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Se antes já desconfiava, hoje tenho certeza: a cidade de Princesa Isabel, na região dos Cariris Velhos, é a Macondo da Paraíba. Lá, a saga...

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Se antes já desconfiava, hoje tenho certeza: a cidade de Princesa Isabel, na região dos Cariris Velhos, é a Macondo da Paraíba. Lá, a saga de outros Aurelianos Buendias se desenrola desde 1930, quando esse território paraibano se declarou livre e independente do governo estadual.

Àquela altura dos acontecimentos, o insurrecto Coronel José Pereira sequer fazia ideia de que estava fornecendo os ingredientes necessários para um livro que viria a ser escrito muitos anos depois: “O Dia dos cachorros” (Editora Bagaço, Recife, 2005),

Solha não se inscreve entre aqueles eruditos que só fazem acumular conhecimentos e cuja memória prodigiosa retém o que os outros dizem...

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Solha não se inscreve entre aqueles eruditos que só fazem acumular conhecimentos e cuja memória prodigiosa retém o que os outros dizem, mas, em contrapartida, nada acrescentam ao que leem. Quando muito, parafraseiam, embora ludibriem e impressionem os incautos.

Solha, atento sobre o que os outros dizem, sempre teve o que dizer. E o disse quer na ficção, quer na poesia, como também na condição de artista plástico, de dramaturgo e ator da melhor cepa. É um multimídia cujas mil e uma atividades se ajudam mutuamente,
Foto Andreia Solha
emprestando umas às outras as ferramentas necessárias à consecução de uma obra já definitiva. E olhem que eu sempre nutri um certo ranço preconceituoso com relação àqueles que desejam açambarcar o mundo com as pernas. Ou seja, os que não se satisfazem em ser tão somente ficcionistas e desejam ser poetas; os que ambicionam não só ser poetas como também artistas plásticos...

Acompanho Solha desde a época em que estreou com um romance amadurecido, inovador, prêmio Fernando Chinaglia: “Israel Rêmora ou O Sacrifício das fêmeas”. E desde “Trigal com corvos”, livro de poemas sobre o qual escrevi um texto em que, entre outras coisas, observei:

“(...) é um épico da alma. E conquanto possa soar paradoxal, contraditório, essa definição diz bem do espírito que rege esse grande poema: o acúmulo de informações enciclopédicas, fruto de muitas leituras submetidas ao crivo de um eu agônico. Tão agônico que, a exemplo de Van Gogh diante dos trigais, tudo em que toca abandona o seu estado de repouso para atingir um grau de ebulição elevado à milésima potência”.

Com “1/6 de laranjas mecânicas, bananas de dinamite”, lançamento recente da Arribaçã, Cajazeiras, 2021, Solha continua escrevendo sob a égide do inconformismo, estabelecendo cotejos entre homens, seres, coisas, fatos históricos etc., na medida em que os retira do seu imobilismo aparente para emprestar-lhes outras dimensões e outros significados. E escreve ainda que tudo está fadado à repetição, quer como farsa, quer como tragédia, além de preconizar no divertimento proporcionado pela comédia, uma possível advertência de que algo de grave está para acontecer: “Demarque-se, / portanto, / o que disse Marx. / Tragédia, / às vezes, / se disfarça em farsa / e pode vir, / primeiro, / como comédia... que nos diverte / ... ao tempo em que / ... nos adverte”. É como se não existisse nada de novo sob o sol, a não ser o sol dos flashes que o eu-lírico espoca/explode trazendo à luz o “enjambement” de circunstâncias até então isoladas, que pareciam existir de forma estanque, autônoma e autossuficiente.

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Em Solha, creio que as epifanias, os insights, mesmo frutos do acaso, passam posteriormente pelo crivo do poeta, que os elabora, os ordena, de modo a evitar o “tiro nas lebres de vidro / do invisível”, verso de João Cabral de Melo Neto em que ele rejeita a poesia estribada no acidental, no imprevisto, para concebê-la como produto exclusivo do trabalho consciente.

A dicção de Solha dista anos-luz da de Cabral, pois este, se não é um poeta minimalista, prima pela contenção, pela parcimônia, no que diz respeito ao emprego das palavras. De Solha, embora cultor do poema longo, não se pode dizer que ele seja um dispersivo, um perdulário, uma vez que a condensação também pode marcar presença nos poemas discursivos, a exemplo do que ocorre com os de Walt Whitman, com os de Álvaro de Campos e com “1/6 de laranjas mecânicas, bananas de dinamite”.

