N as agradáveis manhãs deste gostoso inverno o “bom-dia” vem sendo da chuva. E que seja muito bem-vinda a chuva, com seu o cheirinho de terr...

Nas agradáveis manhãs deste gostoso inverno o “bom-dia” vem sendo da chuva. E que seja muito bem-vinda a chuva, com seu o cheirinho de terra molhada. E ainda tem gente que dela não gosta...

Manhãs com pássaros calados, asas encolhidas e escondidas nas brechas dos cachos de coco, mas, as plantas gritando de alegria. Dançando ao vento, celebravam o merecido banho com muita satisfação. Tenho pena de quem pensa que as plantas não riem. Vejo-as pelo vidro da janela, abraçadas, numa ciranda de alegria, todas cantando à chuvinha que cai...

Cai chuva!... molha a terra seca com sede de vida! Enche os açudes, os riachos e as poças, que os sapos e lagartixas querem te beber. Quem não te quer é porque não te merece.

Vai... lava tudo, limpa a poeira, corre e escorre pelos regos desse mundo que sem ti não vive!... Enche e transborda córregos, rios e riachos. Lava a alma desse planeta que, por vezes, se suja até de sangue. Aproveita, e lava também a nossa alma. Para que nos sintamos revigorados, reformados e atentos à mensagem divina que a rica, pródiga e generosa Mãe Natureza nos transmite todos os dias, da alvorada ao crepúsculo.

As chuvas são um presente muito especial de Deus, o Grande Pai, aquele que alguns pensam que tem barbas de nuvens brancas, mas que na verdade não se parece com forma alguma. Não se parece porque se confunde com o Universo, com a Criação, pois, só se começa a entender Deus quando se consegue vê-Lo como Criador e Criatura, começo e fim, preto e branco, triste e alegre.

De nada podemos reclamar. Tudo nos foi provido. Temos flores que nos sorriem na terra, e ondas que nos sorriem no mar. Temos o vento que acaricia e o sol que nos devolve as cores, que dormem nas noite de paz. Paz... é só o que nos falta. Que maravilha seria que o Grande Pai nos surpreendesse com esse maior presente que o mundo poderia ganhar. Já é tempo de paz!...

C arlos Drummond de Andrade, meu xará, é um dos meus ídolos da poesia. A primeira vez que o vi – e já faz tanto tempo! – foi na livraria Leo...

Carlos Drummond de Andrade, meu xará, é um dos meus ídolos da poesia. A primeira vez que o vi – e já faz tanto tempo! – foi na livraria Leonardo da Vinci, no Rio de Janeiro. Ele conversava animadamente com uma senhora, decerto sua leitora e admiradora. E como estava loquaz, o meu comedido poeta, de ordinário, ensimesmado! Ah, como tive vontade de participar daquela conversa! Drummond bem pertinho de mim...

Nesse tempo, o poeta mantinha uma coluna diária, no “Jornal do Brasil”. Que crônicas maravilhosas! Quanta perspicácia, quanto bom humor, quantas lições de vida! Depois ele saiu do matutino carioca. Deixou de dar o seu bom dia aos numerosos leitores. A coluna ficou lembrando uma janela vazia. E em carta, eu lhe disse isto. A resposta veio rápida, em outra carta manuscrita na qual ele agradecia o meu livro “A Dança do Tempo” e, mais adiante, aludia à “janela vazia”. Eis um trecho da carta, datada de 29 de dezembro de 1985, que acabo de encontrar nos velhos papéis, que me deu muita saudade e que guardo, nos meus alfarrábios, como preciosa relíquia.

“Caro Carlos Romero. Obrigado pela oferta de a “Dança do Tempo”, um exemplo do que deve ser um livro de crônicas, na qual a acessibilidade de linguagem deve estar sempre a serviço de um pensamento lúcido”. A “janela vazia” me tocou a sensibilidade, mas continuo achando que a janela se cansou de quem nela se debruçava. O abraço amigo e os votos de um feliz 1986, de seu Carlos Drummond”.

