Há muito que via e ouvia o cronista Carlos Romero elogiar e assistir com certa frequência à oitava sinfonia de Bruckner, uma de suas músi...
O som de uma lágrima
Até hoje, muito já se especulou sobre o grande pai da literatura ocidental. Era cego? Foi uma mulher? Era uma única pessoa ou várias? Pouc...
Por que ler 'A Ilíada', de Homero?
Além de quase médico, fui também quase cantor. Para entender como isto se deu é preciso remontar ao início da década de 1980, quando fiz o...
Quase cantor
Decisão tomada, consultei os classificados do “Jornal do Brasil”, onde me deparei com um anúncio: “Sílvia Lamounier – rejuvenescimento vocal”. Era mais do que eu desejava: não apenas empostar, arranjar direito as sílabas, controlar a emissão da voz, mas também rejuvenescê-la. A professora morava numa transversal da Av. Nossa Senhora de Copacabana. Tive que ir de ônibus até lá, pois a linha de metrô que liga o Flamengo a Copacabana ainda estava em construção.
Antes de concluir a leitura, já me senti tonto. Parece um livreco de 80 páginas, mas é um pequeno ATLAS do Mundo. Eu já havia escrito na...
W.J. Solha, um homem vitruviano
Eu já havia escrito na apresentação do catálogo O CLAUSTRO (de Flávio Tavares) que Solha é um vitruviano, o homem de Vitrúvio, o homem dos sete instrumentos. Entende de tudo: Filosofia, Literatura, História, Mitologia, Teatro, Cinema... tem uma erudição extrema. Difícil de assimilá-lo numa primeira mirada.
Existem profissionais que de tão dedicados ao ofício terminam se confundindo com ele. São pessoas que se entregam ao que fazem de maneira ...
Fernando Teixeira: uma vida em cena
Lamento meu pai sorriu à sombra da goiabeira nada de rugas na face apenas a névoa de um tempo escondido pela sombra das horas. ...
À sombra da goiabeira
meu pai sorriu à sombra da goiabeira nada de rugas na face apenas a névoa de um tempo escondido pela sombra das horas.
como azeite para o palestino : correria solta de menino pés no chão, barro batido por trás da casa, o açude banhando mãe, banhando filho, banhando primos tudo nu, sem malícia e nem milícia
Um livro de crônicas é um reencontro. Do escritor com seus textos acumulados pelo tempo. Do público com o cronista, agora em outra dimensã...
O cotidiano transfigurado pela perspectiva lírica
Provavelmente a seleção rigorosa do autor não possibilitará a cada leitor em particular o reconhecimento de sua crônica preferida. Aquela que, recortada com emoção e guardada há tanto tempo, ameaça desfazer-se em pó.
Como não relembrar aqui Juarez, o helênico, que foi preciso transcrever, a fim de que restasse preservada a continuidade da leitura?
Nenhum prefácio, por mais elucidativo, alcançará o poder de persuasão do recorte amarelado, até perdido entre outros papéis, mas que a memória identifica prontamente no arquivo de suas emoções. Um livro de crônicas tem essa peculiaridade. A extensão de inumeráveis páginas dispersas. Folhas volantes que se anteciparam em mistérios de anunciação.
É escassa e relativamente recente a reflexão teórico-crítica sobre este "pós-gênero literário, flexível e integrador, narrativa estruturalmente aberta" capaz de estabelecer-se como ponte entre a função da paraliteratura e a natureza da literatura. A iniciativa pioneira vem do professor Eduardo Portella, alertando para a necessidade de enfatizar a importância da crônica na moderna literatura brasileira. Segundo ele, isto significa valorizar "um esforço ponderável de configuração de um discurso poético qualificado".
O ajustamento da crônica à trama existencial complexa da sociedade de massa precisa ser examinado à distância do preconceito elitizante, onde tem origem a presunção de uma ordem hierárquica entre as espécies e formas literárias. Privilegiando-se agora o romance, como em outras épocas parecia indiscutível a superioridade do poema épico sobre o lírico, da tragédia sobre a comédia. O julgamento e o prestígio dos gêneros determinados pelo contexto. Incidindo, assim, sobre as obras literárias, o mesmo modelo de separação e distanciamento que impera entre as classes sociais.
Minimizar o valor da crônica é ainda uma atitude comum, quando o argumento para sua configuração como discurso poético qualificado é o mesmo que servirá para qualquer gênero literário. "A crônica é literatura toda vez que o cronista se resolve em nível da linguagem".
Mas é rara a caracterização de um escritor, exclusivamente através da crônica. E não se trata apenas de uma dificuldade da crítica. Também os cronistas acentuam essa tendência. Ou porque quase todos se dedicam simultaneamente a outras formas literárias, ou porque deixam sempre transparecer que o exercício aprimorado deste "gênero não canonizado" é mais exercício que opção.
