Q uando o homem vem ao mundo, sua primeira pousada é o útero materno. Eis aí um espaço de muito silêncio. A gestação do feto vai se processa...

A morte do silêncio

Quando o homem vem ao mundo, sua primeira pousada é o útero materno. Eis aí um espaço de muito silêncio. A gestação do feto vai se processando sem o mínimo ruído. E tinha de ser, assim, porquanto no barulho, seria impossível a vida em formação.

Se olharmos a Natureza, onde é que está o barulho? As árvores são silenciosas e os pássaros que nelas se aninham só fazem cantar, suavemente. As flores se desabrocham no maior silêncio, e no fundo do mar, nem se fala. E que dizer desta usina que nos fornece luz, o dia inteiro, o sol? Trabalha num saudável mutismo. Não polui a atmosfera, nem agride os ouvidos. Da mesma maneira, as estrelas que surgem para enfeitar o firmamento. Dir-se-ia que o silêncio é a voz de Deus.

Falei do útero, do sol, das estrelas, das plantas, do fundo do mar, e já ia me esquecendo o nosso corpo, este santuário divino. O coração, esta bomba extraordinária, trabalha em silêncio, e o sangue, este rio vermelho, flui calmamente levando alimentos para as mais distantes células. Também os pulmões, o estômago, o fígado, funcionam caladinhos sem perturbar o ambiente. O mar não produz barulho, mas marulho, que é diferente. Nada mais apaziguador do que ficar ouvindo a voz do mar...

Aí dirá você: e o trovão? O trovão não agride os ouvidos, o trovão produz um som macio, grave, um som terapêutico e místico, que nos leva a reflexões...

Mas, afinal, quem é que faz barulho, neste mundo? O cachorro e o homem. Talvez seja essa a razão porque ambos são tão amigos...

O pior é que o barulho humano está cada vez mais se intensificando. Não há mais respeito ao silêncio, como em alguns países civilizados, onde as leis do silêncio ainda funcionam. Mas, aqui, nesta nossa capital, o barulho se tornou um escândalo, uma falta de vergonha, um desrespeito ao direito alheio. E a barulheira progride em lugares que foram criados para a paz, a exemplo das praias.

Até através dos telefones celulares, surgem, vez por outra, pessoas falando alto, fazendo desses instrumentos verdadeiros microfones. Resultado: muita gente está ficando surda. E quem é surdo costuma falar alto.

É preciso mais controle das autoridades para evitar a lastimável e iminente morte do silêncio.

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