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Há um descontentamento do povo brasileiro pela política. A política não é uma coisa maléfica” . Dom Marcelo Pinto Carvalheira pronunc...

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Há um descontentamento do povo brasileiro pela política. A política não é uma coisa maléfica”. Dom Marcelo Pinto Carvalheira pronunciou estas palavras durante palestra sobre fé e política, por ocasião das comemorações dos 500 anos do Brasil, na Fundação Joaquim Nabuco, em Recife, para uma seleta plateia, em momento quando o País patinava sobre lamaçal.

Quando retornei ao sítio onde nasci, recentemente, era uma manhã em que as folhas das árvores e as poças de água refletiam os raios ...

Quando retornei ao sítio onde nasci, recentemente, era uma manhã em que as folhas das árvores e as poças de água refletiam os raios do sol e com o barro da estrada grudado na sola dos pés, entrei na casa que me serviu de abrigo desde quando mamãe deu à luz a mim e ali permaneci até aos quinze anos de idade.

Como que flutuando, andei em círculo pela sala e outros cômodos de mesmo piso grosso, desgastado, cimentado há mais de sessenta anos. Na lateral havia uma janela, mas foi tapada e recamada vultosa caliça. As paredes tinham a caliça original. As mesmas vigas de madeira postas sobre a meia parede apoiam as linhas de madeiramento roliças, caibros e ripas sustentam as telhas-vãs que nos protegeram das invernadas e do sol de verão.

Se Ernesto Sábato dizia que “depois de ler Proust você jamais conseguirá ser o mesmo”, com Gonzaga Rodrigues essa mudança radical ac...

lima barreto literatura brasileira
Se Ernesto Sábato dizia que “depois de ler Proust você jamais conseguirá ser o mesmo”, com Gonzaga Rodrigues essa mudança radical aconteceu após a leitura de Lima Barreto, principalmente As Recordações de Isaias Caminha, este livro emblemático de um autor que, 100 anos depois de sua morte, continua conquistando jovens leitores, como se deu com a crônica de Café Alvear, há mais de setenta anos.

Para definir a situação atual do País, recordo uma assertiva de Dom Marcelo Carvalheira de vinte anos atrás, quando nosso arcebispo em...

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Para definir a situação atual do País, recordo uma assertiva de Dom Marcelo Carvalheira de vinte anos atrás, quando nosso arcebispo emérito dizia àquela época que “estávamos vivendo uma guerra civil”. Quando escutei isto, num tempo quando ainda a incidência da violência não amedrontava tanto, mesmo rodando às nossas casas, estremeci.

As palavras “guerra civil” sempre estiveram na minha mente como algo pernicioso à dignidade humana, porque escutava meu pai conversar sobre isso quando me colocava perto do balcão na bodega, em nossa casa.

Há mais de dez anos eu remendava uma crônica publicada no extinto jornal O Norte, com frase retirada do Diário de Pernambuco,...

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Há mais de dez anos eu remendava uma crônica publicada no extinto jornal O Norte, com frase retirada do Diário de Pernambuco, atribuída a uma negra, à época, com 84 anos: “A gente é cativo da pobreza”. Igualmente, no meu texto, recordava o pensador francês Emmanuel Mounier, para quem a verdade está ao lado do pobre.

Recorri ao filósofo e à mulher pernambucana para referendar a história de quem sobrevive com tão pouco.

Já em meado do século XIX o presidente da Província da Paraíba, Sá e Albuquerque falava da expansão do café pelo do Br...

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Já em meado do século XIX o presidente da Província da Paraíba, Sá e Albuquerque falava da expansão do café pelo do Brejo, cultura que há décadas se adaptou ao clima e às sombras das serras, mesmo que as terras férteis da região proporcionassem bom cultivo de cana-de-açúcar.

Pela hegemonia econômica no Brejo, havia uma boa disputa por maior posição na produção entre o café e a cana, visto que a região nunca foi adaptável à pecuária.

Fico com Neruda, poeta do mundo, quando citou Arthur Rimbaud: só com uma ardente paciência conquistaremos a esplêndida cidade qu...

