Escrevo esta carta aberta a meus alunos depois de quase 40 anos dedicados à docência em várias Universidades brasileiras (UFPB, UFCG, USP, UFPA, UFOP, UFPE e UFBA) e do Exterior (como as canadenses McGill University, Laval University e University of Alberta; a Colorado School of Mines, no Colorado, Estados Unidos, e a Luleo University, na Suécia).
Vocês não desconhecem que já exerci diversas funções na Universidade Federal da Paraíba e na Universidade Federal de Campina Grande, como coordenador de Pós-Graduação, coordenador de Infraestrutura e Informática, Chefe de Gabinete e Prefeito Universitário. Também prestei serviços de consultoria à Companhia Vale do Rio Doce; à Mineração Rio do Norte; à Anglo American Mining Co.; à CIMPOR - Cimento de Portugal; à LaFarge Cimentos; à Caraíba Metais; e à RIB - Rutilo e Ilmenita do Brasil.
Universidade Federal de Campina Grande UFCG
Mais uma vez, o destino me reserva esta honraria: a de agradecer aos jovens que, como eu, há 43 anos, saía dos bancos da Escola de Minas de Ouro Preto (MG), cheio de sonhos, para entrar num outro mundo, onde impera a competição e onde também apenas sobrevivem os mais fortes lutadores, os que reúnem força e determinação para vencerem.
Escola de Minas de Ouro Preto (MG) UFOP
A decisão de vocês, escolhendo-me como motivo de homenagem, muitíssimo me comoveu. Mas evito seguir, aqui e agora, o já arraigado costume de, num momento como este, afirmar-se que "não mereço tanta honraria". Se afirmasse isto, estaria constrangendo, estaria embaraçando todos aqueles que tão gentilmente me apontaram como digno de receber a presente distinção. Estaria igualmente maculando a regra da preferência demonstrada por vocês, meus alunos. E da mesma forma insultaria os autores de um gesto tão criterioso quanto espontâneo. Sim, porque, usando um lugar-comum, toda falsa humildade não passa de hipocrisia.
Thompson Mariz e Eduardo Jorge Bonates
Acervo do autor
Acervo do autor
Infelizmente, não tenho conhecimento de tudo, para dar-lhes uma aula magna propriamente dita. Por isso, vou procurar transmitir-lhes um pouco da minha experiência como engenheiro de Minas, professor e cidadão. Assim, portanto, permitam-me um agradecimento inicial, seguido de uma reflexão e de algumas palavras sobre minha própria experiência de vida.
Tomo emprestado de Jorge Luís Borges, para epígrafe, uma frase do conto “A Biblioteca de Babel”, em que o genial escritor argentino anotou: “A certeza de que tudo já está escrito nos anula ou faz de nós fantasmas”.
Dito isto, vem o agradecimento ao Reitor da UFCG, Thompson Mariz, que, por suas próprias mãos, me trouxe para exercer cargos de relevância, desde as elevações topográficas de Campina Grande até as longínquas planícies de Cajazeiras, a "terra que ensinou a Paraíba a ler", de forma que pudesse me realizar como administrador público.
Campus de Cajazeiras (UFCG - PB) Acervo do autor
Como Reitor, foi de dedicação franciscana, havendo que frisar aqui, igualmente, a inquestionável transparência de seu caráter, de sua competência, de sua inteligência, com a necessária habilidade em adequar seu fazer ao lado prático e funcional do magistério superior e da administração universitária.
Thmpson Mariz PMCG
Estas reflexões fazem parte de uma discussão mais ampla de Universidade, particularmente as Universidades Federais. Neste momento, encontramo-nos diante de grande desafio, que é o de pensar criticamente as Instituições oficiais de Ensino de Terceiro Grau, com vistas às circunstâncias do Brasil de hoje. Já dizia o antropólogo, professor e político Darcy Ribeiro, estudioso da formação do povo brasileiro, tendo sido o primeiro Reitor da Universidade de Brasília: “Criar uma Universidade é privilégio extraordinário, provavelmente o mais honroso e gratificante de um trabalhador da Educação. Mas é, também, o mais desafiante, tanto pela complexidade do tema, como pela tentação de, criando sobre o vazio, sair a propor utopias desvairadas”.
Nada se compara, porém, a esta extraordinária aventura. Ela envolve, por um lado, o balanço crítico e rigoroso da experiência universitária em todos os níveis e, por outro, uma avaliação das tendências presentes de desenvolvimento da civilização, porque é no âmbito desta que a Universidade opera, como instrumento superior de domínio e transmissão do Saber, itens nos quais ela se funda.
