Fui reencontrar a cidade das minhas relações, amizades, camaradagens ou dos meus respeitos nesse 2º livro de memórias de Haroldo Escor...

Memória de Haroldo ou da cidade?

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Fui reencontrar a cidade das minhas relações, amizades, camaradagens ou dos meus respeitos nesse 2º livro de memórias de Haroldo Escorel Borges. E voltei a me ver no que sempre fui sem forçar a natureza: justamente aquilo que na cultura do meu interior brejeiro as comadres e compadres chamam de “uma pessoa dada”, que se dá com todos. Eu.

Uma mostra: nas páginas que ele consegue enumerar, nome por nome, os moradores do seu tempo no Miramar de Dorgival Terceito Neto, Wilson Cardoso, Genival Luis Pereira, meu dileto amigo Benedito Belo, numa lista sem fim de A a W, vejo-me dando um banho. Se chamassem todos à janela na hora da minha caminhada, eu só perderia para Damásio Franca que, no âmbito de sua classe, entrava sem pedir licença em todas as casas. Mesmo nas dos adversários da política, iguais entre si no clube Cabo Branco.

Num livro de 350 páginas (Ideia editora) há leitura para os remanescentes do seu e do meu tempo e fonte de pesquisa sobre a educação em todos os níveis, da escola primária à Universidade, onde o autor teve papel destacado como professor e diretor do Instituto Central de Ciências Biológicas. Vultos da Paraíba, religiosos na capital, vida esportiva vêm se juntar ao perfil biográfico de um pessoense que assistiu, participou e viveu o crescimento da cidade dilatada a partir dos anos 1950, em demanda do mar. E aderindo de corpo e alma a esse crescimento.

Conheci Haroldo no Cabo Branco, no hall da sede central entre a Duque de Caxias e a Peregrino de Carvalho. Era ali um canteiro de quase todas as boas mudas que pegaram no meu terreiro de húmus brejeiro. Ali conheci e conquistei a amizade abonadora de Celso Mariz, um velhinho lindo, sempre de cabelos brancos, que tratava as pessoas por tu, mesmo a Ernani Sátyro no governo.

Haroldo, um troncão de homem, trigueiro de sol e sal das nossas praias, das quadras esportivas, das pescarias, das urtigas traiçoeiras dos cajuais da restinga, e que chegava todo dia no mesmo horário de minha descida do jornal, quase em frente, para me deliciar no café do clube conservado quente na marmita mergulhada em água fervente.
IBGE
Esse portal do clube era o símbolo, o anel no dedo, do espírito pouco eufórico do pessoense. Na primeira oportunidade, quando me foi dado colaborar na belíssima edição de “Paraíba, a cidade, o rio e o mar” levei o japonês da Editora Manchete a gravar o portal do clube com seus personagens esquivos cativos em página duradoura. O portal ainda resiste fechado, sujeito a incêndio, mas as gravuras, se bem feitas, sempre renascem.

Em boa parte do livro Haroldo Borges sai de si, da memória pessoal e familiar, para registrar o contemporâneo, esse contemporâneo que o historiador, vendo de cima, esforça a imaginação para entrar. Coisa pequena, quando a curiosidade não tem muito futuro como a minha, mas como satisfiz minha admiração por Arthur Aquiles, o grande condutor de espíritos, ao ver no livro de Walfredo Rodriguez a rua e o número de uma das casas onde morou o diretor de O Comércio. Foi em época de sua influência que se plantou e formou a geração de Augusto dos Anjos, de Coriolano, de Celso, de Rodrigues de Carvalho, de Órris, a que não faltou a figura de José Américo.

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