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Eu preferia o cavalo verde do carrossel Maia. Nunca entendi por que essa preferência pela cor. Havia um giro de fantástica ousadia, a e...

nostalgia carrossel roda gigante festa neves
Eu preferia o cavalo verde do carrossel Maia. Nunca entendi por que essa preferência pela cor. Havia um giro de fantástica ousadia, a empanada do brinquedo em listas largas, as crianças sorridentes montadas nos corcéis, subindo e descendo, a fila cada vez mais se estendendo, nas tardes de domingo no parque. Jacob do Bandolim tocando nas amplificadoras, o som saindo do vinil, atingindo o alto-falante grande no alto do poste. Havia montanha-russa movida a gasolina, canoas, rodas gigantes alçando sonhos ao alto, bolas de oxigênio inquietas amarradas em linhas de costura, namorados passeando, cachorros-quentes, maçãs do amor, amendoim confeitado. E muito mais: três ou quatro pavilhões enfeitados, superlotados, bilhetinhos tímidos de amor levados pelas garçonetes para as escolhidas dos frequentadores.

Foi uma cena emocionante: passei por uma meninota; ela me sorriu. Voltei e logo a mãe desgastada, a pele amarrotada, os cabelos descuid...

boneca vovo
Foi uma cena emocionante: passei por uma meninota; ela me sorriu. Voltei e logo a mãe desgastada, a pele amarrotada, os cabelos descuidados se achegou. Saiu daquele beco que une a Praça Rio Branco à General Osório. Naquele fiapo de ruela a que aludi, entram muitos veículos e pouco de calçada sobra para os transeuntes.

Vencíamos os degraus de acesso ao Grupo Escolar “Thomaz Mindello”. A farda: camisa branca e calça azul marinho tinha as iniciais do edu...

escola primaria reminiscencias
Vencíamos os degraus de acesso ao Grupo Escolar “Thomaz Mindello”. A farda: camisa branca e calça azul marinho tinha as iniciais do educandário bordado na gravatinha: GTM (gato tomando mingau).

Zombavam delas, mas, mesmo crianças, nos orgulhávamos em sermos estudantes naquela casa de saber. Dentro era o alvoroço dos alunos ocupando as salas, enquanto não chegava a professora. Esta impunha o toque de recolher. O silêncio.

Maquiada a capricho, os cabelos vastos arrumados, soltos, em ondas bem acentuadas, livres. O olhar voltado para o verde aguardado. ...

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Maquiada a capricho, os cabelos vastos arrumados, soltos, em ondas bem acentuadas, livres. O olhar voltado para o verde aguardado. Um verde que poderia tomar outra tonalidade, dependendo da coloração do diálogo previsto, da confirmação do enlace previsto.

Ocorrem fenômenos nas máquinas que, ao contrário do que pensamos, não são tão desumanas assim. Bastante tratá-las com jeito, sem se ...

computador informatica internet
Ocorrem fenômenos nas máquinas que, ao contrário do que pensamos, não são tão desumanas assim. Bastante tratá-las com jeito, sem se colocar no alto de nossa frágil significância, porém procurando torná-las assemelhadas a nós, imagens e semelhanças de um Criador. Temos consciência, em vastidão, para lidarmos com uma ignorante da sapiência da raça humana.

Em Salvador, capital da Bahia, se concentra um contraste de costumes, arquitetura, folclore, enfim, vivências e convivências. A primei...

bahia salvador turismo brasil
Em Salvador, capital da Bahia, se concentra um contraste de costumes, arquitetura, folclore, enfim, vivências e convivências. A primeira Capital do Brasil arrebanha costumes e tradições trazidas tanto da Península Ibérica quanto da África.

Não sabiam que Alberico ganhou na loteria? Pois, dormiu entre bugalhos e amanheceu na agência para conferir o sorteio. Fora-lhe favoráv...

conto loteria azar
Não sabiam que Alberico ganhou na loteria? Pois, dormiu entre bugalhos e amanheceu na agência para conferir o sorteio. Fora-lhe favorável. O senhor está passando mal? Caiu pálido e trêmulo. Trouxeram-lhe um café esperto. Quando foi recobrando o sentido e reorganizando as forças, abriu um sorriso, saiu dançando rua afora, amassando a paisagem, deglutindo os favos oferecidos pela novidade. Está totalmente biruta. Quem diria? Alberico que fazia bicos e comia em cabresto curto com a família grande, agora ficara fora do mundo, atacado, quem sabe, por essas esquisitices e transtornos.