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Detalhe do quadro "Jardim das Delícias", de W. J. Solha, inspirado na obra homônima de Hieronymus Bosch (1450—1516).
Nesse livro recém-lançado, como nos livros anteriores, o eu-lírico mescla breves e frugais passagens de sua “história” pessoal, de sua biografia do imaginário, com alguns acontecimentos que marcaram e marcam a ferro e fogo a marcha batida da humanidade rumo à barbárie. Enfim, partícipe e testemunha, o eu-lírico ciceroneia o leitor através de uma narrativa que “contém uma espécie de memória ancestral da civilização nesses tempos e nesse mundo tão pouco civilizado e atravessado, distopicamente, por uma pandemia”.

Aqui, cabe uma advertência: o leitor menos informado tem tudo para escorregar nas cascas de banana das dinamites espalhadas ao longo do poema, pois nem sempre ele dispõe de informações suficientes a respeito das personagens, dos fatos e dos contextos históricos mencionados no livro. Cumpre ao leitor, então, pesquisar.

Por outro lado, ao invés de remover minas, Solha as instala e as explode no mais íntimo, nas entranhas, nos desvãos mais profundos do leitor. E o faz através de um poema em cuja embalagem ou invólucro deveria obrigatoriamente constar – em letras garrafais! – a seguinte advertência: “cuidado, explosivo! ”, acrescido de outro alerta:

“Se vós não tendes sal-gema, não entreis nesse poema”.

Verso do poema “Psicologia da composição”, de João Cabral de Melo Neto.

      TABAGISMO quando acho uma imagem, trago-o. e mais o trago se não a encontro. (de imagens e não-imagens, entulho os brôn...

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TABAGISMO
quando acho uma imagem, trago-o. e mais o trago se não a encontro. (de imagens e não-imagens, entulho os brônquios).

'Muito barulho por nada', título da peça de Shakespeare, me faz evocar o desempenho de alguns poetas cuja dicção estridente, ruido...

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'Muito barulho por nada', título da peça de Shakespeare, me faz evocar o desempenho de alguns poetas cuja dicção estridente, ruidosa, lembra o som de charangas saudadas por fogos de artifício que possuem o falso brilho e a vida breve dos fogos-fátuos. O alarido, no caso, procura camuflar a retórica vazia, ornada de miçangas, paetês, lantejoulas, onde prevalece o acessório em detrimento do principal.

A poesia de Maria de Fátima de Barros Neves se impõe porque é diferente da que grita para se fazer ouvir, escutar, embora essa última quanto mais se esgoele mais faça por merecer ouvidos moucos. Claro que há poetas que gritam a plenos pulmões e têm o que dizer, a exemplo de Maiakovski e Castro Alves.

Sobre o Grupo Sanhauá Se me questionassem a que se propunha o Grupo Sanhauá, eu responderia: apenas sintonizar a produção poética d...

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Sobre o Grupo Sanhauá
Se me questionassem a que se propunha o Grupo Sanhauá, eu responderia: apenas sintonizar a produção poética da província com a do sudeste do país, o que já consistia numa tomada de consciência – expressão tão cara à época – de que a poesia de então, geralmente edulcorada, cheia de efusões sentimentais, deveria ser combatida através de um discurso antirretórico.

Passei a conhecer melhor Frutuoso Chaves em inícios da década de 1970, quando me entrevistou para o jornal “ A União”. Na oportunidade, ...

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Passei a conhecer melhor Frutuoso Chaves em inícios da década de 1970, quando me entrevistou para o jornal “ A União”. Na oportunidade, recém-chegado de Curitiba, onde eu fora receber um dos prêmios do Concurso Nacional de Contos do Paraná, em plena ditadura Médici, ele me provocou: “O que você acha da proibição da exposição das obras eróticas de Picasso no território brasileiro? ” Remeto o leitor para o texto “Sérgio e Picasso”*, publicado no presente livro, que revela o repórter desassombrado que ele sempre foi.

Faz algum tempo uma minoria ruidosa de poetas resolveu decretar que poemas não d...

