Um dos maiores escritores portugueses – Fernando Pessoa – disse que o tempo é um instrumento que Deus usou para nos ensinar a convive...

Conviver é dar e semear Amor

amor companheirismo saber conviver velhice
Um dos maiores escritores portugueses – Fernando Pessoa – disse que o tempo é um instrumento que Deus usou para nos ensinar a conviver. Sábias palavras, talvez para o tempo em que viveu esse nome atemporal. Em pleno século XXI – peço licença a esse Poeta-Maior – e afirmo que conviver necessita de novos contornos semânticos.

De fato, nada há de mais belo do que ver dois idosos – pena que não esteja entre eles, ainda enamorados – meninos-velhos de cabelos branquinhos – passeando, de mãos dadas, e olhar no horizonte do
amor companheirismo saber conviver velhice
Micheile Henderson
sonho. O Amor – é claro – é bem diferente... Será? Talvez, não. Porque o Amor mais puro consolida-se; é lapidado pelo mestre tempo.

Prova disso são as mãos deles e o rosto, pois, enquanto entrelaçadas, seguram as próprias estrelas, em seu riso cristalino e alheio a tudo, principalmente ao desamor. Assim como na sábia natureza, são uma velha árvore frondosa, que a tudo assistiu em várias gerações de seres que à sua volta engatinharam, cresceram, beijaram-se, amaram-se até – em breve – partirem.

A vida dá-se, diariamente, em gotas saborosas do tempo. Saber ser velho é apossar-se dessa verdade. O próprio futuro não é mais o mesmo. Por quê? Porque o idoso não é mais escravo do tempo. Agora, ninguém o obriga. Aprende o que quiser, quando quiser, se quiser.

Portanto, conviver é, antes de tudo, dar e semear Amor, – a poderosa alavanca das futuras gerações (perdoem-me se é clichê). É ver, perpassando os sentidos. A audácia dos jovens sempre deveria ser temperada com a maturidade. Desse modo, aprenderiam a descobrir que o símbolo de união cósmica, é saber ouvir o ontem – pode não ser no todo – para
amor companheirismo saber conviver velhice
Julia Amaral
viver o hoje e, principalmente, forjar um amanhã melhor. Mas, a falta de tempo é uma doença moderna, ou melhor, o imediatismo é o pior sintoma de uma sociedade que dá muito mais importância ao ter do que ao ser.

A ninguém importa o brilho das lágrimas no rosto de ninguém (estou errada: também há exceções), quanto mais no rosto de tantos outros idosos. Resta-lhes, portanto, fazer planos embalados pelas últimas esperanças do sol poente e saber que são milhões de pessoas que assim se sentem. Alguém já disse – que o choro da solidão é para dentro. Já o do Amor é exterior, cristalino, transparente como o gosto da felicidade.

A solidão tem cheiros e sons sinestésicos. Chega e – com ela, traz um perfume sem igual, que é indispensável conhecer, o do vazio. Só assim é possível resistir ao abraço dessa estranha amiga, com suas mãos suaves e frias. Ela é muito exigente e egoísta. Tanto assim que passou a exigir nova acepção para a palavra conviver: olhar, mas não ver.

COMENTE, VIA FACEBOOK
COMENTE, VIA GOOGLE

leia também