Trata-se de uma visão cultural tão arraigada que, mesmo o professor Jorge de Sá, a quem se deve até agora o estudo mais sistematizado sobre a crônica (o primeiro livro inteiramente dedicado ao gênero), enfoca Rubem Braga nesta perspectiva: "corajosamente ele só tem publicado crônicas". E completa: "Certamente capaz de escrever contos, novelas e romances, não se deixou seduzir pelo brilho dos chamados gêneros nobres".
É fácil constatar como a literariedade não se inclui nestes parâmetros de julgamento da crônica. São outros os critérios que sustentam a insistente hierarquização dos gêneros. Critérios que deixam sem resposta convincente questões fundamentais:
Por que um romance seria necessariamente superior a um livro de crônicas?
Por que, em geral, não se estabelece esta mesma relação entre um romance e um livro de poemas?
Qual seria o superior, na comparação entre um livro de poemas e um livro de crônicas?
Nem Rubem Braga pôde fugir à realidade do confronto entre as duas espécies narrativas. Na sua visão poética,
É irretocável o comentário do especialista. No entanto a pluralidade da metáfora permite a ousadia de outra leitura.
Sem opor à transitoriedade qualquer resistência. Mas compreendendo a tenda como o abrigo possível, o mais próximo desta desadorada avalanche humana que se caracteriza como sociedade de massa. Na pressa de não chegar. Na estridência de não ouvir. Na violência de não viver. No automatismo de não ser.
A crônica é o "domicílio em trânsito" desses "passageiros da agonia urbana". Trincheira de resistência da palavra poética que reordena o caos e reinventa o homem.
Para um reencontro com A Dama da Tarde (livro de crônicas de Luiz Augusto Crispim) na sutileza de sua imprevisibilidade, recorri ao caminho mais longo. Do gênero para a obra realizada. Do elogio da crônica para o concerto destas rapsódias em azul, À sombra dos ipês em flor, onde o acento lírico de tom nitidamente proustiano atualiza o encanto daquela Última Página que foi para mim o princípio o verbo. E agora se confunde em justaposição com a "saudade da menina descalça que descia a ladeira de Tambiá no destino da Bica, rumo incerto de eternas férias que não voltam jamais".
Acompanhando pela vida inteira a produção intelectual de Luiz Augusto, escrevi avaliações analíticas sobre sua vocação de escritor, firmada essencialmente na crônica. Sobre os temas que se multiplicam como as possibilidades infinitas de percepção ou de imaginação do real. Sobre a excelência da visão crítica que se exprime através do humor habilmente construído. Sobre os recursos de elaboração de uma prosa poética em que o tecido do texto revela o escritor de muitas leituras, dominando inteiramente os processos e efeitos de sua construção.
São afirmações críticas que se reiteram, indicando pontos cardeais deste universo lírico reunido aqui sob critério antológico. Não é um livro extenso. Um pouco mais de cinquenta títulos. Mas de temas tão variados, com enfoques tão específicos e tratamento tão diversificado que fica difícil inventariar.
Estados de espírito materializados em substância poética. Destinos devastados, prodígios de sobrevivência sacralizados na perenidade das imagens. O cotidiano transfigurado pela perspectiva lírica. A violência mil vezes contestada. O riso que castiga os costumes. A doce melodia dos afetos. "a grande dor das coisas que passaram". A saudade que se inscreve desde o título como forma poética de resistência aos "novos tempos que dispensam testemunhas". Tempos caracterizados na linguagem metafórica do cronista pelas "feições do asfalto maquilado sobre as ruas da inocência perdida" ou pelo "concreto que se projeta para o alto como blasfêmias de cimento e ferro atiradas contra os céus". Tempo que se confunde com a ideologia desenvolvimentista e impõe aos homens o equívoco de que é preciso "extrair o nervo do humanismo, aplicar-lhes uma boa dose de indiferença e, sobretudo, abandonar de uma vez por todas a memória".
É este o cronista, recuperando o sentido dos valores essenciais. O sentido original comunitário. Nesta resistência da palavra que destroça a prepotência burocrática com a ironia de Quem sou eu? Que recupera o amor no ritmo do diálogo de Montanha Russa. Que faz sobreviver o homem em Um sonho de Natal ou em O menino e o sonho.
O cronista em sua fase azul, entre o céu e o mar. Azul de alma de menina, de pássaro, de rapsódia. Azul de manhã flutuando ao vento, de olhos profundos, de palidez. Azul de historietas de porcelana. "Azuis na vida desta pobre gente de tão acinzentado viver".
O cronista, como o poeta, removendo as cinzas, despertando a brasa, sacudindo os homens do seu torpor.
