Uma das modalidades de aposta da Loteria Federal é a do bilhete lotérico. Este contém 10 frações e pode ser adquirido em partes ou inteiro. O valor do prêmio é proporcional à quantidade de frações que se adquire. Neste ano de 2024 da Graça do Senhor, um bilhete inteiro custa a bagatela de R$ 40,00, cada fração, obviamente, um décimo desse valor.
Os bilhetes são numerados, cada número com 5 algarismos. São efetuados 5 sorteios que ocorrem às quartas-feiras e sábados. Para ser beneficiado com algum valor além do prêmio principal, pode-se receber prêmios menores,
Com ao advento da Loteria Esportiva, a Mega Sena e outros, essa variante de aposta anda meio fora de moda. O fato é que, após os sorteios semanais, os bilhetes não contemplados perdem totalmente sua utilidade, para mais nada servem. É o tal do bilhete corrido.
Pois meu amigo, minha amiga, é assim que estou me sentindo: um bilhete corrido. Meu tempo passou, ando meio deslocado nesse mundão de Deus, sem utilidade, quase um estorvo. Vou linhas à frente contando um pouco desse drama registrando inicialmente que desde que me fiz presente neste nosso Planeta, e se não me falha a aritmética, foram passados 26 782 dias. Acham pouco? Já vi a Terra dar um pouco mais 73 voltas em torno do Sol e novembro essa trajetória irá se completar mais uma vez.
Acreditei que eu e mais uma turminha de sonhadores poderíamos consertar o mundo. Até que já bem crescidinho resolvi dedicar-me ao magistério, casar, ter filhos; ou seja, me tornar um respeitável cidadão. Pelo menos tentei... Depois de tudo isso, eis-me aqui me sentindo um bilhete corrido. Explico.
Dias atrás visitando filha na capital paulista, fui presentado por ela e o genro com um passeio retrô; ou seja, fui dar com eles um rolê pelas bandas que fizeram parte de meu passado. Fomos à Avenida Paulista, altura do número 900 e imediações, onde, na segunda metade da década de 1970 e na primeira parte da década seguinte, andei gravitando por exigência de trabalho.
Só que, quando finda as obrigações daqueles trampos pesados de doze ou quinze aulas diárias, tive o privilégio de molhar a palavra nos escritórios da Alameda Eugênio de Lima (embaixo do prédio da Jovem Pan) com gente da melhor qualidade. Ah, que falta me fazem esses amigos, esses “doces bárbaros”. Fernando Teixeira (o FT), Portela, Montoni, Aldair, Lourenço, Cibele, Osmar... A turma era bem maior e, para a maioria, a certidão de nascimento perdeu a validade. Foram para outras dimensões, deitar aquelas conversas que eu tanto apreciava.
Foi então que resolvi dar uma subidinha naquelas escadarias de um dos mais conhecidos endereços de nossa pauliceia desvairada, aquele que mencionei linhas atrás. Subi lentamente respeitando as
Ele me olhou espantado, trocamos outras palavras. Na verdade eu começara na profissão uns seis anos antes, mas ali era essa a mesmo diferença no calendário. Desci as escadas na mesma velocidade em que subi. Na calçada uma animada roda de capoeira. Depois fomos a um dos “escritórios” da Eugênio de Lima, decano ali das redondezas. Modificado em nada lembrava o botequim dos meus tempos. Os garçons eram outros, Até o chope parecia ter outro sabor. Tudo por li estava diferente, não me pertencia mais. Tempinho depois, pagamos a conta. Ainda consegui esconder uma lágrima. Que força para escondê-la e não permitir a chegada de outras. Não há dúvidas. Sou mesmo um bilhete corrido.