Kubi Pinheiro
A cantora Maria Bethânia nunca foi debutante. Já nasceu gigante. Kubi Pinheiro Caetano Veloso - Uma paixão de menina. E de quebra veio ...
Maria Bethânia, 75
Kubi Pinheiro
Que os velhos sejam sóbrios, respeitáveis, sensatos, fortes na fé, na caridade e na perseverança. Paulo , Tito, 2:2 (Bíblia de Jerusalém...
A velhice
Paulo, Tito, 2:2 (Bíblia de Jerusalém)
Estrangeiro , de Edson Lemos Akatoy, é um daqueles filmes que você tem que assistir bem descansado, de espírito aberto e disposto a uma pr...
Uma ode à paisagem
Desjejum café sem pão, café sem pão é bandeira e a poesia: cheios de cafeína - às vezes, o vício não está onde a gente pensa...
Café sem pão
café sem pão, café sem pão é bandeira e a poesia: cheios de cafeína - às vezes, o vício não está onde a gente pensa mas no poema que a gente não lê
os pivetes arrotam a miséria nas esquinas marginais pedem esmolas e fingem suplicar nossos olhares enquanto brincam de independência os pivetes são atores que encenam sua comédia num país dramático
deus criou a família no sétimo dia e descansou - estava cansado dos gritos da mãe e do choro dos irmãos.
você foge de mim (não como o diabo da cruz) - enquanto cultiva pétalas de ferrugem na alma.
não é só querer você por todos os janeiros cultivando mitos folha a folha em seu pomar de atritos não é só buscar fevereiro definindo ritmos passo a passo na alegoria: triste arlequim não, não é só procurar águas em março submergindo mares e rios na felicidade de um naufrá (cio) muito menos abrir portas destravar cadeados chave a chave no quarto mês de nossa prisão sei que é um pouco mais um pouco maio um pouco mouros perdidos na primavera sei que quero junho quero junto quero jung nada de freud a explicar minha devoção junina (silêncio em julho) melhor sorrir a ausência de sorrisos melhor contar um segredo a juliana não estou bem certo é se rejeitaria a sina de imperador : agosto ao gosto agostinista rituais nada agnósticos – agnus dei dai-me um cântico para não rezar sei que sinto o bafo de vulcões em setembro a sete léguas de distância do meu próprio império como se fora sete pastores em busca de sete línguas e duas irmãs outro mês já se inicia, sim já já anuncio outubro outrora buscava ruínas hoje cavo minas para suar poemas que não vão lhe conquistar novenas de meus encantos novembro e seus prantos novelos que se enroscam metonímias da minha linguagem não quero só a parte que me cabe no seu todo (dezembro é o ano inteiro onde cabem todos os janeiros de mim em mim).
no centro do mundo da paraíba umbigo da geografia paraíba ali, no imenso ponto vazio tudo que é alma, paraíba de estio poetas ainda circulam precipícios no pátio extenso que esconde agasturas ali, vi políbio Alves arrotando o varadouro no cafezinho em que gonzaga faz seu cronicário ali, reginaldo e sua banca trazem as boas, que as más vinham da língua de mocidade de olho no relógio da dezoito dezessete de olho na pregão do vendedor (em falsete) de olho no paletó branco de caixa d´água e da noite que abruma traficantes até o sol chegar e bater no teu olhar, paraíba até a graxa do menino limpar teus sapatos, paraíba no décimo oitavo andar alumiar outros clarões e pagar com cem réis o preço de teu amor, paraíba.
Vem a ideia, o sentimento e, para quem fala, sobretudo para quem escreve, espera-se a consequente expressão, comumente pronta, depende... ...
A encrenca
Bom, na fala é uma coisa, na escrita é bem outra. A fala corre autêntica, natural; a palavra ou a expressão sai no automático. Vem pegada na ideia.
