“As palavras se movem, apenas no tempo; mas o que apenas vive Pode apenas morrer. As palavras após a fala encontram o silêncio” T. E...

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“As palavras se movem, apenas no tempo; mas o que apenas vive Pode apenas morrer. As palavras após a fala encontram o silêncio”
T. Elliot

Era mais um dia de trabalho. A noite chegou desapercebida, escondida pela cortina da sala, lá fora o tempo corria! A espera do elevador enfrentava a saída simultânea de vários profissionais da área de saúde e clientela. Mas, após um breve aguardo, abriu-se uma porta com uma sorridente ascensorista. Algumas pessoas já presentes, recuaram educadamente para receber o novo afluxo. O silêncio propiciava olhares furtivos, avaliações rápidas, o olho no relógio... Um casal de meia-idade confirmava o próximo horário do dentista, quando ela subitamente quebrou a discrição, como se houvesse lembrado de algo importante:

Araruta é uma música de Noel Rosa. Uma das tantas, em que ele expressa a sua genialidade. Parece música com tom de marchinha de carnav...

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Araruta é uma música de Noel Rosa. Uma das tantas, em que ele expressa a sua genialidade. Parece música com tom de marchinha de carnaval ou daquelas debochadas que permeiam a sua obra. As gerações de hoje, em overdose de sertanejos, pancadões e quejandos, não devem saber o que é marchinha de carnaval, festa tomada por outros ritmos, além do frevo, marcha-rancho e da própria marchinha.

A Araruta de Noel Rosa e Orestes Barbosa, de 1932, gravado em 1983, por Carlos Didier, biógrafo de Noel Rosa, segue, no entanto, em outra direção. É música de qualidade. Embora não seja versado nessa arte, sendo apenas um apreciador, achei a música parecida com um ragtime do tempo das melindrosas. Em alguns momentos,

Meu colega escritor Ariano Suassuna contava que uma vez foi jantar na casa de milionários cariocas e a anfitriã ficou decepcionada ao...

Meu colega escritor Ariano Suassuna contava que uma vez foi jantar na casa de milionários cariocas e a anfitriã ficou decepcionada ao saber que ele jamais havia saído do Brasil. Pior ainda; não conhecia a Disney. Ariano concluiu então que para aquela senhora o mundo se dividia em duas partes; os que conheciam a Disney e o resto.

Observando o Brasil bem de longe (estou não fazendo nada em Florença), depois de conviver com brasileiros de todas as regiões e de todas as tendências políticas que encontro em restaurantes e museus, cheguei à insuperável conclusão de que o Brasil transformou-se em duas Disneys. Os que votaram em Bolsonaro entendem que o resto não merece sua atenção. Os que votaram em Lula não têm, como direi… a melhor impressão de quem não sufragou seu candidato.

Súbito me vejo à porta do sapateiro ou mais precisamente à banca de bicho ali atravessada, eu de pé a ver de cima a bela cabeça de mulhe...

Súbito me vejo à porta do sapateiro ou mais precisamente à banca de bicho ali atravessada, eu de pé a ver de cima a bela cabeça de mulher de cabelos anelados em sua ocupação diária de passar bicho. Não estava em meus cálculos parar ali, repetir o milhar sustentado desde o ano de 1949, quando fui levar um documento à casa do doutor Otávio Amorim, na Floriano Peixoto de Campina Grande, e senti na placa do seu carro, 1382, um forte palpite.

Em memória de Julio Rafael e Murilo Jardelino "Aquele exato momento de felicidade ninguém mais nos tira, aferrou-se no tempo, p...