Esta carta, daquele que tanto admirei à distância, agora me enche de saudades, nesta manhã com a chuva lá fora, chorando...
Epara terminar, esta outra carta, em que o poeta maior me agradecia o registro que fiz de seu livro “O Observador”, datada de 17 de janeiro de 1986: “Prezado xará e amigo: o meu “Observador” sentiu-se muito lisonjeado com o seu simpático registro em A União. São palavras de cordial significação, que me tocam. Mais uma vez, foi um comentarista generoso dos meus escritos. Quanto à parte final do artigo, esclareço que continuo a pensar do mesmo modo, no tocante à explosão demográfica, que vai tornando difícil de controlar este pobre mundo... Abraço amigo e agradecido do seu Drummond”.

Quando eu ingressei na Academia Paraibana de Letras, recebi dele este bilhete: “Prezado Carlos Romero: Vai aqui de longe, e cordialmente, meu abraço de felicitações ao novo membro da Academia Paraibana de Letras”.

Fiquemos por aqui. A presença do poeta continua forte na minha saudade e na minha admiração... Como estará o seu busto na praia de Copacabana?... Uma merecida homenagem que lhe prestaram os cariocas. Ele foi, antes de tudo, um exemplo de dignidade humana.

D isse o grande Montaigne: “Meus pensamentos adormecem quando sento. E meu espírito anda melhor quando minhas pernas se movem”. Daí se concl...

Disse o grande Montaigne: “Meus pensamentos adormecem quando sento. E meu espírito anda melhor quando minhas pernas se movem”. Daí se conclui que o caminhar, o movimento do corpo, os exercícios físicos agitam as idéias, acordam os pensamentos.

Os filósofos da antiguidade, a exemplo de Aristóteles, ensinavam andando. Era o método chamado peripatético. Professores ou oradores que se movimentam conseguem fluir melhor as idéias, e prendem mais a atenção do auditório. Duvido que alguém durma com um professor que dá aula pra lá e pra cá.

Estou me lembrando de um mestre meu, de Metafísica, na antiga escola de filosofia, que dava aulas se movimentando, gesticulando. Chegava ao ponto de tirar o paletó, depois a gravata, e o meu medo era que ele viesse a fazer um strip-tease... O professor não é outro senão o nosso Manuel Viana, cujas aulas muito nos empolgavam. A disciplina, conquanto difícil, terminava entrando fácil na nossa cachola.

Também me lembro do grande professor de Filosofia do Direito, Miguel Reale, que vinha de São Paulo nos ensinar aquela difícil matéria nos cursos de especialização de nossa Faculdade de Direito. Muito loquaz, de estatura média, o homem andava pela sala de uma ponta a outra, atraindo a atenção de todos nós. Culto, erudito, ele tinha uma didática admirável. Seria horrível se ele ministrasse as aulas sentado...

Mas é preciso lembrar que o silêncio também é recomendável à produção de idéias. Quem fala muito pensa pouco.

Os grandes filósofos gostavam de caminhar. O velho Immanuel Kant, cuja cidade onde nasceu e viveu, o meu filho Carlos Augusto acabou de conhecer, costumava, todas as tardes, dar um passeio pela sua Königsberg, hoje chamada Kaliningrado. E saía de casa na hora certa. A cidade toda acertava seus relógios pelo pontualíssimo horário da caminhada do filósofo da Razão Pura, e da sabedoria peripatética.

Parece filme de ficção científica. No deserto escaldante da Austrália, aproximadamente 3.000 habitantes do pequeno vilarejo de Coober Pedy ...


Parece filme de ficção científica. No deserto escaldante da Austrália, aproximadamente 3.000 habitantes do pequeno vilarejo de Coober Pedy residem literalmente sob a superfície terrestre.

Quando se trata de letras mudas na Língua Portuguesa, o H reina praticamente absoluto. Humano. Haver. Hábito. Homem. Bahia. Ah! Ihh! Uhhh...

letras não pronunciadas em inglês


Quando se trata de letras mudas na Língua Portuguesa, o H reina praticamente absoluto. Humano. Haver. Hábito. Homem. Bahia. Ah! Ihh! Uhhh! Nessas expressões, ele entra mudo e sai calado.

F iquei feliz em saber que o meu amigo, jornalista Hélio Zenaide, hoje afastado da imprensa, onde atuou com tanto brilho, elegância e objeti...

