cem principais livros até agora escritos no Brasil.
Foi na poesia de Manuel Bandeira que pela primeira vez atravessei as ruas do Recife antigo. Com vinte anos eu era um camponês que andava ol...
Os caminhos de Bandeira
Foi na poesia de Manuel Bandeira que pela primeira vez atravessei as ruas do Recife antigo. Com vinte anos eu era um camponês que andava olhando para o chão, mas por sugestão do amigo Nathanael Alves, realizei uma fantástica caminhada pelas alamedas e quintais com fruteiras daquela cidade e debaixo das árvores do Campo das Princesas repousei do cansaço, impregnado pelas fantasias do poeta.
Tempos depois repetia o passeio pelas páginas de “O Moleque Ricardo”, de José Lins do Rego, igualmente sendo purificado pelos poemas de João Cabral de Melo Neto, Ascênsio Ferreira e Mauro Mota que busquei como acalento. Todavia Bandeira e Zé Lins mostraram-me becos poéticos, bem mais íntimos do que a poesia de Augusto dos Anjos, que ainda tento decifrar para melhor sentir e viver na paisagem da comprida Ponte Buarque de Macedo, com sua alma e seus arredores.
Recife é um lugar agitado que me atormenta, talvez por isso poucas vezes tenha ido até lá, preferindo passear pelas crônicas de Gilberto Freyre e Edson Nery da Fonseca. Caminho pela poesia de Bandeira, tão cheia de lirismo e beleza estética, porque me atrai com o cheiro de fruta silvestre, de suor feminino exalando das antigas senzalas como também do cheiro da bagaceira das velhas usinas. Isso me basta porque acalma minha ânsia de andar pelas ruas da antiga Veneza Brasileira, porém em contrapartida, essas lembranças levam-me até Serraria, onde plantei sonhos na primavera da minha vida.
Como numa crônica de quase uma década atrás, quando lembrava os quarenta anos da morte deste pernambucano, ou melhor, do seu encantamento, porque os místicos e poetas se encantam para ficar na memória do tempo, agora, mais uma vez, retorno àquela cidade para saborear o cheiro do caju, da goiaba e da laranja-cravo dos antigos quintais das casas que a poesia de Manuel Bandeira nos apresenta.
Minha identificação com o poeta de “A Cinza das Horas” talvez seja porque carrego a aparência de menino criado entre os canaviais de Serraria, sob a sombra das mangueiras e das bananeiras do sítio onde aprendi a andar com a cabeça abaixada. O lirismo da poesia de Bandeira lembra as brincadeiras de cavalo-de-pau, banhos nos açudes com repetidos canga-pés e caçada de baladeira pelas capoeiras, que revivo com certa nostalgia.
Este poeta fala das amenidades da alma, estabelece fantasias que dão sentido a fatos que parecem ocorridos recentemente, mesmo que o horizonte da infância se distancie. Ler a poesia de Bandeira é conversar sobre a paisagem guardada na memória, mesmo distante no tempo, porque é um poeta que fala daquilo que sentimos.
Na voz deste poeta pernambucano, evocando seu passado tão longe, retornamos às reminiscências de menino; ele com seu Recife antigo e eu, com minha Serraria de saudades.
Volto à leitura da poesia de Manuel Bandeira para reanimar as visões guardadas no canto da memória de um Recife romântico, mesmo preferindo andar pelas páginas do “Moleque Ricardo” de José Lins, pois os cenários são menos metafóricos. Quando o paraibano descreve os encantos dos engenhos da várzea do Rio Paraíba, vejo semelhança às rústicas paisagens da minha terra que hoje eu recolho como o alimento para as canções que improviso.
Agora, quando a Professora Ângela Bezerra de Castro assume a presidência da Academia Paraibana de Letras, recordo o poema de Carlos Drummo...
O modo como Ângela lê
Agora, quando a Professora Ângela Bezerra de Castro assume a presidência da Academia Paraibana de Letras, recordo o poema de Carlos Drummond de Andrade que fala de “um certo modo de ver”, para definir o perfil dela como leitora, escritora, poetisa e estudiosa da literatura brasileira.
Entre os paraibanos que integram o seleto grupo de referências no Novo Dicionário da Língua Portuguesa de Aurélio Buarque de Holanda, está ...
Cantinho para uma madorna
Entre os paraibanos que integram o seleto grupo de referências no Novo Dicionário da Língua Portuguesa de Aurélio Buarque de Holanda, está o escritor e teatrólogo José Bezerra que, com o romance “Fogo”, teve seu nome gravado para na história da literatura brasileira.