Desde quando foram anunciadas as premiações da festa do Oscar, fiquei a me perguntar porquê o excelente Chadwick Boseman não levou o prêmi...
O filme “Meu Pai”
Alguma coisa chamada cor Quem cismou de pintar de rosa as nuvens pôr de sol do outono? E ver o azul se disfarçando em cinz...
As cores amanhecerão diferentes
“Onde aprender a odiar para não morrer de amor?” Lá está ela! Veste um casaco marrom sobre um vestido bege, e calça mocassins cor de t...
A mulher do casaco marrom
Nem parece quase verão. Chicago, eternamente açoitada por ventos fortes, encara uma tardia onda de frio. Subo a gola do casaco enquanto ...
Para trás ficarão as janelas
Ainda não sei por que me dispus a cursar Medicina. Filho e sobrinho de professores, sempre estive ligado ao...
Mudança de curso
Tempo atrás, antes da pandemia, o Brasil reencontrava a figura impressionante da paraibana Zezita de Matos, via Rede Globo de Televisão. ...
Os dois irmãos
Um dia Antonio Carlos Villaça estava mostrando a alguém a sacristia do Mosteliteratura paraibana cronica mosteiro sao bento indiferenca au...
As coisas próximas
Pois é, a mim também. O leitor certamente sabe do que se está falando; já vivenciou o indisfarçado desligamento de algum interlocutor a quem falava ou apresentava algo,
Li que Beethoven teria dito : “Recomende aos seus filhos moralidade; somente isso, e não o dinheiro. Isso poderá fazê-los felizes.” Des...
Teu melhor caminho
Descobrindo um mundo totalmente diferente do seu, brigando para ter identidade, decisões e ponto de vista próprio, um jovem guerreiro foi pedir orientação, ao mestre da vila.
O poeta dos poetas que nasceu entre nós, na juventude viveu à sombra do tamarindo e permaneceu como essa paisagem na alma por toda a vida,...
Artesãos da paz
Desde o primeiro momento do seu Pontificado, o papa Francisco ressalta a necessita de mais artesãos da paz. Essa paz que há milênios se busca e parece cada vez distante das pessoas. Lembra que enquanto são criados mecanismos capazes de contribuir com a convivência pacífica,
A dedicatória, no “Grande Sertão: Veredas”: Aracy, minha mulher, Ara, pertence este livro não me levou a me perguntar sobre ela...
Aracy Moebius de Carvalho Guimarães Rosa
pertence este livro
não me levou a me perguntar sobre ela, nem o símbolo que encerra o romance, o “oito deitado”, do infinito, a lemniscata ou laço de Moebius, ou Moebius - sobrenome original, dela.
Foi necessária uma conjura mineira pra que eu viesse a ter alguma noção acerca dessa pessoa fora do comum. O escritor mineiro, meu amigo Hugo Almeida, fez a orelha do romance do também mineiro Eustáquio Gomes – O Vale de Solombra - , que saiu pela Geração Editorial, que pertence ao escritor, outro mineiro, Luiz Fernando Emediato, onde, nas páginas 21 e 22, se lê que no consulado brasileiro de Hamburgo o vice-cônsul... mineiro - João Guimarães Rosa (depois “escritor traduzido e celebrado”) – facilitava a fuga de judeus para o Brasil, inclusive com vistos e passaportes, estes sem a “estrela de Davi” e o “J” vermelho. Lê-se, também, que isso na verdade não era iniciativa dele, mas de sua companheira, a paranaense Aracy Moebius - chefe da seção de passaportes do consulado - que liberava tudo em prazos recordes, sendo conhecida, nos círculos judaicos, como “o anjo de Hamburgo”.
Ficção do Eustáquio?
Não. Há uma pedra com o nome de Schindler no Jardim dos Justos, de Jerusalém. E outra, com o de Aracy Moebius Carvalho Guimarães Rosa.