Faz algum tempo uma minoria ruidosa de poetas resolveu decretar que poemas não deveriam ser recitados, mas lidos. E lidos em silêncio, uma vez que, investindo maciçamente no visual, esses poetas não lhes davam voz, tornando-os artefatos mudos, desses cuja leitura está a exigir uma tal acrobacia do olhar, um tal golpe de vista, que o leitor, de tanto esforço despendido, poderia sofrer um descolamento de retina. E como o que não tem voz prescinde de emoção, eis que os poemas dessa minoria ruidosa vão, pouco a pouco, caindo na vala comum do esquecimento.

Texto escrito por Sérgio de Castro Pinto e Joaquim Inácio Brito O adágio “Quem canta os seus males espanta” já diz bem da função terap...

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Texto escrito por Sérgio de Castro Pinto e Joaquim Inácio Brito

O adágio “Quem canta os seus males espanta” já diz bem da função terapêutica da música, embora o Barão de Itararé, sempre nadando contra a corrente, tenha parodiado esse provérbio numa quadrinha bastante divulgada:

“Quem canta os seus males espanta, Diz o dito popular. Eu canto, dói-me a garganta E os males voltam ao lugar”.

Brincadeiras à parte, o certo é que a música serve de antídoto e de anestésico para neutralizar os males decorrentes, sobretudo, do amor. Do amor traído, bandido,

Estreia amadurecida a de Antônio Mariano no gênero romance. E amadurecida porque “Entrevamento” (Kotter Editora, Curitiba, 2021) tem como...

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Estreia amadurecida a de Antônio Mariano no gênero romance. E amadurecida porque “Entrevamento” (Kotter Editora, Curitiba, 2021) tem como lastro, como suporte, o contista de “O Dia em que comemos Maria Dulce”. Quer dizer, Mariano não é um neófito em termos de ficção, pois a sua experiência vem de longe.

Por outro lado, se o conto e o romance são gêneros distintos, isso não quer dizer que sejam antípodas, que deixem de possuir algumas afinidades, tanto que o narrador carreia para o interior de “Entrevamento” alguns recursos estilísticos comuns aos dois gêneros. Mas nesse romance também está presente a poesia, uma vez que todos os gêneros se consorciam e conjugam esforços para a conquista de um objetivo comum: o de emprestar ao texto um caráter polifônico, múltiplo, regido por muitas e diversas vozes. Aqui, cabe não esquecer a tendência açambarcadora do romance, a sua pretensão de “oferecer uma imagem total do universo”.

O meu pai jamais deixou de reconhecer os pequenos e eventuais sucessos do aluno medíocre que eu sempre fui. Nessas pouquíssimas oportunida...

O meu pai jamais deixou de reconhecer os pequenos e eventuais sucessos do aluno medíocre que eu sempre fui. Nessas pouquíssimas oportunidades, afagava-me a cabeça e saía-se com uma frase que repetiu praticamente durante toda a sua vida: “- É o segundo Castro Pinto! ”

Hoje, não ouço mais a voz do meu pai, o bordão que soava altissonante, repercutindo nos quatro cantos da casa da Rua Desembargador José Peregrino, 321, cujo teto o abrigou durante exatos quarenta e oito anos.

didi À memória de Elzo Franca, amigo e primo. didi bate a falta com efeito. o goleiro adversário é puro espanto: vê a bo...


didi À memória de Elzo Franca, amigo e primo. didi bate a falta com efeito. o goleiro adversário é puro espanto: vê a bola de couro me-ta-mor-fo-se-ar-se em uma folha seca do mais triste outono. a torcida faz a festa. a a bola não é mais a bola, a redonda, o balão, a esfera, não é mais folha seca, mas a semente, o goivo,

Quem, dentre os parnasianos, cumpriu à risca o conteúdo programático do Parnasianismo? Quem, dentre os simbolistas, românticos, modernista...

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Quem, dentre os parnasianos, cumpriu à risca o conteúdo programático do Parnasianismo? Quem, dentre os simbolistas, românticos, modernistas etc., se confinou nos limites dessas correntes literárias? Aqui, cabe a pergunta: o parnasiano foi apenas parnasiano e o modernista apenas modernista?

Alguns poetas nem sempre se submetem passivamente ao espaço claustrofóbico das periodizações literárias, mas, antes, procuram extrapolá-lo para dar vazão ao ecletismo do qual Mário de Andrade fez profissão de fé: “Eu sou trezentos, trezentos-e-cinquenta...”

