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Não há história completa, mesmo nos limites do seu tempo. Na reclusão do sanatório, quando li a História da Revolução Francesa de ...


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Não há história completa, mesmo nos limites do seu tempo.

Na reclusão do sanatório, quando li a História da Revolução Francesa de Michelet, sobre a qual se atribui “uma ressurreição integral do passado”, ainda jovem, julguei sobrepor-me ao desânimo da doença e à mediania de outros leitores do meu círculo. Não demorou muito, eis-me afrontado diante dos cinco ou seis volumes da grande revolução, só que escrita sob a visão hegeliana do socialista Jean Jaurés. Dispersivo como sempre fui, não passei do 2º volume, à espera de ocasião para entrar nos subterrâneos da luta de classe, ponto de vista do militante socialista, eloquente orador, assassinado num café de Paris.

Os blocos de calcário cavados e arrastados penosamente por muques selvagens para terminar no mais suntuoso e melhor conjunto barr...

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Os blocos de calcário cavados e arrastados penosamente por muques selvagens para terminar no mais suntuoso e melhor conjunto barroco “de todo o Estado do Brasil” - que é como “o livro das Grandezas” de 1618 considera a Igreja e Convento de Santo Antônio, da Paraíba – esses blocos continuam comunicando ao visitante de hoje a mesma forte emoção dos que se extasiaram ao subir os três degraus em curva ritmada anunciando o esplendor de arte e cantaria que os esperava lá dentro, em 1609.

De quando em quando volto a render minhas justas homenagens ao editorial, o qual, sobretudo agora, se impõe como fonte a mais responsáv...

editorial jornalismo paraibano
De quando em quando volto a render minhas justas homenagens ao editorial, o qual, sobretudo agora, se impõe como fonte a mais responsável na formação da opinião bem informada, tornando-se, depois da página de vitrine, minha primeira leitura.

Tomei esse caminho na própria A União, muito embora o editorial, escrito pelo diretor ou, em suas ausências, por veteranos da qualificação de Wilson Madruga ou Sá Leitão Filho, fosse costumeiramente a palavra do governo ou o que o governo (então de José Américo) julgasse mais interessante.

A Casa de José Américo está resgatando o que se escreveu sobre o livro A Paraíba e seus problemas , nestes cem anos de presença do li...

jose americo seca paraiba bagaceira
A Casa de José Américo está resgatando o que se escreveu sobre o livro A Paraíba e seus problemas, nestes cem anos de presença do livro na biblioteca brasileira de estudos regionais.

Em sua 1ª edição de 1923, objetivava-se, de imediato, “expressar ao sr. Epitácio Pessoa o reconhecimento da Paraíba pelos benefícios outorgados como solução do problema das secas; perpetuar num livro a história desse esforço redentor.”

Não é todo dia que se diz uma coisa destas: “Só o que nos comove e sacode aumenta a nossa cultura. Há pessoas, por exemplo, e eu me en...

lima barreto literatura negra
Não é todo dia que se diz uma coisa destas: “Só o que nos comove e sacode aumenta a nossa cultura. Há pessoas, por exemplo, e eu me encontro entre elas, que depois de lerem Franz Kafka nunca mais são as mesmas.”

Retomo o livro de Sales Gaudêncio, em sua 2ª edição, “Joaquim da Silva: um empresário ilustrado do império”. No prefácio, o professor Jo...

joaquim silva alagoa nova farinha
Retomo o livro de Sales Gaudêncio, em sua 2ª edição, “Joaquim da Silva: um empresário ilustrado do império”. No prefácio, o professor Joaquim Falcão, da Academia Brasileira, endossa de antemão a ressalva do autor de que “não pretende fazer a biografia de um ‘tipo representativo’ e sim, fazer uma ‘biografia contextual’ (...) atenta às especificidades individuais, sem deixar de valorizar a época, o meio e a ambiência”.

Era a nota que faltava à teimosia de uma crônica que nunca soube como começa e menos ainda como termina. De que procedência, ...

literatura paraibana

Era a nota que faltava à teimosia de uma crônica que nunca soube como começa e menos ainda como termina.

De que procedência, essa nota?

Nos anos setenta animava-me o sonho de leitor literário ou de boa parte dos leitores do gênero de se transpor inteiro na ventura libertária de uma criação superior às rígidas limitações da vida. De superar essas limitações não só esconjurando-as no endereço da consciência social mas ajudando na formação dessa consciência. A sensibilidade que a lógica e a retórica não conseguiram ferir, uma brochura como a que me fez conhecer o escrivão Isaías Caminha mudou profundamente a direção de toda uma vida.