Podem considerar um desperdício tratar de galinhas numa crônica. As criações de quintal estão sumindo. Em regiões rurais são mantido...

criacao galinha galinheiro amor animais
Podem considerar um desperdício tratar de galinhas numa crônica. As criações de quintal estão sumindo. Em regiões rurais são mantidos os bichos e aves em convívio. Prevalece o espírito de cultura da fauna doméstica.

Os tímidos se ocultam dos holofotes e se escondem de ovações. Li em ”O Homem Medíocre”, do filósofo argentino José Ingenieros, o libe...

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Os tímidos se ocultam dos holofotes e se escondem de ovações. Li em ”O Homem Medíocre”, do filósofo argentino José Ingenieros, o libelo contumaz a descrever os tipos que não se aquietam enquanto não recebem o incenso de elogio fácil. Ele cita do mais popular humano aos entronizados no poder, nas artes, na política, enfim, nas diversas posições ocupadas pelos pobres mortais. É um estudo de fôlego.

      Ameaça quando há noites em manhãs e tardes chicotes e açoites em lugar de afagos quando se fala em rude linguagem fals...

poesia paraibana jose leite guerra
 
 
 
Ameaça
quando há noites em manhãs e tardes chicotes e açoites em lugar de afagos quando se fala em rude linguagem falsa ternura exala o mau cheiro de lagos parados em lamas ou tingidos de podres encalhes de mortos animais selvagens quando se escurecem reluzentes paisagens se escondem cantares em silêncios doentes quando volteiam cicios e não explosões de falas nem se ouvem assovios é sinal que o silêncio

Jamais esquecerei. Era eu criança, e nossa lavadeira Sinha Vina (Minervina Francisca de Assis). Contadora de histórias, sentada no ...

recordacao infancia convivio domestico
Jamais esquecerei. Era eu criança, e nossa lavadeira Sinha Vina (Minervina Francisca de Assis). Contadora de histórias, sentada no chão, em noites quietas. Morava no antigo Oitizeiro (hoje, Bairro dos Novaes) numa casinhola em barro e palhas. Vinha lavar nossa roupa a pé e voltava. Chamava os ônibus e autos de “besouros” e preferia vir pela Rua da Frente de Cruz das Armas, a trouxa sobre a cabeça, pisando firme; tinha a idade média, deixava a roupa limpinha, cheirosa (lavada com sabão de barra – “Jabacó”).

Uma sombrinha. Mero objeto perdido no último sábado no Mercado Central. Ela escolhendo banana e laranja. Soltou o amparo e se deixou ...

conto feira livre chuva
Uma sombrinha. Mero objeto perdido no último sábado no Mercado Central. Ela escolhendo banana e laranja. Soltou o amparo e se deixou o olhar se encantar com as frutas bem nutridas. Saiu. A chuva recolhida nos pedaços de nuvem sem pingos. Só ameaça. Dona Maria, me dê um bago. Ela surda, pisando o chão lavado pela chuvarada, contando as notas restantes do auxílio, a evitar as poças coalhadas aqui, ali. Carne?' Nem pensar. Cara. A cara de d. Maria era envelhecida, esburacada, franzida. Arrisco, se muito quarenta anos de pobreza.

O quintal apinhado de fruteiras era saudade. Mudaram-se para um apartamento diminuto. Nele cabia o mobiliário, apertado, deixando um...

indiferenca convivencia idoso familia
O quintal apinhado de fruteiras era saudade. Mudaram-se para um apartamento diminuto. Nele cabia o mobiliário, apertado, deixando um labirinto que conduzia à sala em “l”, dois quartos e cozinha. Na varanda não cabia, sequer, duas cadeiras de balanço. Somente a rede que não permitia fosse balançada. Abria-se a paisagem: edifícios longos, parecendo colados um ao outro. No pequeno apartamento de bairro mediano o casal idoso, na companhia de dois netos que criavam.

