As velhas casas escoam seus sapatos a cada chuva, a cada partida Mas há um íntimo que perpassa a ausência: O peso da...
Ao farfalhar das sombras
QUANDO ESTENDI SEU CORPO NA AREIA Não sei mais de nada. O infortúnio é próprio da falta de sentido. (Ou será a fortuna...
O mito é o pássaro que sobrevoa a tarde?
Não sei mais de nada. O infortúnio é próprio da falta de sentido. (Ou será a fortuna de ter te conhecido sob o efeito do álcool?) A razão são as estrias que acumulamos na pele, e descamam a cada verão escaldante. Quando estendi seu corpo na areia, à semelhança dos fósseis, um outro tempo dizia qual o nome e o motivo de nosso encontro, e o quanto de surpresa preencheria o vazio de nossa existência.
Falo agora do seu silêncio, dizendo: se afasta de minha boca Eu queria me recordar, mas o vazio tem a força que aspira os sonhos, e a memória é um tempo perdido no não encontrar o seu abraço (O cinza não suporta o negro das noites e seus redemoinhos) Não aceito esta morte, perder o amor arrebatado do paraíso do seu nome, e a balança que rege as mãos, e o sentido dos gestos, a mentira de rosto limpo nas manhãs de paz Não quero ser obrigado a parar a noite, uma parte constrita de minha existência pertence ao desespero de sua sombra Eu me curo no tardar de sua partida.
Meu irmão tinha uma mala de livros um dia ele a abriu na minha frente e partiu para o desmedido entrei na mala e me cobri com as páginas de seus sonhos.
Os restos de ontem combinam com os corpos de outras eras. São os mesmos mortos, as mesmas taças, o mesmo desperdício. A tradição das luvas e das meias, as fendas na carne, as porções de nozes sobre a mesa e as varejeiras, tranquilas, sobre os castiçais
Eu não saberia dizer, estou atordoado, pisar o sem fundo das casas, entrar pelos telhados na vida das pessoas, saber os muitos tons da verdade, que a terra engole a fala dos homens e os aniquila com esse funil de lama tragando o ar e a voz de Minas. O mito é o pássaro que sobrevoa a tarde? Não, isso é poesia, e estou falando da morte.
A CASA QUE ME RECEBEU DE PÉ Olhá-la sobre os ombros da primeira mulher Depois do gosto do leite, o pão, o ovo frit...
Alguma coisa chamada cor
Olhá-la sobre os ombros da primeira mulher Depois do gosto do leite, o pão, o ovo frito na manteiga - a saciedade Cantos escuros, lascas de madeiras e a correria das formigas nos tacos brilhantes E o erguer-se, esse simulacro de liberdade das patas A primeira janela, o canto das Nereidas, e o enigma da luz (Ficou, de fora, a promessa do azul)
MANUAL DA ARQUITETURA DO VAZIO “ Os quartos por onde eu deito são pedaços de parede ” (Roberto Almada) Divida a casa por circuns...
A simplicidade do sótão disfarçando a imensidão
CAMINHAVA-SE e o não distante, retinia nos bolsos. (não se atropela com passo inútil a promessa do broto de amanhã) ...
No silêncio das cinzas
e o não distante, retinia nos bolsos. (não se atropela com passo inútil a promessa do broto de amanhã) Retiniam nos bolsos os cristais, as balas, o despreparo de ser na miséria. Caminhava-se perdidamente, às cegas, tonto de saber-se tonto,
Rotina Convivia-se com a conformidade de ter o universo próximo de casa. O espaço delimitado pelo absurdo traço da co...
No curtume das horas ou nas contas do terço
Convivia-se com a conformidade de ter o universo próximo de casa. O espaço delimitado pelo absurdo traço da conveniência era marcado pelas solas dos sapatos. (e trazia a fotografia do mijo fora da privada) Para o gozo o número era par. Pouco importava a singularidade da morte.
NATUREZA As artimanhas dos grãos perseguindo a eternidade As vozes perdidas no bambuzal O ponteio disperso no ve...
As artimanhas dos grãos
As artimanhas dos grãos perseguindo a eternidade As vozes perdidas no bambuzal O ponteio disperso no verde profundo O despejar no Mundo de chumaços de Pólen O prisma orvalhado nascendo no tear das aranhas O revoar das lanternas noturnas A generosidade da Paz entrecortada de espantos
SILÊNCIO, POR FAVOR A beleza, essa panaceia para o desatino, deixa de lado os seus afazeres árduos de ser exceção den...
Rei do Futebol
A beleza, essa panaceia para o desatino, deixa de lado os seus afazeres árduos de ser exceção dentre a vulgaridade dos dias e se curva diante do Rei do Futebol.
Era longe de um recanto a outro, (custavam anos e atropelos) construí-los, encontrá-los, destituí-los do poder sobre nossa vida A facilidade de idealizar, corromper a decência da crítica, evitar o torpor da certeza das paredes
ÁGUA A água dura o tempo de seu gosto, o reflexo oblíquo do Sol que insiste, o pormenor dos cinquenta tempos do Mundo ...
No rasante da libélula
A água dura o tempo de seu gosto, o reflexo oblíquo do Sol que insiste, o pormenor dos cinquenta tempos do Mundo no rasante da libélula É esta água, repasto de surpresas, não a mesma, sempre a mesma, dispersa no azul redondo Água que transborda e cessa, recria e arrasta, carrega o som e derrama o silêncio
Domingo. Sol à pino. Dia da final da copa do mundo. Brasil torcendo pela Argentina? Muitos farão isto, justificando que o Messi merece...
