O vento e a maré Amo as carícias que estão em tuas mãos, Mas não adianta quereres me reter, Pois, como a areia que busca o in...

Trovejo de paixão

poesia paraibana helder moura
 
O vento e a maré
Amo as carícias que estão em tuas mãos, Mas não adianta quereres me reter, Pois, como a areia que busca o infinito, Vou escorrer entre teus dedos macios, É assim que é. Mudar o que vai em meu coração Equivale a sacrificar o sublime Que ainda habita em mim. Sei que danço entre a amargura E a borrasca no dia seguinte. É assim que é. Sei que sofres com a faca Que está em meus gestos. Admito estas virtudes Tão cara aos civilizados. Mas, reconheço: Sou prisioneiro Da minha própria paixão. E só pertenço ao vento e à maré.



Poema
Queria te escrever um poema, Que afinal declamasse O infinitesimal dos meus afetos. Poderia dizer que sinto, Que trovejo de paixão, Que amo ao meu modo de amar. Poderia dizer que perco noites, Que afundo em sonhos, E que desperto sem razão. Poderia fazer as palavras sorrirem, Com o agônico de tua presença, E o prazer que trazes. Poderia dizer que sofro, Quando navegamos em mares Turbulentos de ódio e desprezo. Queria escrever um poema, E fazer as vogais bailarem, Com os mosaicos de meus sentimentos, E as encruzilhadas de minhas mágoas, E a lava de minhas emoções. E diria tudo. Mas, de que enfim adiantaria?



Amargura
Pensas acaso Que também não tenho amargura? Julgas que entre minhas insônias Não estão teu perfume E os teus acalentados pesadelos? Imaginas que minha perdição É somente riso e fantasia? No merencório das horas perdidas Também medito Sobre o aluvião do destino. E, se tu não sabes, Também sofro. Tenho as feições de pedra, Quando o ar do tempo exige, Mas, carrego em mim, Como tu também carregas, O mesmo sentido da melancolia, Da impossibilidade quântica, Da certeza de temporalidade, Dos sonhos mal desfeitos, Dos horizontes desfalecidos. Se tu não sabes, Também respiro, E amo, e morro.



Palavras sem dono
Aquelas poesias eu fiz pra você, Mas você, por todas e nenhuma razão, Não se reconheceu naquelas palavras. E então aquelas poesias Deixaram de ser poesias para você. Elas passaram a ser simplesmente Poesias para ninguém, Palavras sem dono Que foram exiladas no limbo. Pois, aquelas mesmas palavras Daquelas poesias vadias, Purgadas pelo esquecimento, Elas estão realmente de volta. Estão unidas de uma outra forma, Para compor as mesmas poesias do passado. Pois que se poesias eram, Jamais poderiam deixar de ser. Elas novamente são para você, acredite E esperam que você se reconheça nelas. Ou então elas deverão voltar Para onde nunca deveriam ter saído.

Poemas do livro Breves relatos da paixão, disponível na Livraria do Luiz.

"Esses breves apontamentos não têm a afetação de circunscrever os mistérios da paixão num ensaio definitivo. Muito longe disso. Até faço um alerta: rogo que o leitor não imagine que os versos deste livro são todos forjados apenas por relatos de paixão e morte. Na verdade, são versos, simples versos, que buscam, sem qualquer presunção, certa pretensão de imortalidade, não do autor, mas da magia que só as palavras têm." (Helder Moura)"


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