Não há história completa, mesmo nos limites do seu tempo.
Na reclusão do sanatório, quando li a História da Revolução Francesa de Michelet, sobre a qual se atribui “uma ressurreição integral do passado”, ainda jovem, julguei sobrepor-me ao desânimo da doença e à mediania de outros leitores do meu círculo. Não demorou muito, eis-me afrontado diante dos cinco ou seis volumes da grande revolução, só que escrita sob a visão hegeliana do socialista Jean Jaurés. Dispersivo como sempre fui, não passei do 2º volume, à espera de ocasião para entrar nos subterrâneos da luta de classe, ponto de vista do militante socialista, eloquente orador, assassinado num café de Paris.
Manoel Tavares Cavalcanti
FUNDAJ
FUNDAJ
Do ponto de vista dos sem-terra, dos que ficaram e continuam à margem da casa grande, colonizador por colonizador não merece troco ou volta. Duarte da Silveira, fundador e benfeitor da Filipeia, entrando com seu bolso na construção do casario inicial, terminou, coitado, aos 80 anos, pagando com a prisão sua não-resistência ao invasor de língua intraduzível.
Li e me adocei com a carta. Concordo com Ademilson José:
“Em poucas linhas (o conde) conseguiu resumir de forma magistral quase que todas as suas obras, e com o mérito também de falar da função ou importância de cada uma no contexto geral (...) e na paralela de tudo isso (...) um profundo desabafo muito bem dosado de lamentações sobre coisas que não pôde fazer ou que não teve como evitar, a começar pela destruição de Olinda que os holandeses fizeram bem antes de sua chegada a Pernambuco”.
A carta, até lírica, vale, sem dúvida, como precioso documento da incongruência humana diante da conquista, da ganância, tanto ontem como hoje, quando, no nosso país de verde abundância capaz de alimentar o mundo, os 2 ou 3 por cento com esse poder vivem muito bem e deliciosamente ao lado de 73 milhões de irmãos famintos.