Conta a “Concise Encyclopedia of the Holocaust”, que nem a Kristallnacht - Noite dos Cristais, de 09/11/1938 - , em que os nazistas destruíram sinagogas, residências, e estabelecimentos comerciais de judeus na Alemanha e na Áustria, dando início ao que seria a chamada de “solução final”, nem a ordem do Itamarati – então pró-Hitler – que, na Circular Secreta Nº 1.127, de Getúlio, determinava que não se mandassem hebreus pro Brasil, fizeram com que essa Aracy parasse. Metia os vistos no meio da papelada que o cônsul-geral – coisa bem de brasileiro - assinava sem ler, e chegava a esconder seus protegidos em casa, para, depois, transportá-los no porta-malas do carro do consulado, um Opel Olympia alemão.
O casal Aracy/Guimarães Rosa foi obrigado a voltar ao Brasil em 1942, quando o virandum, numa virada de casaca muito misteriosa, declarou guerra ao Deutschland über Alles.
Ela, bela filha de português com alemã, separara-se do primeiro marido, alemão, em 34, e se mandara com o filho Eduardo Tess para a terra do Führer, onde se empregara no consulado brasileiro de Hamburgo, cujo cônsul adjunto era o jovem João Guimarães Rosa, que também vinha de um casamento arruinado. Amaram-se, casaram-se no México, viveram juntos até a morte do escritor em 1967, aos 59 anos.
Mas, voltando à dedicatória no Grande Sertão: Veredas. Olha que pergunta cavilosa de Alfredo Fressia, num pequeno ensaio sobre a mulher do escritor:
- “Por qué Guimaraes le dedicó ese libro, de 1956, y no los precedentes, como Sagarana, de 1946? La historia de Grande Sertao…, recreada por la memoria caprichosa de Riobaldo, quien va recomponiendo su amor por otro hombre - que se revelará un travesti masculino -, tiene una parte de desobediencia, un juego entre la rebeldía y la aparente aceptación, que podría contener algo de Aracy, la mujer que supo desafiar el orden y las órdenes de su tiempo.”
Claro. Ela não deu a mínima pros nazistas, pro Estado Novo, nem pra nossa ditadura pós-64, quando, por exemplo, um ano após a morte de Guimarães Rosa, escondeu em seu apartamento, no Arpoador, ninguém menos do que o paraibano Geraldo Vandré, perseguido por causa da canção “Pra não dizer não falei das flores”.
Mas parece que ela foi além.
A judia alemã Maria Margarethe Bertel Levy era lindíssima. De pais ricos e liberais, falava sete linguas e viajava muito. Até Hitler chegar ao poder. Aí, com a ajuda de Aracy Moebius, ela e seu marido Hugo partiram da Alemanha no navio Cap Ancona e chegaram ao Brasil com a fortuna intacta. Uma - brasileira, católica -, a outra - alemã, judia, as duas, belíssimas, iniciaram ali uma ligação que se prolongaria no Rio até o fim de suas longas vidas.
Na entrevista que deu à repórter Eliane Brum, da Revista Época, já no fim da vida, Margarethe disse:
- Entre mim e Aracy foi um golpe de amor. Só que entre duas mulheres. Eu era sexy. E Aracy?Linda, provocante, um corpo maravilhoso.
"Quando uma ficava doente – conta a reportagem - , a outra também ficava. Parecia que sentiam as mesmas coisas. Em 2003 as duas caíram, uma em casa, outra na rua, e acabaram ficando de cama até o final."
Enquanto Margarethe morria no hospital, a respiração de Aracy Moebius, em casa, começava a falhar. Maria Margarethe Bertel Levy morreu em 21 de fevereiro de 2011– e Aracy Moebius de Carvalho Guimarães Rosa em 3 de março. Ambas com 102 anos.
Joe Gardner quer ser pianista famoso de jazz. Ele sente que a música é a sua vida, mas só se contentará se puder ser aclamado como grande ...