Fiquei feliz em saber que o meu amigo, jornalista Hélio Zenaide, hoje afastado da imprensa, onde atuou com tanto brilho, elegância e objetividade, está se recuperando de um problema recente de saúde. Aos pouquinhos, já consciente e em casa, com o carinho de seus 4 filhos, ele vai se restabelecendo.

Hélio é o que pode-se chamar de um verdadeiro homem de jornal. Bom na reportagem, excelente no comentário político e arguto analista dos fatos, ninguém melhor do que Hélio para escrever um belo editorial, coisa que, como jornalista, nunca fui capaz de fazer.

Filho de Alagoa Grande, ele nasceu para escrever. Esta sua maior aptidão. Escreve com uma facilidade admirável, num estilo simples e objetivo. Seu pai, Heretiano Zenaide, foi pioneiro da ecologia em nossa terra. Escreveu vários livros cujo tema predileto era a Natureza. Livros que mereciam ser reeditados em face de seu valor didático. Portanto, esse gosto de Hélio pelas letras veio de seu pai.

De religião, o nosso jornalista sempre manteve distância. Seu temperamento cético estava mais preocupado com as coisas cá de baixo. Mas um dia – aí é que começa a sua outra história – Hélio, pela mão de sua filha Valéria, termina dentro de uma sala mediúnica do Centro Espírita Leopoldo Cirne, onde se comunica com os espíritos e se surpreende com o que o que viu e ouviu.

Convenceu-se da proposta espírita, tornando-se um convicto profitente. Daí em diante, não quis mais escrever sobre outra coisa. A Doutrina o fascinou. No tradicional jornal A União manteve, por muito tempo, uma coluna diária, abordando temas sobre mediunidade, reencarnação, e moral evangélica.

Por motivo de saúde, com problema de visão, ele hoje quase que não sai de casa, ao lado dos livros, da esposa, dos filhos e dos netinhos. Assim mesmo, continua lendo com o apoio de uma lupa.

Sempre tive muita alegria em ouvir Hélio Zenaide proferindo palestras no Centro Espírita sore Leopoldo Cirne, falando em alto e bom som, segurando a lupa e numa voz bem postada

Hélio é um homem em paz de consciência, feliz com a sua família, feliz com a religião que é hoje sua maior motivação na vida. Sua vida é uma grande lição. Lição de coragem e fé. Modéstia à parte, ele é um grande mestre.

C om tantas atenções voltadas para Brasília, que apareceu por esses dias, na TV e nos jornais ameaçada de depredação, nas manifestações de v...

Com tantas atenções voltadas para Brasília, que apareceu por esses dias, na TV e nos jornais ameaçada de depredação, nas manifestações de violência em nome da política, veio-me a lembrança o grande Oscar Niemeyer, um dos maiores arquitetos do mundo, o homem que projetou a capital, em um plano urbanístico que tem a forma de um avião. O único avião de que ele não teve medo, pois não consegue decolar.

Como eu gostaria de tê-lo conhecido pessoalmente. Não para falar-lhe. Gostaria, apenas, de contemplá-lo, mesmo que fosse à distância.

Sua distração quando viajava de automóvel era olhar as nuvens no firmamento. E era nesse contemplar de nuvens, que ele se inspirava para a sua arquitetura.

O presidente Kubistchek, o maior presidente que nós tivemos, logo que assumiu o governo, foi procurar o genial artista para cuidar da arquitetura de Brasília, pois já conhecia seu trabalho desde quando era prefeito de Belo Horizonte.

O que mais admirava em Oscar Niemeyer era sua integridade. Humanitário, incapaz de um deslize moral. E tanta corrupção por aí! Tanta falta de caráter! O nosso arquiteto, porém, soube fazer de sua vida também uma obra de arte. Uma admirável arquitetura existencial. Sua vida é um exemplo para todos nós.

Certa vez, declarou que “teria vergonha se fosse um homem rico. Que guardava duas coisas com satisfação: o desinteresse pelo dinheiro, que manteve por toda vida; e a vontade de ajudar as pessoas, ser-lhes útil, dividir.