Fico com Neruda, poeta do mundo, quando citou Arthur Rimbaud: só com uma ardente paciência conquistaremos a esplêndida cidade que dará luz, justiça e dignidade a todos os homens.

Com Poesia magistral, o poeta chileno lutou contra as mazelas que destroem a humanidade, escravizam e reduzem a farrapos homens em seus elementares direitos.

Um dos sobrados mais antigos e imponentes, com marcas da história de Serraria, agora está nas mãos de um novo dono, ganhou espaços pa...

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Um dos sobrados mais antigos e imponentes, com marcas da história de Serraria, agora está nas mãos de um novo dono, ganhou espaços para manifestações culturais, resgata o passado da cidade e das famílias que ajudaram no povoamento e desenvolvimento local, em louvável iniciativa das mãos de jovens empreendedores.

Quando a seca arruinou o sertão nordestino, revelava a fome e o desespero em toda a sua extensão, ações de José Américo d...

seca nordeste fome
Quando a seca arruinou o sertão nordestino, revelava a fome e o desespero em toda a sua extensão, ações de José Américo de Almeida no Ministério da Aviação e Obras Públicas (1930-1934), em favor dos flagelados, estrondaram aos quatro cantos do País. Este brejeiro conhecia intimamente o drama da seca e seus efeitos porque viu perto todas as calamidades em épocas diferentes, com suas tragédias humanas. Sabia da longa viagem do beato que foi ao Imperador com carta do padre-mestre Ibiapina para pedir arrego, quando o sol inclemente dizimava tudo e fazia as pedras esbrasear.

Dias depois em que a rosa surgiu no pequeno jardim, as pétalas caíram ao toque de minha mão displicente. A mulher esperava o sol que ...

Dias depois em que a rosa surgiu no pequeno jardim, as pétalas caíram ao toque de minha mão displicente. A mulher esperava o sol que aparecia lento nas manhãs, pois eram dias chuvosos, quando observou no jardim pequenas rosas em botão que surgiam igualmente belas e atrativas.

Com as flores, o jardim da nossa casa, mesmo pequeno, a beleza se torna grande. Na lua cheia, quando as roseiras encostadas à parede do muro abriram-se em cachos, nos chamou a atenção porque expeliu perfume. Permaneceu alguns dias, até que a mão displicente tocou e as pétalas caíram.

A professora Ângela Bezerra de Castro chega aos 80 anos cercada dos que têm, na Paraíba, sensibilidade suficiente para compree...

A professora Ângela Bezerra de Castro chega aos 80 anos cercada dos que têm, na Paraíba, sensibilidade suficiente para compreender a importância do estudo da literatura e dedicação pelas letras.

Não tive o privilégio de ser seu aluno nos bancos universitários, mas carrego o prazer do aprendizado em suas conferências ou conversas amenas.

Quando setembro chegou, trouxe a esperança da Primavera. Uma Primavera solene com recados da natureza para recordar. Olho a rua...

Quando setembro chegou, trouxe a esperança da Primavera. Uma Primavera solene com recados da natureza para recordar.

Olho a rua e observo nuvens conduzindo expectativas de bons tempos, em muitas direções. Sou um sujeito esperançoso. Espero mudanças que chegam com vento a açoitar as copas das árvores, a entrar pelas frinchas das janelas, com seus recados. Recados que há muito tempo procuro decifrar.

Estava a uma distância suficiente para reconhecer o talhe do rosto. Os cabelos alinhados e a barba embranquecida indicavam como sen...

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Estava a uma distância suficiente para reconhecer o talhe do rosto. Os cabelos alinhados e a barba embranquecida indicavam como sendo o poeta Waldemar José Solha à minha frente, e este, a passos cadenciados, seguia pela calçada de mãos dadas com a esposa.

Retornava de minhas atividades físicas no final da tarde. Caminhava lento quando avistei Solha, no outro lado da rua, em debanda do mercado do Bairro dos Estados.

Quando nos aproximamos das margens do Rio Paraíba, depois de São Miguel de Taipu, em demanda do Pilar, ao olhar de relance para a paisa...

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Quando nos aproximamos das margens do Rio Paraíba, depois de São Miguel de Taipu, em demanda do Pilar, ao olhar de relance para a paisagem, as personagens de José Lins do Rego saíram das páginas de seus romances, como fizeram há décadas, quando por esse mesmo caminho cheguei ao Engenho Corredor.

