O professor e acadêmico Milton Marques Júnior promoveu um passeio cultural no dia 25 de novembro, sábado, às 9h, pelas ruas do Cen...

Nas trilhas de Augusto dos Anjos e de José Américo

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O professor e acadêmico Milton Marques Júnior promoveu um passeio cultural no dia 25 de novembro, sábado, às 9h, pelas ruas do Centro Histórico de João Pessoa, percorrendo as trilhas de Augusto dos Anjos e de José Américo. O passeio contou com a presença de alguns acadêmicos e de admiradores das obras dos dois escritores paraibanos. No dia 27, segunda-feira, do mesmo mês, na sede da APL, publicou o livro Ei-lo pulando de uma casa outra, nas ruas da capital: um roteiro de Augusto dos Anjos, nas ruas da Paraíba (João Pessoa: Ideia, 2023).

O título do livro de Milton Marques pode causar estranheza, mas foi pinçado de uma conferência proferida por José Américo na comemoração do cinquentenário do poeta do EU (1934) e que se encontra no livro Eu e Eles ( João Pessoa: A União, 1994). Nas páginas 172 e 173 do livro de José Américo, há esta passagem: “Ei-lo pulando de uma casa para outra, nas ruas da Capital, no beco do Carmo, na Rua Direita, na Rua Nova, na Rua Padre Lindolfo” Rua Direita era o nome da atual Rua Duque de Caxias e não foi invencionice do atilado ensaísta, foi buscar na conferência do autor de vários ensaios consagrados o título inusitado. Augusto dos Anjos morou em diversas casas dessa rua entre os anos de 1908 a 1910, entre elas a que hoje é sede da APL.

José Américo de Almeida e Augusto dos Anjos foram contemporâneos na Faculdade de Direito do Recife, depois de formados vieram morar na capital do estado da Paraíba que, antes da Revolução de 1930 se chamava Parahyba, juntos caminharam pelas ruas do centro da cidade, principalmente pela antiga Rua Direita, onde Augusto morou e deu aulas em colégios que ficavam também situados naquela rua. A respeito desse passeio em conjunto pela Rua Direita, José Américo denomina-o “espetáculo ambulatório”, iam e vinham conversando entre a Igreja da Misericórdia e a Praça do Palácio.

Sobre o poeta, diz José Américo:

“Sua fala era mansa e o gesto sóbrio. Nenhuma preocupação de brilhar. Nunca um transeunte se voltou para nós, estranhando exterioridades que chamassem atenção. Nada de extravagâncias, nem de exibicionismos. Ninguém diria que aquele acento manso e aquele ar tranquilo encobriam uma vocação de clamores e assombros” (p. 168).

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Milton Marques Hélio Costa
Os caminhantes do passeio cultural do dia 25 de novembro tiveram o privilégio de contar com um guia muito especial, profundo conhecedor do EU e das obras de José Américo. Com paradas e explicações sobre as trilhas percorridas pelos dois escritores, pautadas em pesquisas históricas, os “flâneurs” usufruíram um passeio agradável. O sol inclemente de fim da primavera daquele sábado foi amenizado pelas pausas para explicações e récita de poemas de Augusto dos Anjos. A caravana cultural partiu da sede da APL, percorreu a Rua Duque de Caxias do seu nascedouro ao término e a ela retornou. Um café com frutas e sucos foi servido, tudo preparado e organizado pela secretária Tânia Enedino.

Quanto ao livro de Milton, de leitura amena e agradável, compreende uma introdução, nove capítulos, um poema do poeta e crítico literário Hildeberto Barbosa Filho dedicado a Milton Marques Jr., uma carta a Hildeberto em resposta ao poema, conclusão e a iconografia com 50 fotos antigas e atuais da cidade da Parahyba/João Pessoa. A capa, um elemento paratextual, é um recorte de várias fotos da cidade. Há um detalhe interessante nas páginas do livro – ao lado da numeração visualiza-se um diminuto vulto de Augusto dos Anjos como se fosse uma marca de linha d´água. A sombra do poeta se fez presente como no poema “Debaixo do tamarindo”- A minha sombra há de ficar aqui.

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Ainda dentro dos elementos paratextuais, a dedicatória e o sentimento de gratidão expresso às pessoas que colaboraram com informações úteis ao professor /pesquisador. Ao acadêmico e historiador Humberto Mello o autor agradece pela primeira informação a respeito da morada de Augusto na casa onde hoje se situa a atual Academia Paraibana de Letras; ao jornalista Petrônio Souto pelo envio de fotos preciosas do seu rico acervo sobre a cidade de João Pessoa e ao historiador e escritor Guilherme D´Àvila Lins (in memoriam) pela infinda aprendizagem.

Na Introdução, uma observação pertinente a respeito da preservação da memória e do culto aos escritores e artistas que viveram em outras épocas nos países e cidades do Velho Mundo, como Paul Cézanne em Aix-en-Provence e Victor Hugo em Paris. O ensaísta lamenta o pouco caso que os brasileiros dão àqueles que escreveram livros e deixaram um legado literário, como foi o caso do poeta Augusto dos Anjos. Espera-se que o professor Milton Marques tenha dado o primeiro passo para conscientizar o poder público da necessidade de se valorizar nossos vultos culturais.

Augusto dos Anjos viveu apenas 30 anos, deixou um único livro de poesia – EU, mas este livro o consagrou como um dos maiores poetas da língua portuguesa e isso foi reconhecido por muitos críticos literários e por vários escritores, entre eles José Américo de Almeida que, na antológica conferência que se encontra no livro Eu e Eles, fez apologia do Poeta e trouxe contribuições inestimáveis para melhor dimensionar a melhor a sua real importância. Milton Marques reviveu José Américo e fez os leitores retornarem ao livro de ensaios do autor de “A bagaceira” e sorverem o texto de quem conviveu e conheceu de perto o poeta que morou na Rua Direita que deveria, por justiça e reconhecimento, chamar-se Rua Augusto dos Anjos.

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  1. Texto informativo e atual. A professora Neide sempre atenta aos eventos culturais da aldeia, comentando-os com o olhar de quem é do ramo. Parabéns. Francisco Gil Messias.

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