Seus olhos não viam apenas as nuvens, mas também os meninos de rua, para os quais tinha profunda compaixão. Impressionante esta sua reflexão, com que encerro a crônica: “No dia em que o homem compreender que é filho da natureza, irmão dos bichos da terra, dos pássaros do céu e dos peixes do mar, nesse dia ele compreenderá sua própria insignificância e será mais humano, mais simples e mais solidário”.

Q uando o homem vem ao mundo, sua primeira pousada é o útero materno. Eis aí um espaço de muito silêncio. A gestação do feto vai se processa...

Quando o homem vem ao mundo, sua primeira pousada é o útero materno. Eis aí um espaço de muito silêncio. A gestação do feto vai se processando sem o mínimo ruído. E tinha de ser, assim, porquanto no barulho, seria impossível a vida em formação.

Se olharmos a Natureza, onde é que está o barulho? As árvores são silenciosas e os pássaros que nelas se aninham só fazem cantar, suavemente. As flores se desabrocham no maior silêncio, e no fundo do mar, nem se fala. E que dizer desta usina que nos fornece luz, o dia inteiro, o sol? Trabalha num saudável mutismo. Não polui a atmosfera, nem agride os ouvidos. Da mesma maneira, as estrelas que surgem para enfeitar o firmamento. Dir-se-ia que o silêncio é a voz de Deus.

Falei do útero, do sol, das estrelas, das plantas, do fundo do mar, e já ia me esquecendo o nosso corpo, este santuário divino. O coração, esta bomba extraordinária, trabalha em silêncio, e o sangue, este rio vermelho, flui calmamente levando alimentos para as mais distantes células. Também os pulmões, o estômago, o fígado, funcionam caladinhos sem perturbar o ambiente. O mar não produz barulho, mas marulho, que é diferente. Nada mais apaziguador do que ficar ouvindo a voz do mar...

Aí dirá você: e o trovão? O trovão não agride os ouvidos, o trovão produz um som macio, grave, um som terapêutico e místico, que nos leva a reflexões...

Mas, afinal, quem é que faz barulho, neste mundo? O cachorro e o homem. Talvez seja essa a razão porque ambos são tão amigos...

O pior é que o barulho humano está cada vez mais se intensificando. Não há mais respeito ao silêncio, como em alguns países civilizados, onde as leis do silêncio ainda funcionam. Mas, aqui, nesta nossa capital, o barulho se tornou um escândalo, uma falta de vergonha, um desrespeito ao direito alheio. E a barulheira progride em lugares que foram criados para a paz, a exemplo das praias.

Até através dos telefones celulares, surgem, vez por outra, pessoas falando alto, fazendo desses instrumentos verdadeiros microfones. Resultado: muita gente está ficando surda. E quem é surdo costuma falar alto.

É preciso mais controle das autoridades para evitar a lastimável e iminente morte do silêncio.

Q uando os homens da limpeza púbica aparecerem à sua frente, faça uma ligeira reflexão. Lembre-se que eles limpam a sujeira que você produz....



Quando os homens da limpeza púbica aparecerem à sua frente, faça uma ligeira reflexão. Lembre-se que eles limpam a sujeira que você produz. Merecem todo o nosso respeito e admiração. E à noite, enquanto você passeia, vai às festas, restaurantes, se diverte, eles trabalham.

Outrora, eram chamados homens do lixo. Ora, vejam só... Homens do lixo somos nós que sujamos as ruas, as praças, e a praia. Eles são homens da limpeza.

Preste atenção ao trabalho deles. Veja como é duro coletar o lixo. Muito diferente desse meu trabalho macio em que as mãos digitam as teclas deste computador. Um trabalho sem suor. Mas os garis suam por todos os poros. E quase não conversam. Trabalham em silêncio.

Graças a estes agentes da limpeza pública, tudo é recolhido, tudo fica livre da sujeira. E como eles dão duro no serviço! Só em olhá-los trabalhando deixa a gente cansada.

Os nossos agentes da limpeza pública vestem-se de vermelho. Seria alguma alusão ao vermelho da nossa bandeira revolucionária, que ostenta um “Négo”?...