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Em memória de Julio Rafael e Murilo Jardelino

"Aquele exato momento de felicidade ninguém mais nos tira, aferrou-se no tempo, pertence agora à história. Uma multidão embevecida de alegria, separada por paredes permeáveis, explodindo em canto por toda parte, como se fosse o próprio júbilo a expulsar do poder o homem atroz..."
Julián Fuks, UOL, 05/11/22

"Chegou o grande dia. A vitória eleitoral da sociedade civil contra um projeto de autocracia miliciana e fundamentalista não tem outro nome: lavamos a alma. Esse banho vai ser demorado..."
Receita para lavar a alma, de Gregório Duvivier

Eu não circulava pelo centro de João Pessoa há um bom tempo. Mas eis que amigos me recomendaram a busca do Terceirão, o Camelódromo ins...

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Eu não circulava pelo centro de João Pessoa há um bom tempo. Mas eis que amigos me recomendaram a busca do Terceirão, o Camelódromo instalado sobre um pedaço do teto daquele túnel escavado no eixo da Miguel Souto por baixo dos cruzamentos com a Visconde de Pelotas, a Duque de Caxias e a General Osório. E lá fui eu.

No futuro não distante, se eu puder me recordar destas flores e da música, me darei por satisfeito. Na velhice ou já sem corpo, ao se...

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No futuro não distante, se eu puder me recordar destas flores e da música, me darei por satisfeito. Na velhice ou já sem corpo, ao senti-las saberei que viver valeu demais.

Ignoro se existe um tesouro que mais valha do que ter boas lembranças. É por isso que devemos vigilantes sempre estar. Se na vida semearmos coisas boas no caminho, mais à frente, certamente, a colheita se fará na medida do plantio.

Quando eu era bem criança, brincava de caloura do Chacrinha e dublava Maria Bethania. Era e continua sendo minha abelha rainha. Ainda g...

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Quando eu era bem criança, brincava de caloura do Chacrinha e dublava Maria Bethania. Era e continua sendo minha abelha rainha. Ainda guardo a mesma paixão.

Há mais de dez anos eu remendava uma crônica publicada no extinto jornal O Norte, com frase retirada do Diário de Pernambuco,...

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Há mais de dez anos eu remendava uma crônica publicada no extinto jornal O Norte, com frase retirada do Diário de Pernambuco, atribuída a uma negra, à época, com 84 anos: “A gente é cativo da pobreza”. Igualmente, no meu texto, recordava o pensador francês Emmanuel Mounier, para quem a verdade está ao lado do pobre.

Recorri ao filósofo e à mulher pernambucana para referendar a história de quem sobrevive com tão pouco.

Se me perguntassem qual o escritor mais metódico da literatura brasileira, eu responderia sem pestanejar: Mário de Andrade. E isso não ...

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Se me perguntassem qual o escritor mais metódico da literatura brasileira, eu responderia sem pestanejar: Mário de Andrade. E isso não só por conta de sua produção abranger quase todos os gêneros literários, mas, sobretudo, por sua correspondência ativa, por sua compulsão em responder, indistintamente, quer ao poeta federal, quer ao estadual, quer ao municipal, inclusive àquele perdido e extraviado nas bibocas, nos grotões, nas brenhas desse Brasil de oito milhões de quilômetros quadrados. Não há dúvida: Mário de Andrade foi o escritor mais metódico da literatura brasileira de todos os tempos.

Ao ler a bela História da Revolução Russa , de Trotsky, lançada pela Paz e Terra em 78, resolvi partir para um espetáculo sobre Vladími...

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Ao ler a bela História da Revolução Russa, de Trotsky, lançada pela Paz e Terra em 78, resolvi partir para um espetáculo sobre Vladímir Ilich Ulianov – Lênin, mas senti que aquele relato não me bastava. Fui à Biblioteca Central da UFPB, e nada. Frequentemente eu me valia da biblioteca do Centro Cultural Banco do Brasil, no Rio – enorme – que mandava a todo e qualquer funcionário do BB, de qualquer parte do país, os livros que quisesse, pelos malotes da estatal. Pedi e recebi pacotes sobre o homem que – contrariando Marx – implantara a “ditadura do proletariado”, 69 anos após o Manifesto Comunista (com seu tom profético não concretizado), num país... sem proletários, não industrializado, agrário, fazendo-o através de “profissionais da revolução”, que sequer eram camponeses, criando – com a Rússia e países vizinhos — a União Soviética, que duraria até 1991. Como foi possível?

