As rosas estavam largadas na calçada. Num canto, esquecidas, ainda na embalagem, com um laço ao redor. No chão, elas guardavam o vermelho da flor e transpareciam um quê de vividez devido à água da chuva recente, caída no fim da tarde. Talvez as flores, amontoadas no passeio público, tivessem sido atiradas por mãos raivosas, decepcionadas ou tristes. Mais ainda, possivelmente desinteressadas — ou, quem sabe, ainda apaixonadas.
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No chão, o cenário muda. As rosas do buquê triste se despedem do dia e dos braços de alguém enamorado. Caídas, envoltas no plástico fúnebre, esperam a passagem da coleta de lixo. Quem sabe um gari lhes dedique um instante de contemplação e até se negue a arremessá-las no caminhão triturador.
Pobres rosas na calçada. Terão testemunhado que tipo de diálogo? Ríspido? Melancólico? Ou apenas acompanharam um monólogo de amor, ou desculpas seguidas de um silencioso adeus? Foram deixadas cair de lado, e os passos solitários seguiram rumos para lados opostos?
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Flores abandonadas na calçada. Tantos jovens e velhos também o são — tantas vidas sem endereço. Pobres flores sem dono, sem jarro, sem mãos, suspiros ou encantamentos. Condenadas a murcharem longe de olhos de paixão ou gratidão, de dedos cuidadosos, de sorrisos e lembranças.
Passo em frente, vejo as rosas no chão, diante da imagem do inimaginável desleixo por um buquê. Reflito por um instante e logo a mente dobra a esquina, desliza para outras ideias. Lembro que é preciso comprar pão. As rosas esquecidas, mais uma vez, são esquecidas.