Só sei que eles chamam logo a nossa atenção com a cor de suas vestes. Cor de sangue. Pena que ganhem tão pouco. Nada de gratificações extraordinárias, de gordas aposentadorias e muito menos de mensalões ou propina da Friboi. Acho que, à noite, quando vão se deitar, o corpo todo deve estar dolorido. Quanto cansaço, meu Deus do céu!

Também me veio à lembrança uma greve, lá na bela Amsterdam, que, de uma hora para outra virou um monturo só. Por pouco os urubus não pousaram nas suas praças, avenidas e pontes para decepção de Rembrandt e Van Gogh. Os homens da limpeza pública resolveram cruzar os braços. Foi um Deus nos acuda... Que eles nunca mais precisem cruzar os braços.

E no Natal, será que eles têm uma confraternização. Isto fica para os de cima, os produtores do lixo. Lixo que eles recolhem com muito trabalho.

Q uando estou para viajar, sempre me vem à lembrança a recomendação de Érico Veríssimo: “Sábio é o turista que viaja com bagagem pequena e a...

Quando estou para viajar, sempre me vem à lembrança a recomendação de Érico Veríssimo: “Sábio é o turista que viaja com bagagem pequena e alma grande”.

Ele foi o autor predileto de minha juventude. Começou com “Clarissa”, que tanto mexeu com minha sensibilidade. Depois vieram outros: “Olhai os lírios do campo”, “Um lugar ao sol”, “Música ao longe”, “O resto é silêncio, “Caminhos Cruzados”, e assim por diante. E eu admirava também os títulos de seus livros. Por fim, vieram “Incidente de Antares” e as memórias com “Solo de Clarineta”

Érico também foi um bom escritor de viagens. Seu primeiro livro, neste gênero, “Gato Preto em Campo de Neve”, em que narra sua primeira visita aos Estados Unidos, é uma beleza pela sua argúcia de viajante. Há outros, no gênero, a exemplo de sua viagem ao México, e “Israel em abril”, que reencontrei aqui na biblioteca cheiinho de anotações a mão.

Vejam algumas: “O perfume dos laranjais é tão intenso que chega a ter um corpo, um peso, quase uma forma visível.” E que dizer deste trecho, quando ele se defrontou com o Mar da Galiléia e começou a fazer conjecturas líricas: “... ontem Jesus saiu de Nazaré, sozinho e a pé, na direção deste lago. Dormiu à noite debaixo de uma oliveira, cujos frutos comeu ao raiar do dia...” E mais adiante: “O Jesus de que te falo é um homem que transpira, que suja os pés na poeira dos caminhos e que os lacera nas pedras do chão”.

Doido por árvores, ele chega a este desabafo: “Alegra-me a idéia de que desde o princípio do Estado de Israel seu governo já fez plantar mais de setenta milhões de árvores no território nacional.

Quando estive em Porto Alegre, fiz questão de visitar a antiga Livraria Globo, onde vi o seu retrato sorrindo para mim... Pouco mais, a caminho da Alemanha, minha bagagem será pequena e alma, muito grande. Até a volta!

A inda em clima de Páscoa, quando se falou muito na Paixão, na Ressureição, não poderíamos deixar de lembrar do amor ao próximo, tão enfatiz...

Ainda em clima de Páscoa, quando se falou muito na Paixão, na Ressureição, não poderíamos deixar de lembrar do amor ao próximo, tão enfatizado no Evangelho.

E não dá para falar em amor ao próximo sem lembrar de caridade. Foi dito que a caridade é o sentimento máximo de amor. Daí o slogan espírita: “Fora da caridade não há salvação”.

Mas como podemos definir caridade? Se eu der um pão a um cachorro, estaria praticando caridade? Acho que não. Teríamos aí um sentimento de misericórdia.

Caridade é amor, amor ao próximo, ao semelhante. É colocar-se no lugar do outro.Lembram-se da parábola do samaritano, contada por Jesus? Em que um homem descia para Jericó e no caminho foi assaltado por uns bandidos? Mais adiante, passava por ali um samaritano e condoeu-se da situação. Não pensou duas vezes e tratou dos ferimentos da vítima, chegando a levá-lo para uma hospedaria. Acontece que, antes, passaram pelo mesmo lugar dois religiosos e nem sequer demoraram a vista na vítima.

