DESPEDIDA É na transição que me despeço pois outro em torno passa a ter sentido Não que seja felicidade a sucessão de portas, im...

Por detrás de tudo tem o homem

poesia fotografia capixaba vitor nogueira jorge elias neto

DESPEDIDA
É na transição que me despeço pois outro em torno passa a ter sentido Não que seja felicidade a sucessão de portas, imagens, e a nova transparência do Mundo Não saber o nome que se diz quando se está surpreso passa a ser a vida (o recorte de cada adeus é essa bruma triste afastada dos olhos) e algo chamado silêncio ficou atado ao último pórtico onde calamos nossas vozes e partimos, mutilados de nosso amor.

poesia fotografia capixaba vitor nogueira jorge elias neto
Vitor Nogueira


SOMENTE UM PENSAMENTO
Não vou falar o nome das coisas, elas se bastam em sua incompletude Nome e sobrenome do homem, este ser de farpas e paixões O enredo, o embrenhar no azul, é uma busca do eterno no desmedido No ínfimo, substituto da razão, o consolo, o suspiro de alívio Não vou falar o nome das pessoas, elas são muitas e várias em seus tons de voz, de súplicas, de verdades.

poesia fotografia capixaba vitor nogueira jorge elias neto
Vitor Nogueira


O poema não sacia, não é guloseima, é som que não aquece os corpos banidos, não embala o sono sob as marquises que escorrem nas sarjetas irrequieto, rompe o recato do Paraíso dos iguais na farsa O poema é peso morto, daí ser sincero, seu silêncio tomba ídolos e ergue os corpos dos esquecidos. Com um pouco de tinta se desfigura a realidade. Mas a foto, esta criadora de existências, é um escarro, é a verdade. Com um poema se desdiz, pois ele respinga sobre a soberba.

poesia fotografia capixaba vitor nogueira jorge elias neto
Vitor Nogueira


MÃOS BANDOLEIRAS
(escorrer entre os dedos é uma necessidade sagrada) O formato das mãos não se presta a guardar as lágrimas, não comportam sua rebeldia De gestos impacientes, permitem frestas e luz.

poesia fotografia capixaba vitor nogueira jorge elias neto
Vitor Nogueira


A ARTE DO DESAPARECIMENTO
Em algum momento há de se aprender sobre o desaparecimento Os dentes assinam as raízes das coisas (algo desapercebido – o lapidar da esfinge) A vida tem sua fome de glória e guerra pela verdade e estende seu piso até a Terra que nos preenche com a derradeira surpresa.

poesia fotografia capixaba vitor nogueira jorge elias neto
Vitor Nogueira


BLACK
Tudo é casual, até o sentido da vida, o zelo, o olhar. (Eu te trouxe, mas você não me serve mais.) Não cabe em minha tristeza o que não me sustenta, não me dá “likes”. Mas você insiste em estar, mesmo quando desiste da vida.


OUTONO É INSPIRAÇÃO
O outono colorido, as folhas de plástico, a Bíblia sob a vitrine, (receptáculo de minha esperança) As lentes do paraíso, protegidas pela Praia Forte – 3225-4170 e a minha carne, meus ossos, saltando sob os traços tribais E no reflexo da vitrine o homem com seu cigarro, seu celular e sua sensibilidade para com os excluídos.

poesia fotografia capixaba vitor nogueira jorge elias neto
poesia fotografia capixaba vitor nogueira jorge elias neto
Vitor Nogueira


DE VENTO EM POPA
Muitas vezes percebemos o trovão e não nos assustamos com o silêncio da destruição.

poesia fotografia capixaba vitor nogueira jorge elias neto
Vitor Nogueira


SANTO SUJO
Santo, sei do relicário de ossos sem céu e sem teto.


Por detrás de tudo tem o homem.


Vitor Nogueira
Poemas do livro O mais Eu de todos em mim vive me desconhecendo ■ de Vitor Nogueira e Jorge Elias Neto, disponível no site da Editora Cousa.

Nestes tempos de dicotomia nas paixões
Fernando Pessoa, o assumido poeta do EU, sabia que o olhar necessita de um objeto, daquilo em que se depositam o desejo, a angustia, a dor, a febre – e, é claro, a esperança e tudo que a circunda. Inclua nesse rol, a compaixão. Eis a questão tão inequívoca quanto necessária: como, situado neste mundo, pode o poeta abster-se do real e ignorar o que lhe cerca? A dupla Vitor Nogueira – Jorge Elias Neto encara esse real e, cada um com seu olhar – complementares, diga-se -, observa que o mundo não é exatamente o que se mostra: ele é mais intenso, mais vil e mais desigual do que imagens e palavras possam expressar. Daí a necessidade de compadecer-se e agir. A ação em “O mais EU de todos em mim vive me desconhecendo”, num certo sentido, confirma o português Pessoa: a realidade faz com que nos reconheçamos de todos os modos possíveis, e a poesia e a fotografia (ambas de uma beleza crua e essencial, definitiva) podem nos levar muito além, plenas de luz e vida, impelindo-nos a reconhecer que fazemos parte de um mundo que, ao menor descuido, tende a nos abominar e a nos rejeitar.
Estamos, todavia, todos juntos. E, felizmente, para o nosso consolo, com Vitor e Jorge nos guiando.
(Francisco Grijó - escritor)


COMENTE, VIA FACEBOOK
COMENTE, VIA GOOGLE

leia também