Vi Caetano cantando langorosamente, em 74, que: “O pensamento parece uma coisa à toa, mas como é que a gente voa, quando começa a pensa...
Quando o 'quase' é um 'enorme detalhe'
Impressionou-me a beleza que de repente eu via na letra de uma canção que passara a infância (final dos anos 40, começo dos 50) ouvindo, mas executada aceleradamente por seu Zé Salles, meu vizinho mineiro, lá em Sorocaba, acompanhado, na rede, pela própria viola, à maneira – evidentemente – da “Felicidade” de Lupicínio Rodrigues, na gravação do Quitandinha Serenaders, 1947.
Você seria capaz de repetir esses três nomes agora? Não, mas é claro que conhece — e muito — o de Galileu Galilei que, dois anos depois, pegou o fabuloso instrumento e revolucionou a ciência... virando-o para o céu! Só isso? Bem, ele deu uma guaribada no bregueço... e bolou mais outros babados, deixando a trinca holandesa mais ou menos como o cientista da anedota ao dizer numa entrevista, revoltado: “Quem inventou o limpador de para-brisa fui eu. O americano só fez botá-lo do lado de fora!”
Copérnico já falava em heliocentrismo, mas escondera a conclusão com medo da Igreja, enquanto o mesmo Galileu do telescópio – apesar de medo igual - PROVOU (ao descobrir, com esse bendito aparelho, quatro luas em Júpiter) que a Terra não é o centro do universo.
Como se explica, então, toda a fama do filósofo francês pela frase “Penso, logo existo?” É o mesmo problema de Feininger e seu quadrinho, que Lichtenstein ampliou.
Bertrand Russell:
Como escapamos de tanto desvio de informação?
“No mundo civilizado tende-se a pensar que há recursos como o psicólogo para arrumar as coisas. O que este livro diz é que nada se arruma...
Laços & Separações
Domenico Starnone
A foto ilustra a publicação de discurso de Samuel Duarte no número 12 de Paraíba Cultura, revista anual editada para documentar as “Noit...
Escapando de uma foto de província
A foto é do início dos anos 1940, com Samuel Duarte na Secretaria do Interior e Justiça, àquele tempo o cargo mais importante na hierarquia do Estado, logo depois do governador. O Secretário do Interior respondia pelo governador em suas ausências.
Nela reconhecemos, além do secretário Samuel, o professor Emanuel de Miranda Henriques (que está de roupa escura à direita), que viria se destacar como diretor do Liceu no governo José Américo; e José Simeão Leal, (de gravata borboleta) diretor de divisão da secretaria, a Divisão de Serviço Público, cargo que exerceu até 1944. Concentra-se nele, em Simeão, a razão deste registro.
Qual o destino de Aglaia Negromonte? Desdobramento? Fuga da realidade? Delírio? Fênix renascida, vitoriosa sobre os seus medos e suas perd...
Uma corda estendida sobre um precipício
Uma pessoa me aborda na calçadinha da orla com uma conversa que me causou surpresa. Ela diz que fui o primeiro comunicador a fazer debate ...
O piscinão de Ramos
A seguinte frase atribuída admirável poetisa e contista goiana, Cora Coralina - pseudônimo de Ana Lins dos Guimarães Peixoto Bretas (1889-...
A coragem da decisão
Sucessivas gerações lembram com saudade, certamente, dos antigos cinejornais, sobretudo do mais famoso deles, o icônico Canal 100, “o maio...
Quando o futebol ia ao cinema
Para os que não sabem, aquilo que ia, semanalmente, aos cinemas do Brasil era muito mais do que a cobertura dos campeonatos e jogos amistosos. Conta-se que de 1959 até 1986, com um cinejornal por semana, o Canal 100, criação de Carlos Niemeyer com ajuda de Jean Manzon, difundiu 70 mil minutos de imagens sobre os principais acontecimentos jornalísticos de sua época.
Vida e morte são o continuar dos passos o ir e vir para não se sabe onde. A única diferença é que, no fim, não se poderá mais...
O ir e vir para não se sabe onde
Meu colega escritor Ariano Suassuna e eu sempre tivemos uma atração muito especial por doidos e mentirosos. Vejam só como a mentira está ...
A mentira e o mentiroso
Vejam só como a mentira está no nosso dia a dia. Vocês acreditam que nós, humanos, viemos do macaco, não é? Mentira. Na verdade, nós temos um ancestral comum que viveu na África há mais de 6 milhões de anos. Temos 90% de compatibilidade de genes com os macacos, mas não evoluímos deles, taok? Podem ler a teoria da evolução de frente pra trás e de baixo pra cima que não irão encontrar uma linha afirmando o contrário.