Àquela altura dos acontecimentos, o insurrecto Coronel José Pereira sequer fazia ideia de que estava fornecendo os ingredientes necessários para um livro que viria a ser escrito muitos anos depois: “O Dia dos cachorros” (Editora Bagaço, Recife, 2005),
Se antes já desconfiava, hoje tenho certeza: a cidade de Princesa Isabel, na região dos Cariris Velhos, é a Macondo da Paraíba. Lá, a saga...
Três princesenses
Àquela altura dos acontecimentos, o insurrecto Coronel José Pereira sequer fazia ideia de que estava fornecendo os ingredientes necessários para um livro que viria a ser escrito muitos anos depois: “O Dia dos cachorros” (Editora Bagaço, Recife, 2005),
Solha não se inscreve entre aqueles eruditos que só fazem acumular conhecimentos e cuja memória prodigiosa retém o que os outros dizem...
O novo livro de W.J. Solha
Solha, atento sobre o que os outros dizem, sempre teve o que dizer. E o disse quer na ficção, quer na poesia, como também na condição de artista plástico, de dramaturgo e ator da melhor cepa. É um multimídia cujas mil e uma atividades se ajudam mutuamente, emprestando umas às outras as ferramentas necessárias à consecução de uma obra já definitiva. E olhem que eu sempre nutri um certo ranço preconceituoso com relação àqueles que desejam açambarcar o mundo com as pernas. Ou seja, os que não se satisfazem em ser tão somente ficcionistas e desejam ser poetas; os que ambicionam não só ser poetas como também artistas plásticos...
Acompanho Solha desde a época em que estreou com um romance amadurecido, inovador, prêmio Fernando Chinaglia: “Israel Rêmora ou O Sacrifício das fêmeas”. E desde “Trigal com corvos”, livro de poemas sobre o qual escrevi um texto em que, entre outras coisas, observei:
Com “1/6 de laranjas mecânicas, bananas de dinamite”, lançamento recente da Arribaçã, Cajazeiras, 2021, Solha continua escrevendo sob a égide do inconformismo, estabelecendo cotejos entre homens, seres, coisas, fatos históricos etc., na medida em que os retira do seu imobilismo aparente para emprestar-lhes outras dimensões e outros significados. E escreve ainda que tudo está fadado à repetição, quer como farsa, quer como tragédia, além de preconizar no divertimento proporcionado pela comédia, uma possível advertência de que algo de grave está para acontecer: “Demarque-se, / portanto, / o que disse Marx. / Tragédia, / às vezes, / se disfarça em farsa / e pode vir, / primeiro, / como comédia... que nos diverte / ... ao tempo em que / ... nos adverte”. É como se não existisse nada de novo sob o sol, a não ser o sol dos flashes que o eu-lírico espoca/explode trazendo à luz o “enjambement” de circunstâncias até então isoladas, que pareciam existir de forma estanque, autônoma e autossuficiente.
Em Solha, creio que as epifanias, os insights, mesmo frutos do acaso, passam posteriormente pelo crivo do poeta, que os elabora, os ordena, de modo a evitar o “tiro nas lebres de vidro / do invisível”, verso de João Cabral de Melo Neto em que ele rejeita a poesia estribada no acidental, no imprevisto, para concebê-la como produto exclusivo do trabalho consciente.
A dicção de Solha dista anos-luz da de Cabral, pois este, se não é um poeta minimalista, prima pela contenção, pela parcimônia, no que diz respeito ao emprego das palavras. De Solha, embora cultor do poema longo, não se pode dizer que ele seja um dispersivo, um perdulário, uma vez que a condensação também pode marcar presença nos poemas discursivos, a exemplo do que ocorre com os de Walt Whitman, com os de Álvaro de Campos e com “1/6 de laranjas mecânicas, bananas de dinamite”.
Nesse livro recém-lançado, como nos livros anteriores, o eu-lírico mescla breves e frugais passagens de sua “história” pessoal, de sua biografia do imaginário, com alguns acontecimentos que marcaram e marcam a ferro e fogo a marcha batida da humanidade rumo à barbárie. Enfim, partícipe e testemunha, o eu-lírico ciceroneia o leitor através de uma narrativa que “contém uma espécie de memória ancestral da civilização nesses tempos e nesse mundo tão pouco civilizado e atravessado, distopicamente, por uma pandemia”.
Aqui, cabe uma advertência: o leitor menos informado tem tudo para escorregar nas cascas de banana das dinamites espalhadas ao longo do poema, pois nem sempre ele dispõe de informações suficientes a respeito das personagens, dos fatos e dos contextos históricos mencionados no livro. Cumpre ao leitor, então, pesquisar.
Por outro lado, ao invés de remover minas, Solha as instala e as explode no mais íntimo, nas entranhas, nos desvãos mais profundos do leitor. E o faz através de um poema em cuja embalagem ou invólucro deveria obrigatoriamente constar – em letras garrafais! – a seguinte advertência: “cuidado, explosivo! ”, acrescido de outro alerta:
TABAGISMO quando acho uma imagem, trago-o. e mais o trago se não a encontro. (de imagens e não-imagens, entulho os brôn...
Espreguiçando as tardes
quando acho uma imagem, trago-o. e mais o trago se não a encontro. (de imagens e não-imagens, entulho os brônquios).
'Muito barulho por nada', título da peça de Shakespeare, me faz evocar o desempenho de alguns poetas cuja dicção estridente, ruido...