    CHEGANDO AO CORAÇÃO DE ALGUÉM Não tente entrar sem convite, Para adentrar é preciso senha, Não venha cheio de exigên...

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CHEGANDO AO CORAÇÃO DE ALGUÉM
Não tente entrar sem convite, Para adentrar é preciso senha, Não venha cheio de exigências, Caminhe com cuidado, Apenas, venha... Não queira ser o dono do lugar, Não queira mudar o que lá está. Sutilmente acomode-se onde Onde o dono lhe colocar. Não traga bagagens pesadas, Difíceis de organizar. Traga leveza, carinho, Que combinam com qualquer lugar. Não chegue se sentindo em casa, Não se espalhe em demasia, Chegue com delicadeza, Para permanecer com alegria. Ao chegar ao coração de alguém, Faça-o com amor e respeito, Coração é terra nobre e sagrada, Não traga dor e tristeza, Transigir o amor não é direito.
 
DIGESTÃO
Reavaliar sentimentos... O que me acrescenta? O que me diminui? Repensar relações... Quem acolhe meu ser? Quem me suga a alma E me descarta? Redefinir projetos... Plantar rosas em terrenos férteis, Poesia é para quem tem ouvidos de ouvir. Refazer-se, reconstruir-se, reorientar-se. Esmurrar ponta de faca dilacera as mãos. Melhor uma dieta leve, Facilita a digestão.

Quem poderia supor que página de jornal amassada formasse assunto para se utilizar numa crônica? Você afirmaria? Um coletor de papel, ...

Quem poderia supor que página de jornal amassada formasse assunto para se utilizar numa crônica? Você afirmaria? Um coletor de papel, suado em suas dificuldades, roupa por lavar, barba grande; achou de mexer em uma lixeira quando se deparou com um saco plástico inchado de papelório. Para ele, como se fora ouro: assegurava seu sustento.

Pôs-se a retirar as folhas impressas. Antes de levar os papéis para vender na reciclagem, em casa, lia as notícias, crônicas, artigos, até uma vista pelos chamados “pequenos anúncios”.

As últimas eleições dividiram o Brasil. Poucas vezes se viu numa disputa política tal exaltação de ânimos, que levou a mortes e agressõ...

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As últimas eleições dividiram o Brasil. Poucas vezes se viu numa disputa política tal exaltação de ânimos, que levou a mortes e agressões. Amigos, colegas de trabalho e mesmo parentes brigaram a ponto de romper laços afetivos cultivados há muitos anos.

Li com estarrecimento o relato de uma mãe que expulsou o filho de casa porque ele votara em um candidato que não era do gosto dela. Isso é um tanto paradoxal, pois um dos ideários dos partidos era justamente a preservação da unidade familiar.

De direitos e obrigações sociais estamos cercados até a ponta de nossas últimas raízes do cabelo, que por muitas vezes nos traem insist...

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De direitos e obrigações sociais estamos cercados até a ponta de nossas últimas raízes do cabelo, que por muitas vezes nos traem insistindo sumir muito cedo. Os direitos humanos descritos e apresentados à humanidade lembram importantes temas aos farsantes que se apresentam como governantes ou líderes insolentes que impedem a circulação de povos. É uma questão séria porque dói a quem sofre limitações à sua liberdade de existir e pensar com ideias próprias. 

Vim comprar o jantar dos meus filhos numa pizzaria próxima de casa, aqui no Bessa. Não tinha vaga no estacionamento, pois grande part...

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Vim comprar o jantar dos meus filhos numa pizzaria próxima de casa, aqui no Bessa.

Não tinha vaga no estacionamento, pois grande parte da classe média praiana bolsonarista também faz o mesmo.

Não sou bolsonarista nem da classe média ideológica, essa doença; apenas da classe média econômica.