Era verdadeiramente um bosque, que começava nos sítios que escorriam para a Lagoa e vinham ondular-se nos baixios de mangues contornado hoje pela avenida Ayrton Senna. Era como este bosque de Tambiá se apresentava a quem vinha menino do sertão, convertido cedo no professor Coriolano de Medeiros, quando plantou seu preciosíssimo “Dicionário Corográfico”, em 1911. Que livro nos legou!
Agora, quando já se dispensa livro para entrar na geografia do mundo, ou quando, de um clique instantâneo avisto daqui a rua em movimento onde mora ou trabalha a neta Lays, em Madrid, é que o dicionário de Coriolano ultrapassa os fins puramente geográficos a que se propôs. De dado geográfico passou a relíquia do tempo, da vida em transformação.
Mas voltemos ao bosque do Tambiá, guardado a sete chaves no livro de Coriolano, tão verde e bem mais extenso em sua flora escrita e bem escrita, lavrada a bico de pena.
Bosque do Tambiá (João Pessoa, 1822) IHGP
Ora quem! Uma criaturinha que me faz lembrar outra obra fundamental, “Aves da Paraíba”, de outro grande paraibano, o velho Heretiano Zenaide, migrante do horto precioso que ele cultivou na usina que lhe pertencia, e que o futuro dono não perdeu tempo em conservar quando se apossou da Usina Tanques.
Mª Angélica Yamaguchi
(“Quem está aí? – perguntam lá dentro. / Ninguém não, é o padeiro.”)
Ninguém não, apenas o voo de repetidos e nervosos saltos da lavandeirinha confiada, alegre, “na sua preferência pelos arredores humanos” como a descreve o doutor Heretiano. Tão confiada, bicando os arredores sensuais dessa mulher que Abelardo da Hora nunca supôs viesse enfeitiçar lavandeiras.
Escultura de Abelardo da Hora Rizemberg Felipe
Faltam-me os outros livros do Dr. Heretiano Zenaide: Livrinho dos nossos animais, Meu arbóreo Cariri. Imperioso é que não faltassem aos estudiosos de hoje, às estantes universitárias, às bibliotecas públicas.