Retrato a giz
A poesia de Maria de Fátima de Barros Neves se impõe porque é diferente da que grita para se fazer ouvir, escutar, embora essa última quanto mais se esgoele mais faça por merecer ouvidos moucos. Claro que há poetas que gritam a plenos pulmões e têm o que dizer, a exemplo de Maiakovski e Castro Alves.
Sobre o Grupo Sanhauá Se me questionassem a que se propunha o Grupo Sanhauá, eu responderia: apenas sintonizar a produção poética d...
Meninos, eu vi(vi)!
Passei a conhecer melhor Frutuoso Chaves em inícios da década de 1970, quando me entrevistou para o jornal “ A União”. Na oportunidade, ...
Papo de rede
Faz algum tempo uma minoria ruidosa de poetas resolveu decretar que poemas não d...
Haikais aforismáticos
Texto escrito por Sérgio de Castro Pinto e Joaquim Inácio Brito O adágio “Quem canta os seus males espanta” já diz bem da função terap...
Sopros musicais do coração (médicos-compositores)
Brincadeiras à parte, o certo é que a música serve de antídoto e de anestésico para neutralizar os males decorrentes, sobretudo, do amor. Do amor traído, bandido,
Estreia amadurecida a de Antônio Mariano no gênero romance. E amadurecida porque “Entrevamento” (Kotter Editora, Curitiba, 2021) tem como...
Uma estreia amadurecida
Por outro lado, se o conto e o romance são gêneros distintos, isso não quer dizer que sejam antípodas, que deixem de possuir algumas afinidades, tanto que o narrador carreia para o interior de “Entrevamento” alguns recursos estilísticos comuns aos dois gêneros. Mas nesse romance também está presente a poesia, uma vez que todos os gêneros se consorciam e conjugam esforços para a conquista de um objetivo comum: o de emprestar ao texto um caráter polifônico, múltiplo, regido por muitas e diversas vozes. Aqui, cabe não esquecer a tendência açambarcadora do romance, a sua pretensão de “oferecer uma imagem total do universo”.
O meu pai jamais deixou de reconhecer os pequenos e eventuais sucessos do aluno medíocre que eu sempre fui. Nessas pouquíssimas oportunida...
Castro Pinto e Samuel Duarte
Hoje, não ouço mais a voz do meu pai, o bordão que soava altissonante, repercutindo nos quatro cantos da casa da Rua Desembargador José Peregrino, 321, cujo teto o abrigou durante exatos quarenta e oito anos.
didi À memória de Elzo Franca, amigo e primo. didi bate a falta com efeito. o goleiro adversário é puro espanto: vê a bo...
Estufando a rede
Quem, dentre os parnasianos, cumpriu à risca o conteúdo programático do Parnasianismo? Quem, dentre os simbolistas, românticos, modernista...
Anotações sobre a poesia de Rodrigues de Carvalho
Alguns poetas nem sempre se submetem passivamente ao espaço claustrofóbico das periodizações literárias, mas, antes, procuram extrapolá-lo para dar vazão ao ecletismo do qual Mário de Andrade fez profissão de fé: “Eu sou trezentos, trezentos-e-cinquenta...”
A revista “Entrelivros” publicou, em abril/2006, trechos de minha entrevista ao poeta Fabrício Carpinejar sobre Mário Quintana , cujo cent...
Entrevista na 'Entrelivros' (Parte 2)
A seguir, publico trechos da entrevista que dei ao poeta Fabrício Carpinejar para a revista Entrelivros , de São Paulo, por ocasião do cen...
Entrevista na 'Entrelivros'
rios, cidades, poetas à moema selma d’andrea o paraíba, o mamanguape, o tigre, o eufrates, o tejo, o sen...
A cidade de Moema
à moema selma d’andrea o paraíba, o mamanguape, o tigre, o eufrates, o tejo, o sena, não desviam o curso do poema. o poema, nenhum rio ou cidade o fazem. só os poetas, à margem do lápis:
sem fórmula não piso a embreagem, piso a paisagem e a ponho em primeira, segunda, terceira e quarta de segunda a sexta. (às ...
Paisagens vistas de um retrovisor
não piso a embreagem, piso a paisagem e a ponho em primeira, segunda, terceira e quarta de segunda a sexta. (às vezes dou-lhe ré, mas ela sempre me escapa). aos sábados e domingos deixo-me ficar em ponto morto diante dessas fotos já sem cor:
Aos amigos Heloísa Arcoverde de Morais e João Leonardo Ribeiro de Morais (irmãos de Luciano) O meu compadre e amigo Luciano Morais,...
O meu compadre Luciano Morais
Os que o conheceram apenas superficialmente tinham tudo para julgá-lo um extrovertido, um sujeito que, sem avareza, sem parcimônia, se gastava de dentro para fora. No entanto, o homem da piada pronta, da resposta precisa, disfarçava o tímido que ele sempre foi e que aparecia de corpo inteiro quando se via obrigado a cumprir um script. Nessas circunstâncias, o meu compadre não desempenhava o papel que, inadvertidamente, alguns desejavam que ele cumprisse, pois, insurrecto, insubmisso, tudo o que atravancasse o seu caminho,
Os poemas de Élvio Vargas parecem recém-saídos do sono e do sonho; parecem esfregar os olhos, abri-los e bocejar, para, só então, serem t...
Os poemas de Élvio Vargas
É da Professora Beatriz Jaguaribe a tese segundo a qual "a literatura e outras artes retomaram o realismo estético, ou ‘o choque do r...
Adalberto Barreto e a Invenção da Verdade
a dor em pessoa no hipocondríaco eu-lírico de Pessoa doía mais a dor fingida do que a dor em pessoa pessoalmente ...