A revista “Entrelivros” publicou, em abril/2006, trechos de minha entrevista ao poeta Fabrício Carpinejar sobre Mário Quintana , cujo cent...

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A revista “Entrelivros” publicou, em abril/2006, trechos de minha entrevista ao poeta Fabrício Carpinejar sobre Mário Quintana, cujo centenário de nascimento foi comemorado naquele ano. Por razões de espaço, o texto da entrevista não foi publicado de forma integral, razão pela qual veiculo os trechos que foram omitidos.

A seguir, publico trechos da entrevista que dei ao poeta Fabrício Carpinejar para a revista Entrelivros , de São Paulo, por ocasião do cen...

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A seguir, publico trechos da entrevista que dei ao poeta Fabrício Carpinejar para a revista Entrelivros, de São Paulo, por ocasião do centenário do poeta Mário Quintana, no ano de 2006. No próximo dia 30 de julho, o autor gaúcho estaria completando cento e vinte e cinco anos, o que justifica a transcrição da entrevista:

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à moema selma d’andrea o paraíba, o mamanguape, o tigre, o eufrates, o tejo, o sena, não desviam o curso do poema. o poema, nenhum rio ou cidade o fazem. só os poetas, à margem do lápis:

sem fórmula não piso a embreagem, piso a paisagem e a ponho em primeira, segunda, terceira e quarta de segunda a sexta. (às ...

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sem fórmula
não piso a embreagem, piso a paisagem e a ponho em primeira, segunda, terceira e quarta de segunda a sexta. (às vezes dou-lhe ré, mas ela sempre me escapa). aos sábados e domingos deixo-me ficar em ponto morto diante dessas fotos já sem cor:

Aos amigos Heloísa Arcoverde de Morais e João Leonardo Ribeiro de Morais (irmãos de Luciano) O meu compadre e amigo Luciano Morais,...

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Aos amigos Heloísa Arcoverde de Morais e João Leonardo Ribeiro de Morais (irmãos de Luciano)

O meu compadre e amigo Luciano Morais, menino impossível e azougado, foi cremado nesta segunda-feira, dia 14 de junho de 2021, na cidade do Recife.

Os que o conheceram apenas superficialmente tinham tudo para julgá-lo um extrovertido, um sujeito que, sem avareza, sem parcimônia, se gastava de dentro para fora. No entanto, o homem da piada pronta, da resposta precisa, disfarçava o tímido que ele sempre foi e que aparecia de corpo inteiro quando se via obrigado a cumprir um script. Nessas circunstâncias, o meu compadre não desempenhava o papel que, inadvertidamente, alguns desejavam que ele cumprisse, pois, insurrecto, insubmisso, tudo o que atravancasse o seu caminho,

Os poemas de Élvio Vargas parecem recém-saídos do sono e do sonho; parecem esfregar os olhos, abri-los e bocejar, para, só então, serem t...

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Os poemas de Élvio Vargas parecem recém-saídos do sono e do sonho; parecem esfregar os olhos, abri-los e bocejar, para, só então, serem tomados do susto de nascer e de adquirirem a condição de poemas. Mesmo assim, ainda conservam o cordão umbilical parcialmente atado ao mundo informe que lhes deu origem. São, em suma, jorros de um sonho onde convivem harmoniosamente o caos e a cosmogonia, ambos faces de uma só moeda,

É da Professora Beatriz Jaguaribe a tese segundo a qual "a literatura e outras artes retomaram o realismo estético, ou ‘o choque do r...

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É da Professora Beatriz Jaguaribe a tese segundo a qual "a literatura e outras artes retomaram o realismo estético, ou ‘o choque do real’, como uma das manifestações mais importantes da cultura globalizada (a expressão ‘choque da cultura é assim definida pela professora: ‘a utilização de estéticas realistas que visam a suscitar efeito de espanto catártico no espectador ou leitor’)". 1

a dor em pessoa no hipocondríaco eu-lírico de Pessoa doía mais a dor fingida do que a dor em pessoa pessoalmente ...

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a dor em pessoa no hipocondríaco eu-lírico de Pessoa doía mais a dor fingida do que a dor em pessoa pessoalmente sentida