Fez bem a Doutrina Espirita erigindo como máxima: “Fora da caridade não há salvação”. Paulo de Tarso, o iluminado de Damasco, gritou que a caridade é o sentimento máximo.

A Doutrina fez bem em estabelecer como máxima : “Fora da Caridade não há salvação.”
Mas a lição mais difícil ensinada pelo Evangelho é “amar ao próximo como a si mesmo”. Será que amamos ao próximo como a nós mesmos?

Outrora, o slogan “Fora da caridade não há salvação”, era lido em vários locais da antiga Federação. Que o atual presidente Marco Lima restaure a bela frase. Como a Doutrina espírita é ecumênica...

Concluo lembrando o significativo slogan espírita: “Fora da Caridade não há salvação”. Caridade, que é amor ao próximo, nada mais é do que o nosso grande teste de amor.

Gostaria de ter perguntado a Jesus, porque morreste de braços abertos? Ele, sem dúvida, responderia: “Ninguém abraça de braços fechados”...

E a crônica? Cobra, meu filho Germano, que é um dos meus leitores prediletos, aliás, com muita honra. É que o cronista está com uma preguic...

E a crônica? Cobra, meu filho Germano, que é um dos meus leitores prediletos, aliás, com muita honra.

É que o cronista está com uma preguicinha danada, com esse silêncio gostoso, silêncio com cheiro de chuva.

Mas vamos à crônica, e eu me lembrando de Alagoa Nova, terra onde nasci, onde fui pai pela primeira vez, e para onde voltei, como juiz. E como juiz, tive um tabelião muito inteligente e que se deu muito bem comigo.

Observador primoroso, ele, certa vez, me disse: ”Doutor, um homem a gente conhece pelo andar”. Será? Talvez sim.

Acontece que chegou um novo delegado de polícia na cidade. Aí eu indaguei: E aí Bastos, que tal o novo delegado? E ele, sem pestanejar: “O andar é de malandro”...

Bastos era solteirão. Um homem de bem. Para ele, homem de bem é aquele que paga em dia, que nunca esquece suas dívidas. Acontece que Bastos emprestava a juros.

Alagoa Nova, que meu irmão Eudes denominava “sítio de mangueiras”, era uma beleza. E nem era terra produtora de cachaça...

Outrora, no cemitério, tinha um enorme pé de piroá, que terminou sendo derrubado. Isso me entristeceu. Outro dia, a nossa amiga e conterrânea, Aleci Mendonça, me mostrou uma foto antiga, com o grande piroá, na frente do cemitério. Uma maravilha.

Fui juiz de minha terra. Que beleza! E a casa onde dei o primeiro grito para o mundo ainda existe. Um sobrado de duas janelas e uma porta, que, ao que fui informado, continua inteiramente preservado. Soube até que o meu quarto, no primeiro andar, que tinha uma janela de onde eu espiava a igreja, ainda está do mesmo jeito.

Mas, e o meu amigo Bastos de Souza? Que admirável caráter. E pelo simples fato de não ser casado, o padre vivia se metendo na vida daquele admirável homem.

E eis que terminei a crônica que Germano me pediu. E concluo dando um viva. Viva a vida, e suas boas lembranças!

N ão vejo outro título para esta crônica que escrevo com muita preguiça, logo que a chuva começou a cair forte, nesta manhã de outono. Tanta...

Não vejo outro título para esta crônica que escrevo com muita preguiça, logo que a chuva começou a cair forte, nesta manhã de outono. Tanta chuva que deixa a gente molhado e triste. Triste e preguiçoso. Mais ainda. A chuva me trouxe saudades. Saudades de quê, cronista?

Saudades de minha infância. Mais ainda, saudades de minha asma. Mas, só da asma? Não, saudades de minha mãe. E o que tem uma coisa a ver com a outra? Ora, quando eu tinha asma, minha mãe passava as noites comigo, me acariciando, contando histórias lindas. Será que toda mãe faz isso? Não sei, só sei que a minha fazia. A asma, também chamada de puxado, foi de uma pontualidade extraordinária. Nunca deixou de me visitar.