No dia da cidade para onde viemos e com a qual nos transfundimos, ambos no vigor da idade, agora, nesse 5 de agosto de 2023, sai Neiva,...

No dia da cidade para onde viemos e com a qual nos transfundimos, ambos no vigor da idade, agora, nesse 5 de agosto de 2023, sai Neiva, José Neiva Freire, de vida completada para o descanso eterno; e saio eu, passando do tempo, a vagar do meu tugúrio por ruas de pouca fala, frontais caídos iguais ao meu, e janelas sem amizades, bons-dias nem saudares. Tempo virá de muita casa e pouca fala.

João Pessoa demorou três séculos e meio presa ao rio e de costas para o mar. Rio que alguns traduziam como mau, imprestável, pouco pisc...

paraiba parahyba do norte joao pessoa
João Pessoa demorou três séculos e meio presa ao rio e de costas para o mar. Rio que alguns traduziam como mau, imprestável, pouco piscoso, e outros viam, pelas mesmas raízes, como braço de mar ou água que com o mar se confunde.

De qualquer modo, veio do rio o nome da terra. Foi nele que navegaram o índio, o colonizador fidalgo ou degredado, as armas, os mantimentos, os materiais de construção, inclusive as pedras trazidas do Rio de Janeiro para calçar a Rua Direita, além de outros importados menos grosseiros.
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Saulo Romero de Andrade
Suas águas mansas coalhadas de lama foram portadoras do açúcar, do fumo, de todas as cabotagens atraídas para uma das capitanias mais prósperas do começo do século XVII, a Parahyba.

Faz tempo, muito tempo, que não leio o céu com esse nome. Foi como aprendi a chamar a abóbada celeste que cobria de luz ou de estrel...

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Faz tempo, muito tempo, que não leio o céu com esse nome. Foi como aprendi a chamar a abóbada celeste que cobria de luz ou de estrelas o sítio lá de casa.

Era assim que ouvia de minha mãe, não com o céu amojado de chuva a castigar a lama do brejo ou dos mangues, mas com o amplo e infinito céu bem aberto, pleno de claridade, em condições de acolher todos os sonhos ou esperanças.

Algumas coisas que, a meu pensar, poderiam ter bom futuro na Paraíba, os minérios, por exemplo. Fala-se muito do algodão que, com o gad...

minerio paraiba economia
Algumas coisas que, a meu pensar, poderiam ter bom futuro na Paraíba, os minérios, por exemplo. Fala-se muito do algodão que, com o gado, encontrou na campina extensa que deu nome à grande cidade o maior centro brasileiro de comercialização do produto. Os teares ingleses não viam distância, como os americanos na era da agave.

Uma entidade de sorte o DER. Sorte não só em desígnios ou no devotamento e inteireza dos seus recursos humanos, como em poder descor...

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Uma entidade de sorte o DER. Sorte não só em desígnios ou no devotamento e inteireza dos seus recursos humanos, como em poder descortinar e sentir, no mirante de 77 anos, a completude do seu trabalho. Não há hoje uma cidade sem acesso às vias principais de comunicação.

Vejamos se me explico: menino de dez anos que passou pelo estranho desconforto de engolir a poeira da estrada central sem fim do Estado, desde os grotões do meu Brejo, passando por Cajazeiras, e daí ao Juazeiro do Padre Cícero, e que vêm dar título ao livro-álbum que requalifica a história da instituição: TRILHAS, VEREDAS E CAMINHOS interligando vidas.

Particularmente, não tenho de que me queixar. Uma pessoa de hábitos e haveres comuns, guindada a um ofício dos mais perecíveis, não h...

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Particularmente, não tenho de que me queixar. Uma pessoa de hábitos e haveres comuns, guindada a um ofício dos mais perecíveis, não havia de obter mais favores da gente letrada e do público - e por mais tempo - do que este pequeno caboclo que, por acidente, foi colocado nas santas mãos de D.Antonina Freire Ibiapino, tornada Rodrigues depois de deixar as vestes de beata e casar com Manuel Avelino, construtor braçal de uma engenhoca nos fundões entre Areia e Alagoa Nova.