Repórter principiante e leitor revelado nas páginas de Menino de Engenho, carregava comigo o gosto da garapa e o cheiro do mel cozido dos engenhos de Chico Frazão e de Antônio Carvalho, quando percebi no Corredor as paisagens de menino que ficaram em Serraria.

Três escritores da Paraíba nascidos em engenho construíram espaço na história da literatura brasileira. Augusto dos Anjos...

Três escritores da Paraíba nascidos em engenho construíram espaço na história da literatura brasileira. Augusto dos Anjos, José Américo de Almeida e José Lins do Rego, cada um a seu tempo, com modos poéticos, abordam em suas obras o que observaram e sentiram no mundo dos canaviais.

Os três meninos de engenho carregavam a sina de terem vivido ao florescer da idade à sombra dos canaviais, foram alimentados pelo cheiro do mel cozido no tacho, inalaram o azedo da garapa e beberam da água que escorria pelos regos do Brejo de Areia e das várzeas do Rio Paraíba. Ao seu modo, o trio descreveu a vida no meio rural como a sentiram e conheceram.

Quando caminhava pelo sítio por entre carrapichos, no aceiro das conversas entre os mais velhos sempre estava a situação de penúri...

Quando caminhava pelo sítio por entre carrapichos, no aceiro das conversas entre os mais velhos sempre estava a situação de penúria em que as famílias viviam, a seca e a carestia predominavam como assuntos, enquanto as panelas sobre trempes coziam a gororoba, mesmo sendo pouca. Crescia a escassez pela procura da mão-de-obra alugada e os engenhos perdiam a força produtiva devido ao aperto dos bancos. Tudo isso contribuiu para a expulsão de famílias que encheram as pontas das ruas.

Sempre termino o percurso pelos arredores do Convento São Francisco com a alma aliviada. Naquele conjunto arquitetônico de estilo ba...

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Sempre termino o percurso pelos arredores do Convento São Francisco com a alma aliviada. Naquele conjunto arquitetônico de estilo barroco composto de capelas exuberantes, largos corredores, portas e janelas abertas ao horizonte a nos envolver na silenciosa mística emanada do lugar, recolho paz no seu silêncio.

Quando dobrei a esquina da Avenida João Machado no sentido da Rua João Amorim, mudei de lado da calçada para passar em frente da casa o...

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Quando dobrei a esquina da Avenida João Machado no sentido da Rua João Amorim, mudei de lado da calçada para passar em frente da casa onde depositei os sonhos de repórter foca, na redação de A União. Parei no tempo e reduzi o passo, enquanto voltei à época quando nos anos entrantes de 1980 me encantava com o ambiente transformado em espojeiro.

O gesto de paparicar netos, que extrapola o carisma de pai, ecoou no Dia dos Avôs. Numa perspectiva de vida longa, quando nasce um n...

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O gesto de paparicar netos, que extrapola o carisma de pai, ecoou no Dia dos Avôs.

Numa perspectiva de vida longa, quando nasce um neto, completa-se o ciclo da existência humana.

Como pesquisador de sentimentos íntimos, recolhemos os netos em gestos dos filhos, nos mistérios do amor de pai.

A madrugada silenciosa de 31 de julho de 2017 carregou Goretti Zenaide para a eternidade. Deixou vazias as manhãs que eram preench...

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A madrugada silenciosa de 31 de julho de 2017 carregou Goretti Zenaide para a eternidade. Deixou vazias as manhãs que eram preenchidas com a leitura de sua página no jornal, sem a conversa amena e sem a acolhida do seu sorriso a cada abraço no reencontro. Ela foi integrar uma nova constelação de estrelas em Universo de muita luz, e deixou saudade.

Com o coração contrito lembramos da passagem dela, reunimos lembranças de amigos para partilhar o mesmo sentimento de perda, para manter viva sua memória. Essa memória do registro de pequenos gestos guardados como recordação. O sorriso aberto, o olhar de meiguice a conduzir paz e a palavra afetuosa que acalmava a alma. De tudo isso dela estaremos sempre necessitados.