Mas, voltemos a esta chuva que ainda cai forte por aqui. Quanta água descendo do céu, meu Deus. Aqui para nós, sou um homem mais do fogo do que do gelo, mas do sol do que da chuva. Não sei porque danado, uma nasci em Alagoa Nova. Eu deveria ter nascido em Patos.

Como chove! Mas, tudo é necessário. Eu soube que chegaram até aqui as águas do rio São Francisco. E Lula dizendo quem foi ele quem trouxe a água do grande rio….

Minha asma passou, as chuvas estão diminuindo, o Sol já apareceu e a modinha está dizendo que “a raposa casou-se com o rouxinol”...

O céu agora está uma beleza. E viva a vida. Respiro forte e pronto. Sinto que respirar é viver. Eis o que é a vida. Se a criança não respira no momento em que nasce, morre. Meu primogênito, Carlos Augusto, levou umas palmadas do médico porque não chorou, assim que veio ao mundo.

E com essa chuva me lembrei do grande tribuno Alcides Carneiro que disse, quando começou a chover, num começo de discurso: “Pensava que falava apenas sob os aplausos dos homens, mas vejo que também falo sob as bênçãos de Deus”.

A chuva despareceu, o sol veio enxugando tudo, e a crônica chegou ao fim.

T odas três na letra M. E estou, justamente, me lembrando, agora, do meu amigo e, sobretudo mestre, Desembargador Paulo Bezerril. com quem ...

Todas três na letra M. E estou, justamente, me lembrando, agora, do meu amigo e, sobretudo mestre, Desembargador Paulo Bezerril. com quem muito aprendi. Um homem simples, cujo cargo não lhe alterou a personalidade. Sua grande paixão era a música. Tocava flauta e foi como flautista que ele integrou a nossa Orquestra Sinfônica, o inesquecível empreendimento cultural do nosso governador Tarcísio Burity.

Bezerril não gostou quando eu lhe disse que havia passado num concurso para juiz. “É como uma pérola lançada no mato”.
Ele sempre me dizia que as três coisas mais belas da vida são o mar, a música e a mulher. Concordo com ele.

Foi um excelente flautista de nossa Orquestra Sinfônica, em sua primeira fase. Um homem de uma simplicidade admirável. Pequeno no tamanho, mas grande no caráter.

Disse-me que o mar era uma de suas paixões, mas não consigo imaginá-lo de calção de banho lutando contra as ondas.

Paulo Bezerril muito me incentivou. Deu-me conselhos admiráveis. Eu gostava muito de conversar com ele.

Quando surgiu a Orquestra Sinfônica, numa época de saudosa memória, lá estava ele com sua flauta. Sua afinada flauta, reitero.

Lembro, agora, de sua filha Wilma, que ele adorava e com muita razão...

Mar, mulher e música. Suas três paixões. Três paixões com M.

Não me esqueço, e gosto de repetir, que quando eu fui lhe dizer que tinha sido aprovado num concurso para a magistratura, e iria trabalhar numa cidadezinha do interior, ele sorriu, levemente, e disse: “É o mesmo que jogar uma moeda no meio do mato”...

Mas, conversar com ele é que era bom. Uma conversa discreta, a que não faltava perspicácia. Era admirável o seu bom senso.

Por que estou me lembrando dele? Ora, por que as boas lembranças são psicoterapeutas. Paulo Bezerril, o magistrado, o músico, sobretudo o homem, modelar muito me ensinou na vida. Espremo a memória, o que me faz muito bem, e parece que estou a vê-lo. Esbelto, elegante, e, vez por outra, esboçando um sorriso de muita sabedoria.

Nada como uma boa lembrança para enfeitar ou dignificar uma vida.

E m toda família houve mortes. É óbvio. Meu irmão Alberto, quando pequeno, ficava sentado no chão, perto da mãe, costurando. De repente, mam...

Em toda família houve mortes. É óbvio. Meu irmão Alberto, quando pequeno, ficava sentado no chão, perto da mãe, costurando. De repente, mamãe notou que o menino chorava. Preocupada, perguntou: “O que foi, algum bicho lhe mordeu?” Não, é que estou pensando que, um dia, a senhora vai morrer”. A mãe sorriu, deu-lhe muitos beijos, e disse: “Não. Não vou morrer agora não, e deixe de besteira”.