O corredor do absurdo
Mas o inusitado perpassa a vida, mesmo para os que insistem em considerar possível manter-se “isentos” dentro de sua bolha do “paraíso terrestre”.
Trânsito lento na mão oposta em frente a UFES. Uma corrida de rua, de um homem só.
POST SCRIPTUM Podia imaginar um doce espírito ter o brilho secreto de um anjo derramando no absurdo o sem juízo de seu...
O brilho secreto de um anjo
Podia imaginar um doce espírito ter o brilho secreto de um anjo derramando no absurdo o sem juízo de seu nome, qual fosse um simples manto pousado sobre a encosta, em um abismo, (refúgio e temor do ser humano), e o som, o eco, derradeiro grito, mantra de entrega de seu corpo manso (Não se disfarça, se acolhe o aflito salto na intimidade do infinito, daquele que sem asas faz seu voo) “mais tarde”, sem sentido e agudo silvo, remanso que não cabe ao corpo hirto e o baque do soneto no abandono.
Sou filho de Lourdes, migrante nordestina, natural do sertão do Rio Grande Norte. Para os oriundos da adversidade, não tem cantilen...
De seus heróis sertanejos
O mundo em um “livrinho” Adentro, com pés trocados, este novo livro de José Augusto Carvalho. Faço isto, ao molde dos indíg...
José Augusto Carvalho, o mestre dos subversivos
ODE À BANDEIRA Para Jorge Tufic Nosso foco míope, nesse setembro escarlate ‒ com suas horas retintas ‒ igno...
Ode à bandeira
Para Jorge Tufic Nosso foco míope, nesse setembro escarlate ‒ com suas horas retintas ‒ ignora a aurora despreza a lona do circo austral de estrelas impregnando o azul da Nação com a face perdida na orgia. E, essa, desfigurada revisita seus mortos homens pássaros plumagens poesia desgastada. E estendida a flâmula sobre o bastião da América ensaia o remendo do pavilhão desfeito.
Manual de consulta breve sobre a diversidade de homens nascidos no ventre da Mãe Terra Olhos que se abrem inocentes não tardam em ...
Sobre a diversidade dos homens
Retalham o em torno lançando farpas no vazio da mente.
Algumas casas Algumas casas despertam, outras avisam, sem saber, algumas nos entopem o ouvido com sons que queríamos es...
Cicatrizes da cidade
Algumas casas despertam, outras avisam, sem saber, algumas nos entopem o ouvido com sons que queríamos esquecer. Algumas casas tem algo de servidão, deixam tapetes a espreita de nossas urgências. Algumas, mesmo que inocentemente, nos seduzem. Já outras se transformam em arrependimento. Casas, muitas agora, não dizem nada, são cicatrizes das cidades - certezas do absurdo.
Névoa, resto que me permito de lucidez Vê-se que o rio é lento e a violência com que lança o corpo do homem carrega uma...
Névoa
MULHER AMARGA-VIDA Esse olhar suspeito em meus peitos ― maravilhas americanas ― sob listras nacionalistas se confunde ...
Anotações sobre os super-heróis
Esse olhar suspeito em meus peitos ― maravilhas americanas ― sob listras nacionalistas se confunde enquanto, alucinada, rodopio e visto minha tiara não sou sexo, não sou foda sou a sádica do chicote por fora dourada e dentro uma TPM do cacete.
Suicida Autêntico, me interrompo, e quando leres estes versos não saberei de meu êxito. Histeria Recordo esse cort...
Breve dicionário poético da loucura
Autêntico, me interrompo, e quando leres estes versos não saberei de meu êxito.
Recordo esse corte, essas cicatrizes repetidas, e a milimétrica cautela de preservar espaços vazios. Desabo contorcido na gratuidade dessa inconsciência fingida.
Pago e me deito para contemplar meus vazios. Pago e me destruo para ser aceito. Pago minutos lacanianos de suspense e lágrimas. Pago, e sou interrompido na súbita solidão do divã.
Eis meu presente: esse falso (re) pouso.
O abrupto medo – temor –antecipado dos olhos, dos homens.
O minuto dividido em sessenta pressentimentos.
Tampar o rosto eufórico para enxugar uma lágrima de desespero. * transtorno afetivo bipolar
Não interromper o ato continuo de repetir. * transtorno obsessivo compulsivo
Passos apressados, peito apertado, – arfante– no instante imperfeito, no contínuo suspiro que se arvora .
Malhar os músculos, dar uma mijadinha e alisar o cabelo com a mão suja do pinto.
Plantar balas para brotar drops
"... o silêncio é uma espessura." (Francisco Bosco) Encontre um tecido, qualquer papiro, revire essas coisas mirabulosas, - as páginas ávidas de luzeiros -, derrame o risco, desfaça-se em crostas. O mais é o menos desejado - míope de poesia, ruína, passo inútil, essa miragem na imensidão, acinte, avidez da boca, verdade fútil. Mora, remora, demora e vai, perseguindo o silvo do ignorado, pio despido, vazio entornado. Vadio silêncio, tinta incrustada, no inaudito desmundo de um nada, que reveste tudo, ladrilho, estrada.
A sombra do zero O que contorna o início o preenche? E se o vazio diz seu nome, ele resvala ou já é abismo? A luz o desfolha...
A sombra do zero
O que contorna o início o preenche? E se o vazio diz seu nome, ele resvala ou já é abismo? A luz o desfolha ou não existe um porquê que deslize? Pode haver morno na essência do nada? O dentro e o fora cabem ou se perdem na desesperança?