Universidade Federal da Campina Grande UFCG
Daí termos criado três "campi" em regiões distintas do Estado: Cuité, Sumé e Pombal, levando em consideração as zonas de exclusão do Ensino Superior na Paraíba — e simplesmente dando oportunidades iguais a todos aqueles que alimentassem a legítima pretensão de se submeter a um curso universitário, da mesma forma que vocês, que ora concluem mais um ciclo de suas vidas, na maior parte dos casos com inauditas dificuldades.
Se não bastasse isso, foi construído um novo "campus", dessa feita no município de Sousa, e realizados inúmeros melhoramentos de infraestrutura elétrica, hidráulica e de informática em todos os outros "campi", como ocorreu nas cidades de Campina Grande, Patos e Cajazeiras. Não ficamos apenas nisto, vez que construímos quase 150 prédios, mais que dobrando a estrutura original da Universidade. Tudo isso serviu para melhorar significativamente as condições de Ensino e Pesquisa desta nova Universidade. As vagas do Concurso Vestibular foram duplicadas, bem como o número de bolsas de estudos.
Campus de Sousa (PB) UFCG
Com efeito, a pergunta é: será que estamos de fato preparados para transitar nesse novo milênio, sem percalços? Como a civilização emergente é baseada nas ciências básicas e nas práticas tecnológicas em geração nos nossos dias, seu domínio e o ensino adequado dessas mesmas disciplinas tornam-se condições essenciais, a fim de não nos atrasarmos mais uma vez na História.
Campus de Cajazeiras UFCG
Como se vê, nada mais grave que o democratismo desenfreado de uma Universidade insolvente, em que ninguém deve contas a ninguém sobre nada. Ela só serve para acobertar a preguiça e a indolência. Uma Universidade só alcança êxito quando se organiza em equipes; quando, conduzida por lideranças intelectualmente respeitáveis e com a consciência de que não são todos iguais, se instale uma convivência responsável entre os professores, a fim de tornar possível o estabelecimento de uma teia de expectativas recíprocas, o que permitirá a cada professor, segundo a experiência de cada qual, realizar seu papel.
Já me aproximando das linhas finais desta carta, agradeço a todos os alunos que passaram por mim ao longo, repito, desses quase 40 anos. Dizem que "conselho só se dá a quem pede". Mas, se me escolheram para ser homenageado, sou tentado a acreditar que tenho licença para dar alguns ou fazer uma ou outra observação. No passado, as pessoas escolhiam sua futura profissão com base na dos pais ou na perspectiva de que iriam ganhar muito dinheiro, sem considerar o prazer pessoal.
Campus de Cuité (PB) UFCG
Somos filhos do tempo e produtos da História. Todos nós resultamos de uma complexa teia de circunstâncias, que, por exemplo, nos possibilitaram estar na Universidade. Inúmeras e incontroláveis situações poderiam ter separado nossas existências. Felizmente, elas não ocorreram — pelo menos para nós.
Domingos Pellegrini
@facebook
Ao vê-los vencendo na profissão escolhida, penso exatamente o contrário deste desencontro. O universo está em completa expansão; existem milhões de estrelas e um sem-número de galáxias, onde, em tese, poderia haver vida. Na Terra, somos mais de 6 bilhões de habitantes em mais de 200 países. No Brasil, somamos mais de 200 milhões distribuídos por 26 estados e um Distrito Federal, com mais de 5 mil municípios. Não creio, sequer por um segundo, que estamos juntos, aqui, no ecúmeno, por mero acaso, por um acidente cósmico qualquer. Havia um projeto para nós, um encontro marcado, ao qual não faltamos. E a vida nunca mais foi a mesma. Certamente, todos vocês também encontrarão um lugar ao Sol a fim de poderem desenvolver suas atividades profissionais.
Edwin Andrade
Sejam todos muito felizes. Proporcionem felicidade, tentando sempre, em seus concretos espaços de atuação, mudar para melhor, tanto sua história quanto a das pessoas que vivem a seu redor. Esses seres que todos somos, pequenos, assustados e inseguros, lançados à própria sorte no Universo imenso e desconhecido, sem saber o porquê, nem o como, aprisionados pela vida em comum, tendo apenas a morte como destino final. Mas, apesar de tudo, não obstante todos os dissabores, "a vida é bela", como diz o título do conhecido filme — e vale a pena ser intensamente vivida! Muito obrigado! Tenho dito!