Meu pai morreu aos oitenta e dois anos. Minha mãe foi mais longe, entregar sua bela vida a Deus. Atravessou o século, sorrindo. Digo bem: sorrindo, pois nunca vi uma mulher tão otimista. Sua alimentação? A mais sóbria possível, sem esquecer o ponche diário de laranja com cenoura. Gostava de cantar, gostava de ler, gostava de conversar, decifrava as chamadas “palavras cruzadas” e as charadas, nem é bom falar.

Minha mãe era muito bonita e tocava flauta. Já meu pai, não foi tão longe como ela, na idade, pois teve problemas com a próstata.

Tive um tio extraordinário, chamado João Augusto. Morreu solteirão, e se você lhe contasse a façanhas de uma pessoa, ou que alguém havia ficado muito rico, ele apenas dizia, sorrindo: “Mas, morre...”

Meu irmão mais velho, Mário, morreu de fumo. Ainda cheguei a vê-lo, no hospital, arquejante e lamentando muito por ter fumado.

Eu ainda estou vivinho da silva. Fui fumante exagerado, até que, um dia, senti o coração palpitar, a ponto de pular fora. Consequência do cigarro. Larguei-o, logo.

Hoje, com meus dois filhos queridos, Carlos e Germano, sinto-me feliz, pois ambos são infensos ao fedorento vício do fumo. Cigarro rima com catarro e pigarro, que são consequências de quem fuma.

Há uma modinha que termina assim: “Adão, foi feito de barro, colega, me dê um cigarro”. Dê não, leitor. Lembre-se de que o famoso Freud era um fumante exagerado até que contraiu câncer na boca, de cujo mau cheiro seu gato corria como o diabo da cruz.

O Sermão da Montanha resume toda a Doutrina de Jesus e é uma das maiores lições de otimismo. Basta lembrar de que o venerável Gandhi chegou...

O Sermão da Montanha resume toda a Doutrina de Jesus e é uma das maiores lições de otimismo. Basta lembrar de que o venerável Gandhi chegou a dizer: “Se toda a literatura do mundo fosse destruída e restasse apenas o Sermão da Montanha, nada se teria perdido”.

Imagino Jesus subindo o monte, ou a montanha, para pronunciar o seu discurso. Decerto, o clima estava ameno, o céu muito azul, a brisa beijando a face das pessoas, e Jesus falando. Uma voz suave, uma voz de quem falava com autoridade.

Ele começa se dirigindo aos bem-aventurados, isto é, aos humildes, aos que choram, aos mansos, aos que têm fome e sede de Justiça, aos puros de coração, aos que sofrem perseguição, discriminação. O silêncio deveria ser profundo.

A mensagem evangélica é de puro otimismo, mas, para cultivar o otimismo é preciso estarmos vigilantes. Daí o Mestre ter-nos advertido: “Orai e vigiai para não entrardes em tentação”.

Mas, não poderia ser outra a mensagem de quem nos convidou a olhar os lírios do campo, de quem disse: “Pedi e vos será dado, buscai e achareis”. Mensagem de quem dizia ao enfermo: “Tua fé te curou”.

A oração e a vigilância, portanto, são duas atitudes para nos livrar das tentações que são muitas. Tentação do dinheiro, do orgulho, da ambição, do ódio, da maledicência, da ociosidade...

Jesus estava sempre orando. E os seus discípulos tiveram inveja e aí pediram que o Mestre lhes ensinasse uma oração, que foi a do Pai Nosso.

É preciso lembrar de que nada conseguimos com pessimismo, com desânimo. “Tende bom ânimo” – aconselhava ele. Ah, o entusiasmo... Dizem que a palavra significa “Deus dentro de nós”.

E nunca esqueçamos a recomendação: pedi e vos será dado, buscai e achareis, batei e abrir-se-vos-á. Usemos a boca (o pedido), usemos os pés, isto é busquemos, e depois as mãos, batendo à porta.

Jamais desanimar, jamais cruzar os braços, jamais perder a fé, que é a grande força da vida. E esta fé não precisa ser grande. Ela pode ser do tamanho de um grão de mostarda.