Trabalhei com Dr. Lucas Suassuna, irmão do imenso escritor Ariano Suassuna, na Assessoria Jurídica da Universidade Federal da Paraíba (...

lucas suassuna ufpb direito
Trabalhei com Dr. Lucas Suassuna, irmão do imenso escritor Ariano Suassuna, na Assessoria Jurídica da Universidade Federal da Paraíba (departamento extinto, há tempo). Ele nos considerava colegas, no mesmo nível dele, nosso chefe. E nós, eu, Luiz Graciano Cabral, de saudosa memória, éramos aprendizes, recém- saídos do forno do Curso de Ciências Jurídicas e Sociais (era o nome oficial e pomposo do Curso de Direito da velha Faculdade, cujo prédio histórico ficava na Praça João Pessoa).

Lembro-me de Chico Belmiro, frequentador de uma roda de amadurecidos, para não falar em velhos, sob as frondes convidativas das folhas...

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Lembro-me de Chico Belmiro, frequentador de uma roda de amadurecidos, para não falar em velhos, sob as frondes convidativas das folhas da Praça Venâncio Neiva a esparramarem tranquilas sombras e frescas brisas vesperais. Reuniam-se pelos puxares dos entardeceres medianos, enquanto se anunciava a chegada da noite com os primeiros frequentadores do Pavilhão do Chá, tomando assento e pedindo a primeira cerveja geladinha.

Chegaram à quitinete com os devidos instrumentos musicais. Era visita de supetão: o amigo morava com os pais velhinhos que, àquela hor...

cronica velhice aniversario
Chegaram à quitinete com os devidos instrumentos musicais. Era visita de supetão: o amigo morava com os pais velhinhos que, àquela hora da noite, já estavam agasalhados. O visitado fora guitarrista de uma banda da juventude transviada. Alberico era para mais de sessenta. A turma nessa média.

Seu Lau e d. Rita moravam numa ponta de rua sem saída. Menino ainda, eu jogava bola de gude na rua sem calçamento. A turminha do burac...

cronica casal musico relacao conjugal
Seu Lau e d. Rita moravam numa ponta de rua sem saída. Menino ainda, eu jogava bola de gude na rua sem calçamento. A turminha do buraco. Gostávamos do espaço da nesga de rua fronteiriço à casa do casal porque era molhada, fofa por um cano soltando água utilizada por Nevita.

Nem se pensava em saneamento. Vinham detritos (os menos desejados e imundos )que escorriam pela ruela enladeirada na maior naturalidade do mundo. Ninguém era tolo para reclamar. O amante de Nevita puxava o revólver e berrava impropérios contra quem se atravesse a abrir o bico ou ameaçar denúncia.

Ela se encantava com o rosto de uma atriz que aparecia na telinha da tevê. Deixava tudo que tinha a fazer e se postava na poltrona, a ...

inveja vocacao relacionamento casal
Ela se encantava com o rosto de uma atriz que aparecia na telinha da tevê. Deixava tudo que tinha a fazer e se postava na poltrona, a olhar a jovem que estava representando por trás do vídeo.

O marido chegava cansado, entrava no banho, cantava seu bolero, vinha à mesa, punha o café e ela entretida com as cenas nem o percebia. Os olhinhos cravados na imagem, procurava imitar o sorriso, os gestos, uma moganga em repuxar os lábios. Um treino diário de que não abria mão, jamais, cada santo dia.

Houve o modismo musical do acordeão. Rara a menina não frequentadora da Escola “Mário Mascarenhas” que se espremia num daqueles becos...

nostalgia cronica sanfona acordeon
Houve o modismo musical do acordeão. Rara a menina não frequentadora da Escola “Mário Mascarenhas” que se espremia num daqueles becos laterais da Miguel Couto e administrada pela competente d. Ozires Botelho Viana. Minha prima Vitória Maria fazia o curso. Ela e as colegas de geração se uniam, umas nas casas das outras, se alternando, a pauta sobre o tripé, os foles murmurando valsas, forrós, boleros. Lembro-me da marca preferida: “Scandalli”, branco, teclado e baixos manejados com orgulho pelas alunas.

Em cidades da Europa os bondes percorrem paços e ruas estreitas. Não trazem transtornos ao trânsito, seguem vagarosos sobre a rota dos t...

trem bonde joao pessoa paraiba
Em cidades da Europa os bondes percorrem paços e ruas estreitas. Não trazem transtornos ao trânsito, seguem vagarosos sobre a rota dos trilhos. Não há competição, conforme me disseram, entre os automotores e os românticos meios de transporte serenos e ruidosos, sempre apreciados e cheios de passageiros.