Foi uma noite como poucas a que vi ontem no ânimo emocional dos oradores e dos que prestigiaram a posse de Tarcísio Pereira na Academ...

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Foi uma noite como poucas a que vi ontem no ânimo emocional dos oradores e dos que prestigiaram a posse de Tarcísio Pereira na Academia.

Foi o primeiro dueto discursivo a que assisti mais do que ouvi, ajudado pela vibração de algumas palavras chaves que legendavam o rumo dos discursos. Tarcísio aplaudido a cada página (e não foram poucas), Hildeberto Barbosa vibrando a cada achado surgido ou rebentado dos muitos talentos do escritor, ficcionista e de franco e reconhecido domínio nas artes dramáticas.

Era verdadeiramente um bosque, que começava nos sítios que escorriam para a Lagoa e vinham ondular-se nos baixios de mangues conto...

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Era verdadeiramente um bosque, que começava nos sítios que escorriam para a Lagoa e vinham ondular-se nos baixios de mangues contornado hoje pela avenida Ayrton Senna. Era como este bosque de Tambiá se apresentava a quem vinha menino do sertão, convertido cedo no professor Coriolano de Medeiros, quando plantou seu preciosíssimo “Dicionário Corográfico”, em 1911. Que livro nos legou!

Eis o meu testemunho sobre Arnaldo Tavares . Testemunho remoto e vivo de quem nasceu no meio da bouba, de quem, inocente, foi levad...

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Eis o meu testemunho sobre Arnaldo Tavares. Testemunho remoto e vivo de quem nasceu no meio da bouba, de quem, inocente, foi levado a mudar de destino e até de filiação para fugir ao contágio da doença que chagava, deformava, abria cravos e feridas, entortava os pés – isto até o dia em que o dr. Arnaldo desceu a cavalo pelo Riachão entre Areia e Alagoa Nova, escalando os despenhadeiros de Bananeiras, e improvisou subpostos rurais no combate tenaz à endemia.

A ideia foi do jurisconsulto e historiador Humberto Mello, há algum tempo convidando-me a rever a Igreja da Guia, tão cercada e gua...

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A ideia foi do jurisconsulto e historiador Humberto Mello, há algum tempo convidando-me a rever a Igreja da Guia, tão cercada e guardada pelos elementos da terra, do mar e do rio da deterioração do tempo e da insensibilidade do homem.

Sou dos que resistem a aceitar como igreja a edificação da Universal que faz vizinhança ao prédio onde moro. Fala-se da imensa for...

igreja universal reflexao conivencia
Sou dos que resistem a aceitar como igreja a edificação da Universal que faz vizinhança ao prédio onde moro. Fala-se da imensa fortuna do seu dono e fundador, da sua mitra inventada, e sem ser um religioso praticante, sem brigar por religião, olho com indiferença, o enorme edifício que vem servindo de templo e de referência ao meu endereço. Nossa antiga empregada, mãe de dois filhos, estava entre os seus adeptos. Morava num fundo de quintal alheio, esfalfava-se em “extras” para mantê-los regularmente na escola pública, mas não relaxava o “dízimo” que, analfabeta, ela dava graças a Deus satisfazer e pronunciá-lo com todas as letras e acentos.

Por que um autor é consagrado e outro mestre do mesmo ofício é esquecido?” Quem fez a pergunta há muito tempo, com acento forte em “me...

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Por que um autor é consagrado e outro mestre do mesmo ofício é esquecido?” Quem fez a pergunta há muito tempo, com acento forte em “mestre do mesmo ofício”, foi um leitor-escritor de profunda vivência cultural, o saudoso Ivan Bichara Sobreira, intrigado com o desconhecimento do público e a negligência da posteridade letrada em relação às obras do paraibano José Vieira, tornado romancista brasileiro a partir de 1923 com o romance “O Livro de Thilda”.

Estava escrevendo para hoje motivado pela criação da Secretaria do Meio Ambiente, quase no mesmo dia em que a TV Cabo Branco serviu, no ...

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Estava escrevendo para hoje motivado pela criação da Secretaria do Meio Ambiente, quase no mesmo dia em que a TV Cabo Branco serviu, no café, a ruína, desde muito exposta, do lugar descrito como nosso Ponto Zero, o Porto do Capim. Porto que serviu à fundação, ao estabelecimento da cidade com o desembarque e embarque de seus possuídos até 1932, quando Gratuliano Brito inaugurou o de Cabedelo.